Em Lourdes, na França,
há cento e sessenta e um anos, em 11 de fevereiro de 1858, a Virgem
Maria, luminosa e bondosa, aparecia numa gruta à jovem pobre e piedosa Bernadette
Soubirous. Bernadette, nascida a 07 de janeiro de 1844, na cidade de
Boly, num moinho onde seu pai trabalhava, próximo a Lourdes. Filha primeira de
nove filhos. Com os pais Francisco Soubirous e Luísa Castérot, se mudou para
Lourdes e, não tendo onde morar,viviam num porão úmido e miserável,
insalubre, prédio da antiga cadeia municipal abandonada. Na infância, trabalhou
como pastora e criada doméstica, com a saúde sempre debilitada, devido à
extrema pobreza, acometida de cólera com pouca idade. E por causa do forte
inverno, adquiriu asma aos dez anos. Tinha dificuldades de
aprendizagem e na catequese, não frequentando escola e mantendo-se
estritamente analfabeta até os quatorze anos, quando teve a visão
da Senhora vestida de branco com uma faixa azul à cintura, um terço
nas mãos e rosas douradas aos pés.
Era uma visão fascinante que, ao
mesmo tempo, que embevecia a menina, exortava a humanidade
à penitência e à conversão. Nossa Senhora, em sua mensagem
do dia 25 de março , também confirmava o dogma recém
proclamado pelo Papa Pio IX da Imaculada Conceição. Era Maria que
dizia com o eco do céu, respondendo à jovem que perguntava sobre o seu nome:
"Eu sou a Imaculada Conceição". A verdade, já intuída e
celebrada pelo senso da fé das comunidades cristãs dos primeiros séculos, em
1854, pela Bula Papal Inefabilis Deus se tornara uma afirmação
perene e imutável, essencial e irrefutável. Maria, escolhida desde todos os
tempos para ser a Mãe de Deus feito homem Salvador, Jesus Cristo, foi concebida
, preservada do pecado original, imaculada, em previsão dos méritos do seu
Filho na cruz. Conforme a bela e brilhante fórmula do teólogo franciscano Duns
Scoto, do século XIII. A Redenção preservativa que acontecia para a
digníssima Mãe do Redentor, diferente da Redenção liberativa para todos os
outros. Segundo o pároco local, Dominique Peyramale, que conhecia bem a jovem,
era impossível que ela, pobre, sem ter feito ainda a primeira comunhão e sem
acesso às letras, conhecesse o significado do dogma da Imaculada Conceição,
promulgado em tempo tão recente. É Deus que escolhe os mais simples e
pobres para confundir os que se julgam doutos e fortes (cf
1Cor 1,27s) e para manifestar a sua Sabedoria, pelo Amor
maternal de Maria.
Era Lourdes uma cidade com
população em torno de quatro mil habitantes. Na gruta de
"Massabielle", que significa "pedra ou rocha velha" no
dialeto birgudão local, à margem do rio Gave, a Virgem exortava diante da dócil
Bernadette: "Reze a Deus pela conversão dos pecadores"
(21 de fevereiro), recomendando a penitência (24 de fevereiro) e rezar
pela paz. No dia 2 de março, Nossa Senhora diria a Bernadette que pedisse
aos padres que construíssem ali uma igreja, reiterando o pedido no
dia seguinte. Foram dezoito "aparições-visões" de Nossa
Senhora, de 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858. Neste
contexto, sofria a menina Marie-Bernard, conhecida pelo carinhoso apelido de
Bernadette, alvo de descrédito, discriminação e zombaria. Submetida a
humilhações e constrangimentos , com intimidações em duros interrogatórios,
inclusive pelo comissário de polícia, Monsieur Jacomet. Diante de todos essas
pressões e mesmo perseguições, a adolescente de pouca idade, de têmpera humilde
e obediente, de nível sócio-econômico miserável, sem instrução, sustentou
e defendeu com dedicação e firmeza incomuns a autenticidade das
aparições, enfrentando a opinião geral da localidade, familiares, clero e
autoridades públicas. Era a pureza simples e tenaz de quem sabia
que experimentava a verdade e a beleza do Divinoque tocava a pobreza de sua
história. E assim, nunca vacilou nesta convicção até a sua morte. O assunto era
analisado e investigado, com prudência pela hierarquia eclesiástica, dentro dos
critérios básicos de honestidade do vidente, seu equilíbrio e sanidade, a
qualidade das mensagens, na coerência com a Revelação e os frutos espirituais,
com sinais de conversão, na esteira da normativa do Papa Bento XIV.
Mas, em 25 de fevereiro daquele
ano, algo mais contundente e impactante aconteceu, por ocasião de uma das
visões: surgiu debaixo das mãos da jovem uma fonte de água pura no
lugar onde a Virgem pediu que ela cavasse,na presença de uma multidão de
pessoas. E nesses 161 anos nunca cessou de propiciar os milagres de
Deus, as curas medicamente inexplicáveis que somam até hoje. A jovem
corajosa e piedosa não se ateve ao crescimento da fama dos feitos
milagrosos e à afluência curiosa de muitos. Seguindo a humildade dos
que sabem que são apenas servos e pontes do Sagrado e não proprietários do
Poder divino,recolheu-se como pensionista indigente no hospital das Irmãs da
Caridade de Nevers, em Lourdes, em 1860, recebendo instrução para depois
registrar o primeiro relato escrito das aparições. Em 1862, o Bispo de Tarbes, Monsenhor
Bertrand Sevère Laurence, deu o seu reconhecimento público e oficial às
aparições.
O Magistério da Igreja reconhece e
aprova o culto, após uma criteriosa avaliação do fenômeno. A
aprovação não se refere à aparição em si, mas à mensagem, à
devoção, respaldadas pelos efeitos místicos, espirituais e outros
comprovadamente transnaturais. A aprovação da mensagem também não implica que
ela seja inserida no Depositum Fidei, no patrimônio essencial e universal da
Fé, mas apenas afirma que ela pode ser orientação para a vida e piedade cristã
dos devotos que podem invocar o título de sua devoção, com a nominação,
inclusive, dos templos e a prática do respectivo culto.
A flor Bernadette se
planta em julho de 1866, no Convento de Saint-Gildard , iniciando seu
noviciado, fazendo a sua profissão religiosa em 30 de outubro de
1867 na Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers, levando uma vida
de penitência e oração. As suas mãos que abriram a terra para trazer a água da
cura e da libertação, agora continuavam a missão na dedicação à enfermagem, no
cuidado com os doentes, até o dia em que foi impedida pela doença em 1878, a
tuberculose, que a levou à morte em 16 de abril de 1879. Era o
cumprimento do verdadeiro e principal anúncio de Nossa Senhora em
Lourdes: “Cada um deve ser a mão estendida de Deus, na
misericórdia e na cura do Amor que se dá pelo outro, na oferta de sua própria
vida pela conversão e salvação de todos. Como a água silenciosa e pura, humilde
e generosa que restaura, alimenta e purifica, lava e traz de volta a vida, a
fortaleza e o viço.”
E esta água da graça de Deus, do
Poder infinito divino vem surpreendendo a lógica médico-científica de todos os
séculos, realizando curas extraordinárias, impossíveis aos limites e
circunstâncias positivas da realidade humana. Estes sinais , assinaturas de
Deus na história e no cosmo, são alternâncias e alterações do milagre rotineiro
e natural que já é a vida humana e do universo. Só mesmo Ele poderia levantar,
modificar ou reordenar as suas próprias leis para ser sinal de que Ele é o
Senhor e seu Amor se derrama para a cura, a salvação e a libertação de todos
nós.
Na última aparição,em
16 de julho de 1858, Nossa Senhora nada diz. Apenas sorri. E
exclama Bernadette: "Nunca a tinha visto tão bonita
antes". O mesmo sorriso que pode rever aos 35 anos, já na visão de sua
páscoa, no seu encontro com a Água Viva. A Mãe e o Filho
abraçando-a e recebendo-a, a pobre missionária da gruta da Pedra Velha, a Santa
Bernadette perseverante e fiel diante de tudo e de todos, porta-voz da
Materna Intercessora, a Medianeira das Graças, ponte firme , simples e pura
da plena cura de Deus.
Pelos olhos ternos da Mãe, pelo seu
sorriso de paz, pela sua luz amorosa, não só Bernadette entende, mas todos os
povos, para além da França, que quando nos convertemos e buscamos a graça de
Deus, todo deserto se torna fértil e todo mal é curado.
Nas três exumações do corpo desta
bela santa, em 1909, em 1925 e em 1933, os médicos-legistas o encontraram
em perfeito estado de conservação. Mais um sinal, dentro de todo o
contexto extraordinário. Foi beatificada em 12 de junho de 1925 e canonizada em
8 de dezembro de 1933, na festa da Imaculada Conceição, pelo Papa Pio XI. O
Papa São João Paulo II instituiu em 1992, o dia 11 de fevereiro como Dia
Mundial dos Enfermos, data da primeira aparição, em 1858. A Basílica de
Lourdes foi construída em 1876, no lugar das aparições, atendendo ao pedido da
Virgem, Santuário onde atualmente se realiza intensamente a adoração ao Cristo
Eucarístico.
Podemos concluir, em consonância
com toda a Revelação do Verbo-Amor-Doação, que o Senhor olha
misericordiosamente para a pequenez de seus pobres e faz neles
maravilhas, mostrando o Seu Poder através da Kénosis, o
esvaziamento de si, na humildade, o despojamento total, na entrega
confiante dos simples, a pobreza maior evangélica,verdadeira riqueza do
encher-se do Tudo, abrindo mão de todas as coisas, para transmitir a
liberdade do Reino de Deus. Ele mesmo que se fez homem e pobre para nos
enriquecer. É assim também o exemplo e a mensagem da Mãe do Verbo Encarnado, a
Virgem fiel, pobre Serva do Senhor, que nos trouxe o Redentor, pelo seu sim
total, o sorriso divino-humano da nossa salvação.
Pe Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça
Teólogo, Mariólogo
Membro da Academia Marial de
Aparecida e da Academia Friburguense de Letras
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!