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PARTIR DE CRISTO

PARTIR DE CRISTO

 
UM RENOVADO COMPROMISSO DA VIDA CONSAGRADA
 NO TERCEIRO MILÊNIO

INSTRUÇÃO


ÍNDICE



1.Contemplando o rosto crucificado e glorioso1 de Cristo e testemunhando o Seu amor no mundo, as pessoas consagradas acolhem com alegria, no início do terceiro milênio, o urgente convite do Santo Padre João Paulo II a fazer-se ao largo: «Duc in altum!» (Lc 5, 4). Tais
palavras, ressoadas em toda a Igreja, suscitaram uma nova grande esperança, reavivaram o desejo de uma vida evangélica mais intensa e abriram de par em par os horizontes do diálogo e da missão.
Talvez hoje, como nunca, o convite de Jesus a fazer-se ao largo revela-se como resposta ao drama da humanidade, vítima do ódio e da morte. O Espírito Santo sempre obra na história e pode tirar dos dramas humanos um discernimento dos acontecimentos, aberto ao mistério da misericórdia e da paz entre os homens. O Espírito, com efeito, da própria agitação das nações, suscita em muitos a nostalgia de um mundo diferente e que já se faz presente em meio a nós. Confirma-o João Paulo II aos jovens, quando os exorta a que sejam «sentinelas da manhã» que velam, fortes na esperança, à espera da aurora.2
Certamente, os dramáticos acontecimentos do mundo, nestes últimos anos, impuseram aos povos interrogativos novos e mais graves, que se vieram a somar aos já presentes, surgidos com respeito à orientação de uma sociedade globalizada, ambivalente na realidade, na qual «não se globalizaram apenas a tecnologia e a economia, mas também a insegurança e o medo, a criminalidade e a violência, as injustiças e as guerras».3
Nesta situação, as pessoas consagradas são chamadas pelo Espírito a uma constante conversão para dar uma nova força à dimensão profética da sua vocação. Elas, de fato, «chamadas a colocarem a própria existência ao serviço da causa do Reino de Deus, deixando tudo e imitando mais de perto a forma de vida de Jesus Cristo, assumem um papel eminentemente pedagógico para todo o Povo de Deus».
O Santo Padre se fez intérprete desta expectativa na sua Mensagem aos Membros da última Plenária da nossa Congregação: «A Igreja — ele escreve — conta com a dedicação constante desta multidão eleita de filhos e filhas, com a sua aspiração à santidade e com o entusiasmo do seu serviço para favorecer e apoiar a tensão de todo o cristão para a perfeição e reforçar o solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado. Deste modo, é testemunhada a presença vivificante da caridade de Cristo entre os homens».5
2. Mas como decifrar no espelho da história, bem como no da atualidade, os vestígios e sinais do Espírito e as sementes do Verbo, presentes hoje como sempre na vida e na cultura humana?6 Como interpretar os sinais dos tempos numa realidade como a nossa, na qual abundam as zonas de sombra e de mistério? É necessário que o próprio Senhor se faça nosso companheiro de viagem — como com os discípulos que iam em direção a Emaús — e nos dê o seu Espírito. Somente Ele, presente entre nós, pode fazer-nos compreender plenamente a sua Palavra e atualizá-la, pode iluminar as mentes e aquecer os corações.
«Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20). O Senhor Ressuscitado permanece fiel a esta promessa. Ao longo de dois mil anos de história da Igreja, graças ao seu Espírito, fez-se constantemente presente nela, iluminando-lhe o caminho, cumulando-a de graça, infundindo-lhe a força para viver, sempre com maior intensidade, a sua Palavra e para desempenhar a missão de salvação, como sacramento da unidade dos homens com Deus e entre si.7
A vida consagrada, no contínuo suceder-se e afirmar-se de formas sempre novas, é já, em si mesma, eloqüente expressão desta sua presença, quase uma espécie de Evangelho desdobrado nos séculos. Ela aparece, com efeito, como «prolongamento na história de uma especial presença do Senhor ressuscitado».8 Desta certeza, as pessoas consagradas devem auferir um impulso renovado, fazendo dela a força inspiradora do seu caminho.9
A sociedade hodierna espera ver nelas o reflexo concreto do agir de Jesus, do Seu amor por cada pessoa, sem distinções ou adjetivos qualificativos. Quer experimentar que é possível dizer com o apóstolo Paulo «Esta minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou» (Gl 2, 20).
3.Para ajudar no discernimento que procura tornar sempre mais segura esta vocação particular e sustentar, hoje, as corajosas opções de testemunho evangélico, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica celebrou a sua Plenária entre os dias 25 e 28 de Setembro de 2001.
Em 1994, a IX Assembléia ordinária do Sínodo dos Bispos, completando a exposição «das peculiaridades características dos vários estados de vida que o Senhor Jesus quis na sua Igreja»,10 depois dos Sínodos dedicados aos leigos e aos presbíteros, estudou A vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo. O Santo Padre João Paulo II, recolhendo as reflexões e as esperanças da Assembléia sinodal, ofereceu a toda a Igreja a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita consecrata.
Passados cinco anos da publicação deste fundamental Documento do Magistério eclesial, o nosso Dicastério, durante a Plenária, interrogou-se a respeito da eficácia com a qual foi este acolhido e levado à prática no seio das comunidades e dos institutos, assim como nas Igrejas particulares.
A Exortação Apostólica Vita consecrata soube exprimir com clareza e profundidade a dimensão cristológica e eclesial da vida consagrada numa perspectiva teológico-trinitária que ilumina com nova luz a teologia do seguimento e da consagração, da vida fraterna em comunidade e da missão; contribuiu em criar uma nova mentalidade no que concerne à sua missão no Povo de Deus e ajudou as mesmas pessoas consagradas a tomar uma maior consciência da graça da própria vocação.
É mister que este documento programático continue a ser aprofundado e levado à prática. Ele permanece o ponto de referência mais significativo e necessário para guiar o caminho de fidelidade e de renovação dos Institutos de vida consagrada e das Sociedades de vida apostólica, permanecendo, outrossim, aberto no sentido de suscitar perspectivas válidas de novas formas de vida consagrada e de vida evangélica.
4.O Grande Jubileu do Ano 2000 marcou profundamente a vida da Igreja e nele comprometeu-se fortemente toda a vida consagrada, em todas as partes do mundo. No dia 2 de Fevereiro de 2000, celebrou-se em todas as igrejas particulares, precedido por oportuna preparação, o Jubileu da vida consagrada.
No termo do Ano Jubilar, a fim de que cruzássemos todos juntos o umbral do novo milênio, o Santo Padre quis recolher o legado das celebrações jubilares na Carta Apostólica Novo millennio ineunte. Neste texto, com extraordinária, mas não imprevista, continuidade, encontram-se alguns temas fundamentais, de algum modo já antecipados na Exortação Vita consecrata: Cristo, centro da vida de cada cristão,11 a pastoral e a pedagogia da santidade, o seu caráter exigente, a sua medida alta na vida cristã ordinária,12 a exigência difundida de espiritualidade e de oração, vivida especialmente na contemplação e na escuta da Palavra de Deus,13 a incidência insubstituível da vida sacramental,14 a espiritualidade de comunhão15 e o testemunho do Amor que se expressa por meio duma nova fantasia da caridade junto a quem sofre, junto a um mundo ferido e escravo do ódio, assim como no diálogo ecumênico e inter-religioso.16
Os Padres da Plenária, partindo dos elementos já adquiridos pela Exortação Apostólica e postos, pela experiência do Jubileu, frente às necessidades de um renovado compromisso de santidade, evidenciaram os interrogativos e as aspirações que, nas diversas partes do mundo, as pessoas consagradas advertem, resgatando-lhes os aspectos mais relevantes. O escopo deles não foi o de oferecer um ulterior documento doutrinal, mas sim o de ajudar a vida consagrada a entrar nas grandes indicações pastorais do Santo Padre, com o contributo da sua autoridade e do seu serviço carismático em prol da unidade e da missão universal da Igreja. Um dom que se retribui e se leva à prática com a fidelidade ao seguimento de Cristo, segundo os conselhos evangélicos, e com a força da caridade, vivida cotidianamente na comunhão fraterna e numa generosa espiritualidade apostólica.
As Assembléias especiais do Sínodo dos Bispos, de índole continental, que escandiram a preparação para o Jubileu, interessaram-se já pela contextualização eclesial e cultural das aspirações e dos desafios da vida consagrada. Os Padres da Plenária não tiveram a intenção de retomar uma análise da situação. Em forma mais simples, observando o hoje da vida consagrada e sempre atentos às indicações do Santo Padre, convidam os consagrados e as consagradas, em cada um de seus ambientes e culturas, a que se apóiem sobretudo na espiritualidade. A sua reflexão, recolhida nestas páginas, articula-se em quatro partes. Depois de ter reconhecido a riqueza da experiência que a vida consagrada está vivendo atualmente na Igreja, quiseram exprimir a sua gratidão e plena estima pelo que ela é e pelo que ela faz (I Parte). Não se ocultaram as dificuldades, as provas e os desafios aos quais os consagrados e as consagradas estão hoje submetidos, contudo foram estes lidos como uma nova oportunidade para descobrir, de modo mais profundo, o sentido e a qualidade da vida consagrada (II Parte). O apelo mais importante é o de um renovado empenho na vida espiritual, partindo de Cristo no seguimento do Evangelho e vivendo, de modo particular, a espiritualidade da comunhão (III Parte). Finalmente, os Padres quiseram acompanhar as pessoas consagradas pelos caminhos do mundo, por onde encaminhou-se Cristo e onde está presente hoje, onde a Igreja O proclama Salvador do mundo, onde o pulsar trinitário da caridade dilata a comunhão numa renovada missão (IV Parte). 

5. Dirigindo o olhar para a presença e o variado engajamento que consagrados e consagradas levam a todos os campos da vida eclesial e social, os Padres da Plenária quiseram manifestar-lhes sincero apreço, reconhecimento e solidariedade. Este é o sentir de toda a Igreja, que o Papa, dirigindo-se ao Pai, fonte de todo o Bem, assim exprime: «Agradecemo-Vos o dom da vida consagrada, que na fé Vos procura e, na sua missão universal, convida a todos a caminharem para Vós».17 Através de uma existência transfigurada, ela participa da vida da Trindade, confessando-lhe o amor que salva.18
As pessoas consagradas merecem, verdadeiramente, a gratidão da comunidade eclesial: monges e monjas, contemplativos e contemplativas, religiosos e religiosas dedicados às obras de apostolado, membros dos institutos seculares e das sociedades de vida apostólica, eremitas e virgens consagradas. A sua existência dá testemunho de amor a Cristo quando eles se encaminham pelo seu seguimento, tal como este se propõe no Evangelho e, com íntima alegria, assumem o mesmo estilo de vida que Ele escolheu para Si.19 Esta louvável fidelidade, embora não procurando outra aprovação que a do Senhor, «constitui memória viva da forma de existir e atuar de Jesus, como Verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos».20
6. É, precisamente, no simples cotidiano que a vida consagrada cresce, em progressivo amadurecimento, a fim de se tornar anúncio de um modo de viver alternativo aos do mundo e da cultura dominante. Com o estilo de vida e a busca do Absoluto, sugere quase que uma terapia espiritual para os males do nosso tempo. Por isso, no coração da Igreja, representa uma bênção e um motivo de esperança para a vida humana e para a própria vida eclesial.21 
Além da presença ativa de novas gerações de pessoas consagradas que tornam viva a presença de Cristo no mundo, bem como o esplendor dos carismas eclesiais, é igualmente significativa, de modo particular, a presença escondida e fecunda de consagrados e consagradas que conhecem a velhice, a solidão, a doença e o sofrimento. Ao serviço que já prestaram e à sabedoria que podem ainda compartilhar com os demais, acrescentam eles a própria e preciosa contribuição, unindo-se com a sua oblação ao Cristo padecente e glorificado, em favor de seu Corpo que é a Igreja (cfr. Cl 1, 24).
7. A vida consagrada prosseguiu, nestes anos, caminhos de aprofundamento, purificação, comunhão e missão. Nas dinâmicas comunitárias intensificaram-se as relações pessoais, tendo-se reforçado, junto a isso, o intercâmbio cultural, reconhecido como benéfico e estimulante para as próprias instituições. Aprecia-se um esforço louvável por encontrar um exercício da autoridade e da obediência mais inspirado no Evangelho que afirma, ilumina, convoca, integra e reconcilia. Na docilidade às indicações do Papa, cresce a sensibilidade aos pedidos dos Pastores e incrementa-se a colaboração formativa e apostólica entre os Institutos.
As relações com toda a comunidade cristã se vão configurando de um modo sempre melhorcomo intercâmbio de dons na reciprocidade e na complementariedade das vocações eclesiais.22 É, com efeito, nas Igrejas locais que se podem estabelecer aquelas linhas programáticas concretas que permitam ao anúncio de Cristo chegar até as pessoas, plasmar as comunidades, incidir profundamente, através do testemunho dos valores evangélicos, na sociedade e na cultura.23
De meras relações formais, passa-se prazenteiramente a uma fraternidade vivida no recíproco enriquecimento carismático. É um esforço que pode ajudar a todo o Povo de Deus, porquanto a espiritualidade da comunhão confere alma ao aspecto institucional, com um sentido de confiança e abertura que responde plenamente à dignidade e à responsabilidade de cada batizado.24
8. O chamado a seguir a Cristo com uma especial consagração é um dom da Trindade para todo o Povo de eleitos. Vendo no batismo a origem sacramental comum, consagrados e consagradas vão ao encontro dos outros fiéis, para compartilhar a vocação à santidade a ao apostolado. Ao serem sinais desta vocação universal, eles manifestam a missão específica da vida consagrada.25
As pessoas consagradas receberam, para o bem da Igreja, o chamado a uma «nova e especial consagração»,26 que compromete a viver, com amor apaixonado, a forma de vida de Cristo, da Virgem Maria e dos Apóstolos.27 No mundo atual, faz-se urgente um testemunho profético apoiado «sobre a afirmação da primazia de Deus e dos bens futuros, como transparece do seguimento e imitação de Cristo casto, pobre e obediente, votado completamente à glória do Pai e ao amor dos irmãos e irmãs».28
Das pessoas consagradas, expande-se sobre a Igreja um persuasivo convite a considerar o primado da graça e a responder-lhe mediante um generoso compromisso espiritual.29 Não obstante os amplos processos de secularização, os fiéis advertem uma generalizada exigência de espiritualidade, muitas vezes expressa numa renovada carência de oração.30 Os acontecimentos da vida, mesmo corriqueiros, põem-se como interrogativos a serem lidos sob a ótica da conversão. A dedicação dos consagrados ao serviço de uma qualidade evangélica da vida contribui para manter viva, em muitos modos, a prática espiritual em meio ao povo cristão. As comunidades religiosas procuram sempre mais ser lugares para a escuta e a partilha da palavra, para a celebração litúrgica, a pedagogia da oração, o acompanhamento e a direção espiritual. Então, ainda que sem o pretender, a ajuda dada aos outros retorna numa recíproca vantagem.31 
9. À imitação de Jesus, os que Deus chama a seu seguimento são consagrados e enviados ao mundo para continuar-lhe a missão. Antes bem, a própria vida consagrada, sob a ação do Espírito Santo, faz-se missão. Quanto mais os consagrados se deixam conformar com Cristo, tanto mais O tornam presente e operante na história para a salvação dos homens.32 Abertos às necessidades do mundo na perspectiva de Deus, olham para um futuro com sabor de ressurreição, dispostos a seguir o exemplo de Cristo, que veio entre nós para dar a vida, e vida em abundância (cfr. Jo 10, 10).
O zelo pela instauração do Reino de Deus e pela salvação dos irmãos vem assim a constituir a melhor prova de uma doação autenticamente vivida pelas pessoas consagradas. Eis porque cada uma de suas tentativas de renovação traduz-se num novo impulso para a missão evangelizadora.33 Aprendem a escolher com o auxílio de uma formação permanente, caracterizada por intensas experiências espirituais que levam a decisões corajosas.
Nas intervenções dos Padres, durante a Plenária, bem como nas relações apresentadas, suscitou admiração a multiforme atividade missionária dos consagrados e das consagradas.
Percebe-se, de um modo particular, a preciosidade do trabalho apostólico desempenhado, com a generosidade e a peculiar riqueza inerente ao “gênio feminino”, pelas mulheres consagradas. Este merece o maior reconhecimento por parte de todos, pastores e fiéis. Porém, o caminho empreendido se deve ainda aprofundar e ampliar, «é, portanto, urgente realizar alguns passos concretos, começando pela abertura às mulheres de espaços de participação nos vários setores e a todos os níveis, mesmo nos processos de elaboração das decisões».34  
Um agradecimento seja dirigido, sobretudo, a quem se encontra na linha de frente. A disponibilidade missionária afirmou-se com uma corajosa expansão em direção aos povos que esperam o primeiro anúncio do Evangelho. Jamais quiçá, como nestes últimos anos, foram conhecidas tantas novas fundações, precisamente em momentos onerados pela dificuldade numérica sofrida pelos Institutos. Procurando, entre as indicações da história, uma resposta para as expectativas da humanidade, o empreendimento e a audácia evangélica impeliram consagrados e consagradas a lugares difíceis até ao risco e ao efetivo sacrifício da vida.35
Com renovada solicitude, muitas pessoas consagradas encontram, no exercício das obras de misericórdia evangélica, enfermos que curar, necessitados de todo o tipo, aflitos por antigas e novas formas de pobreza. Inclusive outros ministérios, como o da educação, recebem deles uma contribuição indispensável que faz amadurecer a fé, através da catequese, ou exercita um verdadeiro apostolado intelectual. Tampouco deixam de sustentar com sacrifício e colaborações sempre mais amplas a voz da Igreja nos meios de comunicação que promovem a transformação social.36 Uma opção convencida e forte levou ao aumento do número de religiosos e religiosas que vivem entre os excluídos. Numa humanidade em movimento, quando tantas pessoas vêem-se obrigadas a emigrar, estes homens e mulheres do Evangelho se dirigem à «fronteira» por amor a Cristo, fazendo-se próximos dos últimos.
Igualmente significativa é a contribuição eminentemente espiritual que as monjas oferecem à evangelização. Tal contribuição é «alma e fermento das iniciativas apostólicas, deixando a quem compete por vocação a participação ativa nas mesmas».37 «Assim a sua vida se torna uma fonte misteriosa de fecundidade apostólica e de bênção para a comunidade cristã e para o mundo inteiro».38 
Enfim, é mister recordar que, nestes últimos anos, o Martirológio das testemunhas da fé e do amor na vida consagrada enriqueceu-se ulterior e notavelmente. As situações difíceis exigiram de não poucas entre elas a extrema prova de amor em genuína fidelidade ao Reino. Consagrados a Cristo e ao serviço de seu Reino testemunharam a fidelidade do seguimento até a cruz. Diversas foram as circunstâncias e várias as situações, porém única a causa do martírio: a fidelidade ao Senhor e a seu Evangelho: «pois não é a pena que faz o mártir, mas sim a causa».39
10.Este é um tempo no qual o Espírito irrompe, abrindo novas possibilidades. A dimensão carismática das diversas formas de vida consagrada, embora sempre em processo e jamais terminada, prepara na Igreja, em sinergia com o Paráclito, o advento d'Aquele que é já o futuro da humanidade em caminho. Como Maria Santíssima, a primeira consagrada, gerou a Cristo, pelo poder do Espírito Santo e pelo dom total de si, para redimir a humanidade com uma doação de amor, assim, as pessoas consagradas, perseverando na abertura ao Espírito criador e mantendo-se numa humilde docilidade, são chamadas hoje a apostar na caridade, «frutificando no compromisso dum amor ativo e concreto por cada ser humano».40 Existe um laço particular de vida e dinamismo entre o Espírito Santo e a vida consagrada, por isso as pessoas consagradas devem perseverar na docilidade ao Espírito criador. Ele obra segundo o querer do Pai para o louvor da graça que foi concedida aos consagrados no Filho bem-amado. E é o mesmo Espírito que irradia o esplendor do mistério sobre toda a existência, gasta pelo Reino de Deus e pelo bem de multidões tão carentes quanto abandonadas. Também o futuro da vida consagrada se confia ao dinamismo do Espírito, autor e dispensador dos carismas eclesiais, postos por Ele a serviço da plenitude do conhecimento e da realização do Evangelho de Jesus Cristo.

11. Um olhar realista sobre a situação da Igreja e do mundo obriga-nos a perceber também as dificuldades nas quais a vida consagrada se encontra vivendo. Todos somos conscientes igualmente das provas e das purificações às quais ela está hoje submetida. O grande tesouro do dom de Deus guarda-se em frágeis vasos de barro (cfr. 2 Cor 4, 7) e o mistério do mal arma ciladas também àqueles que dedicam a Deus toda a sua vida. Se se presta agora certa atenção aos sofrimentos e desafios que hoje perturbam a vida consagrada não é para dirigir-lhe um juízo crítico nem condenatório, mas para mostrar, uma vez mais, toda a solidariedade e vizinhança amorosa de quem quer partilhar não apenas as alegrias, mas também as dores. Observando algumas particulares dificuldades, procurar-se-á ter o olhar de quem sabe que a história da Igreja é conduzida por Deus e que tudo contribui para o bem daqueles que O amam (cfr. Rm 8, 28). Nesta visão de fé, até o negativo poderá ser ocasião para um novo início, se nele se reconhecer o rosto de Cristo, crucificado e abandonado, que se fez solidário com os nossos limites, a ponto de, sobre a cruz, carregar nossos pecados em seu próprio corpo (cfr. 1 Pd 2, 24).41 A graça de Deus manifesta-se, pois, plenamente na nossa debilidade (cfr. 2 Cor 12, 9).
12. As dificuldades com que hoje se enfrentam as pessoas consagradas assumem múltiplas feições, sobretudo se levarmos em conta os diversos contextos culturais nos quais elas vivem. A diminuição dos membros em muitos Institutos e o seu envelhecimento, evidente nalgumas partes do mundo, fazem surgir a pergunta se a vida consagrada seria ainda um testemunho visível, capaz de atrair os jovens. Se, como se afirma em certos lugares, o terceiro milênio será o tempo de protagonismo dos leigos, das associações e dos movimentos eclesiais, podemos perguntar-nos: qual será o lugar reservado às formas tradicionais de vida consagrada? Ela, João Paulo II no-lo recorda, tem ainda uma grande história a construir junto a todos os fiéis.42
Não podemos, contudo, ignorar que a vida consagrada, às vezes, parece não contar com a devida consideração, isso quando não existe até mesmo uma certa desconfiança em relação a ela. Por outro lado, em face à progressiva crise religiosa que investe contra uma grande parte da nossa sociedade, as pessoas consagradas, hoje de modo particular, são obrigadas a procurar novas formas de presença e a propor-se não poucos interrogativos sobre o sentido da sua identidade e do seu futuro.
Ao lado do impulso vital, capaz de testemunho e de doação até ao martírio, a vida consagrada conhece também a insídia da mediocridade na vida espiritual, do progressivo aburguesamento e da mentalidade consumista. A complexa condução das obras, embora pedida pelas novas exigências sociais e pelas normativas dos Estados, unida à tentação do eficientismo e do ativismo, ameaçam ofuscar a originalidade evangélica e debilitar as motivações espirituais. O prevalecer de projetos pessoais sobre os comunitários pode lesar profundamente a comunhão da fraternidade.
São problemas reais que, todavia, não se devem generalizar. As pessoas consagradas não são as únicas a viver em tensão entre secularismo e autêntica vida de fé, entre a fragilidade da própria humanidade e a força da graça; esta é a condição de todos os membros da Igreja.
13. As dificuldades e os interrogativos vividos hoje pela vida consagrada podem introduzir num novo kairós, num tempo de graça. Neles se esconde um autêntico apelo do Espírito Santo a redescobrir as riquezas e potencialidades desta forma de vida.
Ter de conviver, por exemplo, com uma sociedade onde reina amiúde uma cultura de morte, pode se tornar um desafio a ser, com mais força, testemunhas, portadores e servos da vida. Os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, vividos por Cristo na plenitude da sua humanidade de Filho de Deus e abraçados por seu amor, aparecem como uma via para a realização plena da pessoa em oposição à desumanização, um poderoso antídoto para a inquinação do espírito, da vida e da cultura; proclamam a liberdade dos filhos de Deus e a alegria de viver segundo as bem-aventuranças evangélicas. 
A impressão que se pode ter de uma queda na estima pela vida consagrada, por parte de alguns setores da Igreja, pode ser viviva como um convite a uma purificação libertadora. A vida consagrada não procura louvores nem apreços humanos, ela é recompensada pela alegria de continuar a trabalhar operosamente a serviço do Reino de Deus, para ser germe de vida que cresce em segredo, sem esperar recompensa diversa da que o Pai dará ao final (cfr.Mt 6, 6). Ela encontra a sua identidade no chamamento do Senhor, no seu seguimento, amor e serviço incondicionais, capazes de cumular uma vida e de dar-lhe plenitude de sentido.
Se, nalguns lugares, as pessoas consagradas convertem-se em pequeno rebanho, devido à redução numérica, este fato pode ser lido como um sinal providencial que convida a recuperar a missão essencial de levedura, de fermento, de sinal e de profecia. Quanto maior se apresentar a massa a levedar, tanto mais rico em qualidade deverá ser o fermento evangélico, e tanto mais refinados o testemunho de vida e o serviço carismático das pessoas consagradas.
A crescente tomada de consciência a respeito da universalidade da vocação à santidade por parte de todos os cristãos,43 longe de fazer que se considere supérflua a pertença a um estado particularmente adaptado à consecução da perfeição evangélica, pode se tornar um motivo ulterior de alegria para as pessoas consagradas; elas estão agora mais próximas aos outros membros do Povo de Deus, com os quais partilham um caminho comum de seguimento de Cristo, numa comunhão mais autêntica, na emulação e na reciprocidade, no auxílio recíproco da comunhão eclesial, sem superioridade nem inferioridade. Ao mesmo tempo, uma tal consciência é um chamado à compreensão do valor de sinal da vida consagrada em relação à santidade de todos os membros da Igreja.
Se, de fato, é verdade que todos os cristãos são chamados «à santidade e à perfeição do próprio estado»,44 as pessoas consagradas, graças a uma «nova e especial consagração»,45têm a missão de fazer que resplandeça a forma de vida de Cristo, por meio do testemunho dos conselhos evangélicos, para sustento da fidelidade de todo o Corpo de Cristo. Esta não é uma dificuldade, mas sim um estímulo para a originalidade e a específica contribuição dos carismas da vida consagrada, os quais são, ao mesmo tempo, carismas de espiritualidade compartilhada e de missão em favor da santidade da Igreja.
Em suma, tais desafios podem constituir um potente apelo a aprofundar a própria vivência da vida consagrada, cujo testemunho se faz hoje, mais do que nunca, necessário. Oportuno é recordar como os santos fundadores e fundadoras souberam responder com genuína criatividade carismática aos desafios e dificuldades de seu próprio tempo.
14. Missão fundamental, na hora de reencontrar o sentido e a qualidade da vida consagrada, é a dos superiores e superioras, aos quais se confiou o serviço da autoridade, tarefa exigente e, às vezes, contrariada. Essa missão requer uma constante presença, capaz de animar e de propor, de recordar a razão de ser da vida consagrada e de ajudar as pessoas que lhe foram confiadas no sentido de uma fidelidade sempre renovada ao chamado do Espírito. Nenhum superior pode renunciar à sua missão de animação, de ajuda fraterna, de proposta, de escuta e de diálogo. Só assim é que a comunidade toda poderá achar-se unida na plena fraternidade, no serviço apostólico e ministerial. Permanecem de grande atualidade as indicações oferecidas no documento da nossa Congregação intitulado A vida fraterna em comunidade, o qual, falando dos aspectos da autoridade que hoje se devem valorizar, menciona a tarefa da autoridade espiritual, da autoridade operadora de unidade e da autoridade que sabe tomar a decisão final e assegurar-lhe a execução.46
Pede-se uma participação convencida e pessoal na vida e missão da comunidade a cada um de seus membros. Mesmo que, em última instância, e segundo o direito próprio, pertença à autoridade o tomar decisões e o fazer opções, o caminho cotidiano da vida fraterna em comunidade postula uma participação que consente o exercício do diálogo e do discernimento. Todos e cada um na comunidade podem, desse modo, confrontar a própria vida com o projeto de Deus, fazendo juntos a Sua vontade.47 A corresponsabilidade e a participação se exercitam também nos diversos tipos de conselhos, nos vários níveis, lugares onde deve reinar, antes de mais nada, uma plena comunhão, de tal modo a ter constantemente consigo a presença do Senhor que ilumina e guia. O Santo Padre não hesitou em recordar aantiga sabedoria da tradição monástica para um reto exercício concreto da espiritualidade de comunhão, que promove e assegura a participação ativa de todos.48
Em tudo isso, ajudará uma séria formação permanente, no âmbito de uma reconsideração radical do problema da formação nos Institutos de vida consagrada e nas Sociedades de vida apostólica, para estabelecer um caminho autêntico de renovação: esta, com efeito, «depende principalmente da formação dos seus membros».49
15. O tempo em que vivemos impõe que se repense, em geral, a formação das pessoas consagradas, sem a limitar a um único período da vida. Não só para que se façam sempre mais capazes de se inserir numa realidade que se modifica com um ritmo muitas vezes frenético, mas também, e primeiramente, porque é a própria vida consagrada que exige, pela sua mesma natureza, uma constante disponibilidade naqueles que a ela são chamados. Se, de fato, a vida consagrada é, em si mesma, uma «progressiva assimilação dos sentimentos de Cristo»,50 parece evidente que um tal caminho não poderá durar senão toda uma existência, para comprometer toda a pessoa, coração, mente e forças (cfr. Mt 22, 37), fazendo-a semelhante ao Filho que se doa ao Pai pela humanidade. Assim entendida, a formação não é mais apenas um tempo pedagógico de preparação para os votos, mas representa um modo teológico de pensar a própria vida consagrada, que é, em si, uma formação jamais terminada, uma «participação na ação do Pai que, através do Espírito, plasma no coração (...) os sentimentos do Filho».51 
Importante será, então, que cada pessoa consagrada seja formada para a liberdade de aprender ao longo de toda a sua vida, em cada idade e época, em cada ambiente e contexto humano, de cada pessoa e de cada cultura, para deixar-se instruir por qualquer fragmento de verdade e de beleza que encontrar ao seu redor. Mas deverá aprender principalmente a se fazer formar pela vida cotidiana, pela sua própria comunidade, por seus irmãos e irmãs, pelas coisas de sempre, ordinárias e extraordinárias, pela oração bem como pela fadiga apostólica, na alegria e no sofrimento, até ao momento da morte.
Decisivos se fazem portanto a abertura ao outro e à alteridade e, de modo especial, a relação com o tempo. As pessoas em formação contínua reapropriam-se do tempo, não o sofrem, acolhem-no, porém, como dom e entram com sabedoria nos diversos ritmos (cotidiano, semanal, mensal e anual) da própria vida, buscando a sintonia entre estes e o ritmo fixado por Deus, imutável e eterno, que marca os dias, os séculos e o tempo. De um modo todo particular, a pessoa consagrada aprende a deixar-se plasmar pelo ano litúrgico, em cuja escola revive progressivamente em si os mistérios da vida do Filho de Deus com os seus mesmos sentimentos, para partir de Cristo e da sua Páscoa de morte e ressurreição, a cada dia da vida.
16. Um dos primeiros frutos de um caminho de formação permanente é a capacidade cotidiana de viver a vocação como dom sempre novo a acolher-se com um coração agradecido. Um dom ao qual responder com uma atitude sempre mais responsável, a testemunhar-se com convicção e capacidade de contágio a fim de que outros possam sentir-se chamados por Deus àquela vocação particular ou ainda a outros caminhos. O consagrado é também, por sua própria natureza, um animador vocacional; quem foi chamado pois, não pode não se tornar, ele mesmo, um arauto. Há, portanto, um laço natural entre formação permanente e animação vocacional. 
O serviço às vocações é um dos ulteriores, novos e mais comprometedores desafios que a vida consagrada tem, hoje, por diante. De um lado, a globalização da cultura e a complexidade das relações sociais dificultam as opções de vida radicais e duradouras; de outro, o mundo vive em crescente experiência de sofrimentos materiais e morais que minam a própria dignidade do ser humano e reclamam, em modo tácito, quem anuncie com força uma mensagem de paz e de esperança, quem traga a salvação de Cristo. Ressoam em nossas mentes as palavras de Jesus a seus apóstolos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao Dono da messe que mande trabalhadores para a colheita» (Mt 9, 37-38; Lc 10, 2). O primeiro compromisso da pastoral vocacional será sempre a oração. Sobretudo lá onde raros são os ingressos na vida consagrada, solicita-se uma renovada fé no Deus que pode suscitar filhos de Abraão até das pedras (cfr. Mt 3, 9) e fazer fecundos os ventres estéreis, se invocado com confiança. Todos os fiéis, e principalmente os jovens, devem-se comprometer nesta manifestação de fé em Deus, o único que pode chamar e enviar os seus operários. Toda a Igreja local: os Bispos, presbíteros, leigos, pessoas consagradas, é chamada a assumir a responsabilidade frente às vocações de particular consagração.
A via mestra da promoção vocacional à vida consagrada é a que o Senhor mesmo iniciou, quando disse aos apóstolos João e André: «Vinde ver» (Jo 1, 39). Este encontro, acompanhado pela partilha da vida, pede às pessoas consagradas que vivam profundamente a sua consagração, de modo a serem sinal visível da alegria que Deus dá a quem escuta o seu chamado. Daí a necessidade de comunidades acolhedoras e capazes de compartilhar o seu ideal de vida com os jovens, deixando-se interpelar pelas exigências de autenticidade e prontas para caminhar com eles.
A Igreja local é um ambiente privilegiado para este anúncio vocacional. Nela, todos os ministérios e carismas exprimem a sua reciprocidade52 e realizam juntos a comunhão no único Espírito de Cristo e a multiplicidade das suas manifestações. A presença ativa das pessoas consagradas ajudará as comunidades cristãs a se tornarem laboratórios da fé,53lugares de busca, de reflexão e de encontro, de comunhão e de serviço apostólico, nos quais todos se sintam partícipes na edificação do Reino de Deus em meio aos homens. Cria-se assim o clima característico da Igreja como família de Deus, ambiente que facilita o recíproco conhecimento, a partilha e o contágio dos valores peculiares que se encontram à raiz da opção por doar toda a própria vida pela causa do Reino. 
17. O cuidado pelas vocações é uma missão crucial para o futuro da vida consagrada. A diminuição das vocações, particularmente no mundo ocidental, e o seu crescimento na Ásia e na África desenham uma nova geografia da presença da vida consagrada na Igreja e novos equilíbrios culturais na vida dos Institutos. Este estado de vida, que através da profissão dos conselhos evangélicos, dá aos traços característicos de Jesus uma típica e permanentevisibilidade no meio do mundo,54 vive hoje um tempo particular de reflexão e de procura de novas modalidades em culturas novas. Trata-se certamente de um promissor início para o desenvolvimento de expressões ainda por explorar das suas múltiplas formas carismáticas.
As transformações em ato exigem diretamente de cada um dos Institutos de vida consagrada e das Sociedades de vida apostólica que dêem um forte sentido evangélico à sua presença na Igreja e ao seu serviço à humanidade. A pastoral das vocações pede que se desenvolvam novas e mais profundas capacidades de encontro, que se ofereçam, com o testemunho da vida, itinerários característicos de seguimento de Cristo e de santidade, e que se anunciem, com força e clareza, a liberdade que brota de uma vida pobre, que tem o Reino de Deus como único tesouro; a profundidade do amor de uma existência casta, que quer chegar a ter um só coração: o de Cristo, e a força de santificação e renovação contida numa vida obediente, cujo único horizonte é o de cumprir a vontade de Deus para a salvação do mundo.
Hoje, a promoção das vocações é tarefa que não pode ser delegada, em forma exclusiva, a alguns especialistas nem separada de uma verdadeira pastoral juvenil que faça sentir sobretudo o amor concreto de Cristo pelos jovens. Cada comunidade e todos os membros do Instituto são chamados a encarregar-se do contato com os jovens, de uma pedagogia evangélica do seguimento de Cristo e da transmissão do carisma. Os jovens esperam quem saiba propor estilos de vida autenticamente evangélicos e caminhos de iniciação aos grandes valores espirituais da vida humana e cristã. São, portanto, as pessoas consagradas que devem redescobrir a arte pedagógica de suscitar e libertar as profundas perguntas, freqüentemente escondidas no coração das pessoas, em particular, dos jovens. Acompanhando o caminho de discernimento vocacional, as pessoas consagradas serão estimuladas a mostrar a fonte de sua identidade. Comunicar a própria experiência de vida significa sempre fazer memória da mesma, revendo aquela luz que guiou a escolha pessoal da vocação.
18. No que concerne à formação, o nosso Dicastério emanou dois documentos: Potissimum institutioni A colaboração inter-Institutos para a formação. Somos, todavia, bem conscientes dos desafios sempre novos que os Institutos devem enfrentar neste campo.
As novas vocações que batem às portas da vida consagrada apresentam profunda diversidade e necessitam de atenções pessoais e metodologias adaptadas a assumir a sua concreta situação humana, espiritual e cultural. Por isso, é mister levar à prática um sereno discernimento, livre das tentações do número ou da eficiência, para verificar, à luz da fé e das possíveis contraindicações, a veracidade da vocação e a retidão das intenções. Os jovens precisam ser estimulados aos altos ideais do seguimento radical de Cristo e às profundas exigências da santidade, em vista de uma vocação que os supera e vai talvez mais além do projeto inicial que os moveu a entrar num determinado Instituto. A formação, por isso, deverá ter as características da iniciação ao seguimento radical de Cristo. Uma vez que o fim da vida consagrada consiste na configuração com o Senhor Jesus, é necessário levar à prática um itinerário de progressiva assimilação dos sentimentos de Cristo para com o Pai.55 Isso ajudará a integrar conhecimentos teológicos, humanísticos e técnicos com a vida espiritual e apostólica do Instituto e conservará sempre a característica de escola de santidade
Os desafios mais comprometedores que a formação se vê obrigada a enfrentar provêm dos valores que dominam a cultura globalizada dos nossos dias. O anúncio cristão da vida como vocação, vida que brota de um projeto de amor do Pai e que necessita de um encontro pessoal e salvífico com Cristo na Igreja, deve-se deparar com concepções e projetos dominados por culturas e histórias sociais extremamente diversificadas. Existe o risco de que as opções subjetivas, os projetos individuais e as orientações locais venham a sobrepor-se à Regra, ao estilo de vida comunitária e ao projeto apostólico do Instituto. Faz-se necessário um diálogo formativo capaz de acolher as características humanas, sociais e espirituais de cada um, discernindo nelas os limites humanos, que pedem a superação, e as provocações do Espírito, capazes de renovar seja a vida do indivíduo, seja a do mesmo Instituto. Num tempo de profundas transformações, a formação deverá estar atenta em radicar no coração dos jovens consagrados os valores humanos, espirituais e carismáticos necessários para fazê-los idôneos a realizar uma «fidelidade criativa»56 no sulco da tradição espiritual e apostólica do Instituto.
A interculturalidade, a diferença etária e os diversos projetos caracterizam sempre mais os Institutos de vida consagrada. A formação deverá educar para o diálogo comunitário na cordialidade e na caridade de Cristo, ensinando a acolher a diversidade como riqueza e a integrar os diversos modos de ver e pensar. Assim, a busca constante de unidade na caridade far-se-á escola de comunhão para as comunidades cristãs e proposta de fraterna convivência entre os povos.
Deverá ser dada, também, uma atenção particular a uma formação cultural sintonizada com o tempo e em diálogo com a procura de sentido do homem de hoje. Por isso, exige-se uma maior preparação no campo filosófico, teológico, psicopedagógico e uma mais profunda orientação à vida espiritual, bem como modelos mais adequados no respeito às culturas nas quais nascem as novas vocações, itinerários bem definidos para a formação permanente e, sobretudo, auspicia-se que sejam destinadas para a formação as melhores forças, mesmo que isso demande notáveis sacrifícios. O emprego de pessoal qualificado e a sua adequada preparação são um dever prioritário. 
Devemos ser bastante generosos para dedicar o tempo e as melhores energias à formação. As pessoas dos consagrados, com efeito, estão entre os bens mais preciosos de que a Igreja dispõe. Sem elas, todos os planos formativos e apostólicos restam mera teoria, desejos ineficazes. Sem esquecer que, numa época pressurosa como a nossa, urgem, mais do que nunca, tempo, perseverança e espera paciente para a consecução dos objetivos formativos. Em circunstâncias nas quais prevalecem rapidez e superficialidade, precisamos de serenidade e de profundidade porquanto muito lentamente se constrói, de fato, uma pessoa.
19. Se se destacaram a necessidade da qualidade da vida e a atenção às exigências formativas, é porque estes parecem ser os aspectos mais urgentes. A Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica quisera, não obstante, fazer-se próxima às pessoas consagradas em todas as demais problemáticas e continuar um diálogo sempre mais sincero e construtivo.
Os Padres da Plenária são conscientes desta necessidade e manifestaram o desejo de um maior conhecimento e colaboração com os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica. A sua presença na Igreja local, e em particular a das várias congregações de direito diocesano, das Virgens consagradas e dos eremitas, requer uma especial atenção da parte do Bispo e de seu presbitério.
Da mesma forma, são sensíveis aos interrogativos que religiosos e religiosas se põem a respeito das grandes obras que, até agora, têm permitido um serviço na linha dos respectivos carismas: hospitais, colégios, escolas, casas de acolhida e de retiro. Nalgumas partes do mundo tais obras se pedem com urgência, noutras, torna-se difícil a sua gestão. Para encontrar uma solução, é preciso ter criatividade, sagacidade, diálogo entre os membros do Instituto, entre membros de Institutos com obras análogas e com os responsáveis da Igreja particular.
Muito vivas são igualmente as temáticas relativas à inculturação. Elas dizem respeito ao modo de encarnar a vida consagrada, à adaptação das formas de espiritualidade e de apostolado, às modalidades de governo, à formação, à gerência dos recursos e bens econômicos e ao desenvolvimento da missão. As instâncias expressas pelo Papa e dirigidas a toda a Igreja, valem também para a vida consagrada: «O cristianismo do terceiro milênio deverá responder cada vez melhor a esta exigência de inculturação. Permanecendo o que é, na fidelidade total ao anúncio evangélico e à tradição eclesial, o cristianismo assumirá também o rosto das diversas culturas e dos vários povos onde for acolhido e se radicar».57 A partir de uma verdadeira inculturação, espera-se da vida consagrada, bem como de toda a Igreja, um enriquecimento notável e uma nova era de impulso espiritual e apostólico. 
Poderíamos passar em resenha muitas outras expectativas da vida consagrada, no início deste novo milênio e não terminaríamos mais, já que o Espírito empurra sempre para adiante, sempre mais além. A palavra do Mestre é que deve suscitar tanto entusiasmo em todos os seus discípulos e discípulas de modo a que façam memória agradecida do passado, vivam com paixão o presente e abram-se com confiança ao futuro.58
Escutando o convite dirigido por João Paulo II a toda a Igreja, a vida consagrada deve partir decididamente de Cristo, contemplando o seu rosto e privilegiando os caminhos da espiritualidade como vida, pedagogia e pastoral: «A Igreja espera também a vossa contribuição, Irmãos e Irmãs consagrados, para avançar ao longo deste novo trecho de estrada, segundo as orientações que tracei na Carta Apostólica Novo millennio ineuntecontemplar o rosto de Cristo, partir d'Ele e testemunhar o Seu amor».59 Só então a vida consagrada encontrará uma vitalidade nova para pôr-se a serviço de toda a Igreja e da humanidade inteira.

20. A vida consagrada, como qualquer forma de vida cristã, é dinâmica por natureza e todos quantos são chamados pelo Espírito a abraçá-la precisam renovar-se constantemente no crescimento em direção à plena estatura do Corpo de Cristo (cfr. Ef 4, 13). Ela nasceu pelo impulso criativo do Espírito que moveu os fundadores e as fundadoras pela estrada do Evangelho, suscitando uma admirável variedade de carismas. Eles, disponíveis e dóceis à sua guia, seguiram a Cristo mais de perto, penetrando na sua intimidade e compartilhando-lhe plenamente a missão.
A sua experiência do Espírito pede ser não apenas custodiada por quantos os seguiram, mas também aprofundada e desenvolvida.60 Também hoje o Espírito Santo requer disponibilidade e docilidade à sua ação sempre nova e criativa. Só ele pode manter constante o frescor e a autenticidade dos inícios e, ao mesmo tempo, infundir a coragem do empreendimento e da inventiva para responder aos sinais dos tempos.
É preciso, pois, deixar-se conduzir pelo Espírito em direção a uma descoberta sempre mais renovada de Deus e da sua Palavra, a um amor ardente por Ele e pela humanidade e a uma nova compreensão do carisma dado. Trata-se de firmar-se sobre a espiritualidade, entendida no sentido mais forte do termo, ou seja, a vida segundo o Espírito. A vida consagrada hoje necessita sobretudo de um novo impulso espiritual, que ajude a levar à concreção da vida o sentido evangélico e espiritual da consagração batismal e da sua nova e especial consagração.
«Portanto, a vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa das Famílias de vida consagrada, de tal modo que cada Instituto e cada comunidade se apresentem como escolas de verdadeira espiritualidade evangélica».61 Devemos deixar que o Espírito abra com superabundância as fontes de água viva que brotam do Cristo. É o Espírito quem nos faz reconhecer em Jesus de Nazaré o Senhor (cfr. 1 Cor 12, 3), que faz ouvir o chamado ao seu seguimento e nos identifica com Ele: «Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo» (Rm 8, 9). É Ele quem, fazendo-nos filhos no Filho, testemunha a paternidade de Deus, faz-nos conscientes da nossa filiação e nos concede a audácia de chamá-lo «Abá, ó Pai» (Rm 8, 15). É Ele quem infunde o amor e gera a comunhão. Em definitiva, a vida consagrada exige uma renovada tensão à santidade que, na simplicidade da vida de cada dia, tenha como escopo o radicalismo do sermão da montanha,62 do amor exigente, vivido numa relação pessoal com o Senhor, na vida de comunhão fraterna e no serviço a cada homem e a cada mulher. Tal novidade interior, inteiramente animada pela força do Espírito e tendida em direção ao Pai na busca do seu Reino, consentirá às pessoas consagradas partir de Cristo e ser testemunhas do Seu amor. 
O chamado a reencontrar as próprias raízes e as próprias opções na espiritualidade abre caminhos ao futuro. Trata-se, em primeiro lugar, de viver em plenitude a teologia dos conselhos evangélicos a partir do modelo de vida trinitário, de acordo com os ensinamentos de Vita consecrata,63 com uma nova oportunidade de confrontar-se com as fontes dos próprios carismas e dos próprios textos constitucionais, sempre abertos a novas e mais comprometedoras interpretações. O sentido dinâmico da espiritualidade oferece a ocasião de aprofundar, neste momento da vida da Igreja, uma espiritualidade mais eclesial e comunitária, mais exigente e madura na recíproca ajuda para a consecução da santidade e mais generosa nas opções apostólicas. Finalmente, uma espiritualidade mais aberta a se tornar pedagogia e pastoral da santidade dentro da vida consagrada e na sua irradiação em favor de todo o Povo de Deus. O Espírito Santo é a alma e o animador da espiritualidade cristã, por isso é necessário confiar-se à sua ação, que parte do íntimo dos corações, manifesta-se na comunhão e dilata-se na missão.
21. É mister, portanto, aderir sempre mais a Cristo, centro da vida consagrada, e retomar com vigor um caminho de conversão e de renovação que, como na experiência primitiva dos apóstolos, antes e depois da Sua ressurreição, foi um partir de Cristo. Sim, deve-se partir de Cristo, porque d'Ele partiram os primeiros discípulos na Galiléia, d'Ele, ao longo da história da Igreja, partiram homens e mulheres de todas as condições e culturas os quais, consagrados pelo Espírito à força do chamado recebido, por Ele deixaram família e pátria, seguindo-O incondicionalmente, tornando-se disponíveis para o anúncio do Reino e para fazer o bem a todos (cfr. At 10, 38).
A consciência da própria pobreza e fragilidade e, unida a essa, a da grandeza do chamado levaram amiúde a que se repetisse com o apóstolo Pedro: «Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!» (Lc 5, 8). Contudo, o dom de Deus foi mais forte que a inadequação humana. Cristo mesmo é quem, de fato, se fez presente nas comunidades de quantos, ao longo dos séculos, reuniram-se em seu nome, informou-as de si e de seu Espírito, orientou-as ao Pai, guiou-as pelos caminhos do mundo ao encontro dos irmãos e irmãs, fê-las instrumentos do seu amor e construtoras do Reino em comunhão com todas as demais vocações na Igreja.
As pessoas consagradas podem e devem partir de Cristo porque Ele mesmo, em primeiro lugar, veio ao seu encontro e as acompanha no caminho (cfr. Lc 24, 13-22). A vida delas é a proclamação do primado da graça;64 sem Cristo nada podem fazer (cfr. Jo 15, 5), e tudo podem, por outro lado, n'Aquele que lhes dá força (cfr. Fl 4, 13).
22. Partir de Cristo significa proclamar que a vida consagrada é especial seguimento de Cristo e «memória viva da forma de existir e atuar de Jesus, como Verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos».65 Isto comporta uma particular comunhão com Ele, constituído em centro da vida e fonte contínua de cada iniciativa. Como recorda a Exortação Apostólica Vita consecrata, trata-se de experiência de partilha, graça especial de intimidade,66 de «identificar-se com Ele, assumindo os seus sentimentos e forma de vida»,67é uma vida «cativada por Cristo»,68«vida tocada pela mão de Cristo, abrangida pela sua voz, sustentada pela sua graça».69 
Toda a vida consagrada só pode ser compreendida a partir deste ponto de partida: osconselhos evangélicos têm sentido enquanto ajudam a guardar e a favorecer o amor pelo Senhor em plena docilidade à sua vontade; a vida fraterna é motivada por Ele, que convoca em torno a si, e tem o seu objetivo em gozar da sua constante presença; a missão é o seu mandato e leva à busca do seu rosto no rosto daqueles aos quais se é enviado para compartilhar com eles a experiência de Cristo.
Estas foram as intenções dos fundadores das diferentes comunidades e institutos de vida consagrada. Estes, os ideais que animaram gerações de mulheres e homens consagrados.
Partir de Cristo significa então reencontrar o primeiro amor, a centelha inspiradora da qual se começou o seguimento. É dele o primado do amor. O seguimento é somente resposta de amor ao amor de Deus. Se nós amamos é porque Ele nos amou primeiro (cfr. 1 Jo 4, 10.19). Isto significa reconhecer o seu amor pessoal com aquela íntima consciência que levava o apóstolo Paulo a dizer: «Cristo me amou e por mim se entregou» (Gl 2, 20).
Somente a consciência de ser objeto de um amor infinito pode ajudar a superar toda e qualquer dificuldade, pessoal e do Instituto. As pessoas consagradas não poderão ser criativas, capazes de renovar o Instituto e de abrir novos caminhos de pastoral, se não se sentirem animadas por este amor. Este é o amor que faz fortes e corajosos, que infunde audácia e faz tudo ousar.
Os votos, com os quais os consagrados se comprometem a viver os conselhos evangélicos, conferem toda a sua radicalidade à resposta de amor. A virgindade dilata o coração à medida do coração de Cristo e faz capaz de amar como Ele amou. A pobreza liberta da escravidão das coisas e necessidades artificiais às quais impele a sociedade de consumo, e faz que se redescubra a Cristo, único tesouro pelo qual vale realmente a pena viver. A obediência põe a vida inteiramente em suas mãos para que Ele a realize segundo o desígnio de Deus e dela faça uma verdadeira obra prima. Urge a coragem de um seguimento generoso e alegre. 
23. O caminho que a vida consagrada é chamada a empreender, no início do novo milênio, é guiado pela contemplação de Cristo, com o olhar mais do que nunca «fixo no rosto do Senhor».70 Mas onde contemplar concretamente o rosto de Cristo? Há uma multiplicidade de presenças que, numa maneira sempre nova, se devem descobrir. 
Ele está realmente presente na sua Palavra e nos Sacramentos, de modo especialíssimo na Eucaristia. Vive na sua Igreja e se faz presente na comunidade dos que se reúnem em Seu nome. Está diante de nós em cada pessoa, identificando-se de modo particular com os pequeninos, os pobres, os que sofrem e os que são mais necessitados. Vem ao nosso encontro em todo e qualquer acontecimento alegre ou triste, na prova e no gozo, na dor e na enfermidade.
A santidade é o fruto do encontro com Ele nas muitas presenças onde podemos descobrir o seu rosto de Filho de Deus, um rosto sofredor e, ao mesmo tempo, o rosto do Ressuscitado. Como se fez presente no cotidiano da vida, assim ainda hoje é na vida cotidiana onde continua a mostrar o seu rosto. Precisamos de um olhar de fé para reconhecê-lo, dado pela familiaridade com a Palavra de Deus, pela vida sacramental, pela oração e sobretudo pelo exercício da caridade, porquanto somente o amor consente conhecer plenamente o Mistério.
Podemos enumerar alguns lugares privilegiados nos quais se pode contemplar o rosto de Cristo, para um renovado compromisso na vida do Espírito. São estes os percursos de uma espiritualidade vivida, tarefa fundamental do nosso tempo, ocasião para reler na vida e na experiência cotidiana as riquezas espirituais do próprio carisma num renovado contato com as mesmas fontes que fizeram surgir, da experiência do Espírito dos fundadores e fundadoras, a centelha da vida nova e das obras novas, as específicas releituras do Evangelho que se encontram em cada carisma.
24. Viver a espiritualidade significa, antes de mais nada, partir da pessoa de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, presente na sua Palavra, «a primeira fonte de toda a vida espiritual cristã», como recorda João Paulo II aos consagrados.71 A santidade não é concebível senão a partir de uma renovada escuta da Palavra de Deus. «De modo particular — lemos na Novo millennio ineunte, é necessário que a escuta da Palavra se torne um encontro vital ... (que) permite ler o texto bíblico como palavra viva que interpela, orienta, plasma a existência».72É lá, com efeito, que o Mestre se revela, educa o coração e a mente. É lá que se amadurece a visão da fé, aprendendo-se a olhar a realidade e os acontecimentos com o mesmo olhar de Deus, até se chegar a ter o «pensamento de Cristo» (1 Cor 2, 16).
Foi o Espírito Santo quem iluminou a Palavra de Deus, com nova luz, para os fundadores e fundadoras. Dela brotou cada um dos carismas e dela cada Regra quer ser expressão. Em continuidade com os fundadores e fundadoras, também hoje, os seus discípulos são chamados a acolher a Palavra de Deus, guardando-a no coração, de modo a que ela continue sendo lâmpada para os seus passos e luz sobre o seu caminho (cfr. Sl 118, 105). Então, o Espírito Santo poderá conduzi-los à verdade plena (cfr. Jo 16, 13).
A Palavra de Deus é alimento para a vida, para a oração e para o diário caminhar, é o princípio de unificação da comunidade na unidade de pensamento, a inspiração para a renovação constante e para a criatividade apostólica. O Concílio Vaticano II indicara já no retorno ao Evangelho, o primeiro grande princípio da renovação.73
Como em toda a Igreja, também no interior das comunidades e dos grupos dos consagrados e consagradas, desenvolveu-se nestes anos um contato mais vivo e imediato com a Palavra de Deus. É uma estrada que se deve continuar a percorrer com uma intensidade sempre nova. «É necessário — disse o Papa — que não vos canseis de permanecer em meditação sobre a Sagrada Escritura e, sobretudo, sobre os santos Evangelhos, para que se imprimam em vós os traços do Verbo Encarnado».74 
A vida fraterna em comum favorece também a redescoberta da dimensão eclesial da Palavra: acolhê-la, meditá-la, vivê-la juntos, comunicar as experiências que dela florescem e assim avançar numa autêntica espiritualidade de comunhão.
Neste contexto, convém recordar a necessidade de uma constante referência à Regra, já que na Regra e nas Constituições «se encerra um itinerário de seguimento, qualificado por um carisma específico e autenticado pela Igreja».75 Tal itinerário traduz a peculiar interpretação do Evangelho dada pelos fundadores e pelas fundadoras, dóceis ao impulso do Espírito, e ajuda os membros do Instituto a viver concretamente de acordo com a Palavra de Deus.
Nutridos pela Palavra, feitos homens e mulheres novos, livres e evangélicos, os consagrados poderão ser autênticos servos da Palavra no compromisso da evangelização, cumprindo deste modo uma prioridade para a Igreja, no início do novo milênio: «é preciso reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu ao Pentecostes».76
25. A oração e a contemplação são o lugar de acolhida da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, brotam da escuta da Palavra. Sem uma vida interior de amor que atraia a si o Verbo, o Pai e o Espírito (cfr. Jo 14, 23), não pode haver um olhar de fé e, por conseguinte, a própria vida vai perdendo gradativamente o sentido; o rosto dos irmãos faz-se opaco, tornando-se impossível descobrir neles o rosto de Cristo; os acontecimentos da história permanecem ambíguos, quando não desprovidos de esperança, e a missão apostólica e caritativa decai em atividade dispersiva.
Cada vocação à vida consagrada nasceu na contemplação, de momentos de intensa comunhão e de uma profunda relação de amizade com Cristo, da beleza e da luz que se viram brilhar sobre o Seu rosto. Daí amadureceu o desejo de estar sempre com o Senhor - «é bom ficarmos aqui» (Mt 17, 4) — e de O seguir. Cada vocação deve constantemente amadurecer nesta intimidade com Cristo. «O vosso primeiro compromisso, portanto — recorda João Paulo II às pessoas consagradas -, não pode não se situar na linha da contemplação. Toda a realidade da vida consagrada nasce e a cada dia regenera-se na contemplação incessante do rosto de Cristo».77
Os monges e as monjas, bem como os eremitas, embora em modo diverso, dedicam mais tempo seja ao louvor coral de Deus, seja à oração silenciosa prolongada. Os membros dos institutos seculares, assim como as virgens consagradas no mundo, oferecem a Deus as alegrias e sofrimentos, as aspirações e súplicas de todos os homens e contemplam o rosto de Cristo que reconhecem nos rostos dos irmãos e nos fatos da história, no apostolado e no trabalho cotidiano. As religiosas e os religiosos dedicados à docência, aos enfermos ou aos pobres encontram aí o rosto do Senhor. Para os missionários e membros das Sociedades de vida apostólica, o anúncio do Evangelho é vivido, a exemplo do apóstolo Paulo, como autêntico culto (cfr. Rm 1, 6). Toda a Igreja goza e se beneficia da pluralidade das formas de oração e da variedade do modo de contemplar o único rosto de Cristo.
Percebe-se, ao mesmo tempo, que, já há muitos anos, a oração litúrgica das Horas e a celebração da Eucaristia adquiriram um lugar central na vida de todos os tipos de comunidades e fraternidades, conferindo-lhes um vigor bíblico e eclesial. Estas celebrações favorecem também a mútua edificação e podem-se tornar um testemunho para ser, também diante de Deus e com Ele, «casa e escola da comunhão».78 Uma autêntica vida espiritual requer que todos, ainda que nas diversas vocações, dediquem regularmente, todos os dias, momentos apropriados para aprofundar-se no colóquio silencioso com Aquele por quem sabem ser amados, a fim de compartilhar com Ele a própria vida e receber luz para continuar o caminho cotidiano. É um exercício ao qual se pede fidelidade, posto que somos constantemente insidiados pela alienação e pela dissipação provenientes da sociedade hodierna, especialmente dos meios de comunicação. Às vezes, a fidelidade à oração pessoal e litúrgica exigirá um autêntico esforço por não deixar-se engolir por um vorticoso ativismo. Doutro modo não se pode dar fruto: «Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim» (Jo 15, 4). 
26. Dar um lugar prioritário à espiritualidade significa partir da descoberta centralidade da celebração eucarística, âmbito privilegiado para o encontro com o Senhor. Nesta, faz-se Ele novamente presente em meio aos seus discípulos, explica as Escrituras, abrasa o coração e ilumina a mente, abre os olhos e se faz reconhecer (cfr. Lc 24, 13-35). O convite de João Paulo II dirigido aos consagrados é particularmente vibrante: «Encontrai-o, caríssimos, e contemplai-o de um modo todo especial na Eucaristia, celebrada e adorada todos os dias, como fonte e cume da existência e da ação apostólica».79 Na Exortação Apostólica Vita consecrata, ele já chamava a uma participação cotidiana no Sacramento da Eucaristia e à sua adoração assídua e prolongada.80 A Eucaristia, memorial do sacrifício do Senhor, coração da vida da Igreja e de cada comunidade, plasma interiormente a oblação renovada da própria existência, o projeto de vida comunitária e a missão apostólica. Todos precisamos do viático cotidiano do encontro com o Senhor para inserir o dia-a-dia no tempo de Deus, que a celebração do memorial da Páscoa do Senhor torna presente.
Podem-se aqui realizar plenamente a intimidade com Cristo, a identificação com Ele e a total conformação com Ele às quais os consagrados são chamados por vocação.81 Na Eucarista, com efeito, o Senhor Jesus nos associa a si na própria oferta pascal ao Pai: oferecemos e somos oferecidos. A mesma consagração religiosa assume uma estrutura eucarística: é uma oblação total de si, estritamente associada ao sacrifício eucarístico. 
Concentram-se na Eucaristia todas as formas de oração, proclama-se e é acolhida a Palavra de Deus, somos interpelados a respeito de nossa relação com Deus, com os irmãos e com todos os homens: é o sacramento da filiação, da fraternidade e da missão. Sacramento da unidade com Cristo, a Eucaristia é contemporaneamente sacramento da unidade eclesial e da unidade da comunidade dos consagrados. Em suma, ela se revela como «fonte da espiritualidade do indivíduo e do Instituto».82
Para que ela produza em plenitude os esperados frutos de comunhão e de renovação, não podem faltar as condições essenciais, sobretudo o perdão recíproco e o compromisso do amor recíproco. Segundo o ensinamento do Senhor, antes de se apresentar a oferta ao altar, exige-se a plena reconciliação fraterna (cfr. Mt 5, 23). Não se pode celebrar o sacramento da unidade permanecendo reciprocamente indiferentes. Tenha-se presente, outrossim, que tais condições essenciais são também fruto e sinal de uma Eucaristia bem celebrada. Pois é principalmente na comunhão com Jesus eucaristia que nós conseguimos a capacidade de amar e de perdoar. Além do mais, cada celebração se deve tornar ocasião para renovar o compromisso de dar a vida, uns pelos outros, na acolhida e no serviço. Então para a celebração eucarística valerá verdadeiramente, de um modo eminente, a promessa de Cristo: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles» (Mt 18, 20) e, ao redor dela, a comunidade renovar-se-á a cada dia.
Cumpridas estas condições, a comunidade dos consagrados que vive o mistério pascal, diariamente renovado na Eucaristia, torna-se testemunha de comunhão e sinal profético de fraternidade para uma sociedade dividida e ferida. Da Eucaristia nasce, com efeito, aquela espiritualidade de comunhão tão necessária para estabelecer o diálogo da caridade de que o mundo de hoje carece.83
27. Viver a espiritualidade num contínuo partir de Cristo significa iniciar sempre do momento mais alto do seu amor — e a Eucaristia lhe conserva o mistério —, quando sobre a cruz, entrega Ele a sua vida, na máxima oblatividade. Os que foram chamados a viver os conselhos evangélicos mediante a profissão não podem deixar de freqüentar a contemplação do rosto do Crucificado.84É o livro em que aprendem o que é o amor e como Deus e a humanidade devem ser amados, fonte de todos os carismas e síntese de todas as vocações.85A consagração, sacrifício total e holocausto perfeito, é a forma a eles sugerida pelo Espírito para reviver o mistério de Cristo crucificado, que veio ao mundo para dar a sua vida em resgate por muitos (cfr. Mt 20, 28; Mc10, 45), e para responder ao Seu amor infinito.
A história da vida consagrada expressou esta configuração a Cristo através de muitas formas ascéticas que «foram, e continuam a sê-lo, um auxílio poderoso para um autêntico caminho de santidade. (...) A ascese é verdadeiramente indispensável para a pessoa consagrada permanecer fiel à própria vocação e seguir Jesus pelo caminho da Cruz».86 Hoje, as pessoas consagradas, embora conservando a experiência dos séculos, são chamadas a encontrar formas que sejam concordes com este nosso tempo. Em primeiro lugar, as que acompanham a fadiga do trabalho apostólico e garantem a generosidade do serviço. Atualmente, a cruz que se há de tomar sobre si a cada dia (cfr. Lc 9, 23) pode adquirir também valores coletivos, como o envelhecimento do Instituto, a inadequação estrutural ou a incerteza do futuro.
Em face a tantas situações de sofrimentos pessoais, comunitários e sociais, do coração de cada pessoa ou de inteiras comunidades pode ecoar o grito de Jesus na cruz: «Por que me abandonaste?» (Mc 15, 34). Naquele grito dirigido ao Pai, Jesus deixa entender que a sua solidariedade com a humanidade se fez tão radical a ponto de penetrar, de compartilhar e de assumir nela tudo o que há de negativo, inclusive a morte, que é fruto do pecado. «Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar inclusivamente o “rosto” do pecado».87 
Partir de Cristo significa reconhecer que o pecado está ainda radicalmente presente no coração e na vida de todos, descobrindo no rosto sofredor de Cristo aquela oferta que reconciliou a humanidade com Deus.
Ao longo da história da Igreja, as pessoas consagradas souberam contemplar o rosto doloridodo Senhor também fora de si mesmas. Reconheceram-no nos enfermos, encarcerados, pobres e pecadores. A sua luta foi, sobretudo, contra o pecado e as suas funestas conseqüências. O anúncio de Jesus: «Convertei-vos e crede no Evangelho!» (Mc 1, 15) moveu seus passos pelas estradas dos homens, dando esperança de novidade de vida onde reinava desencorajamento e morte. O seu serviço levou a que muitos homens e mulheres fizessem a experiência do abraço misericordioso de Deus Pai no Sacramento da Penitência. Também hoje há necessidade de se propor com força, uma vez mais, este ministério da reconciliação(cfr. 2 Cor 5, 18), confiado por Jesus Cristo à sua Igreja. É o mysterium pietatis,88 do qual os consagrados e as consagradas são chamados a fazer uma freqüente experiência no Sacramento da Penitência.
Mostram-se hoje novos rostos nos quais reconhecer, amar e servir o rosto de Cristo lá onde Ele se fez presente: as novas pobrezas materiais, morais e espirituais que a sociedade contemporânea produz. O grito de Jesus na cruz revela como Ele assumiu sobre si todo este mal a fim de o redimir. A vocação das pessoas consagradas continua a ser a de Jesus e, como Ele, assumem elas sobre si a dor e o pecado do mundo, consumando-os no amor.
28. Se «a vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa das Famílias de vida consagrada»,89 ela deve ser, antes de mais nada, uma espiritualidade de comunhão, como convém ao momento presente: «Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo».90 
Neste caminho de toda a Igreja, espera-se a decisiva contribuição da vida consagrada, através da sua específica vocação à vida de comunhão no amor. «Pede-se às pessoas consagradas — lê-se em Vita consecrata —, para serem verdadeiramente peritas em comunhão e praticarem a sua espiritualidade, como testemunhas e artífices daquele projeto de comunhão que está no vértice da história do homem segundo Deus».91
Recorde-se também que uma missão no hoje das comunidades de vida consagrada é a de «fazerem crescer a espiritualidade da comunhão, primeiro no seu seio e depois na própria comunidade eclesial e para além dos seus confins, iniciando ou retomando incessantemente o diálogo da caridade, sobretudo nos lugares onde o mundo de hoje aparece dilacerado pelo ódio étnico ou por loucuras homicidas».92 Missão que requer pessoas espirituais, forjadas interiormente pelo Deus da comunhão amorosa e misericordiosa, bem como comunidades maduras, onde a espiritualidade de comunhão é uma norma de vida.
29.Mas o que é a espiritualidade da comunhão? João Paulo II, com palavras incisivas, capazes de renovar relações e projetos, ensina: «Espiritualidade da comunhão significa em primeiro lugar ter o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor». E ainda: «Espiritualidade da comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como “um que faz parte de mim”...». Deste princípio derivam, com estrita lógica, algumas conseqüências aplicáveis ao modo de sentir e de agir: partilhar as alegrias e os sofrimentos dos irmãos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhes uma verdadeira e profunda amizade. Espiritualidade da comunhão é ainda a capacidade de ver antes de mais nada o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus, é saber criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos outros. Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão.93 
A espiritualidade de comunhão se defronta como o clima espiritual da Igreja, no início do terceiro milênio, missão ativa e exemplar da vida consagrada em todos os níveis. É a via régia de um futuro de vida e testemunho. A santidade e a missão passam pela comunidade porque Cristo se faz presente nela e através dela. O irmão e a irmã fazem-se sacramento de Cristo e do encontro com Deus, a possibilidade concreta e, mais ainda, a necessidade impreterível para poder viver o mandamento do amor recíproco e, portanto, a comunhão trinitária.
Nestes anos, as comunidades e os vários tipos de fraternidade de consagrados vêm sendo sempre mais entendidos como lugares de comunhão, onde as relações aparecem menos formais e onde a acolhida e a compreensão mútua são facilitadas. Descobre-se também o valor divino e humano do estar juntos gratuitamente, como discípulos e discípulas ao redor do Cristo Mestre, em amizade, partilhando até mesmo os momentos de divertimento e de lazer.
Nota-se igualmente uma comunhão mais intensa entre as diversas comunidades de um mesmo Instituto. As comunidades multiculturais e internacionais, chamadas a «testemunhar o sentido da comunhão entre os povos, as raças e as culturas»,94 em muitos lugares são já uma realidade positiva, onde se experimentam conhecimento mútuo, respeito, estima e enriquecimento. Revelam-se lugares de adestramento à integração e à inculturação e são, ao mesmo tempo, testemunho da universalidade da mensagem cristã.
A Exortação Vita consecrata, apresentando esta forma de vida como sinal de comunhão na Igreja, evidenciou toda a riqueza e as exigências requeridas pela vida fraterna. Anteriormente, o nosso Dicastério publicara o documento Congregavit nos in unum Christi amor, sobre a vida fraterna em comunidade. A estes documentos cada comunidade deverá retornar periodicamente, para confrontar o próprio caminho de fé e de progresso na fraternidade.
30. A comunhão que os consagrados e as consagradas são chamados a viver vai mais além da própria família religiosa ou do próprio Instituto. Abrindo-se à comunhão com os outros Institutos e as outras formas de consagração, podem dilatar a comunhão, redescobrir as raízes evangélicas comuns e juntos, entender com maior clareza a beleza da própria identidade na variedade carismática, como ramos da única videira. Deveriam disputar na recíproca estima (cfr. Rm 12, 10) para alcançar o carisma melhor, a caridade (cfr. 1 Cor 12, 31).
Favoreçam-se, pois, o encontro e a solidariedade entre os Institutos de vida consagrada, sendo estes conscientes de que a comunhão está «intimamente ligada à capacidade que tem a comunidade cristã de dar espaço a todos os dons do Espírito. A unidade da Igreja não é uniformidade, mas integração orgânica das legítimas diversidades; é a realidade de muitos membros unidos num só corpo, o único Corpo de Cristo (cfr.1 Cor 12, 12)».95
Pode ser este o início de uma busca solidária de meios comuns para o serviço da Igreja. Fatores externos, como a necessidade de adequação às novas exigências dos Estados, e causas internas aos Institutos, como a diminuição dos membros, orientam já a coordenar os esforços no campo da formação, da administração dos bens, da educação e da evangelização. Também numa situação como esta, podemos perceber o convite do Espírito a uma comunhão sempre mais intensa. As Conferências de Superiores e Superioras maiores, bem como as Conferências de Institutos seculares, em todas as esferas, mantenham-se neste trabalho.
Não se pode mais enfrentar o futuro em meio à dispersão. Urge ser Igreja, viver juntos a aventura do Espírito e do seguimento de Cristo, de comunicar a experiência do Evangelho, aprendendo a amar a comunidade e a família religiosa do outro como própria. As alegrias e as dores, as preocupações e os sucessos podem ser partilhados e são de todos.
Também no que concerne às novas formas de vida evangélica, pede-se diálogo e comunhão. Estas novas associações de vida evangélica, recorda Vita consecrata, «não são uma alternativa às anteriores instituições, que continuam a ocupar o lugar insigne que a tradição lhes conferiu (...) Os antigos Institutos, muitos deles acrisolados por provas duríssimas suportadas com fortaleza ao longo dos séculos, podem enriquecer-se entrando em diálogo e troca de dons com as fundações que surgem no nosso tempo».96 
Enfim, do encontro e da comunhão com os carismas dos movimentos eclesiais pode brotar um enriquecimento recíproco. Os movimentos podem oferecer amiúde o exemplo do frescor evangélico e carismático, assim como o generoso e criativo impulso à evangelização. Por outro lado, os movimentos e as novas formas de vida evangélica, por sua vez, podem aprender muito do testemunho gozoso, fiel e carismático da vida consagrada, custódia de um patrimônio espiritual riquíssimo, de múltiplos tesouros de sabedoria e de experiência e de uma grande variedade de formas de apostolado e de compromisso missionário.
Nosso Dicastério já ofereceu critérios e orientações, válidos ainda hoje, para a inserção de religiosos e religiosas nos movimentos eclesiais.97 Quiséramos enfatizar aqui a relação de conhecimento e colaboração, de estímulo e partilha que se poderia vir a instaurar não só entre os indivíduos mas também entre Institutos, movimentos eclesiais e novas formas de vida consagrada, em vista de um crescimento na vida do Espírito e do cumprimento da única missão da Igreja. Trata-se de carismas nascidos do impulso do mesmo Espírito, ordenados à plenitude da vida evangélica no mundo e chamados a realizar juntos o desígnio de Deus para a salvação da humanidade. A espiritualidade de comunhão se realiza também precisamente neste diálogo amplo da fraternidade evangélica entre todos os componentes do Povo de Deus.98
31. A comunhão experimentada entre os consagrados leva a uma abertura ainda maior, em relação a todos os outros membros da Igreja. O mandamento de amar-nos uns aos outros, vivido no seio da comunidade, pede ser transferido do plano pessoal àquele que se tece entre as diferentes realidades eclesiais. Somente numa eclesiologia integral, na qual as diversas vocações são tomadas no interior do único Povo de convocados, a vocação à vida consagrada pode redescobrir a sua específica identidade de sinal e de testemunho. Hoje se percebe sempre mais o fato de que os carismas dos fundadores e das fundadoras, tendo sido suscitados pelo Espírito para o bem de todos, devem ser recolocados no próprio centro da Igreja, abertos à comunhão e à participação de todos os membros do Povo de Deus. 
Nesta linha, podemos constatar que vai se instaurando um novo tipo de comunhão e de colaboração entre as diversas vocações e estados de vida, especialmente entre os consagrados e leigos.99 Os Institutos monásticos e contemplativos podem oferecer aos leigos uma relação prevalentemente espiritual e os espaços necessários de silêncio e oração. Os Institutos comprometidos com o apostolado podem associá-los em formas de colaboração pastoral. Os membros dos Institutos seculares, leigos ou clérigos, relacionam-se com os outros fiéis nas formas comuns da vida cotidiana.100
A novidade destes anos é, principalmente, a busca, por parte de alguns leigos, de uma participação nos ideais carismáticos dos Institutos. Nasceram daí interessantes iniciativas e novas formas jurídicas de associação aos Institutos. Estamos assistindo a um autêntico reflorescer de antigas instituições, tais como as Ordens seculares ou Ordens Terceiras, e ao nascimento de novas associações laicais e movimentos ao redor das Famílias religiosas e dos Institutos seculares. Se, às vezes, inclusive num passado recente, tal colaboração ocorria como suplência decorrente da falta de pessoas consagradas necessárias ao desenvolvimento das atividades, agora ela nasce da exigência de partilhar as responsabilidades não apenas no gerenciamento das obras do Instituto, mas sobretudo na aspiração a viver aspectos e momentos específicos da espiritualidade e da missão do Instituto. Postula-se, portanto, uma formação adequada dos consagrados, bem como dos leigos, para uma recíproca e enriquecedora colaboração.
Se noutros tempos foram principalmente os religiosos e as religiosas os que criaram, nutriram espiritualmente e dirigiram formas de agremiação de leigos, hoje, graças a uma sempre maior formação do laicado, pode haver uma ajuda recíproca que favoreça a compreensão da especificidade e da beleza de cada um destes estados de vida. A comunhão e a reciprocidade na Igreja jamais se estabelecem num único sentido. Neste novo clima de comunhão eclesial, os sacerdotes, religiosos e leigos, longe de ignorar-se reciprocamente ou de organizar-se somente tendo em vista atividades comuns, podem encontrar a relação justa de comunhão e uma renovada experiência de fraternidade evangélica e de recíproca emulação carismática, numa complementariedade que sempre respeita a diversidade.
Uma semelhante dinâmica eclesial será totalmente vantajosa para a própria renovação e para a identidade da vida consagrada. Quando se aprofunda a compreensão do carisma, descobrem-se-lhe sempre novas possibilidades de atuação.
32. Nesta relação de comunhão eclesial com todas as vocações e os estados de vida, um aspecto todo particular é o da unidade com os Pastores. Em vão se pretenderia cultivar uma espiritualidade de comunhão sem uma relação efetiva e afetiva com os Pastores, antes de mais nada com o Papa, centro da unidade da Igreja, e com o seu Magistério.
É a concreta aplicação do sentir com a Igreja, próprio de todos os fiéis,101 que brilha especialmente nos fundadores e fundadoras da vida consagrada e que se torna compromisso carismático para todos os Institutos. Não se pode contemplar o rosto de Cristo sem vê-lo resplandecer no de sua Igreja. Amar a Cristo é amar a Igreja nas suas pessoas e instituições.
Hoje, mais do que nunca, em presença de impulsos centrífugos recorrentes que põem em dúvida princípios fundamentais da fé e da moral católica, as pessoas consagradas e as suas instituições são chamadas a dar prova de unidade sem fissuras em torno ao Magistério da Igreja, fazendo-se seus porta-vozes convencidos e alegres diante de todos.
É oportuno sublinhar quanto afirmava o Papa já na Exortação Vita consecrata: «Um aspecto qualificativo desta comunhão eclesial é a adesão da mente e do coração ao magistério (do Papa e) dos Bispos, que há de ser vivida com lealdade e testemunhada claramente diante do Povo de Deus por todas as pessoas consagradas, e de modo especial pelas que estão empenhadas na investigação teológica e no ensino, nas publicações, na catequese, no uso dos meios de comunicação social».102 Ao mesmo tempo, reconhece-se que muitos teólogos são religiosos e que muitos institutos de investigação são regidos por Institutos de vida consagrada. Eles desempenham em forma louvável uma tal responsabilidade no mundo da cultura. A Igreja olha com atenção confiante o seu empenho intelectual diante das delicadas problemáticas de fronteira que o Magistério deve hoje afrontar.103
Os documentos eclesiais dos últimos decênios retomaram constantemente o ditame conciliar que convidava os Pastores a valorizar os carismas específicos na pastoral de conjunto. Ao mesmo tempo, encorajam as pessoas consagradas a que dêem a conhecer e ofereçam com clareza e confiança as próprias propostas de presença e de trabalho em conformidade com a sua específica vocação.
Isto vale, de alguma maneira, também nas relações com o clero diocesano. A maioria dos religiosos e religiosas colaboram cotidianamente com os sacerdotes na pastoral. É indispensável, portanto, dar curso a todas as iniciativas possíveis com vistas a um conhecimento e a uma estima recíprocos e sempre maiores.
Somente em harmonia com a espiritualidade de comunhão e com a pedagogia traçada na Novo millennio ineunte, o dom que o Espírito Santo faz à Igreja, mediante os carismas da vida consagrada, poderá ser reconhecido. Também é válida, num modo específico para a vida consagrada, aquela coessencialidade, na vida da Igreja, entre o elemento carismático e o elemento hierárquico que João Paulo II mencionou muitas vezes, dirigindo-se aos novos movimentos eclesiais.104 O amor e o serviço na Igreja exigem ser vividos sempre na reciprocidade de uma mútua caridade.

33. Uma existência transfigurada pelos conselhos evangélicos torna-se testemunho profético e silencioso, mas, ao mesmo tempo, protesto eloqüente contra um mundo desumano. Ela compromete com a promoção da pessoa e desperta uma nova fantasia da caridade. Isso se vê nos santos fundadores. Manifesta-se não só na eficácia do serviço, mas sobretudo na capacidade de fazer-se de tal modo solidário com quem sofre, que o gesto de ajuda seja sentido como partilha fraterna. Esta forma de evangelização, realizada através do amor e da dedicação nas obras, assegura um inequívoco testemunho à caridade das palavras.105
A vida de comunhão representa, por sua vez, o primeiro anúncio da vida consagrada, porque é sinal eficaz e força persuasiva que leva a crer em Cristo. A comunhão, então, faz-se missão, ou melhor «a comunhão gera comunhão e reveste essencialmente a forma de comunhão missionária».106 As comunidades encontram-se desejosas de seguir a Cristo pelas estradas da história do homem,107 com um empenho apostólico e um testemunho de vida coerente com o próprio carisma.108«Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-lo para si; tem de o anunciar. É preciso um novo ímpeto apostólico, vivido comocompromisso diário das comunidades e grupos cristãos».109
34.Quando se parte de Cristo, a espiritualidade de comunhão se torna uma sólida e robusta espiritualidade da ação dos discípulos e apóstolos do seu Reino. Para a vida consagrada, isso significa empenhar-se no serviço aos irmãos nos quais se reconhece o rosto de Cristo. No exercício desta missão apostólica, ser e fazer são inseparáveis pois o mistério de Cristo constitui o fundamento absoluto de toda ação pastoral.110 A contribuição dos consagrados e das consagradas à evangelização «consiste, primariamente, no testemunho de uma vida totalmente entregue a Deus e aos irmãos, à imitação do Salvador que se fez servo, por amor do homem».111 Na participação na missão da Igreja, as pessoas consagradas não se limitam a dar uma parte de seu tempo, mas toda a sua vida. 
Na Carta Novo millennio ineunte, parece que o Papa gostaria de impulsar ainda mais no sentido de um amor concreto aos pobres: «É de se esperar que o século e o milênio que estão a começar hão de ver a dedicação a que pode levar a caridade para com os mais pobres. Se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo se quis identificar: “Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era peregrino e recolhestes-me; estava nu e destes-me de vestir; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25, 35-36). Esta página não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo. Nesta página, não menos do que o faz com a vertente da ortodoxia, a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo».112 O Papa oferece ainda uma direção concreta de espiritualidade quando convida a reconhecer na pessoa dos pobres uma presença especial de Cristo, que impõe à Igreja uma opção preferencial por eles. É através de uma tal opção que também os consagrados113 devem testemunhar «o estilo do amor de Deus, a sua providência e a sua misericórdia».114
35. O campo no qual o Santo Padre convida a trabalhar é vasto como o mundo. Abeirando-se deste cenário, a vida consagrada «deve aprender a fazer o seu ato de fé em Cristo, decifrando o apelo que Ele lança a partir deste mundo da pobreza».115 Harmonizar a inspiração universal de uma vocação missionária com a inserção concreta num contexto e numa Igreja particular será a exigência primária de toda atividade apostólica. 
Às antigas formas de pobreza, acrescentaram-se novas: o desespero da falta de sentido, a insídia da droga, o abandono na idade avançada ou na doença, a marginalização ou a discriminação social.116 A missão, em suas formas antigas e novas, é antes de tudo um serviço à dignidade da pessoa numa sociedade desumana, porquanto a primeira e mais grave pobreza do nosso tempo é pisotear com indiferença os direitos da pessoa humana. Com o dinamismo da caridade, do perdão e da reconciliação, os consagrados se dedicam a construir na justiça um mundo que ofereça novas e melhores possibilidades à vida e ao desenvolvimento das pessoas. A fim de que uma tal intervenção seja eficaz, urge cultivar um espírito de pobre, purificado de interesses egoístas, disposto a executar um serviço de paz e de não-violência, numa atitude solidária e cheia de compaixão pelo sofrimento alheio. Um estilo de proclamar as palavras e de realizar as obras de Deus, inaugurado por Jesus (cfr. Lc4, 15-21) e vivido pela Igreja primitiva, que não pode ser esquecido com o concluir-se do Jubileu ou a passagem de um milênio, mas que procura, com maior urgência, a realização na caridade de um diferente porvir. É preciso que se esteja preparado para pagar o preço da perseguição, pois, no nosso tempo, a causa mais freqüente do martírio é a luta pela justiça na fidelidade ao Evangelho. João Paulo II afirma que este testemunho, «também recentemente, conduziu ao martírio alguns de vossos irmãos e irmãs em várias partes do mundo».117
36. Através dos séculos, a caridade sempre constituiu, para os consagrados, o âmbito onde se vive o Evangelho concretamente. Nela valorizaram a força profética dos seus carismas e a riqueza da sua espiritualidade na Igreja e no mundo.118 Reconheciam-se, com efeito, chamados a ser «epifania do amor de Deus».119É necessário que tal dinamismo continue a exercitar-se com fidelidade criativa, já que ele constitui uma fonte insubstituível no trabalho pastoral da Igreja. Na hora em que se invoca uma nova fantasia da caridade e uma autêntica afirmação e comprovação da caridade das palavras com a das obras,120 a vida consagrada observa com admiração a criatividade apostólica que fez florescer milhares de rostos da caridade e da santidade em formas específicas, não podendo, todavia, não sentir a urgência de continuar, com a criatividade do Espírito, a surpreender o mundo com novas formas de amor evangélico efetivo para as necessidades do nosso tempo. 
A vida consagrada quer refletir sobre os próprios carismas e as próprias tradições, para pô-los a serviço das novas fronteiras da evangelização. Trata-se de avizinhar-se aos pobres, idosos, dependentes químicos, enfermos de Aids, exilados, pessoas, em geral, que padecem todo tipo de sofrimentos pela sua realidade particular. Com a atenção concentrada sobre a mudança de modelos, posto que não se considera mais suficiente a mera assistência, procura-se erradicar as causas das quais se origina a necessidade. A pobreza dos povos é causada pela ambição e pela indiferença de muitos e por estruturas de pecado que devem ser eliminadas, também com um compromisso sério no campo da educação.
Muitas fundações, antigas e recentes, levam os consagrados a lugares aonde outros habitualmente não podem ir. Nestes anos, consagrados e consagadas têm sido capazes de deixar a segurança do já conhecido para lançarem-se em direção a ambientes e ocupações até então desconhecidos para eles. Graças à sua total consagração, são livres de fato para intervir onde quer que haja situações críticas, como demonstram as fundações recentes nos novos Países que apresentam particulares desafios, envolvendo, ao mesmo tempo, mais de uma província religiosa e criando comunidades internacionais. Com olhos penetrantes e grande coração,121 recolheram o apelo de tantos sofrimentos numa concreta diaconia da caridade. Em toda a parte, constituem um laço entre a Igreja e os grupos marginalizados, não alcançados pela pastoral ordinária. 
Até mesmo alguns carismas que pareciam responder a tempos já passados, adquirem um vigor renovado neste mundo que conhece o comércio de mulheres ou o tráfico de crianças escravas, enquanto a infância, vítima amiúde de abusos, corre os riscos do abandono ou até do alistamento nos exércitos.
Hoje se verifica uma maior liberdade no exercício do apostolado, uma irradiação mais consciente, uma solidariedade que se exprime com o saber estar ao lado das pessoas, assumindo-lhes os problemas para os responder, pois, com uma forte atenção aos sinais dos tempos e às suas exigências. Esta multiplicação de iniciativas demonstrou a importância que o planejamento reveste na missão, quando se quer realizá-la não improvisando, mas em forma orgânica e eficiente.
37. A primeira tarefa que se deve retomar com entusiasmo é o anúncio de Cristo aos povos. Ele depende sobretudo dos consagrados e das consagradas, empenhados em fazer chegar a mensagem do Evangelho à crescente multidão dos que a ignoram. Tal missão está ainda nos seus inícios e devemos empenhar-nos com todas as nossas forças para realizá-la.122 A ação confiante e empreendedora dos missionários e das missionárias deverá responder sempre melhor à exigência da inculturação, de tal modo que os valores específicos de cada povo não sejam renegados, mas purificados e levados à sua plenitude.123 Permanecendo na total fidelidade ao anúncio evangélico, o cristianismo do terceiro milênio será caracterizado também pelo rosto de tantas culturas e de tantos povos em cujo seio é acolhido e radicado.124
38. Segundo uma gloriosa tradição, um grande número de pessoas consagradas, especialmente mulheres, exercem o apostolado nos ambientes sanitários, continuando o ministério da misericórdia de Cristo. Seguindo o seu exemplo de Divino Samaritano, fazem-se próximas a quem sofre para aliviar a dor. A sua competência profissional, vigilante na atenção por humanizar a medicina, abre um espaço para o Evangelho, iluminando com confiança e bondade até as mais difíceis experiências do viver e do morrer humano. Por isso os pacientes mais pobres e abandonados serão os preferidos na amorosa prestação dos seus cuidados.125 
Para a eficácia do testemunho cristão, é importante, especialmente nalguns ambientes delicados e controvertidos, saber explicar os motivos da posição da Igreja, enfatizando sobretudo que não se trata de impor aos não crentes uma perspectiva de fé, mas de interpretar e defender os valores radicados no ser humano.126 A caridade faz-se então, especialmente nos consagrados que trabalham nestes âmbitos, um serviço à inteligência, a fim de que se respeitem, por todas as partes, os princípios fundamentais dos quais depende uma civilização digna do homem.
39. Também o mundo da educação requer uma presença qualificada dos consagrados. No mistério da Encarnação, são postas as bases para uma antropologia que se pode direcionar, além dos próprios limites e incoerências, a Jesus, o «homem novo» (Ef 4, 24; cfr. Cl 3, 10). Porquanto o Filho de Deus fez-se verdadeiramente homem, o homem pode, nele e através dele, fazer-se realmente filho de Deus.127
Graças à peculiar experiência dos dons do Espírito, na escuta assídua da Palavra e no exercício do discernimento, e ao rico patrimônio de tradições educativas acumulado no tempo pelo próprio Instituto, os consagrados e as consagradas podem desenvolver uma ação particularmente incisiva. Este carisma pode dar vida a ambientes permeados pelo espírito evangélico da liberdade, da justiça e do amor, nos quais os jovens são ajudados a crescer em humanidade sob a guia do Espírito, propondo, ao mesmo tempo, a santidade como meta educativa para todos, docentes e alunos.128 
É preciso promover, no seio da vida consagrada, um renovado compromisso cultural, que permita elevar o nível da preparação pessoal e prepare para o diálogo entre a mentalidade contemporânea e a fé, com o escopo de favorecer, inclusive através das mesmas instituições acadêmicas, uma evangelização da cultura entendida como serviço à verdade.129 Em tal perspectiva, faz-se ainda mais oportuna a presença nos meios de comunicação social.130Encoraje-se todo e qualquer esforço neste campo apostólico novo e estratégico, de modo que as iniciativas no setor venham a ser melhor coordenadas e obtenham níveis superiores de qualidade e de eficácia.
40. Recomeçar de Cristo quer dizer, enfim, segui-lo até onde Ele se fez presente com a sua obra de salvação e viver na vastidão de horizontes por Ele aberta. A vida consagrada não se pode contentar com o viver na Igreja e para a Igreja. Ela se projeta com Cristo, em direção às outras Igrejas cristãs, às outras religiões e aos homens e mulheres que não professam convicção religiosa alguma.
A vida consagrada é chamada, portanto, a oferecer a própria contribuição específica em todos os grandes diálogos aos quais o Concílio Vaticano II abriu a Igreja inteira. «Empenhados no diálogo com todos» é o título significativo do último capítulo de Vita consecrata, qual conclusão lógica de toda a Exortação apostólica.
41. O documento lembra, ante tudo, como o Sínodo sobre a Vida Consagrada trouxe a lume a profunda ligação entre a vida consagrada e o ecumenismo. «Na verdade, se a alma do ecumenismo é a oração e a conversão, não há dúvida que os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica têm uma particular obrigação de cultivar este empenho». Urge que, na vida das pessoas consagradas, espaços maiores venham a ser abertos à oração ecumênica e ao testemunho, para que, com a força do Espírito Santo, possam ser derrubados os muros das divisões e dos preconceitos.131 Nenhum Instituto de vida consagrada pode sentir-se dispensado de trabalhar para esta causa. 
Tratando, em seguida, sobre as formas do diálogo ecumênico, Vita consecrata aponta, como particularmente adaptadas aos membros de comunidades religiosas, a partilha da lectio divina e a participação na oração comum, na qual o Senhor garante a sua presença (cfr. Mt 18, 20). A amizade, a caridade e a colaboração em iniciativas comuns de serviço e de testemunho farão que se viva a experiência de como é bom que vivam juntos os irmãos (cfr. Sl 133 [132]). Não menos importante é o conhecimento da história, da doutrina, da liturgia bem como da atividade caritativa e apostólica dos outros cristãos.132
42. Para o diálogo inter-religioso, Vita consecrata apresenta dois requisitos fundamentais: o testemunho evangélico e a liberdade de espírito. Sugere, depois, alguns instrumentos particulares, a saber, o conhecimento mútuo, o respeito recíproco, a amizade cordial e a recíproca sinceridade, em relação aos ambientes monásticos de outras religiões.133
Um âmbito ulterior de colaboração consiste na solicitude comum pela vida humana, que vai da compaixão pelo sofrimento físico e espiritual até o compromisso com a justiça, a paz e a salvaguarda da criação.134 João Paulo II recorda, como um campo particular de encontro com as pessoas de outras tradições religiosas, a busca e a promoção da dignidade da mulher, com a qual são especialmente chamadas a colaborar as mulheres consagradas.135
43. Considere-se enfim o diálogo com quantos não professam particulares confissões religiosas. As pessoas consagradas, pela própria natureza da sua opção, põem-se com interlocutores privilegiados daquela busca de Deus que agita desde sempre o coração do homem e o leva a múltiplas formas de espiritualidade. A sua sensibilidade aos valores (cfr.Fl 4, 8) e a sua disponibilidade para o encontro testemunham as características de uma autêntica busca de Deus. «Por isso — conclui o documento — as pessoas consagradas têm o dever de oferecer generosamente acolhimento e acompanhamento espiritual a quantos, movidos pela sede de Deus e desejosos de viverem as exigências profundas da sua fé, se lhes dirigem».136 
44. Este diálogo abre-se necessariamente ao anúncio de Cristo. Na comunhão existe, com efeito, a reciprocidade do dom. Quando a escuta do outro é autêntica, oferece adequada ocasião de propor a própria experiência espiritual e os conteúdos evangélicos que alimentam a vida consagrada. Testemunha-se assim a esperança que há em nós (cfr. 1 Pd 3, 15). Não devemos temer que o falar sobre a própria fé se constitua em ofensa a outra crença, pelo contrário, é ocasião de um gozoso anúncio do dom que é para todos e a todos se propõe, embora com o maior respeito da liberdade de cada um: o dom da revelação do Deus-Amor que «amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito» (Jo 3, 16).
O dever missionário, por outro lado, não nos impede de dialogar estando intimamente disponíveis também a receber, já que, entre os recursos e os limites de cada cultura, os consagrados podem auferir as sementes do Verbo, nas quais encontram preciosos valores para a própria vida e missão. «Não é raro o Espírito de Deus, que “sopra onde quer” (Jo 3, 8), suscitar na experiência humana universal, não obstante as suas múltiplas contradições, sinais da sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo a compreenderem mais profundamente a mensagem de que são portadores».137
45. Não é possível manter-se à margem em face aos grandes e inquietantes problemas que atormentam a humanidade inteira, na perspectiva de uma ruína ecológica que torna vastas áreas do planeta inóspitas e inimigas do homem. Os países ricos consomem recursos num ritmo insustentável para o equilíbrio do sistema, fazendo com que os países pobres sejam cada vez mais pobres. Nem se podem esquecer os problemas da paz, ameaçada freqüentemente pelo pesadelo de guerras catastróficas.138 
A cobiça dos bens, a avidez do prazer e a idolatria do poder, isto é, a tríplice concupiscência que marca a história e se encontra, igualmente, à raiz dos males atuais só poderá ser vencida se se redescobrirem os valores evangélicos da pobreza, da castidade e do serviço.139 Os religiosos devem saber proclamar, com a vida e as palavras, a beleza da pobreza de espírito e da castidade do coração, que libertam o serviço aos irmãos e da obediência, que faz que sejam duradouros os frutos da caridade.
Como seria possível, enfim, permanecer passivos diante do vilipêndio dos direitos humanos fundamentais?140 Deve dar-se especial atenção a alguns aspectos da radicalidade evangélica, amiúde menos compreendidos, mas que nem por isso podem estar ausentes da agenda eclesial da caridade. Primeiro entre todos eles é o respeito à vida de cada ser humano desde a sua concepção até o seu ocaso natural.
Nesta abertura a um mundo a ser ordenado a Cristo, de modo tal que todas as realidades encontrem n'Ele o próprio e autêntico significado, as leigas e os leigos consagrados dos Institutos Seculares ocupam um lugar privilegiado: eles, com efeito, nas condições comuns da vida, participam no dinamismo social e político e, pela força do seu seguimento a Cristo, infundem aí um novo valor, trabalhando assim em forma eficaz pelo Reino de Deus. Precisamente graças à sua consagração vivida sem sinais exteriores, como leigos entre os leigos, eles podem ser sal e luz inclusive naquelas situações nas quais uma visibilidade da sua consagração poderia chegar a constituir um impedimento ou, inclusive, a propiciar uma rejeição.
46. Também entre os consagrados encontram-se as sentinelas da manhã: os jovens e as jovens.141 Precisamos verdadeiramente de jovens corajosos que, deixando-se configurar pelo Pai, com a força do Espírito, e tornando-se «pessoas cristiformes»,142 ofereçam a todos um límpido e gozoso testemunho do seu «acolhimento específico do mistério de Cristo»143e da peculiar espiritualidade do próprio Instituto.144 Reconheçam-se, portanto, mais decididamente, como os autênticos protagonistas de sua formação.145 Posto que eles, por motivos generacionais, deverão levar adiante a renovação do próprio Instututo, convém que – oportunamente preparados – assumam gradativamente tarefas de orientação e de governo. Fortes, principalmente, pelo seu natural impulso, tornem-se testemunhas valorosas da aspiração à santidade qual medida alta do ser cristão.146 Sobre a imediatez desta sua fé, sobre as atitudes que gozosamente revelaram e sobre quanto quererá dizer-lhes o Espírito, apóia-se, em boa parte, o futuro da vida consagrada e da sua missão. 
E olhemos para Maria, Mãe e Mestra para cada um de nós. Ela, a primeira Consagrada, viveu a plenitude da caridade. Fervorosa no espírito, serviu o Senhor; alegre na esperança, forte na tribulação, perseverante na oração e solícita pelas necessidades dos irmãos (cfr. Rm 12, 11-13). Nela se refletem e se renovam todos os aspectos do Evangelho e todos os carismas da vida consagrada. Sustente-nos no empenho diário, de tal modo a fazer dele um esplêndido testemunho de amor, segundo o convite de São Paulo: «Eu vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes» (Ef 4, 1).
Confirmando estas orientações, desejamos retomar, uma vez mais, as palavras de João Paulo II, a fim de que nelas encontremos o encorajamento e a confiança de que todos necessitamos ao enfrentarmos uma missão que parece superar todas as nossas forças: «Começa um novo século e um novo milênio sob a luz de Cristo. Nem todos, porém, vêem esta luz. A nós cabe a tarefa maravilhosa e exigente de ser o seu reflexo (...). Este é um encargo que nos faz tremer, quando olhamos para a fraqueza que freqüentemente nos torna opacos e cheios de sombras. Mas é uma missão possível, se, expondo-nos à luz de Cristo, nos abrirmos à graça que nos faz homens novos».147 Eis a esperança proclamada na Igreja pelos consagrados e pelas consagradas, enquanto com os irmãos e as irmãs, através dos séculos, caminham ao encontro do Cristo Ressuscitado. 

A 16 de Maio de 2002, o Santo Padre aprovou o presente Documento da Congregação para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica.
Roma, 19 de Maio de 2002, Solenidade de Pentecostes.


Eduardo Card. Martínez Somalo
Prefeito
Piergiorgio Silvano Nesti, CP
Secretário



Notas
1Cfr. João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita consecrata, Roma, 25 de Março de 1996, n.14.
2João Paulo II, Carta Apostólica Novo millennio ineunte, Roma, 6 de Janeiro de 2001, n.9.
3João Paulo II, Discurso aos Representantes da Cáritas Italiana (24 de noviembre de 2001):L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 25 de Novembro de 2001, n.4, p.5.
4João Paulo II, Mensagem à Plenária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (21 de Setembro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 28 de Setembro de 2001, p.9.
5Ibid.
6Cfr. Ad gentes, 11.
7Cfr. Lumen gentium, 1.
8Vita consecrata, 19.
9Cfr. Novo millennio ineunte, 29.
10Vita consecrata, 4.
11Cfr. Novo millennio ineunte, 29.
12Cfr. Novo millennio ineunte, 30-31.
13Cfr. Novo millennio ineunte, 32-34.35-39.
14Cfr. Novo millennio ineunte, 35-37.
15Cfr. Novo millennio ineunte, 43-44.
16Cfr. Novo millennio ineunte, 49.57.
17Vita consecrata, 111.
18Cfr. Vita consecrata, 16.
19Cfr. Lumen gentium, 44.
20Vita consecrata, 22.
21Cfr. Vita consecrata, 87.
22Cfr. Lumen gentium, 13; João Paulo II, Exortação Apostólica Pos-Sinodal Christifideles laici, Roma, 30 de Dezembro de 1988, n.20; Vita consecrata, 31.
23Cfr. Novo millennio ineunte, 29.
24Cfr. Novo millennio ineunte, 45.
25Cfr. Vita consecrata, 32.
26Vita consecrata, 31.
27Cfr. Vita consecrata, 28.94.
28Vita consecrata, 85.
29Cfr. Novo millennio ineunte, 38.
30Cfr. Novo millennio ineunte, 33.
31Cfr. Vita consecrata, 103.
32Cfr. Vita consecrata, 72.
33Cfr. Novo millennio ineunte, 2.
34Vita consecrata, 58.
35Cfr. Evangelii nuntiandi, 69; Novo millennio ineunte, 7.
36Cfr. Vita consecrata, 99.
37Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Verbi sponsa, Instrução sobre a vida contemplativa e a clausura das monjas, Cidade do Vaticano, 13 de Maio de 1999, n.7.
38Ibid.; cfr. Perfectae caritatis, 7; cfr. Vita consecrata, 8.59.
39Santo Agostinho, Sermo 331, 2: PL 38, 1460.
40Novo millennio ineunte, 49.
41Cfr. Novo millennio ineunte, 25-26.
42Cfr. Vita consecrata, 110.
43Cfr. Lumen gentium, capítulo V.
44Lumen gentium, 42.
45Vita consecrata, 31; cfr. Novo millennio ineunte, 46.
46Cfr. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, A vida fraterna em comunidade, «Congregavit nos in unum Christi amor», Roma, 2 de Fevereiro de 1994, n.50.
47Cfr. Vita consecrata, 92.
48Cfr. Novo millennio ineunte, 45.
49Cfr. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Orientações sobre a formação nos Institutos Religiosos, «Potissimum institutioni», Roma, 2 de Fevereiro de 1990, n.1.
50Vita consecrata, 65.
51Vita consecrata, 66.
52Cfr. Christifideles laici, 55.
53Cfr. João Paulo II, Homilia na vigília do Encontro em Torvergata (20 de Agosto de 2000):L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 21-22 de Agosto de 2000, n.3, p.4.
54Cfr. Vita consecrata, 1.
55Cfr. Vita consecrata, 65.
56Vita consecrata, 37.
57Novo millennio ineunte, 40.
58Cfr. Novo millennio ineunte, 1.
59João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de 2001, p.4.
60Cfr. Mutuae relationes, 11; cfr. Vita consecrata, 37.
61Vita consecrata, 93.
62Cfr. Novo millennio ineunte, 31.
63Cfr. Vita consecrata, 20-21.
64Cfr. Novo millennio ineunte, 38.
65Vita consecrata, 22.
66Cfr. Vita consecrata, 16.
67Vita consecrata, 18.
68Vita consecrata, 25.
69Vita consecrata, 40.
70Novo millennio ineunte, 16.
71Vita consecrata, 94.
72Novo millennio ineunte, 39.
73Cfr. Perfectae caritatis, 2.
74João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de2001.
75Vita consecrata, 37.
76Novo millennio ineunte, 40.
77João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de 2001.
78Novo millennio ineunte, 43.
79João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de2001.
80Cfr. Vita consecrata, 95.
81Cfr. Vita consecrata, 18.
82Vita consecrata, 95.
83Cfr. Vita consecrata, 51.
84Cfr. Novo millennio ineunte, 25-27.
85Cfr. Vita consecrata, 23.
86Vita consecrata, 38.
87Novo millennio ineunte, 25.
88Cfr. Novo millennio ineunte, 37.
89Vita consecrata, 93.
90Novo millennio ineunte, 43.
91Vita consecrata, 46.
92Vita consecrata, 51.
93Cfr. Novo millennio ineunte, 43.
94Vita consecrata, 51.
95Novo millennio ineunte, 46.
96Vita consecrata, 62.
97Cfr. Vida fraterna em comunidade, 62; cfr. Vita consecrata, 56.
98Cfr. Novo millennio ineunte, 45.
99Cfr. Vida fraterna em comunidade, 70.
100Cfr. Vita consecrata, 54.
101Cfr. Lumen gentium, 12; cfr. Vita consecrata, 46.
102Vita consecrata, 46.
103Cfr. Vita consecrata, 98.
104João Paulo II, em Os movimentos na Igreja - Atas do II Colóquio Internacional, Milão 1987, pp.24-25; Os movimentos na Igreja, Cidade do Vaticano 1999, p.18.
105Cfr. Novo millennio ineunte, 50.
106Christifideles laici, 31-32.
107Cfr. Vita consecrata, 46.
108Cfr. João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in Africa, Iaundé, 14 de Setembro de 1995, n.94.
109Novo millennio ineunte, 40.
110Cfr. Novo millennio ineunte, 15.
111Vita consecrata, 76.
112Novo millennio ineunte, 49.
113Cfr. Vita consecrata, 82.
114Novo millennio ineunte, 49.
115Novo millennio ineunte, 50.
116Cfr. Novo millennio ineunte, 50.
117João Paulo II, Homilia (2 de Fevereiro de 2001): L'Osservatore Romano (edição cotidiana), 4 de Fevereiro de 2001.
118Cfr. Vita consecrata, 84.
119Cfr. Vita consecrata, título do capítulo III.
120Cfr. Novo millennio ineunte, 50.
121Cfr. Novo millennio ineunte, 58.
122Cfr. João Paulo II, Encíclica Redemptoris Missio, Roma, 7 de Dezembro de 1990, n.1.
123Cfr. João Paulo II, Exortação Apostólica Pos-Sinodal Ecclesia in Asia, Nova Délhi, 6de Novembro de 1999, n.22.
124Cfr. Novo millennio ineunte, 40.
125Cfr. Vita consecrata, 83.
126Cfr. Novo millennio ineunte, 51.
127Cfr. Novo millennio ineunte, 23.
128Cfr. Vita consecrata, 96.
129Cfr. Vita consecrata, 98.
130Cfr. Vita consecrata, 99.
131Cfr. Vita consecrata, 100.
132Cfr. Vita consecrata, 101.
133Cfr. Ecclesia in Asia, 31.34.
134Cfr. Ecclesia in Asia, 44.
135Cfr. Vita consecrata, 102.
136Vita consecrata, 103.
137Novo millennio ineunte, 56.
138Cfr. Novo millennio ineunte, 51.
139Cfr. Vita consecrata, 88-91.
140Cfr. Novo millennio ineunte, 51.
141Cfr. Novo millennio ineunte, 9.
142Vita consecrata, 19.
143Vita consecrata, 16.
144Cfr. Vita consecrata, 93.
145Cfr. Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Potissimum institutioni, Roma, 2 de Fevereiro de 1990, n.29.
146Cfr. Novo millennio ineunte, 31.
147Novo millennio ineunte, 54.55
  



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