A Linguagem devocional de Santo
Afonso de Ligório a Maria
Quem teve a oportunidade de ler a
obra Glórias de Maria, de Santo Afonso Maria de Ligório, certamente percebeu
com que alegria e seriedade ela foi escrita. Quando lembramos no Evangelho de
São Lucas (5,45) que a boca fala daquilo de que o coração está cheio, é de se
admirar quão cheio de amor por Maria está o coração do nosso Santo Afonso, nada
do que foi dito peca pela falta ou excesso, o que vemos é a abundante fonte de
vida que só deseja uma coisa: comunicar o amor. Porém, o que parece a primeira
vista uma tarefa fácil, permanece e continuará permanecendo um esforço árduo e
angustiante. Inúmeras foram as descobertas na literatura e inúmeros foram os
seus saltos linguísticos – desde uma apreciação puramente estética ao um
conteúdo ético-religioso do amor. Quando nós, por outro lado, nos adentramos no
âmbito do Cristianismo, nós nos deparamos com uma encruzilhada, porque o
Cristianismo, com a sua cruz fincada no coração do mundo, instaura uma nova
qualidade incomunicável outrora pela linguagem que herdamos de Homero e de toda
as categorias de existência trágico-cômica do mundo grego.
Um estudo de Erich Auerbach, na
obra Mimesis, mostra com grande nitidez como a linguagem reflete a percepção da
realidade ao comparar duas civilizações paralelas como a Grécia antiga e o
Judaísmo. Segundo o autor, na linguagem homérica o elemento de tensão é quase
nulo senão débil, o estilo homérico só conhece o primeiro plano, “só um
presente uniformemente iluminado, uniformemente objetivo”. Diferente da
Odisseia, Abraão e Deus não estão localizados num primeiro plano, não se sabe
de onde vem a voz de Deus e nem de onde Abraão responde. A linguagem Bíblica
narra uma tensão interior presente entre os interlocutores, isto é, uma tensão
opressiva. Porém, se o poema homérico nos parece mais elaborado, a linguagem
bíblica consegue atingir uma riqueza de camadas simultaneamente sobrepostas da
consciência e o conflito entre as mesmas que a linguagem direta não consegue
captar.
Com a entrada do Cristianismo a
tensão da linguagem bíblica se torna absoluta por carregar o paradoxo do
Deus-homem. Incomunicável pela linguagem direta, Santo Afonso consegue
comunicá-lo através do amor de Maria que sustenta sozinha o paradoxo da cruz,
ou como bem ressalta o Santo nas palavras do Eclesiástico (24,8) conferidas a
ela: “Eu sozinha rodeei o giro do céu”. Não é por acaso que Santo Afonso
encerra cada subcapítulo com um Exemplo e Oração, pois são elementos da
linguagem devocional. Se muitos estudiosos enfatizaram tanto o fato de que
Santo Afonso não cometeu nenhum deslize teológico e doutrinal ao afirmar a
mediação de Nossa Senhora, então, deve-se, igualmente, enfatizar a sua
insistência nos relatos históricos que testemunharam o amor de Maria, não como
um apêndice à prova teológica, mas como uma nova camada da consciência humana,
a saber, da presença continua de Maria que se comunica no mundo através da
devoção.
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!