Maria e a
Páscoa de seu Filho
Em seu
livro 'Ela é minha Mãe!', publicado pelas Edições Loyola, em parceria com a
Editora Santuário e a Academia Marial de Aparecida, o Padre Alexandre Awi Mello
apresenta muitos relatos e diversas reflexões acerca das experiências do Papa
Francisco com Maria, isto é, a espiritualidade, as devoções e a teologia de
Francisco em relação a Nossa Senhora. Em certa altura da obra, o autor afirma
que “o acesso de Francisco ao mundo dos pobres passa pela sua experiência de
encontro com eles e a forte espiritualidade que eles carregam consigo. Uma
espiritualidade popular, repleta de sinais e valores da cristandade
latino-americana, centrada – em palavras de Lúcio Gera, um dos teólogos
inspiradores de Bergoglio – pelos Cristos que sangram e pelas imagens gloriosas
da Virgem Maria, que são sinais da Páscoa cristã.
A partir
dessa experiência religiosa (...) origina-se um forte compromisso social de
serviço à libertação e à promoção do povo sofrido e marginalizado” (2017,
p.108). Esse belíssimo trecho, atento à prática pastoral de Francisco, sempre
sensível à piedade popular, remeteu-me à celebração da Páscoa, especificamente
àquele culto que se presta a Nossa Senhora ao final da Vigília Pascal ou na
madrugada do Domingo da Ressurreição, quando se realiza, em determinadas
regiões do Brasil e do mundo, a Procissão do Encontro do Cristo Ressuscitado
com sua Mãe Santíssima. E qual a razão desse culto?
É-nos
sabido que o povo latino-americano desde sempre nutriu especial veneração pela
Paixão do Senhor e por todas as práticas (para)litúrgicas ou devocionais
advindas daí – costumes tradicionais decorrentes sobretudo do Barroco
português, espanhol e/ou italiano, intrínseco ao período de colonização das
Américas. Haja vista as cerimônias da Semana Santa (dotadas de uma dimensão
mistagógica ímpar) sempre concorridíssimas, inclusive por aqueles que, em
outros momentos do ano litúrgico, encontram-se afastados da Igreja. Nesse
contexto, no plano devocional, destacam-se as procissões do Senhor Morto e dos
Passos (ou do Encontro). Ou ainda, o culto às imagens e aos conjuntos
escultóricos relativos ao drama do martírio de Jesus: o Crucificado; o Ecce
Homo (Senhor Bom Jesus); Nosso Senhor dos Passos; Nosso Senhor Morto; Nossa
Senhora das Dores; Santa Maria Madalena e São João Evangelista no Calvário etc.
No rosto sofrido e padecente dos “Cristos que sangram”, o povo de Deus,
especialmente aquele que se encontra excluído, aflito ou marginalizado,
reconhece a própria face e o próprio sofrimento, sentindo-se, assim,
confortado: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e dores” (Is 53,4). Tal
como diz uma das versões do Canto da Paixão do Senhor, de J. Postma e R.
Veloso: “Considerai, ó meu povo, que’inda hoje / De Jesus Cristo, continua a
Paixão / Em todo homem pisado e esmagado / Pela injustiça, pela fome e
opressão”.
Contudo
voltemos à Procissão da Ressurreição, comum em muitos lugares do mundo cristão,
sobre a qual fizemos referência. Nesta também se faz memória de um encontro: o
do Ressuscitado com Nossa Senhora, representada em “imagens gloriosas”
(conforme os citados dizeres do livro do Padre Alexandre). Diante disso,
chama-nos a atenção o fato de evangelista algum fazer referência a essa
aparição de Cristo à sua Mãe após a ressurreição. Não há menções sobre isso nas
Sagradas Escrituras. O mesmo ocorre quanto ao encontro de Nosso Senhor dos
Passos com a Virgem das Dores na “rua da amargura”, que é, igualmente, muito
celebrado e honrado pela piedade popular durante a Quaresma e a Semana Santa.
Ora, sendo
Maria a mais bela e fiel das criaturas, livre de toda mancha de pecado, sempre
solícita à vontade divina e permanente colaboradora da obra salvífica, conforme
nos atestam as Escrituras, a sábia Tradição da Igreja, desde os primórdios do
Cristianismo, concluiu aquilo que é óbvio e evidente: teria Cristo Ressuscitado
aparecido, primeiramente e de forma privada, à sua Mãezinha, a quem tanto amou
e de quem nunca se ouviu dizer que tenha duvidado ou esmorecido diante da
promessa da Ressurreição! Diferente de outros discípulos do Senhor vacilantes
na fé ante o sofrimento cruel e a aparente vitória da morte, Maria, ainda que
mergulhada no recolhimento e na saudade, conservou sua crença inabalável, fruto
de uma profunda intimidade com a Palavra. Essa bela e piedosa tradição é
expressa numa série de práticas devocionais pascais, além da Procissão da
Ressurreição (ou do Encontro). Daí advêm a Coroa das Sete Alegrias (ou Coroa
Seráfica) de Nossa Senhora; a Via Lucis; o Triunfo e a solene coroação de Nossa
Senhora das Dores na noite do Domingo de Páscoa, com a retirada das espadas ou
dos punhais de seu coração e a substituição do manto roxo por um de cintilante
cor; e outros tantos títulos marianos sugestivos, a saber: Nossa Senhora da
Alegria, do Triunfo, dos Prazeres, da Ressurreição...
De fato, a
realidade que essas práticas desejam exprimir é a da participação ativa de
Nossa Senhora no evento da Ressurreição do seu Filho. Associada a Ele, Maria
Santíssima comunga das alegrias, dos triunfos e dos gozos pascais, imagem da Igreja,
comunidade dos batizados, que participa do Mistério da Paixão e Morte de Cristo
e, com Ele, ressurge para uma vida liberta do pecado, da morte e da dor
herdadas do velho homem. A Virgem Gloriosa, a nova Eva, é símbolo da comunidade
eclesial exultante e redimida pelo Cristo, novo Adão, que reconciliou-nos com o
Criador! A Páscoa cristã é que dá sentido, razão e fundamento à prática dos
discípulos missionários de Jesus em oposição a qualquer forma de opressão,
injustiça, perseguição e preconceito, isto é, aquilo que é sinal da morte.
Trata-se, com efeito, da realidade da Ressurreição traduzida na práxis dos
remidos pelo Cordeiro.
Nesse
sentido, o que arrasta multidões de fiéis a render louvores a Maria Santíssima
a partir da Vigília da Ressurreição e durante todo o ano? Quem nos responde é o
próprio Papa Francisco, embasado na Carta Encíclica Redemptoris Mater, de João
Paulo II:
“De Maria,
aprendemos a paciência de esperar e aguentar apostolicamente em meio às
obscuridades e às dificuldades da vida de discípulo; com ela experimentamos
essa ‘peculiar fadiga do coração’ (Redemptoris Mater, 17), que leva a ler os
sinais dos tempos à luz da fé”, conforme registra o Padre Alexandre (2017, p.
156-157). ”
A bem da
verdade, fica aí revelada a face maternal de Maria, com a qual todos nos
identificamos. Consola-nos saber dos sofrimentos de nossa Mãe, a qual provou
também de nossa dor humana. Dá-nos esperança a consciência de que Ela não se
frustrou em sua expectativa da Ressurreição, para a qual caminhamos ao seu
lado, seguindo os passos do Ressurreto. A dor e o posterior triunfo de Maria –
luto e alegria / provação e satisfação / espada e coroa / cruz e encontro com o
Ressuscitado – são espelho de nossa própria caminhada, que não cessa no
Calvário, mas segue à nova criação, com a presença de Nossa Senhora, Mãe da
Igreja, em nossa casa-vida (cf. Jo 19,27)!
Essa
realidade nos impulsiona e motiva a associar nosso coração filial ao de nossa
Mãezinha e cantar assim a Ela, nesta vida, com toda a Igreja, durante as procissões
do Encontro com o Ressuscitado, enquanto aguardamos aquele Encontro definitivo
e pleno nos céus:
“Rainha do
Céu, alegrai-vos! (Aleluia!) Porque Aquele que mereceste trazer em vosso ventre
(Aleluia!) ressuscitou, como disse! (Aleluia!).”
Leonardo C.
de Almeida
Associado
da Academia Marial de Aparecida
Komentarze
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!