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Mariologia moderna: caminhos e descaminhos


Mariologia moderna: caminhos e descaminhos
   
Ao lançarmos nosso olhar para o período moderno da História veremos surgir aquilo que ficou conhecido como Teologia Sistemática. E, é justamente neste campo que a mariologia se insere. Diante da Reforma Protestante, que promoveu “um corte radical na devoção aos santos e, sobretudo, a Maria [...] a Contra-Reforma católica retoma com mais vigor a figura de Maria” (MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. 2. ed.. São Paulo: Paulinas; Valência: Siquem, 2006. p. 14). Com isso, Francisco Suarez (1584) cria o primeiro tratado mariano e Plácido Nígido (1602) cria o conceito de “mariologia”.
Diante do Iluminismo dos séculos XVIII e XIX, todavia, surge “uma mariologia devocional, de cunho afetivo, na qual se misturam elementos simbólicos e racionais” (MURAD, 2006, p. 14). Assim, nasce O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort. Salvo a linguagem hiperbólica do autor, Montfort busca mostrar que a verdadeira forma de ser livre é se tornar escravo daquele que é o Senhor da Liberdade, Jesus Cristo. Mas, para que façamos isso da melhor maneira é preciso que o façamos pelas mãos de Maria, tendo em mente que é mais fácil perceber as virtudes que santificaram a Virgem Mãe, do que perceber as virtudes que nos levaram à salvação (presentes em Cristo (já santificado)). Assim, nasce a escravidão a Jesus por Maria, que marcou muitos institutos religiosos surgidos nesta época.
Vários anos depois, mais especificamente nos anos sessenta do século XX inicia-se um movimento de retorno às fontes do cristianismo (Sagradas Escrituras, Patrística e Sagrada Liturgia), conhecida como Nouvelle Theologie, que encontra seus maiores expoentes em Joseph Ratzinger, Hans Urs von Balthasar e Henry de Lubac. Assim, toda “mariologia armada somente sobre argumentos da tradição” (MURAD, 2006, p.15), principalmente do raciocínio escolástico e do seu método dedutivo, são questionados. Era preciso que se voltasse às raízes e se considerasse a Virgem Maria como sendo verdadeiramente Senhora, mas também serva de Deus.
O grande problema é que, a partir daí, alguns teólogos liberais, que queriam mostrar apenas o labor da “Maria de Nazaré” – aquela que tinha uma vida comum, sem nada de extraordinário, com as dificuldades corriqueiras de qualquer ser humano – se esqueceram que a dimensão interior (espiritual) e metafísica (Theotokos) de Maria era aquela que a tornava grande, a ponto de ser assunta ao Céu, em corpo e alma.
 O cientificismo e historicismo modernos, não poucas vezes, desacreditou a figura da Mãe de Deus sob pretextos sociologizantes e psicologizantes.
A partir desse processo surge, na década de 70, uma espécie de minimização da figura da Virgem Maria, chegando ao absurdo de "afirmar: ‘Já se falou demais sobre Maria. Agora, é tempo de se calar’" (MURAD, 2006, p. 15). O cientificismo e historicismo modernos, não poucas vezes, desacreditou a figura da Mãe de Deus sob pretextos sociologizantes e psicologizantes.
Diversos mariólogos acreditam que nos encontramos dentro de uma crise, visto que alguns grupos de fiéis têm-se voltado aos grandes tratados marianos de Montfort, Bernardo e Ligório. Uma dedução que transparece certo ar de simplismo. Será que todo “voltar” é sinônimo de saudosismo ingênuo? É preciso enxergar a realidade atual com um olhar mais atento! O que estes grandes tratados afirmam são profundamente verdadeiros e eficazes para o cultivo da autêntica fé cristã.
O problema de algumas perspectivas da Mariologia atual é que costumam tratar Maria como “nada mais que” uma mulher qualquer, uma simples discípula de Cristo, incorrendo assim em severos reducionismos. Maria, por ser Mãe de Deus, participa de maneira especial do mistério da união hipostática (natureza divina e humana em Cristo). Não deu à luz apenas à pessoa humana de Jesus ou apenas à divina. Ela deu à luz a Jesus Cristo por inteiro, um ser divino. Que outra criatura teve tamanho privilégio? Maria é um grande mistério.
Thiago Pereira Domingos - Membro da Academia Marial


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