Prof. André Luiz Oliveira*
Virgem antes, durante e depois do parto! Com
esta tríade dogmática assim, definiu a Igreja; proclamou a Patrística; rezou os
Santos; cantou os Mártires; disse os fiéis; consentiu os mariólogos. Porém, não
é pela definição dogmática que desejo tomar o ponto de partida deste ensaio. Antes
almejo promover uma reflexão, para alcançar, uma argumentação teológica. Muitos
são os que perguntam se Maria, teve ou não, mais filhos além de Jesus. Há
aqueles que utilizam as Sagradas Escrituras (Mt 13, 55-56; Mc 6, 3) para
ponderar suas hipóteses. Há também outros que isentos de fundamentos propagam
suas conclusões pessoais. Os exegetas compreendem a palavra irmão, utilizada no
contexto bíblico – a partir da cultura judaica da época – como sendo um laço
parental análogo ao consanguíneo, se estendendo aos parentes próximos como os
tios e primos; e em alguns casos em particular um amigo familiar. Outra
interpretação da hipótese dos irmãos de Jesus se daria pelos possíveis
meios-irmãos, filhos de um primeiro casamento de São José.[1] Transmissão fundamentada
pelos evangelhos apócrifos, originando a tradição de que José seria um homem
velho quando desposou a jovem Maria.[2] Mesmo com todas essas
afirmativas podemos ainda questionar: Teria algo errado se Maria tivesse tido outros
filhos? Os filhos não são graças que Deus concede aos pais, que mal haveria se
ela os tivesse? Se ela os tivesse tido alteraria algo na obra da salvação? São
questões que permeiam nossa mente. Parto do princípio de que Maria gerou apenas
Jesus, como seu unigênito; não por egoísmo ou individualismo; mas, por amor,
por dedicação; pois, a plenitude do amor Águape, se dá no amor maternal entre –
Mãe e Filho – Maria e Jesus. Ele se plenifica na relação da criança na
manjedoura e sua mãe. Entre o jovem atencioso nas bodas. Entre o homem
desfigurado no calvário e a Mãe aos pés da cruz. Na alegria incomensurável de Maria
ao saber que o túmulo estava vazio. Maria não teve outros filhos, em vista, da
doação total e devotamento único a Jesus. Pois, se ela tivesse outros filhos;
assim como qualquer mulher – mãe – ela dividiria seu amor com os demais. Sendo
Mãe e Serva, ao mesmo tempo, de seu Filho e de seu Deus; ela não poderia se
dispensar de um amor total. O amor materno é um desses mistérios insondáveis
existentes. Maria compreendeu, por Graça especial, a magnitude da encarnação do
Verbo. Por isso, foi quem melhor entendeu Jesus e contemplou a obra da
Salvação. Também, São José, colaborou no projeto de Deus, fazendo-se o provedor
da casa de Nazaré. É nesse contexto que contemplamos a alcunha de Justo
conferida a ele. José, soube compreender e respeitar o Fiat de Maria. Há algo
que muitos não contemplam, o Fiat, de José; competiu também a ele um Sim
autêntico; como esposo uma aprovação e sintonia ao projeto de Deus. Pois em
todo relacionamento conjugal é necessária à tomada de decisão de ambas as
partes; o consenso do casal. José, também abriu mão de seus projetos particulares,
ele, conformou-se – em seu sentido mais genuíno e etimológico: tomou forma –
com a obra da Salvação. Culminando com o título de Pai davídico do Messias. Declarou
Santo Atanásio: “José e Maria guardavam perpétua continência”.[3] Maria e José, plenificaram
e concentraram, na totalidade, seu amor a Jesus. “Puríssima, na verdade, devia
ser a Virgem que nos daria o Salvador”.[4] Com devotamento e extremos
de carinho, renunciaram a seus projetos particulares em vista do grande projeto
da obra da Salvação. É partindo desse princípio que se compreende, Maria, como
a mulher consagrada a Deus na pessoa de seu Filho. Etimologicamente, a palavra
Consagrado, significa: aquele que é reservado ao Sagrado. Gerando unicamente
Jesus, Maria, consagrou-se exclusivamente aos cuidados dele. Com clareza
teológica expressou o Prefácio para Missa da Imaculada Conceição de Nossa
Senhora: “A fim de preparar para o vosso Filho mãe que fosse digna dele, preservastes
a Virgem Maria da mancha do pecado original, enriquecendo-a com a plenitude da
vossa graça”.[5]
Os dogmas marianos são compreensíveis se contemplados a partir da seguinte
ordem, é Virgem, porque é Imaculada, é Imaculada, porque é Mãe de Deus.[6] Quando penso na
eventualidade de outros filhos de Maria, me questiono como ela dispensaria amor
e atenção a todos? Como serva fiel, seria possível dividir seu amor entre seu
Filho (Deus) e outros demais em semelhante quantidade? Maria poderia amar a
todos do mesmo modo? Não poderia ela se tornar uma mãe negligente? Maria, assim
como todas as moças de seu tempo desejou uma prodigiosa e extensa família. Esse
era o sonho de todas as moças de Nazaré. Ter muitos filhos, era uma forma de
sobrevivência da cultura judaica, era a compreensão da bênção de Deus (Sl 126,
3). Do Deus que prometeu a Abraão uma vasta descendência (Gn 12, 2-3).
Descendência esta, que chamarão Maria, Bem-aventurada (Lc 1, 48). Maria, optou
por eternizar o momento de sua gravidez, reservou todas as suas alegrias,
realizações e dedicações maternas ao menino Jesus. A incompreensão da doação
total de Maria ao seu divino Filho ocorre, pois estamos imersos em uma cultura
hedonista. Que busca o prazer e nunca o sacrifício; que renuncia a maternidade
pela estética ou a gravidez pela independência feminista. Maria, sacralizou
cada acontecimento antes, durante e depois do parto; e assim eternizou o dogma
da Virgindade Perpétua. Ela jamais compreenderia uma “mãe” abortista,
negligente ou que é capaz de abandonar um filho. Para ela, os filhos, são o que
há de mais sagrado. Por isso, ela cultivava uma relação afável com Jesus. Tudo
leva a crer que quando os olhos se cruzaram, entre a mãe e o recém-nascido –
enfaixado e deitado na manjedoura – tudo foi revelado, e Maria soube qual era
sua missão. A delicadeza no preparo do enxoval, o primeiro olhar, a
amamentação, os primeiros passos e a primeira vez que Ele balbuciou mamãe... tudo
foi como o primeiro dia da Criação. Antes de carrega-Lo nos braços, Maria, o
carregou na mente e no coração. Tudo foi único na vida de Maria e Jesus; e
assim ela o quis sui generis. A Virgindade Perpétua de Maria, não é somente,
castidade. É doação materna. É maternidade espiritual. Maria não teve mais
filhos, para que um dia, seu único Filho, pudesse no alto da cruz contemplar a
humanidade órfã e dizer: “Mulier, ecce
filius tuus” (Jo 19, 26).
*
Graduado em Pedagogia pela Universidade Paulista, filósofo e escritor, é membro
da Academia Marial de Aparecida. É Religioso Irmão da Congregação do Santíssimo
Redentor.
[1]
BOFF, Leonardo. São José o Pai, o Artesão e o Educador. Petrópolis: Vozes,
2012.
[2]
RAMOS, Lincoln (org.). São José e o menino Jesus: História de José o
carpinteiro / Evangelho do Pseudo-Tomé. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
[3]
AQUINO, Prof. Felipe. O Glorioso São José. 4ª ed. Lorena: Cléofas, 2014, p.59.
[4]
Prefácio: Maria e a Igreja. Missal Romano, 2ª ed. Paulus, 2011, p. 716.
[5] Idem.
[6]
OLIVEIRA, Prof. André Luiz. Contemplando a Ladainha de Nossa Senhora. Passos:
Editora Offset São Paulo, 2010.
Komentarze
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!