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Sandália no ícone do Perpétuo Socorro (texto experimental)

Sandália no ícone do Perpétuo Socorro (texto experimental)
14 de abril 2020 - aguardo as sugestões


Algumas interpretações da sandália caída, correia e sola do pé de Jesus no ícone do Perpétuo Socorro
Pe. José Grzywacz, CSsR - www.mariologiapopular.blogspot.com[1]

Observação importante. Nos ícones do Caminho (Hodegitria), então também no ícone do Perpétuo Socorro Jesus é não apresentado como assustado e não olha os anjos com medo, mas observa tudo com atenção. Jesus dos quatro evangelhos nunca fugiu da profecia da cruz! Sempre abertamente e com clareza falava do sofrimento e da paixão e esperava quando chegasse a hora dele. “Ainda não chegou o tempo certo para mim. Para vós, ao contrário, é sempre o tempo certo” (Jo 7, 6).
Um novo sentido para tudo – “Vocês compreenderam tudo isso?» Eles responderam: «Sim.» Então Jesus acrescentou: «E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas” (Mt 13,52).
1.   O comportamento natural de uma criança. O indefeso. A humanidade de Cristo.
      O movimento do corpo de Jesus faz com que os seus pés se cruzam. A sandália cai e fica pendurada ao pé com uma correia. Jesus olhando o invisível Pai fica assustado com a cruz que está nas mãos do Arcanjo Gabriel. Mesmo olhando somente “humanamente” podemos perceber a expressão do medo no gesto do corpo de Jesus e no detalhe da sandália ainda assim continuamos no autêntico pensamento da revelação do Novo Testamento. As palavras: „Minha alma está perturbada. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” Veio, então, uma voz do céu: “Eu já o glorifiquei, e o glorificarei de novo” (cf. Jo 12,27-29). Os pés cruzados, as mãos agarradas na mão da mãe, a sandália despendurada e toda a posição do corpo expressam um movimento de susto natural e preocupação provocados pela visão da paixão anunciada pelos arcanjos. Esses gestos mostram o natural comportamento humano da criança perante o sofrimento previsto. (É assim chamado “reflexo de Babinski”).[2] O seu futuro é revelado através da cruz que está na auréola. Nesse contexto Jesus-criança faz o rápido movimento natural na direção da mãe; segura a sua mão e procura o socorro nos braços dela.

A sandália que escorrega do pé da criança também pode ser entendida como um sinal de desamparo de alguém que precisa de ajuda, a ajuda constante de sua mãe. Como uma criança, Jesus constantemente precisava da ajuda e dos cuidados da Mãe. É a Mãe que socorre nas necessidades de seu Filho. A vinda do Filho de Deus à Terra envolve toda submissão às fraquezas da criança humana. "Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem" (Filip 2, 6-7).
      O precursor do Salvador - João Batista disse: “Eu batizo vocês com água. Mas vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno nem sequer de desamarrar a correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3,16).
Essa sandália tornou-se objeto de curiosas interpretações. Jesus e João viveram na época da escravatura. Os biblistas observaram nessas palavras de João algumas referências as escrituras judaicas segundo as quais o escravo não podia desatar as sandálias do senhor porque isso também iria diminuir a sua dignidade. João Batista, escravo, não foi digno realizar esse gesto para o seu senhor. Essa humildade de João é ao mesmo tempo a elevação de Cristo. Ele sabia que a redenção é possível somente através de Jesus. "E eu não sou digno nem de tirar-lhe as sandálias" (Mt 3, 11), nesta afirmação, de fato, estamos falando da grande humildade de João Batista o último profeta da Antiga Aliança. Como representante do povo do Antigo Testamento, ele não era digno/preparado para desatar a correia das sandálias do seu Senhor.
Alguns interpretam esse detalhe como uma expressão de uma outra verdade: de que Maria foi digna de desatar as sandálias de Jesus. Referem-se à pessoa de João Batista, que disse sobre si mesmo que não era digno de desatar a sandália de Jesus. A sandália que cai simboliza a dignidade e a grandeza dos privilégios de Maria como representante do Novo Testamento, que - diferentemente de São João Batista - era digna de tirar a sandália do Filho de Deus (Jo 1, 26-27). Maria neste ícone é mostrada como quem era digna disso. Ela não apenas amarrou os sapatos dele: Ela deu à luz, cuidou dele, vestiu e ensinou a Cristo.
A revelação da intimidade. A conquista da liberdade e dignidade
       A sandália que cai e desliza e o pé descalço é um símbolo do Filho de Deus que se despoja e vindo ao mundo aceita a humanidade. É um sinal de "kenosis" quer dizer  o abaixamento Cristo (kathabasis) que na Encarnação, e especialmente na cruz, que foi humilhado, destruído e despojado de sua glória divina, de acordo com as palavras de São Paulo: "Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!" (Filip 2, 6-8). E tudo isso através do amor ao homem, que Cristo nos mostrou porque "nos amou até o fim" (cf. Jo 13, 1).
O ícone de Cristo sempre proclama a verdade sobre a encarnação de Deus. Deus, que assumiu a natureza humana - o Verbo Encarnado, tornou-se para nós não apenas o Verbo, mas também o rosto, o rosto concreto de Jesus de Nazaré. Na pessoa de Jesus de Nazaré, cada um pode ver e tocar o próprio Deus, ver com os olhos humanos e, portanto, também pintar.
Na cultura semítica, a parte mais íntima do corpo de um homem judeu era a sola do pé. Jesus descalço, revela o que Ele tem de mais íntimo, sua divindade e misericórdia. No nosso ícone, o ouro -"habitat" - de Deus pinga até das roupas. É o dourado da Ressurreição que nos traz de volta o paraíso perdido.  A morte toma o lugar da paz e da ordem. O primeiro gesto salvífico histórico do Criador, após o pecado original de Adão e Eva, foi vesti-los.  “Javé Deus fez túnicas de pele para o homem e sua mulher, e os vestiu” (Gn 3,21). Na cruz, as vestes serão novamente despidas de Novo Adão, para que somente Ele se torne a vestimenta final da humanidade redimida.
        "O pai disse aos empregados: ‘Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E coloquem um anel no seu dedo e sandálias nos pés!" (Lc 15,22).  São Lucas descreve uma cena que diz sobre o fato de calçar sandálias na parábola do Pai Misericordioso e do filho pródigo (Lc 15, 11-32).  Depois de voltar para casa, o pai lhe entrega três presentes: a melhor túnica - o símbolo da beleza; um anel - o sinal de autoridade e sandálias simbolizando um novo caminho. A túnica e o anel foram entregues para o filho pródigo por seus servos, mas as sandálias ele tinha que calçar sozinho, pessoalmente. O calçar sandálias é um sinal e símbolo de liberdade e libertação da condição de escravo.
4.   Jesus, verdadeiro homem. Pobreza extrema
         A sandália que cai também pode identificar o sacrifício de Cristo na cruz. Outros vêem a expressão do medo que domina Jesus. A perna direita de Jesus cruza a perna esquerda, fazendo a sandália cair, caindo do pé. A sandália do pé direito em queda permite que você veja a parte inferior do pé, o que pode simbolizar a verdade de que ser Deus também é um homem de verdade. É também um sinal do temor de Cristo se proteger nas mãos da mãe diante da visão da paixão proclamada pelos anjos. O movimento e o dinamismo do próprio Jesus são surpreendentes. Ele parece estar assistindo o anúncio profético de sua paixão. Além disso, o tormento pode ser indicado por uma sandália caindo, porque o calçado do filho pródigo em sandálias era um símbolo da restauração de sua liberdade e dignidade. Aqui, a perda da sandália sinaliza a perda de liberdade e vida. Provavelmente, foi o anúncio da futura paixão que o levou a segurar a mão de sua mãe. No momento, ele está procurando por Ela como se estivesse buscando apoio e ajuda espiritual. Embora não haja medo em seu rosto, os gestos de colocar as mãos e a sandália caindo da perna testemunham algum medo de Deus que se tornou homem. O medo da paixão, que ele experimentará pela última vez no Jardim das Oliveiras.
Algumas fontes costumam explicar a sandália que cai do pé direito de Jesus dessa maneira: O Filho de Deus não leva nada de nossas coisas mundanas (mesmo necessárias, como sandálias necessárias na Palestina para caminhar sobre areia quente e pedras) para si mesmo. Pelo contrário, Ele veio nos dar tudo: “Eu dou a minha vida para que eles tenham vida!” (Jo 10,10). “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8,20).
5.   A Nova Aliança / Novo Adão/ O Antigo e Novo Testamento
        A sandália removida pode indicar a confirmação da Nova Aliança entre Deus e o homem na pessoa de Cristo. Uma vez, a sandália do pé direito foi trocada por um sinal de aliança. Conforme os antigos costumes orientais na hora da conclusão dos contratos, como prova, trocava-se entre as partes alguns objetos (como hoje são trocadas as assinaturas das partes que concluíram o contrato). Assim podemos ver na sandália caindo o sinal da Nova Aliança feita por Cristo. A sandália removida simboliza a aliança de Jesus com a humanidade. "Antigamente, quando se faziam resgates ou trocas em Israel, havia este costume: para dizer que o negócio estava garantido, a pessoa tirava a sandália e a entregava ao parceiro. Era assim que se fechava um negócio em Israel. Foi o que fez aquele que tinha o direito de resgate. Ele disse a Booz: «Resgate você o terreno». E lhe entregou a sandália" (Rt 4.7-8). Nessa interpretação, Novo Adão, tendo feito a Nova Aliança, confia Maria e a nós – um sinal - sua sandália. Este foi o acordo sobre a transferência do direito de preferência à terra. O gesto de remover a sandália na presença de testemunhas era uma evidência visual, e o próprio sapato / sandália era uma evidência material da transação.
           A sandália que cai do pé de Cristo pode referir-se ao anúncio do Protoevangelho – “Eu porei inimizade entre você e a mulher, entre a descendência de você e os descendentes dela. Estes vão lhe esmagar a cabeça, e você ferirá o calcanhar deles” (Gn 3, 15). Este calcanhar é visível em numerosos ícones de Nossa Senhora da Paixão. A representação do pé descalço indica Cristo como anunciado no Antigo Testamento - o Novo Adão, o Libertador, o Messias que destruiu o pecado. A Virgem Maria em nosso ícone é de fato a Nova Eva que deu ao mundo o Libertador, Cristo - o Novo Adão.
        No ícone Jesus tem um pé com a sandália (coberto) e o outro descoberto. Assim como as duas posições das sandálias significam as duas naturezas do Filho de Deus, as duas pernas de Jesus podem significar dois testamentos: Antigo e Novo Testamento. A sandália na perna esquerda com o pé invisível significa o Antigo Testamento, enquanto a direita descoberta simboliza a revelação de Deus em Jesus.
6.   O verdadeiro Messias – ferido











       O símbolo da sandália caída no ícone é interpretado como a chegada do verdadeiro Messias conforme as palavras do precursor “Depois de mim, vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias. Eu batizei vocês com água, mas ele batizará vocês com o Espírito Santo” (Mc 1,7 - 8). E já que a correia está desata significa que chegou o prometido Salvador. Com Ele veio o Reino de Deus que ainda não está perfeito. Por isso nenhuma pessoa deve ter medo porque com Cristo seremos vencedores dos sofrimentos e sobre a morte.
      A sandália direita caindo nos permite ver a parte inferior do pé de Jesus, isso atesta a natureza verdadeiramente humana da Criança. Maria segura o tesouro nos braços, mas não o cobre. Ela não pode protegê-lo, mesmo que Ela queira. Ele nem vê a sandália que cai, como se para mostrar que esse pé exposto, o único contato direto do homem com a terra. Esse pé terá que ser perfurado com um dos pregos que o Arcanjo Gabriel segura na mão. Alguns ícones orientais mostram o pé de Jesus exposto e já ferido. O Messias ferido, descalço, indefeso, vem não como um vencedor triunfante e armado, mas como um pastor que anda descalço no chão. Ele enviará seus apóstolos também descalços para pregar Boa Nova da graça de Deus que é maior que a qualquer punição.
A Igreja como a noiva











     A lei judaica do levirato recomendava uma certa prática. O sistema de organização da sociedade israelense – em forma de clãs - garantia da proteção a todos os israelitas, para que, mesmo após a morte de seus entes queridos, a mulher pudesse contar com a ajuda de sua família mais ampla. Lei do levirato – “Quando dois irmãos moram juntos e um deles morre sem deixar filhos, a viúva não sairá de casa para casar-se com nenhum estranho; seu cunhado se casará com ela, cumprindo o dever de cunhado”. (Dt 25,5).
“Se ele persiste e diz que não quer se casar com ela, então a viúva se aproximará dele, diante dos anciãos, lhe tirará a sandália do pé, lhe cuspirá no rosto, e fará esta declaração: ‘Isto é o que se faz com um homem que não edifica a casa do seu irmão’. E em Israel ele ficará com o apelido de ‘a família do descalçado” (Dt 25, 8-10).
     "Vamos ficar alegres e contentes, vamos dar glória a Deus, porque chegou o tempo do casamento do Cordeiro, e sua esposa já está pronta: concederam que ela se vestisse de linho puro e brilhante, - pois o linho representa o comportamento justo dos santos" Ap 19, 7-8.
     O Bem aventurado Papa Paulo VI escreve – “Não se pode amar a Cristo, mas não amar a Igreja, ouvir a Cristo, mas não a Igreja, pertencer a Cristo, mas permanecer fora da Igreja" (cf. Evangelii Nunciandi, 16). Palavras de São Cipriano: "Não pode ter Deus como Pai, que não tem Igreja como Mãe." A mística do casamento segundo a lei do levirato e o fato de tirar a sandália (Halica) já teve várias explicações. Quando um homem tirava a sandália e a entregava à outra parte no ritual da lei levírica, ele renunciava ao seu direito à noiva. A noiva de Cristo é a Igreja, e todos nós, como membros, semelhante a noiva devemos ser comprados (redimidos) por um Homem.
8. A devoção mariana. A correia da misericórdia
     A sandália de Jesus desamarrada e caindo – presa apenas por uma fina tirinha - pode significar todos os que estão enfraquecidos na fé, mas ainda assim pertencem e confessam Cristo. Essa correia que segura a sandália pelo fio é a devoção mariana que os fiéis têm.  Tais pessoas, como Jesus no ícone, devem procurar ajuda, socorro, carinho e abrigo em Maria.
     A correia que prende a sandália ao pé de Jesus, e não deixa cair e perder-se pode significar a misericórdia de Deus, que não permite que o pecador caia, mas se converta. Santo Afonso Liguório no livro "Glórias de Maria" diz que Jesus está sentado no trono da justiça enquanto Maria está no trono da misericórdia. “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação!” – Maria, mãe da misericórdia imita o “Pai das misericórdias” (2 Cor 1, 3),
9.   A Última Ceia. A promessa do céu
     "Então Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a toalha que tinha na cintura. Chegou a vez de Simão Pedro. Este disse: «Senhor, tu vais lavar os meus pés?» Jesus respondeu: «Você agora não sabe o que estou fazendo. Ficará sabendo mais tarde.»" J 13.4-7.
     Na Quinta-feira santa, a igreja celebra o lava-pés. Na Bíblia, esse gesto expressou hospitalidade e depois foi praticado em comunidades religiosas como uma expressão de serviço. Aproximamo-nos de Jesus com as pernas sujas. Caminhamos e chegamos a Ele, trazemos a ele o pó e a sujeira de nossas vidas, e Ele nos lava. Existe também um anúncio de preparação para a morte de Jesus ligado com o gesto de lavar e ungir os pés. “Maria levou quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos” Jo 12,3.
     “Pedro disse: Tu não vais lavar os meus pés nunca!» Jesus respondeu: «Se eu não o lavar, você não terá parte comigo” Jo 13,8. O Cristo Ressuscitado subiu ao céu e nos deixou suas sandálias para nos ensinar como caminhar nesta terra. A sandália que cai pode significar que todos que contemplarem a paixão de Cristo serão salvos e colocarão os pés em Sua morada eterna.
A Sandália é também considerada na Bíblia como um símbolo da proteção de Deus. "Eu fiz vocês caminharem quarenta anos pelo deserto, sem que as suas vestes envelhecessem e as sandálias de seus pés gastassem” (Dt 29,4).
10.                     As sandálias do missionário. A missão da comunidade







     “Como poderão anunciar se ninguém for enviado? Como diz a Escritura: «Como são belos os pés daqueles que anunciam boas notícias!” Rm 10, 15.  “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz” (Lc 1, 78-79). “Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas” (Mc 6,9). “Estejam, portanto, bem firmes: cingidos com o cinturão da verdade, vestidos com a couraça da justiça, os pés calçados com o zelo para propagar o evangelho da paz; tenham sempre na mão o escudo da fé, e assim poderão apagar as flechas inflamadas do Maligno” Ef 6, 14-16. São Paulo percebe o cristão como aquele em cujos pés estão calçados, vê-o como um homem cuja vida é semelhante à de um soldado que está na estrada, fora de casa e participa da luta. Os pés calçados de sandálias estão prontos para partir, para começar a jornada missionária. Sobre a prontidão para a missão/saída assim orientou Moises ao seu povo: “Vocês devem comê-lo assim: com cintos na cintura, sandálias nos pés e cajado na mão; vocês o comerão às pressas, porque é a páscoa de Javé” (Ex 12,11). “E o anjo continuou: «Aperte o cinto e calce as sandálias.» Pedro obedeceu, e o anjo lhe disse: «Ponha a capa e venha comigo” (At 12,8).
     O ícone mostra apenas os pés de Jesus, as pernas e os pés de Maria e dos arcanjos são invisíveis. Parece que é um ícone “inacabado”. Contemplando o ícone do Perpétuo Socorro podemos concluir que hoje nós somos as pernas desse ícone[3]. Somos uma comunidade que contempla o ícone e quem sabe deveríamos terminar os trabalhos que o artista deixou. O ícone permanece não acabado - incompleto -sem pessoas, os fiéis que oram na frente dele. Um ícone sem uma comunidade (quem o contemple) não está completo.
      A festa do “Corpus Christi” tem vários significados. Na Idade Média, foi dito sobre o "corpo triplo de Cristo" (triplex Corpus Christi). Não sobre os três, mas um que existe de diferentes maneiras. Primeiro, o corpo histórico de Jesus - aquele em que ele morreu, ressuscitou dos mortos e ascendeu ao céu. Em segundo lugar - a Eucaristia. E a terceira – a Igreja - maneira de presença sobre a qual escreve São Paulo: “Vós sois o corpo de Cristo” (1 Cor 12, 27).



O sapato de couro mais antigo do mundo. O calçado, que estava em uma caverna na Armênia, tem idade estimada em 5.500 anos
Outros significados de “sandália” no Antigo Testamento
segundo o artigo de Janusz Lemański „Sandały i ich symbolika w Starym Testamencie”[4]

1.   O respeito perante o  “sacrum”
Estar e andar descalço na “terra santa” significa a pequenez do crente e a adoração a Deus. “Javé viu Moisés que se aproximava para olhar. E do meio da sarça Deus o chamou: «Moisés, Moisés!» Ele respondeu: «Aqui estou». Deus disse: «Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, porque o lugar onde você está pisando é um lugar sagrado». E continuou: «Eu sou o Deus de seus antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó». Então Moisés cobriu o rosto, pois tinha medo de olhar para Deus” (Ex 3,4-6).
     “Então Josué prostrou-se com o rosto por terra e o adorou. A seguir perguntou: «O que diz o meu Senhor a seu servo?» O chefe do exército de Javé respondeu: «Tire as sandálias dos pés, porque o lugar onde você está pisando é lugar sagrado». E Josué assim o fez” Js 5,14-15).
2.   Invasão militar e o luto
As sandálias (botas) tem a conotação militar. “Por outro lado, você sabe o que me fez Joab, filho de Sárvia: ele matou Abner, filho de Ner, e Amasa, filho de Jeter, os dois chefes do exército de Israel. Em tempo de paz, ele vingou o sangue derramado na guerra, manchando assim de sangue inocente o cinturão de meus rins e a sandália de meus pés” (1 Rs 2,5).
“No meio dele, ninguém se cansa, ninguém tropeça; ninguém tem sono, ninguém cochila; ninguém desaperta o cinturão, ninguém desamarra a correia das sandálias” (Is 5,27).
“Porque toda bota – sandália militar - que pisa com barulho e toda capa empapada de sangue serão queimadas, devoradas pelas chamas” (Is 9,4).
“Moab é a bacia onde me lavo. Sobre Edom atiro a minha sandália, e sobre a Filistéia canto vitória” (Sl 60,10=Sl 108,10).
     A pessoa que está descalça é o símbolo do ritual de luto. “Então, Javé falou por intermédio de Isaías, filho de Amós, como já lhe havia dito antes: «Vamos! Tire esse pano de saco do corpo e as sandálias dos pés». Assim fez Isaías, que começou a andar nu e descalço. Depois Javé disse: Assim como Isaías, meu servo, andou nu e descalço por três anos, esse fato será um sinal e um exemplo para o Egito e a Etiópia. Pois é assim que o rei da Assíria vai levar os cativos do Egito, os exilados da Etiópia, jovens ou velhos: estarão nus e descalços, com as nádegas de fora (a vergonha do Egito) (Is 20,2-4). O sinal profético da futura escravidão.
“Gema em silêncio, e não siga os costumes do velório. Use turbante, calce sandálias, não cubra a barba e não aceite pão dos vizinhos; usarão turbante, calçarão sandálias, não vestirão luto, nem chorarão. Vocês vão se acabar por causa de sua própria culpa e se lamentarão uns com os outros” (Ez 24, 17.23).
3.   A proteção divina
“Eu fiz vocês caminharem quarenta anos pelo deserto, sem que as suas vestes envelhecessem e as sandálias de seus pés gastassem” (Dt 29,4).
“Os habitantes de Gabaon, ouvindo o que Josué tinha feito com Jericó e Hai, usaram um estratagema: juntaram provisões, carregaram os jumentos com sacos velhos e odres de vinho velhos, rasgados e consertados; calçaram os pés com sandálias velhas remendadas, vestiram-se com roupas velhas, e o pão que levavam para comer era seco e esmigalhado; Estes odres de vinho eram novos quando os enchemos; e agora aqui estão, todos rasgados. Nossas roupas e sandálias estão gastas por causa do longo caminho que fizemos” (Js 9 3-5.13).
4.   Símbolo da justiça - injustiça

“Assim diz Javé: Por três crimes de Israel e pelo quarto, eu não vou perdoar: porque vendem o justo por dinheiro e o necessitado por um par de sandálias; pisoteiam os fracos no chão e desviam o caminho dos pobres!”; “Quando vai passar o sábado, para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança, 6 para comprar os fracos por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo?” (Am 2,5- 6 e 8, 5-6).
As expressões que falam da “sandália” fazem parte da acusação contra a injustiça social em Israel. Denunciam a corrupção e propinas.
5.   Símbolo da beleza
“Vire-se, vire-se, Sulamita. Vire-se, vire-se...queremos contemplar você! Sulamita: «O que vocês olham na Sulamita, quando ela baila entre dois coros?» O amado:  Os seus pés...como são belos nas sandálias, ó filhas de nobres! As curvas de seus quadris, que parecem colares, obras de um artista” Ct 7,2).
“(Judite) Calçou sandálias e enfeitou-se com braceletes, colares, anéis, brincos e todas as suas jóias. Ficou belíssima, capaz de seduzir os homens que a vissem” (Jd 10,4); “Sua sandália cativou o olhar dele (Holofernes). Sua beleza lhe escravizou a alma, e a espada lhe cortou o pescoço!” (Jd 16,9). A sandália como símbolo da mulher rica e bonita.
6.   Reflexologia podal






1.    O comportamento natural de uma criança. O indefeso. A humanidade de Cristo.
2.    A humildade de João Batista e a dignidade e grandeza de Maria
3.    Kenosis – o despojamento de Cristo. A revelação da intimidade. A conquista da liberdade e dignidade
4.    Jesus, verdadeiro homem. Pobreza extrema
5.    A Nova Aliança / Novo Adão/ O Antigo e Novo Testamento
6.    O verdadeiro Messias – ferido
7.    A lei do levirato - A Igreja como a noiva
8.    A devoção mariana. A correia da misericórdia
9.    A Última Ceia. A promessa do céu
10.                    As sandálias do missionário. A missão da comunidade

As "Sandálias de Cristo" na basílica de Prüm – Alemanha.
1.     O respeito perante o “sacrum”
2.     Invasão militar e o luto
3.     A proteção divina
4.     Símbolo da justiça - injustiça
5.     Símbolo da beleza
6.          Reflexologia podal                     

Organização: Pe. José Grzywacz, CSsR    Mais em: mariologiapopular.blogspot.com



[1] https://mariologiapopular.blogspot.com/ - Blog em português e polonês.
[2] Na medicina (neurologia), o reflexo plantar, reflexo de Babinski é um reflexo descoberto por Joseph Babinski, um neurologista francês de ascendência polonesa, que pode identificar doenças da medula espinhal e cérebro e que também existe como reflexo primitivo em bebês. O termo sinal de Babinski refere-se ao sinal do reflexo plantar patológico, quando há a extensão do hálux (1º dedo do pé).A presença do reflexo (extensão do hálux) é uma reação normal em crianças até 2 anos de idade. Em adultos indica lesão neurológica. Sua assimetria, isto é, o fato de ser observado em apenas um dos membros, indica qual hemisfério cerebral foi lesionado.
[3] O. Antonio Puerto CSsR
[4] http://bazhum.muzhp.pl/media//files/Studia_Koszalinsko_Kolobrzeskie/Studia_Koszalinsko_Kolobrzeskie-r2012-t18-n1/Studia_Koszalinsko_Kolobrzeskie-r2012-t18-n1-s67-92/Studia_Koszalinsko_Kolobrzeskie-r2012-t18-n1-s67-92.pdf

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