POR OCASIÃO DA XXXI
JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(27-31 DE JULHO DE
2016)
Bem-aventurados
os misericordiosos
(Hino Jornada Mundial
da Juventude - Cracóvia 2016)
Título original: Błogosławieni Miłosierni
Letra: Jakub Blycharz
Versão: Pe. Zezinho,
scj, Pe. Joãozinho, scj e Jonas Rodrigues (Versão oficial aprovada pela CNBB)
Levantarei
meu olhar aos montes
De onde o auxílio virá
Deus é a força de quem
tem fé
Misericórdia Ele é
Quando
erramos Ele é por nós
Mostra-nos o colo do
Pai
Com seu sangue
libertador
Livra do mal e da dor
Bem
aventurados os misericordiosos
Porque
eles alcançarão misericórdia
Sem
seu perdão quando eu cair
Quem poderá me
levantar?
Se Deus perdoa quem
somos nós
Para não perdoar?
O
sangue de Cristo nos resgatou
Ele ressuscitou!
Grite pro mundo inteiro
ouvir
Jesus Cristo é o
Senhor!
Deixa
o teu medo e tem fé
Um novo tempo virá
Cristo está vivo: vivo
entre nós!
E um dia Ele voltará!
ENCONTRO
COM AS AUTORIDADES, A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Castelo de
Wawel
Quarta-feira 27 de
julho de 2016
Senhor Presidente,
Distintas Autoridades
Ilustres Membros do
Corpo Diplomático,
Magníficos Reitores,
Senhoras e Senhores!
Com deferência, saúdo o
Senhor Presidente e agradeço o seu acolhimento generoso e as palavras amáveis.
Sinto-me feliz por poder saudar os ilustres membros do Governo e do Parlamento,
os Reitores das universidades, as Autoridades regionais e municipais, bem como
os membros do Corpo Diplomático e as outras Autoridades presentes. É a primeira
vez que visito a Europa Centro-Oriental e estou contente por começar da
Polónia, que, entre os seus filhos, conta o inesquecível São João Paulo II,
idealizador e promotor das Jornadas Mundiais da Juventude. Ele gostava de falar
da Europa que respira com os seus dois pulmões: o sonho dum novo humanismo
europeu é animado pela respiração criativa e harmónica destes dois pulmões e
pela civilização comum que tem no cristianismo as suas raízes mais sólidas.
A memória caracteriza o
povo polaco. Sempre me impressionou o sentido vivo da história do Papa João
Paulo II. Quando falava dos povos, partia da sua história procurando fazer
ressaltar os seus tesouros de humanidade e espiritualidade. A consciência da
identidade, livre de complexos de superioridade, é indispensável para organizar
uma comunidade nacional com base no seu património humano, social, político,
económico e religioso, para inspirar a sociedade e a cultura, mantendo-as
simultaneamente fiéis à tradição e abertas à renovação e ao futuro. Foi nesta perspectiva
que celebrastes, recentemente, os mil e cinquenta anos do Batismo da Polónia.
Foi certamente um momento forte de unidade nacional, que confirmou como a
concórdia, mesmo na diversidade das opiniões, é a estrada segura para se
alcançar o bem comum de todo o povo polaco.
E uma profícua
cooperação internacional e a mútua consideração maturam através da consciência
e do respeito pela identidade própria e alheia. Não pode haver diálogo, se cada
qual não parte da sua própria identidade. Mas, na vida diária de cada indivíduo
e também de cada sociedade, há dois tipos de memória: a boa e a má, a positiva
e a negativa. A memória boa é aquela que a Bíblia nos mostra no Magnificat, o
cântico de Maria, que louva o Senhor e a sua obra de salvação. Ao contrário, a
memória negativa é aquela que mantém o olhar da mente e do coração
obsessivamente fixo no mal, a começar pelo mal cometido pelos outros. Vendo a
vossa história recente, agradeço a Deus porque soubestes fazer prevalecer a
memória boa, celebrando, por exemplo, os cinquenta anos do perdão, mutuamente
oferecido e recebido, entre os episcopados polaco e alemão, depois da II Guerra
Mundial. Apesar de a iniciativa envolver inicialmente apenas as comunidades
eclesiais, todavia desencadeou um processo social, político, cultural e
religioso irreversível, mudando a história das relações entre os dois povos. E,
na mesma linha, recordamos também a Declaração Conjunta entre a Igreja Católica
da Polónia e a Igreja Ortodoxa de Moscovo: um ato que deu início a um processo
de aproximação e fraternidade não apenas entre as duas Igrejas, mas também
entre os dois povos.
Assim a nobre nação
polaca mostra como se pode fazer crescer a memória boa e deixar para trás a má.
Para isso, requer-se uma esperança e confiança firmes n'Aquele que guia os
destinos dos povos, abre portas fechadas, transforma as dificuldades em
oportunidades e cria novos cenários onde parecia impossível. Disto mesmo dão
testemunho as vicissitudes históricas da Polónia: depois das tempestades e das
trevas, o vosso povo, restabelecido na sua dignidade, pôde cantar, como os
judeus no regresso de Babilónia: «Parecia-nos viver um sonho. A nossa boca
encheu-se de sorrisos e a nossa língua de canções» (Sal 126/125, 1-2). A
consciência do caminho feito e a alegria pelas metas alcançadas dão força e
serenidade para se enfrentar os desafios atuais, que requerem a coragem da
verdade e um compromisso ético constante, a fim de que os processos decisórios
e operativos, bem como as relações humanas sejam sempre respeitosos da
dignidade da pessoa. E, com isto, está relacionada toda a atividade, incluindo
a economia, a relação com o meio ambiente e a própria forma de gerir o complexo
fenómeno migratório.
Este último exige um
suplemento de sabedoria e misericórdia, para superar os medos e produzir um bem
maior. É preciso identificar as causas da emigração da Polónia, facilitando o
regresso de quantos o queiram fazer. Simultaneamente é precisa a disponibilidade
para acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome; a solidariedade para
com aqueles que estão privados dos seus direitos fundamentais, designadamente o
de professar com liberdade e segurança a sua fé. Ao mesmo tempo, devem ser
estimuladas colaborações e sinergias a nível internacional a fim de se
encontrar soluções para os conflitos e as guerras, que forçam tantas pessoas a
deixar as suas casas e a sua pátria. Trata-se, pois, de fazer o possível para
aliviar os seus sofrimentos, sem se cansar de trabalhar com inteligência e
ininterruptamente pela justiça e a paz, testemunhando com os factos os valores
humanos e cristãos.
À luz da sua história
milenária, convido a nação polaca a olhar com esperança o futuro e as questões
que tem de enfrentar. Esta atitude favorece um clima de respeito entre todas as
componentes da sociedade e um diálogo construtivo entre as diferentes posições;
além disso cria as melhores condições para um crescimento civil, económico e
até demográfico, alentando a confiança de oferecer uma vida boa aos próprios
filhos. Com efeito, estes não deverão apenas enfrentar problemas, mas poderão
usufruir da beleza da criação, do bem que soubermos fazer e difundir, da
esperança que lhes soubermos dar. Assim as próprias políticas sociais a favor
da família – núcleo primário e fundamental da sociedade –, que visam socorrer
as mais frágeis e pobres e apoiá-las no acolhimento responsável da vida, serão
ainda mais eficazes. A vida deve ser sempre acolhida e protegida – as duas
coisas juntas: acolhida e protegida – desde a concepção até à morte natural, e
todos somos chamados a respeitá-la e cuidar dela. Por outro lado, compete ao
Estado, à Igreja e à sociedade acompanhar e ajudar concretamente quem está em
situação de grave dificuldade, para que o filho não seja jamais sentido como um
fardo, mas como um dom, e as pessoas mais frágeis e pobres não se vejam
abandonadas.
Senhor Presidente, a
nação polaca pode – como sucedeu em todo o seu longo percurso histórico –
contar com a colaboração da Igreja Católica, para que, à luz dos princípios
cristãos que a inspiram e que forjaram a história e a identidade da Polónia,
saiba nas novas condições históricas avançar no seu caminho, fiel às suas
melhores tradições e repleta de confiança e esperança, mesmo nos momentos
difíceis.
Ao mesmo tempo que lhe
renovo a expressão da minha gratidão, desejo ao Senhor Presidente e a cada um
dos presentes um sereno e frutuoso serviço ao bem comum.
Nossa Senhora de
Częstochowa abençoe e proteja a Polónia!
ENCONTRO
COM OS BISPOS POLACOS
DIÁLOGO
Catedral do Wawel,
Cracóvia
Quarta-feira, 27 de
julho de 2016
Papa Francisco:
Antes de começar o
diálogo – a partir das perguntas que preparastes – quero, juntamente convosco,
praticar uma obra de misericórdia e depois sugerir-vos outra. Sei que, nestes
dias, muitos de vós estavam ocupados com a Jornada da Juventude e não puderam
ir ao funeral do amado D. Zymowski (é uma obra de caridade enterrar os mortos)
e gostaria que agora, todos juntos, fizéssemos uma oração por D. Zygmund Zymowski
e que esta seja uma verdadeira manifestação do amor fraterno: enterrar um irmão
que morreu. Pater noster... Ave Maria... Gloria Patri... Requiem aeternam...
E a outra obra de
misericórdia que gostaria de sugerir tem a ver com o nosso amado Cardeal
Macharski que está muito doente. Sei que estais preocupados… Penso que não se
pode entrar onde ele está, inconsciente, mas pelo menos chegar perto dele,
aproximar-se da clínica, do hospital, e tocar a parede como que dizendo:
«Irmão, estou contigo». Visitar os doentes é outra obra de misericórdia. Eu
também irei. Obrigado.
Um de vós preparou as
perguntas; pelo menos fizeram-mas chegar. Agora estou ao vosso dispor.
D. Marek Jędraszewski:
Santo Padre, parece que
os fiéis da Igreja Católica e, em geral, todos os cristãos na Europa ocidental
se encontram cada vez mais em minoria no seio duma cultura contemporânea
ateia-liberal. Na Polónia, assistimos a um conflito profundo, a uma luta enorme
entre fé em Deus, dum lado, e, do outro, um pensamento e estilos de vida como
se Deus não existisse. Na sua opinião, Santo Padre, que tipo de ação pastoral
deveria empreender a Igreja Católica no nosso país para que o povo polaco
permaneça fiel à sua mais que milenária tradição cristã? Obrigado.
Papa Francisco:
O senhor é bispo de...?
D. Marek Jędraszewski:
…de Łodź, onde teve
início o caminho de Santa Faustina; pois foi lá que ouviu a voz de Cristo
dizendo-lhe para ir a Varsóvia e fazer-se monja… precisamente em Łodź. A
história da sua vida começou na minha cidade.
Papa Francisco:
O senhor é um
privilegiado. É verdade. A descristianização, a secularização do mundo moderno
é intensa; é muito grande. Mas há quem diga: Sim, é grande, mas veem-se
fenómenos de religiosidade que parecem indicar um despertar do sentido
religioso. E isto poderia ser também um perigo. Penso que, neste mundo tão
secularizado, temos ainda outro perigo: a espiritualidade gnóstica. Esta
secularização torna possível fazer crescer uma vida espiritual um pouco
gnóstica. Lembremos que foi a primeira heresia da Igreja: o apóstolo João malha
nos gnósticos – e como..., com que força! –, com a sua espiritualidade
subjetiva, sem Cristo. A meu ver, o problema mais grave desta secularização é a
descristianização: tirar Cristo, tirar o Filho. Eu rezo, sinto... e nada mais:
isto é gnosticismo. (E há ainda o pelagianismo, outra heresia que também está
na moda hoje, mas não quero falar dela agora, porque a sua pergunta requer que
fale do primeiro; falaremos do pelagianismo noutro momento). Encontrar Deus sem
Cristo: um Deus sem Cristo, um povo sem Igreja. E porquê? Porque a Igreja é a
Mãe, aquela que te dá a vida, e Cristo é o Irmão mais velho, o Filho do Pai,
que faz pensar no Pai, é aquele que te revela o nome do Pai. Uma Igreja órfã: o
gnosticismo de hoje, como descristianização que é, deixa-nos sem Cristo,
leva-nos a uma Igreja, melhor dizendo, a cristãos, a um povo órfão. E nós
devemos ajudar o nosso povo a perceber isto.
Que vos recomendaria
eu? Vem-me ao pensamento – mas é a recomendação do Evangelho, onde temos precisamente
o ensinamento do Senhor – a proximidade. Hoje nós, servidores do Senhor
(bispos, sacerdotes, consagrados, leigos convictos), devemos estar próximo do
povo de Deus. Sem proximidade, existe apenas palavra sem carne. Pensemos –
faz-me bem pensar nisto – nos dois pilares do Evangelho. Quais são os dois
pilares do Evangelho? As Bem-aventuranças e, depois, Mateus 25, o «protocolo»
segundo o qual todos seremos julgados. Descer ao concreto. Proximidade. Tocar.
As obras de misericórdia, tanto corporais como espirituais. «Mas o senhor diz
estas coisas porque a moda este ano é falar da misericórdia!» Não; é o
Evangelho! O Evangelho, com as obras de misericórdia. Temos lá aquele herege ou
descrente de samaritano que se comove e faz o que deve fazer, desembolsando
mesmo dinheiro! Tocar. No Evangelho, temos Jesus que estava sempre no meio do
povo ou com o Pai: ou em oração, a sós com o Pai, ou entre a multidão com os
seus discípulos. Proximidade. Tocar. É a vida de Jesus... Quando Ele Se comoveu
às portas da cidade de Naim (cf. Lc 7, 11-17), comoveu-se, foi e tocou no
caixão, enquanto dizia à mãe em lágrimas: «Não chores».
Proximidade... E a
proximidade é tocar a carne sofredora de Cristo. E a Igreja, a glória da
Igreja, são os mártires – sem dúvida –, mas são-no também tantos homens e
mulheres que deixaram tudo e passaram a sua vida nos hospitais, nas escolas,
com as crianças, com os doentes… Lembro-me duma freirinha, na África Central:
tinha 83/84 anos, magra, corajosa, com uma menina... Veio saudar-me: «Eu não sou
daqui; sou do outro lado do rio, do Congo, mas de vez em quando, uma vez por
semana, venho aqui fazer compras, porque são mais acessíveis». Disse-me a
idade: 83/84 anos. «Há 23 anos que estou cá; sou enfermeira obstétrica, fiz
nascer duas/três mil crianças» - «Ah! E vem aqui sozinha?» - «Sim, sim; tomamos
a canoa». À idade de 83 anos, fazia uma hora de canoa e chegava. Esta mulher e
muitas como ela deixaram o seu país – ela é italiana, de Bréscia –, deixaram o
seu país para tocar a carne de Cristo. Se formos aos países de missão, na
Amazónia, na América Latina, nos cemitérios, encontramos as sepulturas de
muitos homens e mulheres consagrados mortos jovens, porque, não tendo os
anticorpos para as doenças daquelas terras, morriam jovens. As obras de misericórdia:
tocar, ensinar, consolar, «perder tempo». Perder tempo. Recordo com muito
prazer um senhor que foi confessar-se, mas vivia numa situação tal que não
podia receber a absolvição. Aproximou-se um pouco a medo, porque tinha já sido
mandado embora algumas vezes: «Não, e não. Vai embora!» Mas desta teve mais
sorte. O padre ouviu-o, explicou-lhe a situação e terminou dizendo-lhe: «Tu
nunca deixes de rezar. Deus ama-te. Dar-te-ei a bênção, mas tu volta.
Prometes-me?» E este padre «perdia tempo», para atrair este homem aos
sacramentos. Isto chama-se proximidade.
E, falando a Bispos de
proximidade, penso que devo referir-lhes a proximidade mais importante: a
proximidade aos sacerdotes. O bispo deve estar disponível para os seus
sacerdotes. Quando estava na Argentina, ouvi muitas e muitas vezes da boca de
sacerdotes, quando lhes dava Retiro – eu gostava de dar Retiros – e
aconselhava: «Fala com o bispo sobre isso». Respondiam-me: «Não consigo;
chamei-o e a secretária disse-me que não pode («está muito, muito ocupado, mas
recebe-te dentro de três meses!»). Assim este padre sente-se órfão, sem pai,
sem a proximidade e começa a desanimar. Um bispo que à noite, quando regressa,
vê no elenco das chamadas a dum sacerdote, imediatamente naquela mesma noite ou
no dia seguinte deve chamá-lo. «Sim, estou ocupado! Mas é urgente?» - «Não
importa; acertemos uma data». Que o sacerdote sinta que tem um pai. Se nós
tiramos aos sacerdotes a paternidade, não podemos pedir-lhes que sejam pais. E,
assim, o sentido da paternidade de Deus esmorece. A obra do Filho é tocar as
misérias humanas: espirituais e corporais. A proximidade. A obra do Pai: ser
pai, bispo-pai.
Depois, os jovens…,
porque não podemos deixar de falar dos jovens nestes dias. Os jovens são
«chatos»! Porque vêm dizer sempre as mesmas coisas, ou «eu penso assim», ou
então «a Igreja deveria...», e é preciso paciência com os jovens. Na minha
juventude – era uma época em que o confessionário era mais frequentado do que
hoje – conheci alguns sacerdotes que passavam horas ouvindo-os no
confessionário, ou recebiam-nos no escritório paroquial para ouvir as mesmas
coisas... mas com paciência. E, depois, levar os jovens em excursão pelo campo,
pelas montanhas. Pensai em São João Paulo II: que fazia com os universitários?
Sim, dava os tempos de aula, mas depois ia com eles para a montanha.
Proximidade. Escutava-os. Estava com os jovens.
E quero sublinhar uma
última coisa, porque creio que o Senhor mo pede: os avós. Vós que sofrestes o
comunismo, o ateísmo, sabeis isto: foram os avôs, foram as avós que salvaram e
transmitiram a fé. Os avós têm a memória dum povo, têm a memória da fé, a
memória da Igreja. Não descarteis os avós! Nesta cultura do descarte –
precisamente porque está descristianizada –, descarta-se aquilo que não é útil,
que não produz. Não os descarteis. Os avós são a memória do povo, são a memória
da fé. E é preciso fazer com que se encontrem os jovens com os avós: também
isto é proximidade.
Estar próximo e criar
proximidade: responderia assim a esta pergunta. Não há receitas, mas devemos
entrar em campo. Não esperar que chamem ao telefone ou batam à porta... Devemos
sair à procura, como o pastor que vai procurar a ovelha extraviada. Não sei [se
respondi]; isto foi simplesmente o que me veio ao pensamento.
D. Sławoj Leszek Głódź
(Arcebispo de Danzica):
Querido Papa Francisco,
sentimo-nos muito gratos sobretudo porque o Papa Francisco aprofundou o
ensinamento sobre a misericórdia que São João Paulo II tinha começado
precisamente aqui em Cracóvia. É sabido que vivemos num mundo dominado pela
injustiça: os mais ricos tornam-se ainda mais ricos, os pobres tornam-se
miseráveis; há o terrorismo, temos a ética e a moralidade liberal sem Deus... A
minha pergunta é esta: Como aplicar o ensinamento da misericórdia e sobretudo a
quem? O Santo Padre promoveu um medicamento que se chama «misericordina», que
tenho comigo. Obrigado pela promoção!
Papa Francisco:
…mas agora vem a
«misericordina plus». É mais forte!
D. Slawoj Leszek Glódz:
É verdade; obrigado por
este «plus». Temos também o programa «plus» promovido, inclusivamente pelo
governo, para as famílias numerosas. Este «plus» está na moda. A quem… e
sobretudo como? Em primeiro lugar, quem deveria ser objeto do nosso ensinamento
da misericórdia? Obrigado.
Papa Francisco:
Obrigado. Este ponto da
misericórdia não é algo que me veio ao pensamento a mim. É um processo. Se
virmos o Beato Paulo VI, já tinha qualquer alusão à misericórdia. Depois, São
João Paulo II foi o gigante da misericórdia, com a Encíclica Dives in
misericordia, a canonização de Santa Faustina e ainda a oitava de Páscoa [como
o domingo da Divina Misericórdia]; morreria na vigília deste domingo. É um
processo que dura, há anos, na Igreja. Vê-se que o Senhor pedia à Igreja para
despertar esta atitude de misericórdia entre os fiéis. Ele é o Misericordioso
que perdoa tudo. Impressiona-me imenso um capitel medieval que está na Basílica
de Santa Maria Madalena em Vézelay, na França, onde começa o Caminho de
Santiago. Naquele capitel, de um lado, tem Judas enforcado, com os olhos
abertos, a língua de fora… e, do outro, tem o Bom Pastor que o leva consigo. E
se olharmos bem, com atenção, a face do Bom Pastor, os lábios de um lado estão
tristes, mas do outro fazem um sorriso. A misericórdia é um mistério, é um
mistério. É o mistério de Deus. Fizeram-me uma entrevista, da qual em seguida
nasceu um livro intitulado O nome de Deus é misericórdia, mas é uma expressão
jornalística; creio que se possa dizer que Deus é o Pai misericordioso; pelo
menos é assim que Jesus no-Lo faz ver no Evangelho. Mesmo quando pune, é para
converter. Depois as parábolas da misericórdia e… o modo como Ele nos quis
salvar. Quando chegou a plenitude do tempo, fez nascer o Filho de uma mulher:
com a carne… salva-nos com a carne; não a partir do medo, mas da carne. Neste
processo da Igreja, recebemos muitas graças.
E o senhor vê este
mundo doente de injustiça, de falta de amor, de corrupção. É verdade, isto é
verdade. Como referia hoje no avião, ao falar daquele sacerdote octogenário que
foi morto em França, há tempos que venho dizendo que o mundo está em guerra,
que estamos a viver uma III Guerra Mundial aos pedaços. Pensemos na Nigéria...
Ideologias, sim! Mas qual é a ideologia central de hoje, que é a mãe das
corrupções, das guerras? A idolatria do dinheiro. O homem e a mulher já não
estão no vértice da criação; lá puseram o ídolo-dinheiro e, por dinheiro, tudo
se compra e vende. No centro, o dinheiro. Explora-se o povo. E o tráfico de
pessoas atual? Sempre foi assim: a crueldade! Ao falar deste sentimento com um
chefe de governo, este disse-me: «Sempre houve a crueldade. O problema é que
agora vemo-la pela televisão, aproximou-se da nossa vida». Mas sempre houve
crueldade. Matar por dinheiro. Explorar as pessoas, explorar a criação. Um
chefe de governo africano, eleito recentemente, quando me visitou disse-me: «O
primeiro ato de governo que fiz foi reflorestar o país, que fora desflorestado
e aniquilado». Não cuidamos da criação! E isto significa mais pobres, mais
corrupção. Mas que havemos de pensar, quando 80% – mais ou menos, verificai bem
as estatísticas e, se não for 80, é 82 ou 78 – das riquezas está nas mãos de
menos de 20% da população? «Padre, não fale assim, que chamam-lhe comunista!»
Não é comunismo; são estatísticas. E quem paga isto? Pagam as pessoas, o povo
de Deus: as jovens exploradas, os jovens sem trabalho. Na Itália, dos 25 anos
para baixo, 40% está desempregado; na Espanha, 50%; na Croácia, 47%. E porquê?
Porque há uma economia líquida, que favorece a corrupção. Contava-me,
escandalizado, um grande católico, que foi ter com um amigo empresário: «Vou
mostrar-te como ganho 20.000 dólares sem sair de casa». E da Califórnia,
através do computador, fez uma compra de algo que vendeu à China; em 20
minutos, em menos de 20 minutos, ganhara estes 20.000 dólares. Tudo é líquido!
E os jovens não possuem a cultura do trabalho, porque não têm trabalho. A terra
está morta, porque desfrutada insensatamente. E assim se continua... O mundo
aquece, porquê? Porque temos de ganhar. O lucro. «Caímos na idolatria do dinheiro»:
isto foi-me dito por um Embaixador ao apresentar as Credenciais. É uma
idolatria.
A Divina Misericórdia é
o testemunho, o testemunho de tantas pessoas, tantos homens e mulheres, leigos,
jovens que praticam obras [de misericórdia]: na Itália, por exemplo, o
cooperativismo. Sim, há alguns que são demasiado astutos, mas sempre se faz o
bem, fazem-se coisas boas. E depois temos as instituições, organizações fortes,
para cuidar dos doentes. Devemos seguir por esta estrada, trabalhar para que a
dignidade humana cresça. Mas é verdade o que o senhor diz. Vivemos um
analfabetismo religioso tal, que, nalguns santuários do mundo, se confundem as
coisas: vai-se rezar, existem lojas onde se compram os objetos de devoção, os
terços, mas há também algumas que vendem coisas de superstição, porque se
procura a salvação na superstição, no analfabetismo religioso, naquele
relativismo que confunde uma coisa com a outra. E, nestes casos, é preciso a
catequese, a catequese de vida. A catequese, que não é apenas dar noções, mas
acompanhar o caminho. Acompanhar é uma das atitudes mais importantes!
Acompanhar o crescimento da fé. É um longo trabalho, e os jovens esperam isto.
Os jovens esperam... «mas, se começo a falar-lhes, não tardam a mostrar-se
enjoados». E tu dá-lhes um trabalho para fazer. Diz-lhes para irem quinze dias,
durante as férias, ajudar a construir casas modestas para os pobres, ou fazer
qualquer outra coisa. Importante é que eles comecem a sentir que são úteis. E,
ao longo dessas iniciativas, deixa cair a semente de Deus. Lentamente. Mas só
com as palavras… não resulta! O analfabetismo religioso atual, devemos
enfrentá-lo com três linguagens: a linguagem da mente, a linguagem do coração e
a linguagem das mãos. E todas três harmoniosamente.
Não sei [se respondi]!
Estou a falar demais? … São ideias que vos deixo. Com a vossa prudência,
sabereis o que fazer. Mas a Igreja sempre em saída. Uma vez atrevi-me a dizer:
temos aquele versículo do Apocalipse «Eu estou à porta e bato» (3, 20); Ele
bate à porta, mas pergunto-me quantas vezes o Senhor bate à porta a partir de
dentro, para que nós Lhe abramos e Ele possa sair conosco para levar o
Evangelho fora. Não fechados, sair para fora! Sair, sair! Obrigado.
D. Leszek Leszkiewicz
(bispo auxiliar de Tarnów):
Santo Padre, o nosso
serviço pastoral está baseado principalmente no modelo tradicional da
comunidade paroquial, organizada sobre a vida sacramental. Um modelo que, aqui,
continua a dar frutos. Todavia damo-nos conta também de que as condições e
circunstâncias da vida diária mudam rapidamente e pedem à Igreja novas
modalidades pastorais. Pastores e fiéis parecem-se um pouco como aqueles
discípulos que ouvem, trabalham muito, mas nem sempre sabem aproveitar o
dinamismo missionário interior e exterior das comunidades eclesiais. O Santo
Padre, na Evangelii gaudium, fala dos discípulos missionários que levam, com
entusiasmo, a Boa Nova ao mundo atual. Que nos sugere? A que nos encoraja para
podermos construir no nosso mundo a comunidade da Igreja de modo frutuoso,
fecundo, com alegria, com dinamismo missionário?
Papa Francisco:
Obrigado. Quero
sublinhar uma coisa: a paróquia é sempre válida! A paróquia deve permanecer: é
uma estrutura que não devemos jogar fora da janela. A paróquia é precisamente a
casa do Povo de Deus, a casa onde vive. O problema está no modo como organizo a
paróquia. Há paróquias com secretárias paroquiais que parecem «discípulas de
satanás»: assustam as pessoas. Paróquias com as portas fechadas. Mas existem
também paróquias com as portas abertas, paróquias onde, quando chega alguém com
uma questão, lhe dizem: «Sim, sim... Sente-se. Qual é o problema?» E escuta-se
com paciência... porque cuidar do Povo de Deus é cansativo, é cansativo! Um bom
professor universitário, um jesuíta, que conheci em Buenos Aires, quando se
aposentou, pediu ao Provincial para ir como pároco para um bairro a fim de
fazer esta nova experiência. Uma vez por semana, vinha à Faculdade – dependia
daquela comunidade – e um dia disse-me: «Diz ao teu professor de eclesiologia que,
no seu tratado, faltam duas teses». - «Quais?» - «Primeira: O Povo Santo de
Deus é essencialmente cansativo. E a segunda: o Povo Santo de Deus
ontologicamente faz aquilo que lhe parece melhor. E isto cansa!» Hoje ser
pároco é cansativo: guiar uma paróquia é cansativo, neste mundo com tantos
problemas. Mas o Senhor chamou-nos para que nos cansássemos um pouco: para
trabalhar e não para descansar.
A paróquia é cansativa,
quando está bem organizada. A renovação da paróquia é uma das coisas que os
bispos devem ter sempre sob os olhos: Como está esta paróquia? Que faz? Como
está a catequese? Como é ensinada? É aberta? Tantas coisas... Penso numa
paróquia de Buenos Aires; quando os noivos chegavam: «Queremos casar-nos aqui».
«Está bem – dizia a secretária –; estes são os preços». Isto está errado, uma
paróquia assim não serve. Como se acolhem as pessoas? Como se escutam? Há
sempre alguém no confessionário? Nas paróquias – não digo naquelas que estão em
bairros pequenos, mas nas paróquias que estão no centro, nas grandes avenidas
–, se houver um confessionário com a luz acesa, há sempre pessoas que vão.
Sempre! Uma paróquia acolhedora. E nós, bispos, devemos interpelar os padres
sobre isto: «Como está a tua paróquia? E tu sais? Visitas os presos, os
doentes, as velhinhas? E, com as crianças, que fazes? Fá-las jogar, e como
organizas o oratório? É uma das grandes instituições paroquiais, pelo menos na
Itália. No oratório, os adolescentes jogam e dá-se-lhes uma palavra boa, um
pouco de catequese. Regressam a casa cansados, felizes e com uma semente boa.
A paróquia é
importante. Alguns dizem que a paróquia está ultrapassada; agora é o tempo dos
movimentos. Isto não é verdade! Os movimentos ajudam, mas não devem colocar-se
como alternativa à paróquia: devem ajudar na paróquia, fazer caminhar a
paróquia, como faz a Congregação Mariana, como faz a Ação Católica e muitas
outras realidades. Correr atrás de novidades, pôr de lado a estrutura
paroquial? Aquilo que vos digo talvez possa parecer uma heresia, mas é assim
como eu a vivo: creio que é uma realidade análoga à estrutura episcopal;
diferente, mas análoga. Na paróquia, não se toca: deve permanecer como um local
de criatividade, referência, maternidade e o mais que seja; e, dentro disto,
exercitar a capacidade inventiva. E quando uma paróquia procede assim,
realiza-se aquilo a que chamei – isto a propósito dos discípulos missionários
que perguntava – a «paróquia em saída».
Estou a pensar, por
exemplo, numa paróquia – uma iniciativa bela, que depois foi imitada por muitos
– numa terra onde não era costume batizar crianças, porque não havia dinheiro
para o batizado; entretanto aproxima-se o dia do Padroeiro, e a sua festa
começa a preparar-se 3/4 meses antes com a visita às casas, vendo-se então o
elevado número de crianças que não estão batizadas. Preparam-se as famílias e
um dos atos da Festa do Padroeiro é o Batismo de 30/40 crianças que, de outro
modo, ficariam sem Batismo. Há que inventar coisas assim. O problema das
pessoas não se casarem na Igreja. Recordo uma reunião de sacerdotes…
levantou-se um e disse: «Tu já pensaste porquê?» E deu várias razões que
compartilhamos: a cultura atual, etc. Mas a realidade é que um bom grupo de
pessoas não se casa, porque hoje casar-se fica muito caro! É muito caro! Tudo
se paga…, para haver a festa. É um facto social. E este pároco, que possuía uma
grande criatividade, disse: «Quem quiser casar-se, saiba que eu estou à sua
espera!» Porque, na Argentina, há dois casamentos: é obrigatório sempre ir ao
civil e lá faz-se o casamento civil; e, depois se o casal quiser, vai casar-se
ao templo da sua própria religião. Há alguns – muitos! – que não vêm casar-se,
porque não têm dinheiro para fazer uma festa grande... Mas os padres com um
pouco de criatividade dizem: Não é preciso nada! Fico à espera deles. E,
naquele dia, casam-se no civil pelas 11, 12, 13, 14 horas… e eu, naquele dia,
não faço a sesta! Depois do casamento civil, vêm à Igreja, casam-se e vão em
paz.
É preciso inventar,
procurar, sair; procurar as pessoas, penetrar nas dificuldades das pessoas.
Hoje, uma paróquia-escritório não serve, porque as pessoas não são
disciplinadas. Vós tendes um povo disciplinado, e isto é uma graça de Deus. Mas
geralmente o povo não é disciplinado. Penso na minha terra: se não vais à
procura das pessoas, se não te aproximas, elas não vêm. E isto é o discípulo
missionário, paróquia em saída. Sair a procurar, como fez Deus que enviou o seu
Filho à nossa procura.
Não sei se é uma
resposta simplista, mas não tenho outra. Não sou um pastoralista iluminado,
digo aquilo que me vem ao pensamento.
D. Krzysztof Zadarko (Bispo Auxiliar de Koszalin-Kołobrzeg):
Santo Padre, um dos
problemas mais angustiantes que enfrenta atualmente a Europa é a questão dos
refugiados. Como podemos ajudá-los, dado que são tão numerosos? E que podemos
fazer para superar este medo duma invasão ou agressão que paralisa a sociedade
inteira?
Papa Francisco:
Obrigado! O problema
dos refugiados... Nem sempre os refugiados foram como agora; digamos que,
migrantes e refugiados, consideramo-los juntos. O meu pai é um migrante. E
contava ao Presidente [da Polónia] que, na fábrica onde ele trabalhava, havia
muitos migrantes polacos depois da guerra; eu era criança e conheci muitos. A
minha pátria é uma terra de imigrantes, todos... E lá não havia problemas;
verdadeiramente eram outros tempos. Hoje, porque há tanta migração? Não falo da
emigração da própria pátria para o estrangeiro: esta é por falta de trabalho. É
claro que vão fora procurar trabalho. Este é um problema em casa, que também
vós sentis um pouco... Falo daqueles que vêm ter conosco: fogem das guerras, da
fome. O problema está lá. E porque está lá o problema? Porque, naquela terra,
há exploração do povo, há exploração da terra, há exploração para ganhar mais
dinheiro. Economistas mundiais, que veem este problema, dizem: deve-se fazer
investimentos naqueles países; investindo, terão trabalho e não precisarão de
emigrar. Mas há a guerra! Há a guerra das tribos, algumas guerras ideológicas
ou algumas guerras artificiais, preparadas pelos traficantes de armas que vivem
disso: dão as armas a uns que estão contra outros, e também a estes que são
contra aqueles. E assim vivem eles Na verdade a corrupção está na origem da
migração.
Como fazer? Penso que
cada país deve ver como e quando: nem todos os países são iguais; nem todos os
países têm as mesmas possibilidades. É verdade, mas todos podem ser generosos;
generosos como cristãos. Não podemos investir lá, mas a favor daqueles que
vêm... Quantos e como? Não se pode dar uma resposta universal, porque o
acolhimento depende da situação de cada país e também da cultura. Mas é certo
que se podem fazer tantas coisas. Por exemplo, a oração: uma vez na semana,
adoração ao Santíssimo Sacramento com preces por aqueles que batem à porta da
Europa e não conseguem entrar. Alguns conseguem, mas outros não... Ou então
entra um que toma uma estrada que gera medo. Temos países que souberam, desde
há anos, integrar bem os migrantes. Estes têm conseguido integrar-se bem.
Noutros, infelizmente, formaram-se como que guetos. Há toda uma reforma que se
deve fazer, a nível mundial, sobre este compromisso, sobre o acolhimento. Mas
trata-se, em todo o caso, dum aspeto relativo; absoluto é o coração aberto ao
acolhimento. Absoluto é isto! Com a oração, a intercessão, fazer aquilo que
posso. Relativo é o modo como o posso fazer: nem todos o podem fazer da mesma
maneira. Mas o problema é mundial. A exploração de criação, e a exploração das
pessoas. Estamos a viver um momento de aniquilação do homem como imagem de Deus.
E aqui gostaria de
concluir com um aspeto concreto, porque por detrás dele estão as ideologias. Na
Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, na África, nalguns países da
Ásia, existem verdadeiras colonizações ideológicas. E uma delas – digo-a claramente
por «nome e apelido» - é o gender! Hoje às crianças – às crianças! –, na
escola, ensina-se isto: o sexo, cada um pode escolhê-lo. E porque ensinam isto?
Porque os livros são os das pessoas e instituições que te dão dinheiro. São as
colonizações ideológicas, apoiadas mesmo por países muito influentes. E isto é
terrível. Em conversa com o Papa Bento – que está bem e tem um pensamento claro
– dizia-me ele: «Santidade, esta é a época do pecado contra Deus Criador». É
inteligente! Deus criou o homem e a mulher; Deus criou o mundo assim, assim e
assim; e nós estamos a fazer o contrário. Deus deu-nos um estado «inculto» para
que o fizéssemos tornar-se cultura; e depois, com esta cultura, fazemos as
coisas que nos levam ao estado «inculto»! Devemos pensar naquilo que disse o
Papa Bento: «É a época do pecado contra Deus Criador»! E isto ajudar-nos-á.
Mas tu, Cristóvão,
dir-me-ás: «E isto que tem a ver com os migrantes?» Trata-se um pouco do
contexto, sabes? Quanto aos migrantes, diria: o problema está lá, na terra
deles. Mas como os acolhemos? Cada qual deve ver como. Mas todos podemos ter o
coração aberto e pensar em fazer uma hora nas paróquias, uma hora por semana,
de adoração e oração pelos migrantes. A oração move montanhas!
Estas eram as quatro
perguntas. Não sei [se respondi]. Desculpai se falei demasiado, mas o sangue
italiano atraiçoa-me... Muito obrigado pelo acolhimento e esperemos que estes
dias nos encham de alegria: alegria, muita alegria. E rezemos a Nossa Senhora,
que é Mãe e sempre nos leva pela mão: «Salve Regina...»
E não vos esqueçais dos
avós, que são a memória dum povo.
AUDAÇÃO
DO SANTO PADRE
DA
JANELA DO PAÇO EPISCOPAL
Quarta-feira, 27 de
julho de 2016
Saúdo-vos a todos,
saúdo-vos cordialmente!
Vejo-vos com tanto
entusiasmo e tanta alegria. Mas agora tenho de vos dizer uma coisa que vos
deixará o coração triste. Façamos silêncio! É algo que diz respeito a um como
vós: a Maciej. Tinha pouco mais de 22 anos. Estudara desenho gráfico e deixara
o seu trabalho para ser um voluntário da JMJ. Na verdade, são dele todos os
desenhos das bandeiras, as imagens dos Santos Padroeiros, do kit do peregrino,
e outras coisas mais que adornam a cidade. Precisamente neste trabalho,
reencontrou a sua fé.
Em novembro, foi-lhe
diagnosticado um câncer. Os médicos não puderam fazer nada, nem mesmo com a
amputação da perna. Ele queria chegar vivo à visita do Papa! Tinha um lugar
reservado no carro onde viajará o Papa. Mas ele morreu no dia 2 de julho. As
pessoas estão muito chocadas: ele fez um grande bem a todos.
Agora, todos em
silêncio, pensemos neste companheiro de viagem, que trabalhou tanto para esta
Jornada. Todos nós, em silêncio, rezemos com o coração. Cada um reze no próprio
coração. Ele está presente no meio de nós.
[oração silenciosa]
Algum de vós poderia
pensar: «Este Papa estraga-nos a noite!» Mas é a verdade; e nós devemos
habituar-nos às coisas boas e às coisas ruins. A vida é assim, queridos jovens.
Mas há uma coisa da qual não podemos duvidar: a fé deste jovem, deste nosso
amigo que tanto trabalhou para esta JMJ, levou-o para o Céu; e ele, neste
momento, está com Jesus, que contempla a todos nós! E esta é uma graça. Uma
salva de palmas para o nosso companheiro!
Um dia encontrá-lo-emos
também nós: «Ah, eras tu! Que prazer conhecer-te!» É assim, porque a vida é
assim: hoje estamos daqui, amanhã estaremos de lá. O problema é escolher o
caminho certo, como ele fez.
Agradeçamos ao Senhor,
porque nos dá estes exemplos de coragem, de jovens corajosos que nos ajudam a
avançar na vida. E não tenhais medo, não tenhais medo! Deus é grande, Deus é
bom; e todos nós temos algo de bom dentro.
Agora despeço-me.
Ver-nos-emos amanhã; ver-nos-emos novamente. Vós cumpri o vosso dever, que é
fazer barulho toda a noite… para mostrar a vossa alegria cristã, a alegria que
o Senhor vos dá por serdes uma comunidade que segue Jesus.
Agora dou-vos a bênção.
E, como aprendemos em criança antes de ir dormir, saudemos a Mãe. Todos nós
rezamos a Nossa Senhora, cada qual na sua própria língua: Avé, Maria...
[Bênção]
Boa noite! Boa noite! E
rezai por mim.
SANTA
MISSA NOS 1050 ANOS DO BATISMO DA POLÓNIA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Częstochowa
Quinta-feira, 28 de
julho de 2016
Das leituras desta
Liturgia emerge um fio divino, que passa para a história humana e tece a
história da salvação.
O apóstolo Paulo
fala-nos do grande desígnio de Deus: «Quando chegou a plenitude do tempo, Deus
enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gal 4, 4). A história, porém,
diz-nos que, quando chegou esta «plenitude do tempo», isto é, quando Deus Se
fez homem, a humanidade não estava particularmente preparada, nem era um
período de estabilidade e de paz: não havia uma «idade de ouro». A cena deste
mundo não era merecedora da vinda de Deus; antes pelo contrário, já que «os
seus não O receberam» (Jo 1, 11). Assim a plenitude do tempo foi um dom de
graça: Deus encheu o nosso tempo com a abundância da sua misericórdia; por puro
amor – por puro amor –, inaugurou a plenitude do tempo.
Impressiona, sobretudo,
o modo como se realiza a entrada de Deus na história: «nascido de uma mulher».
Não há qualquer entrada triunfal, qualquer manifestação imponente do
Todo-Poderoso. Não Se manifesta como um sol ofuscante, mas entra no mundo da
forma mais simples, chega como uma criança através da mãe, com aquele estilo de
que nos fala a Sagrada Escritura: como a chuva sobre a terra (cf. Is 55, 10),
como a menor das sementes que germina e cresce (cf. Mc 4, 31-32). Assim – ao
contrário do que esperaríamos e talvez quiséssemos – o Reino de Deus, hoje como
então, «não vem de maneira ostensiva» (Lc 17, 20), mas na pequenez, na
humildade.
O Evangelho de hoje
retoma este fio divino que atravessa delicadamente a história: da plenitude do
tempo passamos ao «terceiro dia» do ministério de Jesus (cf. Jo 2, 1) e ao
anúncio da «hora» da salvação (cf. v. 4). O tempo restringe-se, e a
manifestação de Deus acontece sempre na pequenez. Assim «Jesus realizou o
primeiro dos seus sinais miraculosos» (v. 11), em Caná da Galileia. Não há um
gesto estrondoso realizado diante da multidão, nem uma intervenção que resolva
um problema político flagrante, como a subjugação do povo à dominação romana.
Pelo contrário, numa pequena aldeia, tem lugar um milagre simples, que alegra o
casamento duma jovem família, completamente anónima. E contudo a água transformada
em vinho na festa de núpcias é um grande sinal, porque revela o rosto esponsal
de Deus, de um Deus que Se põe à mesa conosco, que sonha e realiza a comunhão conosco.
Diz-nos que o Senhor não Se mantém à distância, mas é vizinho e concreto, está
no nosso meio e cuida de nós, sem decidir em nosso lugar nem Se ocupar de
questões de poder. De facto prefere encerrar-Se no que é pequeno, ao contrário
do homem que tende a querer possuir algo sempre maior. Deixar-se atrair pelo
poder, a grandeza e a visibilidade é tragicamente humano, resultando uma grande
tentação que procura insinuar-se por todo o lado. Ao passo que é
requintadamente divino dar-se aos outros, eliminando as distâncias,
permanecendo na pequenez e habitando concretamente a quotidianidade.
Por conseguinte, Deus
salva-nos fazendo-Se pequeno, vizinho e concreto. Antes de mais nada, Deus
faz-Se pequeno. O Senhor, «manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), prefere os
pequeninos, a quem é revelado o Reino de Deus (cf. Mt 11, 25); são grandes a
seus olhos e, sobre eles, pousa o seu olhar (cf. Is 66, 2). Prefere-os, porque
se opõem àquele «estilo de vida orgulhoso» que vem do mundo (cf. 1 Jo 2, 16).
Os pequenos falam a mesma língua d’Ele: o amor humilde que os torna livres. Por
isso, Jesus chama pessoas simples e disponíveis para serem seus porta-vozes, e
confia-lhes a revelação do seu nome e os segredos do seu Coração. Pensemos em
tantos filhos e filhas do vosso povo: nos mártires, que fizeram resplandecer a
força desarmada do Evangelho; nas pessoas simples, e todavia extraordinárias,
que souberam testemunhar o amor do Senhor no meio de grandes provações; nos
arautos mansos e fortes da Misericórdia, como São João Paulo II e Santa
Faustina. Através destes «canais» do seu amor, o Senhor fez chegar dons inestimáveis
a toda a Igreja e à humanidade inteira. E é significativo que este aniversário
do Batismo do vosso povo tenha coincidido precisamente com o Jubileu da
Misericórdia.
Além disso, Deus é
vizinho, o seu Reino está próximo (cf. Mc 1, 15): o Senhor não quer ser temido
como um soberano poderoso e distante, não quer permanecer num trono celeste ou
nos livros da história, mas gosta de mergulhar nas nossas vicissitudes de cada
dia, para caminhar conosco. Ao pensarmos no dom dum milénio abundante de fé, é
bom antes de tudo dar graças a Deus, que caminhou com o vosso povo, tomando-o
pela mão – como faz um Papa com o seu menino –, e acompanhando-o em tantas
situações. Isto mesmo é o que nós, também enquanto Igreja, sempre somos
chamados a fazer: ouvir, envolver-se e tornar-se vizinho, partilhando as
alegrias e as canseiras das pessoas, de modo que o Evangelho se comunique da
forma mais coerente e frutuosa, ou seja, por irradiação positiva, através da
transparência da vida.
Por fim, Deus é
concreto. Das leituras de hoje sobressai que tudo, na ação de Deus, é concreto:
a Sabedoria divina age «como arquiteto» e «brinca» (cf. Prv 8, 30), o Verbo
faz-Se carne, nasce duma mãe, nasce sob o domínio da Lei (cf. Gal 4, 4), tem
amigos e participa numa festa: o Eterno comunica-Se transcorrendo o tempo com
pessoas e em situações concretas. Também a vossa história, permeada de
Evangelho, Cruz e fidelidade à Igreja, regista o contágio positivo duma fé
genuína, transmitida de família para família, de pai para filho e, sobretudo, pelas
mães e as avós, a quem muito devemos agradecer. De modo particular, pudestes
palpar a ternura concreta e providente da Mãe de todos, que vim aqui venerar
como peregrino e que saudamos, no Salmo, como «a honra do nosso povo» (Jdt 15,
9).
É precisamente para Ela
que nós, aqui reunidos, levantamos o olhar. Em Maria, encontramos a plena
correspondência ao Senhor: e assim, na história, entrelaça-se com o fio divino
um «fio mariano». Se existe qualquer glória humana, qualquer mérito nosso na
plenitude do tempo, é Ela: é Ela aquele espaço, preservado liberto do mal, onde
Deus Se espelhou; é Ela a escada que Deus percorreu para descer até nós e
fazer-Se vizinho e concreto; é Ela o sinal mais claro da plenitude do tempo.
Na vida de Maria,
admiramos esta pequenez amada por Deus, que «pôs os olhos na humildade da sua
serva» e «exaltou os humildes» (Lc 1, 48.52). E nisso tanto Se deleitou, que
d’Ela Se deixou tecer a carne, de modo que a Virgem Se tornou Progenitora de
Deus, como proclama um hino muito antigo que há séculos vós Lhe cantais. A vós
que ininterruptamente vindes ter com Ela, acorrendo a esta capital espiritual
do país, continue a Virgem Mãe a mostrar o caminho e vos ajude a tecer na vida
a teia humilde e simples do Evangelho.
Em Caná, como aqui em
Jasna Góra, Maria oferece-nos a sua proximidade e ajuda-nos a descobrir o que
falta à plenitude da vida. Hoje, como então, fá-lo com solicitude de Mãe, com a
presença e o bom conselho, ensinando-nos a evitar arbítrios e murmurações nas
nossas comunidades. Como Mãe de família, quer-nos guardar juntos, todos juntos.
O caminho do vosso povo superou, na unidade, tantos momentos duros; que a Mãe,
forte ao pé da cruz e perseverante na oração com os discípulos à espera do
Espírito Santo, infunda o desejo de ultrapassar as injustiças e as feridas do
passado e criar comunhão com todos, sem nunca ceder à tentação de se isolar e
impor.
Nossa Senhora, em Caná,
mostrou-Se muito concreta: é uma Mãe que tem a peito os problemas e intervém,
que sabe individuar os momentos difíceis e dar-lhes remédio com discrição,
eficácia e determinação. Não é patroa nem protagonista, mas Mãe e serva.
Peçamos a graça de assumir a sua sensibilidade, a sua imaginação ao servir quem
passa necessidade, a beleza de gastar a vida pelos outros, sem preferências nem
distinções. Que Ela, causa da nossa alegria e portadora da paz por entre a
abundância do pecado e as turbulências da história, nos obtenha a
superabundância do Espírito para sermos servos bons e fiéis.
Pela sua intercessão,
que se renove, também para nós, a plenitude do tempo. De pouco serve a passagem
do antes ao depois de Cristo, se permanece uma data nos anais da história.
Possa realizar-se, para todos e cada um, uma passagem interior, uma Páscoa do
coração para o estilo divino encarnado por Maria: agir na pequenez e acompanhar
de perto, com coração simples e aberto.
ENCONTRO
DE BOAS-VINDAS COM OS PARTICIPANTES NA JMJ
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Esplanada de
Błonia
Quinta-feira, 28 de
julho de 2016
Queridos jovens, boa
tarde!
Finalmente
encontramo-nos…! Obrigado por esta calorosa receção! Agradeço ao Cardeal
Dziwisz, aos bispos, aos sacerdotes, aos religiosos, aos seminaristas e leigos
e a todos aqueles que vos acompanham. Obrigado a quantos tornaram possível a
nossa presença aqui, hoje, que «desceram em campo» para que pudéssemos celebrar
a fé. Hoje nós, todos juntos, estamos a celebrar a fé.
Nesta sua terra natal,
quero agradecer especialmente a São João Paulo II [grande aplauso] – com força;
com mais força – que sonhou e deu impulso a estes encontros. Do céu, ele nos
acompanha vendo tantos jovens pertencentes a povos, culturas, línguas tão
diferentes animados por um único motivo: celebrar Jesus que está vivo no meio
de nós. Compreendestes? Celebrar Jesus que está vivo no meio de nós. E dizer
que está vivo é querer renovar o nosso desejo de O seguir, o nosso desejo de
viver com paixão o seguimento de Jesus. E qual ocasião melhor para renovar a
amizade com Jesus do que ao reforçar a amizade entre vós? Qual modo melhor para
reforçar a nossa amizade com Jesus do que partilhá-la com os outros? Qual
maneira melhor para viver a alegria do Evangelho do que querer «contagiar», com
a Boa Nova, a tantas situações dolorosas e difíceis?
E Jesus é Aquele que
nos convocou para esta trigésima primeira Jornada Mundial da Juventude; é Ele
que nos diz: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt
5, 7). Felizes são aqueles que sabem perdoar, que sabem ter um coração
compassivo, que sabem dar o melhor aos outros; o melhor… Não o que sobra, mas o
melhor.
Queridos jovens, nestes
dias, a Polónia, esta nobre terra, veste-se de festa; nestes dias, a Polónia
quer ser o rosto sempre jovem da Misericórdia. A partir desta terra, convosco e
unidos também a muitos jovens que, vendo-se impossibilitados de estar aqui
hoje, nos acompanham através dos vários meios de comunicação, todos juntos
faremos desta Jornada uma verdadeira festa jubilar, neste Jubileu da
Misericórdia.
Nos meus anos de bispo,
aprendi uma coisa (aprendi muitas; mas uma quero dizer-vo-la agora): não há
nada mais belo do que contemplar os anseios, o empenho, a paixão e a energia
com que muitos jovens abraçam a vida. Como é belo isto! E donde vem esta
beleza? Quando Jesus toca o coração dum jovem, duma jovem, estes são capazes de
ações verdadeiramente grandiosas. É estimulante ouvi-los partilhar os seus
sonhos, as suas questões e o seu desejo de opor-se a quantos dizem que as
coisas não podem mudar. A estes, chamo-lhes «quietistas», imobilistas: «Nada
pode mudar». Não é verdade; os jovens possuem a força de se lhes opor. Mas,
talvez alguns não estejam muito seguros disto! Eu pergunto-vos; vós respondeis:
As coisas podem mudar? [Sim!] Não se ouve… [Sim!] Agora, sim! É um dom do céu
poder ver muitos de vós que, com as vossas questões, procurais fazer com que as
coisas sejam diferentes. É bonito e conforta-me o coração ver-vos assim
exuberantes. Hoje a Igreja olha-vos – diria mais: hoje o mundo olha-vos – e
quer aprender de vós, para renovar a sua confiança na Misericórdia do Pai que
tem o rosto sempre jovem e não cessa de nos convidar para fazer parte do seu
Reino, que é um Reino de alegria, sempre é um Reino de felicidade, é um Reino
que sempre nos faz progredir, é um Reino capaz de nos dar a força para mudar as
coisas. Já me esqueci [da vossa reposta]; faço-vos a pergunta outra vez: As
coisas podem mudar? [Sim!] Está bem.
Conhecendo a paixão que
pondes na missão, ouso repetir: a misericórdia tem sempre o rosto jovem. Porque
um coração misericordioso tem a coragem de deixar a comodidade; um coração
misericordioso sabe ir ao encontro dos outros, consegue abraçar a todos. Um
coração misericordioso sabe ser um refúgio para quem nunca teve uma casa ou
perdeu-a, sabe criar um ambiente de casa e de família para quem teve de
emigrar, é capaz de ternura e compaixão. Um coração misericordioso sabe
partilhar o pão com quem tem fome, um coração misericordioso abre-se para
receber o refugiado e o migrante. Dizer misericórdia juntamente convosco é
dizer oportunidade, é dizer amanhã, é dizer compromisso, é dizer confiança, é
dizer abertura, hospitalidade, compaixão, é dizer sonhos. Mas vós… sois capazes
de sonhar? [Sim!] Pois bem! Quando o coração está aberto e é capaz de sonhar,
há lugar para a misericórdia, há lugar para acarinhar os que sofrem, há lugar
para aproximar-se daqueles que não têm paz no coração, carecem do necessário
para viver, ou falta-lhes a coisa mais bela: a fé. Misericórdia. Digamos,
juntos, esta palavra: misericórdia. Todos! [misericórdia] Outra vez!
[misericórdia] Outra vez, de modo que o mundo ouça [misericórdia].
Quero também
confessar-vos outra coisa que aprendi nestes anos. Não quero ofender ninguém,
mas entristece-me encontrar jovens que parecem «aposentados» antes do tempo.
Isto deixa-me triste: jovens que parecem ter–se aposentado aos 23, 24, 25
anos... Isto entristece-me. Preocupa-me ver jovens que desistiram antes do
jogo; que «se renderam» sem ter começado a jogar. Entristece-me ver jovens que
caminham com a cara triste, como se a sua vida não tivesse valor. São jovens
essencialmente chateados... e chatos, que chateiam os outros, e isto deixa-me
triste. É duro, e ao mesmo tempo interpela-nos, ver jovens que deixam a vida à
procura da «vertigem», ou daquela sensação de se sentir vivos por vias obscuras
que depois acabam por «pagar»... e pagar caro. Pensai em tantos jovens que
conheceis e que escolheram esta estrada. Dá que pensar quando vês jovens que
perdem os anos belos da sua vida e as suas energias correndo atrás de
vendedores de falsas ilusões – existem! – (na minha terra natal, diríamos
«vendedores de fumaça»), que vos roubam o melhor de vós mesmos. E isto
entristece-me. Tenho a certeza de que hoje, entre vós, não há nenhum desses,
mas quero dizer-vos: há jovens aposentados, jovens que desistem antes do jogo,
há jovens que se adentram na vertigem com as falsas ilusões e… acabam em nada.
Por isso, queridos
amigos, estamos aqui reunidos para nos ajudarmos uns aos outros, porque não
queremos deixar que nos roubem o melhor de nós mesmos, não queremos permitir
que nos roubem as energias, que nos roubem a alegria, que nos roubem os sonhos
com falsas ilusões.
Queridos amigos,
pergunto-vos: Para a vossa vida quereis aquela «vertigem» alienante, ou quereis
a força que vos faça sentir vivos e realizados? Vertigem alienante ou força da
graça? Que quereis: vertigem alienante ou força que dá plenitude? Que quereis?
[Força que dá plenitude] Não se ouve bem! [Força que dá plenitude] Para se
sentir realizados, para ter uma vida renovada, há uma resposta, há uma reposta
que não está à venda, há uma resposta que não se compra, uma resposta que não é
uma coisa, que não é um objeto; é uma pessoa, chama-se Jesus Cristo.
Pergunto-vos: Jesus Cristo, pode-se comprar? [Não!] Jesus Cristo está à venda
nas lojas? [Não!] Jesus Cristo é uma dádiva, é uma prenda do Pai, a dádiva do
nosso Pai. Quem é Jesus Cristo? Todos! Jesus Cristo é uma dádiva! Todos! [É uma
dádiva!]. É a prenda do Pai.
Jesus Cristo é aquele
que sabe dar verdadeira paixão à vida, Jesus Cristo é aquele que leva a não nos
contentarmos com pouco e leva a dar o melhor de nós mesmos; é Jesus Cristo que
nos interpela, convida e ajuda a erguer-nos sempre que nos damos por vencidos.
É Jesus Cristo que nos impele a levantar o olhar e sonhar a altitude. Mas
poderá alguém dizer-me: «Padre, é tão difícil sonhar a altitude, é tão difícil
subir, subir sempre. Padre, eu sou fraco, caio; bem me esforço, mas muitas
vezes escorrego». Os habitantes dos Alpes, quando sobem as montanhas, entoam
uma canção muito linda que diz: «Na arte de subir, importante não é o não cair,
mas não ficar caído». Se tu és fraco, se tu cais, ergue um pouco o olhar para o
alto… há a mão estendida de Jesus, que te diz: «Levanta-te, vem comigo». «E se
me acontece de novo?» Faz o mesmo. Uma vez Pedro perguntou ao Senhor: «Senhor,
quantas vezes?» – «Setenta vezes sete». A mão de Jesus está sempre estendida
para nos levantar, quando caímos. Compreendestes? [Sim!]
No Evangelho, ouvimos
narrar que Jesus, indo a caminho de Jerusalém, se deteve numa casa – a casa de
Marta, Maria e Lázaro – que O acolhe. Passando por lá, entra em casa para estar
com eles; as duas mulheres acolhem Aquele que sabem ser capaz de comover-Se.
Por vezes as inúmeras ocupações fazem-nos ser como Marta: ativos, distraídos,
sempre a correr daqui para ali... mas há vezes também que somos como Maria: à
vista duma bela paisagem, ou dum vídeo que um amigo nos envia ao telemóvel,
paramos a refletir, a escutar. Nestes dias da JMJ, Jesus quer entrar na nossa
casa: na tua casa, na minha casa, no coração de cada um de nós; Jesus dar-Se-á
conta das nossas preocupações, da nossa pressa, como fez com Marta... e
esperará que O escutemos como Maria: que, no meio de todas as tarefas, tenhamos
a coragem de nos confiarmos a Ele. Que sejam dias para Jesus, dedicados a
ouvi-Lo, a recebê-Lo nas pessoas com quem partilho a casa, a rua, o grupo, a
escola.
E quem acolhe Jesus,
aprende a amar como Jesus. Então pergunta-nos se queremos uma vida plena. E, em
nome d’Ele, pergunto-vos: Queres tu, quereis vós uma vida plena? Começa desde
agora a deixar-te mover à compaixão! Porque a felicidade germina e desabrocha
na misericórdia. Esta é a sua resposta, este é o seu convite, o seu desafio, a
sua aventura: a misericórdia. A misericórdia tem sempre um rosto jovem; como o
de Maria de Betânia, sentada aos pés de Jesus como discípula, que gosta de
escutar, porque sabe que ali está a paz. Como o rosto de Maria de Nazaré, de
tal modo lançada com o seu «sim» na aventura da misericórdia, que será chamada
bem-aventurada por todas as gerações, chamada por todos nós «a Mãe da
Misericórdia». Invoquemo-La, todos juntos: Maria, Mãe da Misericórdia. Todos:
Maria, Mãe da Misericórdia.
Agora, todos juntos,
peçamos ao Senhor – cada um, em silêncio, repita no seu coração –: Senhor,
lançai-nos na aventura da misericórdia! Lançai-nos na aventura de construir
pontes e derrubar muros (sejam cercas ou arame farpado); lançai-nos na aventura
de socorrer o pobre, quem se sente sozinho e abandonado, quem já não encontra
sentido para a sua vida. Lançai-nos no acompanhamento daqueles que não Vos
conhecem, dizendo-lhes com calma e tanto respeito o vosso Nome, o porquê da
minha fé. Impele-nos, como a Maria de Betânia, para a escuta daqueles que não
compreendemos, daqueles que vêm de outras culturas, outros povos, mesmo
daqueles que tememos porque julgamos que nos podem fazer mal. Fazei que
voltemos o nosso olhar, como Maria de Nazaré para Isabel, que voltemos os olhos
para os nossos idosos, os nossos avós, a fim de aprender com a sua sabedoria.
Pergunto-vos: Falais com os vossos avós? [Sim!] Continuai a fazê-lo! Procurai
os vossos avós; eles possuem a sabedoria da vida e dir-vos-ão coisas que
enternecerão o vosso coração.
Eis-nos aqui, Senhor!
Enviai-nos a partilhar o vosso Amor Misericordioso. Queremos acolher-Vos nesta
Jornada Mundial da Juventude, queremos afirmar que a vida é plena quando é
vivida a partir da misericórdia; e que esta é a parte melhor, é a parte mais
ditosa, é a parte que nunca nos será tirada. Ámen.
SAUDAÇÃO
DO SANTO PADRE
DA
JANELA DO PAÇO EPISCOPAL
Quinta-feira, 28 de
julho de 2016
Disseram-me que muitos
de vós entendem o espanhol e, por isso, vou falar nesta língua. Disseram-me
também que hoje aqui, nesta praça, há um bom grupo de recém-casados e casais
jovens. Quando encontro uma pessoa que se casa, um jovem que se casa, uma
menina que se casa, digo-lhes: «Estes são daqueles que têm coragem!» Pois não é
fácil formar uma família, não é fácil comprometer-se na vida para sempre, é
preciso ter coragem. E congratulo-me convosco porque tendes coragem.
Às vezes, perguntam-me
como fazer para que a família continue sempre para diante e ultrapasse as
dificuldades. Sugiro-lhes que usem sempre três palavras, três palavras que
expressam três atitudes – eis que chegam mais recém-casados – três palavras que
vos podem ajudar a levar por diante a vida conjugal, porque nesta existem
dificuldades. O matrimónio é uma coisa muito linda; tão linda que devemos
cuidar dele, porque é para sempre. E as três palavras são: com licença,
obrigado, desculpa.
Com licença. Perguntar
sempre ao cônjuge, a esposa ao marido e o marido à esposa: «Que achas? Fazemos
assim?» Nunca espezinhar. «Com licença».
A segunda palavra: ser
agradecidos. Quantas vezes o marido deve dizer à esposa: «Obrigado!» E quantas
vezes deve a esposa dizer ao marido: «Obrigada!» Agradecer um ao outro, porque
o sacramento do Matrimónio é conferido pelos dois esposos, um ao outro. E esta
relação sacramental mantém-se com este sentimento de gratidão. «Obrigado».
A terceira palavra é:
desculpa. É uma palavra muito difícil de pronunciar. No casal, sempre – entre
marido e mulher –, sempre há qualquer incompreensão. É preciso saber
reconhecê-la e pedir desculpa; pedir perdão faz um bem imenso.
Há casais jovens,
recém-casados… Muitos de vós são casados, outros estão para se casar. Lembrai-vos
destas três palavras, que são de grande ajuda para a vida conjugal: com
licença, obrigado, desculpa. Vamos repeti-las juntos: com licença, obrigado,
desculpa. Com força…, todos: com licença, obrigado, desculpa.
Tudo isto está muito
certo! E é muito belo dizê-lo na vida conjugal. Mas, nesta, não faltam
problemas ou discussões. É normal! Sucede que marido e mulher discutam,
levantem a voz, litiguem e, às vezes, até voe qualquer prato! Não vos
assusteis, quando isso acontece. O conselho que vos dou é este: nunca termineis
o dia, sem fazer a paz. Sabeis porquê? Porque a «guerra fria» no dia seguinte é
muito perigosa. «Padre, como proceder para fazer a paz?» – poderia perguntar um
de vós. Não são precisos discursos; basta um gesto e… tudo acaba, a paz está
feita. Quando há amor, um gesto ajusta tudo.
E agora, antes de
receberdes a bênção, convido-vos a rezar por todas as famílias aqui presentes,
pelos recém-casados, pelos que já estão casados há muito tempo e conhecem
aquilo que vos disse, e pelos que se vão casar. Rezemos, todos, uma Ave-Maria,
cada qual na sua própria língua: Avé, Maria...
[Bênção]
E rezai por mim!
Verdadeiramente vos peço: rezai por mim! Boa noite e bom repouso!
VISITA
AO HOSPITAL PEDIÁTRICO DE PROKOCIM
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia
Sexta-feira, 29 de
julho de 2016
Queridos irmãos e
irmãs!
Na minha visita a
Cracóvia, não podia faltar o encontro com os pequeninos pacientes deste
hospital. A todos vos saúdo e agradeço cordialmente à senhora Primeiro-Ministro
as amáveis palavras que me dirigiu. A minha vontade era poder demorar-me um
pouco com cada criança doente, junto da sua cama, abraçar-vos uma a uma, ouvir
nem que fosse só por um momento cada uma de vós e, juntos, guardar silêncio
perante certas perguntas para as quais não há resposta imediata. E rezar.
Várias vezes o
Evangelho nos mostra o Senhor Jesus, que encontra os doentes, acolhe-os e vai
também de bom grado ter com eles. Sempre Se dá conta deles, fixa-os como uma
mãe olha para o filho que não está bem e, dentro d’Ele, sente-Se movido à
compaixão.
Como gostaria que nós,
como cristãos, fôssemos capazes de permanecer ao lado dos doentes à maneira de
Jesus, com o silêncio, com uma carícia, com a oração. Infelizmente a nossa
sociedade encontra-se poluída com a cultura do «descarte», que é o contrário da
cultura do acolhimento. E as vítimas da cultura do descarte são precisamente as
pessoas mais fracas, mais frágeis; isto é uma crueldade. Diversamente, é bom
ver que, neste hospital, os mais pequeninos e necessitados são acolhidos e
cuidados. Obrigado por este sinal de amor que nos ofereceis! O sinal da
verdadeira civilização, humana e cristã, é este: colocar no centro da atenção
social e política as pessoas mais desfavorecidas.
Às vezes, as famílias
veem-se sozinhas a tomar conta deles. Que fazer? A partir deste lugar, onde se
vê o amor concreto, gostaria de dizer: multipliquemos as obras da cultura do
acolhimento, obras animadas pelo amor cristão, amor a Jesus crucificado, à
carne de Cristo. Servir com amor e ternura as pessoas que precisam de ajuda
faz-nos crescer, a todos, em humanidade; e abre-nos a passagem para a vida
eterna: quem cumpre obras de misericórdia não tem medo da morte.
Desejo encorajar a
todos aqueles que fizeram, do convite evangélico a «visitar os doentes», uma
opção pessoal de vida: médicos, enfermeiros, todos os profissionais de saúde,
assim como os capelães e os voluntários. Que o Senhor vos ajude a bem realizar
o vosso trabalho, tanto neste como em qualquer outro hospital do mundo. Não
quero esquecer aqui o trabalho das Irmãs, tantas Irmãs, que gastam a vida nos
hospitais. Que o Senhor vos recompense dando-vos a serenidade interior e um
coração sempre capaz de ternura.
Obrigado a todos por
este encontro! Levo-vos comigo, no afeto e na oração. E também vós, por favor,
não vos esqueçais de rezar por mim.
VIA-SACRA
COM OS JOVENS
ALOCUÇÃO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Esplanada de
Błonia,
Sexta-feira, 29 de
julho de 2016
«Tive fome e destes-me
de comer,
tive sede e destes-me
de beber,
era peregrino e
recolhestes-me,
estava nu e destes-me
que vestir,
adoeci e visitastes-me,
estive na prisão e
fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36).
Estas palavras de Jesus
vêm ao encontro da questão que muitas vezes ressoa na nossa mente e no nosso
coração: «Onde está Deus?» Onde está Deus, se no mundo existe o mal, se há
pessoas famintas, sedentas, sem abrigo, deslocadas, refugiadas? Onde está Deus,
quando morrem pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das
guerras? Onde está Deus, quando doenças cruéis rompem laços de vida e de afeto?
Ou quando as crianças são exploradas, humilhadas, e sofrem – elas também – por
causa de graves patologias? Onde está Deus, quando vemos a inquietação dos
duvidosos e dos aflitos na alma? Há perguntas para as quais não existem
respostas humanas. Podemos apenas olhar para Jesus, e perguntar a Ele. E a sua
resposta é esta: «Deus está neles», Jesus está neles, sofre neles,
profundamente identificado com cada um. Está tão unido a eles, que quase formam
«um só corpo».
Foi o próprio Jesus que
escolheu identificar-Se com estes nossos irmãos e irmãs provados pelo
sofrimento e a angústia, aceitando percorrer o caminho doloroso para o
calvário. Ao morrer na cruz, entrega-Se nas mãos do Pai e leva consigo e em Si
mesmo, com amor de doação, as chagas físicas, morais e espirituais da
humanidade inteira. Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome,
a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos.
Nesta noite, Jesus e nós, juntamente com Ele, abraçamos com amor especial os
nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los com
fraterno afeto e simpatia.
Repassando a Via-Sacra
de Jesus, descobrimos de novo a importância de nos configurarmos a Ele, através
das 14 obras de misericórdia. Estas ajudam-nos a abrir-nos à misericórdia de
Deus, a pedir a graça de compreender que a pessoa, sem misericórdia, não pode
fazer nada; sem a misericórdia, eu, tu, nós todos não podemos fazer nada.
Comecemos por ver as sete obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem
tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos
peregrinos, visitar os enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos.
Gratuitamente recebemos, demos gratuitamente também. Somos chamados a servir
Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em
quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, é
perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita, encontramos o nosso
Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao
explicar o «Protocolo» com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos
isto a um dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele (cf. Mt 25,
31-46).
Às obras de
misericórdia corporais seguem-se as obras de misericórdia espirituais: dar bons
conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes,
perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo,
rezar a Deus por vivos e defuntos. A nossa credibilidade de cristãos é posta em
jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo, e no
acolhimento do pecador que está ferido na alma. A nossa credibilidade de
cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida
no corpo, e no acolhimento do pecador que está ferido na alma. Não nas ideias,
mas nisto!
Hoje a humanidade
precisa de homens e mulheres, particularmente jovens como vós, que não queiram
viver a sua existência «a metade», jovens prontos a gastar a vida no serviço
gratuito aos irmãos mais pobres e mais vulneráveis, à imitação de Cristo que Se
doou totalmente a Si mesmo pela nossa salvação. Perante o mal, o sofrimento, o
pecado, a única resposta possível para o discípulo de Jesus é o dom de si
mesmo, até da própria vida, à imitação de Cristo; é a atitude do serviço. Se
alguém, que se diz cristão, não vive para servir, não serve para viver. Com a
sua vida, renega Jesus Cristo.
Nesta noite, queridos
jovens, o Senhor renova-vos o convite para vos tornardes protagonistas no
serviço; Ele quer fazer de vós uma resposta concreta às necessidades e
sofrimentos da humanidade; quer que sejais um sinal do seu amor misericordioso
para o nosso tempo! Para cumprir esta missão, Ele aponta-vos o caminho do
compromisso pessoal e do sacrifício de vós próprios: é o Caminho da cruz. O
Caminho da cruz é o caminho da felicidade de seguir a Cristo até ao fim, nas
circunstâncias frequentemente dramáticas da vida diária; é o caminho que não
teme insucessos, marginalizações ou solidões, porque enche o coração do homem
com a plenitude de Jesus. O Caminho da cruz é o caminho da vida e do estilo de
Deus, que Jesus nos leva a percorrer mesmo através das sendas duma sociedade
por vezes dividida, injusta e corrupta.
O Caminho da cruz não é
um hábito sadomasoquista; o Caminho da cruz é o único que vence o pecado, o mal
e a morte, porque desemboca na luz radiosa da ressurreição de Cristo, abrindo
os horizontes da vida nova e plena. É o Caminho da esperança e do futuro. Quem
o percorre com generosidade e fé, dá esperança ao futuro e à humanidade. Quem o
percorre com generosidade e fé, semeia esperança. E eu quero que vós sejais
semeadores de esperança.
Naquela Sexta-feira
Santa, queridos jovens, muitos discípulos voltaram tristes para suas casas,
outros preferiram ir para a casa da aldeia a fim de esquecer um pouco a cruz.
Pergunto-vos – mas cada um de vós responda em silêncio, no vosso coração, no
próprio coração –: Nesta noite, como quereis tornar às vossas casas, aos vossos
locais de alojamento, às vossas tendas? Nesta noite, como quereis voltar a
encontrar-vos com vós mesmos? O mundo tem os olhos postos em nós. Cabe a cada
um de vós dar resposta ao desafio desta pergunta.
SAUDAÇÃO
DO SANTO PADRE
DA
JANELA DO PAÇO EPISCOPAL
Sexta-feira, 29 de julho de 2016
Dobry wieczór [Boa
noite]!
Hoje foi um dia
particular, uma jornada de tristeza. À sexta-feira lembramos a morte de Jesus;
e, com os jovens, terminamos o dia com o exercício da Via-Sacra. Fizemos a
Via-Sacra: o sofrimento e a morte de Jesus por todos nós. Unimo-nos a Jesus sofredor;
sofredor não só há dois mil anos, mas também hoje. Há tantas pessoas que
sofrem: os doentes, aqueles que vivem em guerra, os sem-teto, os famintos, os
que duvidam na vida, que não sentem a felicidade, a salvação ou que sentem o
peso do seu pecado.
De tarde, fui ao
hospital das crianças. Lá sofre também Jesus em tantas crianças doentes. E
sempre me vem a pergunta: «Porque sofrem as crianças?» É um mistério. Não há
resposta para perguntas com esta.
De manhã, outra
desolação: fui a Auschwitz, a Birkenau, para lembrar amarguras de há setenta
anos... Quanto sofrimento, quanta crueldade! Mas será possível que nós homens,
criados à semelhança de Deus, consigamos fazer estas coisas? Bem! As coisas
foram feitas... Não quero angustiar-vos, mas devo dizer a verdade. A crueldade
não acabou em Auschwitz, em Birkenau, mas continua hoje: também hoje se
torturam as pessoas; muitos prisioneiros são torturados, para obrigá-los a
falar imediatamente... É terrível! Hoje há homens e mulheres em prisões
superlotadas; vivem – desculpai a expressão – como animais. Hoje existe esta
crueldade. Dizemos: é verdade, vimos a crueldade de 70 anos atrás, vimos como
morriam fuzilados, enforcados, ou com o gás. Mas hoje, em muitos lugares do
mundo onde há guerra, acontece o mesmo.
A esta realidade desceu
Jesus, para a carregar aos seus ombros. E pede-nos para rezar. Rezemos por
todos os «Jesus» que existem hoje no mundo: os famintos, os sedentos, os
céticos, os doentes, os abandonados, aqueles que sentem o peso de muitas
dúvidas e tantas culpas. Sofrem tanto... Rezemos por tantos meninos doentes,
inocentes, que já de criança carregam a cruz. E rezemos por tantos homens e
mulheres que hoje são torturados em muitos países do mundo; pelos presos que
vivem lá todos amontoados, como se fossem animais. É um pouco triste o que vos
digo, mas é a realidade. Como é realidade também o facto de Jesus ter tomado
sobre Si todas estas coisas... incluindo o nosso pecado.
Aqui todos somos
pecadores, todos carregamos o peso dos nossos pecados. Não sei se há alguém que
não se sinta pecador! Se alguém não se sente pecador, levante a mão... Todos
somos pecadores. Mas Jesus ama-nos, ama-nos de verdade. E façamos, como
pecadores mas filhos de Deus, filhos do Pai d’Ele… façamos, todos juntos, uma
oração por estas pessoas que hoje, no mundo, sofrem tantas coisas ruins, tantas
maldades. E, quando há lágrimas, a criança procura a mãe; também nós,
pecadores, somos crianças, procuramos a Mãe; rezemos a Nossa Senhora todos
juntos, cada um na sua própria língua: Avé, Maria...
[Bênção]
Desejo-vos uma boa
noite, bom descanso. Rezai por mim! E, amanhã, continuaremos esta estupenda
Jornada da Juventude. Muito obrigado!
SANTA
MISSA COM SACERDOTES, RELIGIOSAS E RELIGIOSOS,
LEIGOS
CONSAGRADOS E SEMINARISTAS DA POLÓNIA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Łagiewniki (Cracóvia),
Santuário de São João Paulo II
Sábado, 30 de julho de
2016
A passagem do
Evangelho, que ouvimos (cf. Jo 20, 19-31), fala-nos de um lugar, um discípulo e
um livro.
O lugar é aquele onde
se encontravam os discípulos, na tarde de Páscoa; dele, apenas se diz que as
suas portas estavam fechadas (cf. v. 19). Oito dias depois, os discípulos ainda
estavam naquela casa, e as portas ainda estavam fechadas (cf. v. 26). Jesus
entra lá, coloca-Se no meio e leva a sua paz, o Espírito Santo e o perdão dos
pecados: numa palavra, a misericórdia de Deus. Dentro deste lugar fechado,
ressoa forte o convite que Jesus dirige aos seus: «Assim como o Pai me enviou,
também Eu vos envio a vós» (v. 21).
Jesus envia. Ele, desde
o início, deseja que a Igreja esteja em saída, vá pelo mundo. E quer que o faça
assim como Ele próprio fez, como Ele foi enviado ao mundo pelo Pai: não como
poderoso mas na condição de servo (cf. Flp 2, 7), não «para ser servido mas
para servir» (Mc 10, 45) e para levar a Boa-Nova (cf. Lc 4, 18); e assim são
enviados os seus, em todos os tempos. Impressiona o contraste: enquanto os
discípulos fechavam as portas com medo, Jesus envia-os em missão; quer que
abram as portas e saiam para espalhar o perdão e a paz de Deus, com a força do
Espírito Santo.
Esta chamada é também
para nós. Como não ouvir nela o eco do grande convite de São João Paulo II:
«Abri as portas»? Mas, na nossa vida de sacerdotes e pessoas consagradas, pode
haver muitas vezes a tentação de permanecer um pouco fechados, por medo ou
comodidade, em nós mesmos e nos nossos setores. E, no entanto, a direção
indicada por Jesus é de sentido único: sair de nós mesmos. Trata-se de realizar
um êxodo do nosso eu, de perder a vida por Ele (cf. Mc 8, 35), seguindo o
caminho do dom de si mesmo. Por outro lado, Jesus não gosta das estradas
percorridas a metade, das portas entreabertas, das vidas com via dupla. Pede
para se meter à estrada leves, para sair renunciando às próprias seguranças,
firmes apenas n'Ele.
Por outras palavras, a
vida dos seus discípulos mais íntimos, como nós somos chamados a ser, é feita
de amor concreto, isto é, de serviço e disponibilidade; é uma vida onde não
existem – ou, pelo menos, não deveriam existir – espaços fechados e
propriedades privadas para própria comodidade. Quem escolheu configurar com
Jesus toda a existência já não escolhe os próprios locais, mas vai para onde é
enviado; pronto a responder a quem o chama, já não escolhe sequer os tempos
próprios. A casa onde habita não lhe pertence, porque a Igreja e o mundo são os
espaços abertos da sua missão. O seu tesouro é colocar o Senhor no meio da
vida, sem nada mais procurar para si. Assim foge das situações gratificantes
que o colocariam no centro, não se ergue sobre os trémulos pedestais dos poderes
do mundo, nem se reclina nas comodidades que enfraquecem a evangelização; não
perde tempo a projetar um futuro seguro e bem retribuído, para evitar o risco
de ficar à margem e sombrio, fechado nos muros estreitos dum egoísmo sem
esperança nem alegria. Feliz no Senhor, não se contenta com uma vida medíocre,
mas arde em desejo de dar testemunho e alcançar os outros; gosta de arriscar e
sair, não forçado por sendas já traçadas, mas aberto e fiel às rotas indicadas
pelo Espírito: contrário a deixar correr a vida, alegra-se por evangelizar.
No Evangelho de hoje,
sobressai em segundo lugar a figura do único discípulo nomeado: Tomé. Na sua
dúvida e ânsia de querer entender, este discípulo bastante teimoso
assemelha-se-nos um pouco e até aparece simpático a nossos olhos. Sem o saber,
dá-nos um grande presente: deixa-nos mais perto de Deus, porque Deus não Se
esconde de quem O procura. Jesus mostrou-lhe as suas chagas gloriosas, faz-lhe
tocar com a mão a ternura infinita de Deus, os sinais vivos de quanto sofreu por
amor dos homens.
Para nós, discípulos, é
muito importante pôr a nossa humanidade em contacto com a carne do Senhor, isto
é, levar a Ele, com confiança e total sinceridade, tudo o que somos. Jesus,
como disse a Santa Faustina, fica contente que Lhe falemos de tudo, não Se
cansa das nossas vidas que já conhece, espera a nossa partilha, até mesmo a
descrição das nossas jornadas (cf. Diário, 6 de setembro de 1937). Assim,
buscamos a Deus com uma oração que seja transparente e não esqueça de Lhe
confiar e entregar as misérias, as fadigas e as resistências. O coração de
Jesus deixa-Se conquistar pela abertura sincera, por corações que sabem
reconhecer e chorar as suas fraquezas, confiantes de que precisamente nelas
agirá a misericórdia divina. Que nos pede Jesus? Ele deseja corações
verdadeiramente consagrados, que vivam do perdão recebido d’Ele para o
derramarem com compaixão sobre os irmãos. Jesus procura corações abertos e
ternos para com os fracos, nunca duros; corações dóceis e transparentes, que
não dissimulam perante quem tem na Igreja a tarefa de orientar o caminho. O
discípulo não hesita em questionar-se, tem a coragem de viver a dúvida e
levá-la ao Senhor, aos formadores e aos superiores, sem cálculos nem
reticências. O discípulo fiel realiza um discernimento atento e constante,
sabendo que o coração há de ser educado diariamente, a partir dos afetos, para
escapar de toda a duplicidade nas atitudes e na vida.
o termo da sua busca
apaixonada, o apóstolo Tomé chegou não apenas a acreditar na ressurreição, mas
encontrou em Jesus o tudo da vida, o seu Senhor; disse-Lhe: «Meu Senhor e meu
Deus!» (v. 28). Far-nos-á bem rezar, hoje e cada dia, estas palavas
esplêndidas, como que a dizer-Lhe: Sois o meu único bem, o caminho da minha
viagem, o coração da minha vida, o meu tudo.
Por fim, no último
versículo que ouvimos, fala-se de um livro: é o Evangelho, onde não foram
escritos muitos outros sinais realizados por Jesus (v. 30). Depois do grande
sinal da sua misericórdia – poderíamos supor –, já não foi necessário
acrescentar mais. Mas há ainda um desafio, há espaço para sinais feitos por
nós, que recebemos o Espírito do amor e somos chamados a difundir a
misericórdia. Poder-se-ia dizer que o Evangelho, livro vivo da misericórdia de
Deus que devemos ler e reler continuamente, ainda tem páginas em branco no
final: permanece um livro aberto, que somos chamados a escrever com o mesmo
estilo, isto é, cumprindo obras de misericórdia. Pergunto-vos, queridos irmãos
e irmãs: Como são as páginas do livro de cada um de vós? Estão escritas todos
os dias? Estão escritas a meias? Estão em branco? Nisto, venha em nossa ajuda a
Mãe de Deus: Ela, que acolheu plenamente a Palavra de Deus na vida (cf. Lc 8,
20-21), nos dê a graça de sermos escritores viventes do Evangelho; a nossa Mãe
da Misericórdia nos ensine a cuidar concretamente das chagas de Jesus nos
nossos irmãos e irmãs que passam necessidade, tanto dos vizinhos como dos
distantes, tanto do doente como do migrante, porque, servindo quem sofre
honra-se a carne de Cristo. Que a Virgem Maria nos ajude a gastarmo-nos
completamente pelo bem dos fiéis que nos estão confiados e a cuidarmos uns dos
outros como verdadeiros irmãos e irmãs na comunhão da Igreja, a nossa santa
Mãe.
Queridos irmãos e
irmãs, cada um de nós guarda no coração uma página muito pessoal do livro da
misericórdia de Deus: é a história da nossa chamada, a voz do amor que fascinou
e transformou a nossa vida, fazendo com que, à sua Palavra, largássemos tudo
para O seguir (cf. Lc 5, 11). Reavivemos hoje, com gratidão, a memória da sua
chamada, mais forte do que qualquer resistência e fadiga. Continuando a
Celebração Eucarística, centro da nossa vida, agradeçamos ao Senhor, porque
entrou nas nossas portas fechadas com a sua misericórdia; porque, como Tomé,
nos chamou por nome; porque nos dá a graça de continuar a escrever o seu
Evangelho de amor.
VISITA
À IGREJA DE SÃO FRANCISCO EM CRACÓVIA
ORAÇÃO DO SANTO PADRE
Cracóvia
Sábado, 30 de julho de
2016
«Prece pela paz e a
defesa contra a violência e o terrorismo»
Ó Deus omnipotente e
misericordioso, Senhor do Universo e da história. Tudo o que criaste é bom, e a
tua compaixão pelos erros do homem é inexaurível.
Hoje vimos a Ti para te
pedir que conserves o mundo e os seus habitantes na paz, que afastes dele a
vaga devastadora do terrorismo, que restabeleças a amizade e infundas nos
corações das tuas criaturas o dom da confiança e da disponibilidade a perdoar.
Ó Dador da vida,
Pedimos-te também por quantos morreram vítimas de brutais ataques terroristas.
Concede-lhes a recompensa eterna. Que intercedam pelo mundo, dilacerado por
conflitos e contrastes.
Ó Jesus, Príncipe da
Paz, pedimos-te por quem foi ferido nestes atos de violência desumana: crianças
e jovens, mulheres e homens, idosos, pessoas inocentes envolvidas no mal só por
fatalidade. Cura o corpo e o coração deles e consolida-os com a tua força,
cancelando ao mesmo tempo o ódio e o desejo de vingança.
Espírito Santo
Consolador, visita as famílias das vítimas do terrorismo, famílias que sofrem
sem terem culpa. Protege-as com o manto da tua divina misericórdia. Faz com que
reencontrem em Ti e em si mesmas a força e a coragem para continuarem a ser
irmãos e irmãs para os outros, sobretudo para os imigrados, testemunhando com a
sua vida o teu amor.
Toca o coração dos terroristas,
para que reconheçam o mal das suas ações e voltem ao caminho da paz e do bem,
do respeito pela vida e da dignidade de cada homem, independentemente da
religião, da proveniência, da riqueza ou da pobreza.
Ó Deus, Pai Eterno,
satisfaz na tua misericórdia a oração que te elevamos entre o fragor e o
desespero do mundo. A ti nos dirigimos com grande confiança, cheios de
esperança na tua Misericórdia infinita, recomendando-nos à intercessão da tua
Santíssima Mãe, fortalecidos pelo exemplo dos beatos mártires do Peru Zbigniew
e Michał, que tornaste valorosas testemunhas do Evangelho, a ponto que
ofereceram o seu sangue, e pedimos o dom da paz e o afastamento de nós da chaga
do terrorismo.
Por Cristo nosso
Senhor. Amém.
VIGÍLIA DE ORAÇÃO COM OS JOVENS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Campus
Misericordiae
Sábado, 30 de julho de
2016
Queridos jovens, boa
noite!
É bom estar aqui
convosco nesta Vigília de Oração.
Na parte final do seu
corajoso e emocionante testemunho, Rand pediu-nos uma coisa. Disse-nos: «Peço-vos,
sinceramente, que rezeis pelo meu amado país». Uma história marcada pela
guerra, pelo sofrimento, pela ruína, que termina com um pedido: o da oração.
Que há de melhor para começar a nossa Vigília do que rezar?
Vimos de várias partes
do mundo, de continentes, países, línguas, culturas, povos diferentes. Somos
«filhos» de nações que estão talvez em disputa por vários conflitos, ou até
mesmo em guerra. Outros vimos de países que podem estar «em paz», que não têm
conflitos bélicos, onde muitas das coisas dolorosas que acontecem no mundo
fazem parte apenas das notícias e da imprensa. Mas estamos cientes duma
realidade: hoje e aqui, para nós provenientes de diversas partes do mundo, o
sofrimento e a guerra que vivem muitos jovens deixaram de ser uma coisa
anónima, para nós já não são uma notícia de imprensa, mas têm um nome, um
rosto, uma história, fizeram-se-me vizinhos. Hoje a guerra na Síria é a dor e o
sofrimento de tantas pessoas, de tantos jovens como a corajosa Rand, que está
aqui entre nós e pede-nos para rezar pelo seu país amado.
Há situações que nos
podem parecer distantes, até ao momento em que, de alguma forma, as tocamos. Há
realidades que não entendemos porque vemo-las apenas através dum monitor (do
telemóvel ou do computador). Mas, quando tomamos contacto com a vida, com as
vidas concretas e já não pela mediação dos monitores, então algo mexe conosco:
todos nos sentimos convidados a envolver-nos: «Basta de cidades esquecidas»,
como diz Rand; nunca mais deve acontecer que irmãos estejam «circundados pela
morte e por assassinatos» sentindo que ninguém os ajudará. Queridos amigos,
convido-vos a rezar juntos pelo sofrimento de tantas vítimas da guerra, desta
guerra que há hoje no mundo, para podermos compreender, uma vez por todas, que
nada justifica o sangue dum irmão, que nada é mais precioso do que a pessoa que
temos ao nosso lado. E, neste pedido de oração, quero-vos agradecer também a
vós, Natália e Miguel, pois também vós partilhastes conosco as vossas batalhas,
as vossas guerras interiores. Apresentastes-nos as vossas lutas e o modo como
as superastes. Vós sois um sinal vivo daquilo que a misericórdia quer fazer em
nós.
Agora, não vamos
pôr-nos a gritar contra ninguém, não vamos pôr-nos a litigar, não queremos
destruir, não queremos insultar. Não queremos vencer o ódio com mais ódio,
vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror. A nossa
resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se
irmandade, chama-se comunhão, chama-se família. Alegramo-nos pelo facto de
virmos de culturas diferentes e nos unirmos para rezar. Que a nossa palavra
melhor, o nosso melhor discurso seja unirmo-nos em oração. Façamos um momento
de silêncio, e rezemos; ponhamos diante de Deus os testemunhos destes amigos,
identifiquemo-nos com aqueles para quem «a família é um conceito inexistente, a
casa apenas um lugar para dormir e comer», ou com aqueles que vivem no medo
porque creem que os seus erros e pecados os baniram definitivamente. Coloquemos
na presença do nosso Deus também as vossas «guerras», as nossas «guerras», as
lutas que cada um carrega consigo, no seu próprio coração. E para isso, para
nos sentirmos em família, em fraternidade, todos unidos, convido-vos a
levantar-vos, dar as mãos e rezar em silêncio. Todos.
(SILÊNCIO)
Enquanto rezávamos,
veio-me à mente a imagem dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Uma cena que nos
pode ajudar a compreender tudo aquilo que Deus sonha realizar na nossa vida, em
nós e conosco. Naquele dia, os discípulos estavam fechados dentro de casa pelo
medo. Sentiam-se ameaçados por um ambiente que os perseguia, que os forçava a
estar numa pequena casa obrigando-os a ficar ali imóveis e paralisados. O medo
apoderou-se deles. Naquele contexto, acontece algo espetacular, algo grandioso.
Vem o Espírito Santo, e línguas como que de fogo pousaram sobre cada um deles,
impelindo-os para uma aventura que nunca teriam sonhado. A situação muda
completamente.
Ouvimos três
testemunhos; tocamos, com os nossos corações, as suas histórias, as suas vidas.
Vimos como eles viveram momentos semelhantes aos dos discípulos, atravessaram
momentos em que estiveram cheios de medo, em que parecia que tudo desmoronava.
O medo e a angústia, que nascem do facto de uma pessoa saber que saindo de casa
pode não ver mais os seus entes queridos, o medo de não se sentir apreciado e
amado, o medo de não ter outras oportunidades. Eles partilharam conosco a mesma
experiência que fizeram os discípulos, experimentaram o medo que leva ao único
lugar possível. Onde nos leva o medo? Ao fechamento. E, quando o medo se
esconde no fechamento, fá-lo sempre na companhia da sua «irmã gémea», a
paralisia; faz-nos sentir paralisados. Sentir que, neste mundo, nas nossas
cidades, nas nossas comunidades, já não há espaço para crescer, para sonhar,
para criar, para contemplar horizontes, em suma, para viver, é um dos piores
males que nos podem acontecer na vida, sobretudo na juventude. A paralisia
faz-nos perder o gosto de desfrutar do encontro, da amizade, o gosto de sonhar
juntos, de caminhar com os outros. Afasta-nos dos outros, impede de nos
cumprimentarmos, como vimos [na encenação]: todos fechados naqueles cubículos
de vidro.
Na vida, porém, há
outra paralisia ainda mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e
que nos custa muito reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando
se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ/KANAPA. Sim, julgar que, para ser felizes,
temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos,
tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos,
incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para
mergulharmos no mundo dos videojogos e passar horas diante do computador. Um
sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados
em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos. Provavelmente, o
«sofá-felicidade/kanapa-szczęście» é a paralisia silenciosa que mais nos pode
arruinar, que mais pode arruinar a juventude. «E porque acontece isto, padre?»
Porque pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos,
encontramo-nos pasmados e entontecidos. Anteontem falei dos jovens aposentados
aos vinte anos; hoje falo dos jovens adormecidos, pasmados, entontecidos,
enquanto outros – talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro
por nós. Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados
e entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; para muitos, isto
resulta mais conveniente do que ter jovens vigilantes, desejosos de responder,
de responder ao sonho de Deus e a todas as aspirações do coração. Vós –
pergunto eu, pergunto a vós – quereis ser jovens adormecidos, pasmados,
entontecidos? [Não!] Quereis que outros decidam o futuro por vós? [Não!]
Quereis ser livres? [Sim!] Quereis estar vigilantes? [Sim!] Quereis lutar pelo
vosso futuro? [Sim!] Não vos vejo muito convencidos… Quereis lutar pelo vosso
futuro? [Sim!]
Mas a verdade é outra!
Queridos jovens, não viemos ao mundo para «vegetar», para transcorrer
comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo
contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste
passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade,
confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas
muito caro: perdemos a liberdade. Não somos livres para deixar uma marca.
Perdemos a liberdade. Este é o preço. E há tantas pessoas cuja vontade é que os
jovens não sejam lives, há tantas pessoas que não vos amam, que vos querem
entontecidos, pasmados, adormecidos, mas… livres, nunca! Não; isso não! Devemos
defender a nossa liberdade.
É precisamente aqui que
existe uma grande paralisia: quando começamos a pensar que a felicidade é
sinónimo de comodidade, que ser feliz é caminhar na vida adormentado ou
narcotizado, que a única maneira de ser feliz é estar como que entorpecido. É
certo que a droga faz mal, mas há muitas outras drogas socialmente aceitáveis,
que acabam por nos tornar em todo o caso muito mais escravos. Umas e outras
despojam-nos do nosso bem maior: a liberdade. Despojam-nos da liberdade.
Amigos, Jesus é o
Senhor do risco, o Senhor do sempre «mais além». Jesus não é o Senhor do
conforto, da segurança e da comodidade. Para seguir a Jesus, é preciso ter uma
boa dose de coragem, é preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos
que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por
estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria,
aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração
cada gesto, cada atitude de misericórdia. Caminhar pelas estradas seguindo a
«loucura» do nosso Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no faminto, no sedento,
no maltrapilho, no doente, no amigo em maus lençóis, no encarcerado, no
refugiado e migrante, no vizinho que vive só. Caminhar pelas estradas do nosso
Deus, que nos convida a ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores
sociais; que nos encoraja a pensar uma economia mais solidária do que esta. Em
todos os campos onde vos encontrais, o amor de Deus convida-vos a levar a Boa
Nova, fazendo da própria vida um dom para Ele e para os outros. Isto significa
ser corajosos; isto significa ser livres.
Poderíeis replicar-me:
Mas isto, padre, não é para todos; é só para alguns eleitos! Sim, é verdade! E
estes eleitos são todos aqueles que estão dispostos a partilhar a sua vida com
os outros. Tal como o Espírito Santo transformou o coração dos discípulos no
dia de Pentecostes – estavam paralisados –, assim o fez também com os nossos
amigos que partilharam os seus testemunhos. Uso as tuas palavras, Miguel:
disseste-nos que no dia em que te confiaram, lá na «Fazenda», a
responsabilidade de contribuir para o melhor funcionamento da casa, então
começaste a compreender que Deus te pedia algo. Assim começou a transformação.
Este é o segredo,
queridos amigos, que todos somos chamados a experimentar. Deus espera algo de
ti. Ouvistes bem? Deus espera algo de ti, Deus quer algo de ti, Deus está à tua
espera. Deus vem quebrar os nossos fechamentos, vem abrir as portas das nossas
vidas, das nossas perspetivas, dos nossos olhares. Deus vem abrir tudo aquilo
que te fecha. Convida-te a sonhar, quer fazer-te ver que, contigo, o mundo pode
ser diferente. É assim: se não deres o melhor de ti mesmo, o mundo não será
diverso. É um desafio.
O tempo que hoje
estamos a viver não precisa de jovens-sofá/młodzi kanapowi, mas de jovens com
os sapatos, ainda melhor, com as sapatilhas calçadas. Este tempo aceita apenas
jogadores titulares em campo, não há lugar para reservas. O mundo de hoje
pede-vos para serdes protagonistas da história, porque a vida é bela desde que
a queiramos viver, desde que queiramos deixar uma marca. Hoje a história
pede-nos que defendamos a nossa dignidade e não deixemos que sejam outros a
decidir o nosso futuro. Não! Nós é que devemos decidir o nosso futuro; vós, o
vosso futuro. O Senhor, como no Pentecostes, quer realizar um dos maiores
milagres que podemos experimentar: fazer com que as tuas mãos, as minhas mãos,
as nossas mãos se transformem em sinais de reconciliação, de comunhão, de
criação. Ele quer as tuas mãos para continuar a construir o mundo de hoje. Quer
construí-lo contigo. E tu, que Lhe respondes? Que resposta Lhe dás tu? Sim ou
não? [Sim!]
Dir-me-ás: Mas, padre,
eu sou muito limitado, sou pecador… que posso fazer? Quando o Senhor nos chama
não pensa naquilo que somos, naquilo que éramos, naquilo que fizemos ou
deixamos de fazer. Pelo contrário: no momento em que nos chama, Ele está a ver
tudo aquilo que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar.
Ele aposta sempre no futuro, no amanhã. Jesus olha-te projetado no horizonte,
nunca no museu.
Por isso, amigos, hoje
Jesus convida-te, chama-te a deixar a tua marca na vida, uma marca que
determine a história, que determine a tua história e a história de muitos.
A vida de hoje diz-nos
que é muito fácil fixar a atenção naquilo que nos divide, naquilo que nos
separa. Querem fazer-nos crer que fechar-nos é a melhor maneira de nos
protegermos daquilo que nos faz mal. Hoje nós, adultos – nós, adultos –,
precisamos de vós para nos ensinardes – como estais a fazer hoje – a conviver
na diversidade, no diálogo, na partilha da multiculturalidade não como uma
ameaça mas como uma oportunidade. E vós sois uma oportunidade para o futuro.
Tende a coragem de nos ensinar, tende a coragem de ensinar a nós que é mais
fácil construir pontes do que levantar muros! Precisamos de aprender isto. E
todos juntos pedimos que nos exijais percorrer as estradas da fraternidade.
Sede vós os nossos acusadores, se escolhermos o atalho dos muros, o atalho da
inimizade, o atalho da guerra. Construir pontes… Sabeis qual é a primeira ponte
a construir? Uma ponte que podemos realizar aqui e agora: um aperto de mão,
darmo-nos as mãos. Coragem! Fazei-o agora. Fazei esta ponte humana, dai as
mãos, todos vós: é a ponte primordial é a ponte humana, é a primeira, é o
modelo. Naturalmente há sempre o risco – como disse no outro dia – de se ficar
com a mão estendida; mas, na vida, é preciso arriscar; quem não arrisca, não
vence. Com esta ponte, podemos avançar. Fazei aqui esta ponte primordial:
dai-vos as mãos. Obrigado! É a grande ponte fraterna, e podem aprender a
fazê-la os grandes deste mundo... Não para a fotografia – quando dão as mãos e
pensam noutra coisa –, mas para continuar a construir pontes cada vez maiores.
Que esta ponte humana seja semente de muitas outras; será uma marca.
Hoje, Jesus, que é o
caminho, chama-te – a ti… a ti… a ti… [aponta para cada um] – a deixar a tua
marca na história. Ele, que é a vida, convida-te a deixar uma marca que encha
de vida a tua história e a de muitos outros. Ele, que é a verdade, convida-te a
deixar as estradas da separação, da divisão, do sem-sentido. Aceitais? [Sim!]
Aceitais? [Sim!] Que respondem agora – quero ver – as vossas mãos e os vossos
pés ao Senhor, que é caminho, verdade e vida? Aceitais? [Sim!] O Senhor abençoe
os vossos sonhos. Obrigado!
ANGELUS
PALAVRAS DO SANTO PADRE
Cracóvia, Campus
Misericordiae
Domingo, 31 de julho de
2016
Queridos irmãos e
irmãs!
No final desta
Celebração, desejo unir-me a todos vós em ação de graças a Deus, Pai de
misericórdia infinita, porque nos concedeu viver esta Jornada Mundial da
Juventude. Agradeço ao Cardeal Dziwisz e ao Cardeal Rylko – obreiros
incansáveis desta Jornada – por tudo, nomeadamente pelas orações que fizeram em
preparação deste evento; e agradeço a todos quantos contribuíram para o seu bom
êxito. Um «obrigado» imenso digo-o a vós, queridos jovens! Enchestes Cracóvia
com o entusiasmo contagiante da vossa fé. São João Paulo II rejubilou do Céu, e
ajudar-vos-á a levar por todo o lado a alegria do Evangelho.
Nestes dias,
experimentamos a beleza da fraternidade universal em Cristo, centro e esperança
da nossa vida. Ouvimos a sua voz, a voz do Bom Pastor, vivo no meio de nós.
Falou ao coração de cada um de vós: renovou-vos com o seu amor, fez-vos sentir
a luz do seu perdão, a força da sua graça. Fez-vos experimentar a realidade da
oração. Foi uma «oxigenação» espiritual, para poderdes viver e caminhar na
misericórdia quando voltardes aos vossos países e às vossas comunidades.
Aqui, ao lado do altar,
está a imagem da Virgem Maria venerada por São João Paulo II no Santuário de
Kalwaria. Nossa Mãe, ensina-nos o modo como pode ser fecunda a experiência
vivida aqui na Polónia; diz-nos para fazer como Ela: não perder o dom recebido,
mas guardá-lo no coração, para que germine e dê fruto, com a ação do Espírito
Santo. Assim, cada um de vós, com as suas limitações e fragilidades, poderá ser
testemunha de Cristo no local onde vive, na família, na paróquia, nas
associações e nos grupos, nos ambientes de estudo, trabalho, serviço,
entretenimento, em todo o lado para onde vos guiar a Providência no vosso
caminho.
A Providência de Deus
sempre nos precede. Pensai que já decidiu qual será a próxima etapa desta
grande peregrinação iniciada em 1985 por São João Paulo II! E, por isso, é com
alegria que vos anuncio que a próxima Jornada Mundial da Juventude – depois das
duas a nível diocesano – será em 2019, no Panamá.
Convido os bispos do
Panamá a aproximar-se, para darem juntamente comigo a bênção.
Pela intercessão de
Maria, invocamos o Espírito Santo para que ilumine e sustente o caminho dos
jovens, na Igreja e no mundo, a fim de serdes discípulos e testemunhas da
Misericórdia de Deus.
Rezemos agora juntos a
oração do Angelus…
ENCONTRO
COM OS VOLUNTÁRIOS DA JMJ
E COM O COMITÉ ORGANIZADOR E BENFEITORES
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cracóvia, Tauron Arena
Domingo, 31 de julho de
2016
Queridos voluntários!
Antes de regressar a
Roma, sinto desejo de vos encontrar e sobretudo agradecer a cada um de vós pelo
empenho, generosidade e dedicação com que acompanhastes, ajudastes e servistes
os milhares de jovens peregrinos. Obrigado também pelo vosso testemunho de fé
que, unido ao de muitíssimos jovens provenientes de toda a parte da terra, é um
grande sinal de esperança para a Igreja e para o mundo. Dando-vos por amor de
Cristo, experimentastes como é belo comprometer-se por uma causa nobre… Assim
começa este discurso que escrevi… Não sei se é bonito ou feio… Cinco páginas...
Um pouco chato!... Entrego-o [entrega-o ao bispo encarregado da JMJ].
Dizem-me que posso
falar em qualquer língua, porque todos tendes tradutor... É verdade? [Sim!]
Falo em espanhol? [Sim!]
A preparação duma
Jornada da Juventude é toda ela uma aventura. É entrar numa aventura e...
chegar: chegar, servir, trabalhar e, depois, despedir-se. Em primeiro lugar, a
aventura, a generosidade. Quero agradecer a vós todos, voluntários e
benfeitores, por tudo aquilo que fizestes. Quero agradecer pelas horas de
oração que fizestes. Porque sei que esta Jornada foi organizada com muito
trabalho, mas também com muita oração. Obrigado aos voluntários que dedicaram
tempo à oração, para que a pudéssemos realizar.
Obrigado aos
sacerdotes, aos sacerdotes que vos acompanharam. Obrigado às religiosas que vos
acompanharam, aos consagrados. E obrigado a vós que entrastes nesta aventura,
com a esperança de conseguir chegar ao fim.
O bispo, quando fez a
vossa apresentação, mandou-vos (não sei se entendeis a palavra) um «piropo» [um
galanteio]. Compreendestes? Fez-vos um elogio, dizendo que «vós sois a
esperança do futuro». E é verdade, mas sob duas condições. Quereis ser esperança
para o futuro ou não? [Sim!] Tendes a certeza? [Sim!] Mas… sob duas condições!
Não, não é preciso pagar o bilhete de entrada. A primeira condição é ter
memória. Perguntar-me donde venho: memória do meu povo, memória da minha
família, memória de toda a minha história. O testemunho da segunda Voluntária
era cheio de memória, cheio de memória! Memória dum caminho percorrido, memória
daquilo que recebi dos adultos. Um jovem sem memória não pode ser esperança
para o futuro! Está claro? [Sim!]
«Padre, como faço para
ter memória?» Fala com os teus pais, fala com os adultos; sobretudo fala com os
avós. Está claro? Assim, se quiserdes ser esperança do futuro, deveis receber a
tocha da mão do vosso avô e da vossa avó.
Prometeis-me que, para
preparar a JMJ/Panamá, falareis mais com os avós? [Sim!] E, se os avós já
partiram para o Céu, falareis com os idosos? [Sim!] E interrogá-los-eis?
Perguntar-lhes-eis? [Sim!] Perguntai a eles. São a sabedoria dum povo.
Assim, para serdes a
esperança, a primeira condição é ter memória. «Vós sois a esperança do futuro»:
disse-vos o bispo.
A segunda condição: se,
para o futuro, sou esperança e, do passado, tenho memória, resta-me o presente.
Que devo fazer no presente? Ter coragem. Ter coragem! Ser corajoso, ser
corajoso, não me assustar. Ouvimos o testemunho, a despedida, o
testemunho-despedida deste nosso companheiro que foi vencido pelo câncer.
Queria estar aqui e não chegou; mas teve coragem: coragem de enfrentar e
coragem de continuar a lutar, mesmo nas piores condições. Hoje este jovem não
está aqui, mas ele semeou esperança para o futuro. Então, para o presente:
coragem. Para o presente? [Coragem!] Audácia, coragem. Está claro?
Então se tiverdes…
(qual era a primeira coisa?)… [Memória!] e se tiverdes… [acrescentam eles:
«Coragem!»]... sereis a esperança... [do futuro]! Está tudo claro? [Sim!] Muito
bem.
Não sei se estarei na
JMJ/Panamá, mas posso garantir-vos uma coisa: Pedro estará na JMJ/Panamá. E
Pedro perguntar-vos-á se falastes com os avós, se falastes com os idosos para ter
memória; se tivestes coragem e audácia para enfrentar as situações e se
semeastes para o futuro. É a Pedro que dareis a resposta. Está claro? [Sim!]
Que Deus vos abençoe
abundantemente! Obrigado. Obrigado por tudo!
E agora, todos juntos,
cada qual na sua língua, rezemos à Virgem: «Avé, Maria...»
Peço-vos que rezeis por
mim. Não vos esqueçais. Dou-vos a bênção. [BÊNÇÃO].
Ah, já me estava a
esquecer! Como era?... [Memória, coragem, futuro!].
Queridos voluntários!
Antes de regressar a
Roma, sinto desejo de vos encontrar e sobretudo agradecer a cada um de vós pelo
empenho, generosidade e dedicação com que acompanhastes, ajudastes e servistes
os milhares de jovens peregrinos. Obrigado também pelo vosso testemunho de fé
que, unido ao de muitíssimos jovens provenientes de toda a parte da terra, é um
grande sinal de esperança para a Igreja e para o mundo. Dando-vos por amor de
Cristo, experimentastes como é belo comprometer-se por uma causa nobre e como é
gratificante fazer, na companhia de tantos amigos e amigas, um percurso que,
embora fatigoso, compensa o esforço com a alegria e a dedicação com uma nova
riqueza de conhecimento e abertura a Jesus, ao próximo, a opções de vida
importantes.
Como expressão da minha
gratidão, quero partilhar convosco um dom que nos é oferecido pela Virgem
Maria, que hoje veio visitar-nos na imagem miraculosa de Kalwaria Zebrzydowska,
muito cara ao coração de São João Paulo II. Com efeito, no próprio mistério
evangélico da Visitação (cf. Lc 1, 39-45), podemos encontrar um ícone do voluntariado
cristão. De lá tomo três atitudes de Maria e deixo-vo-las para que vos ajudem a
ler a experiência destes dias e progredir no caminho do serviço. Estas atitudes
são a escuta, a decisão e a ação.
Primeiro: a escuta.
Maria põe-se a caminho movida por uma palavra do anjo: «Também a tua parente
Isabel concebeu um filho na sua velhice» (Lc 1, 36). Maria sabe escutar a Deus:
não se trata dum simples ouvir, mas de escuta, feita de atenção, acolhimento,
disponibilidade. Pensemos nas vezes sem conta que ficamos distraidamente diante
do Senhor ou dos outros, e verdadeiramente não escutamos. Maria escuta também
os factos, os acontecimentos da vida, está atenta à realidade concreta e não Se
detém na superfície mas procura identificar o seu significado. Maria soube que
Isabel, já idosa, espera um filho; e nisso vê a mão de Deus, o sinal da sua
misericórdia. O mesmo acontece na nossa vida: o Senhor está à porta e bate de
muitos modos, põe sinais no nosso caminho e convida-nos a lê-los com a luz do
Evangelho.
A segunda atitude de
Maria é a decisão. Maria escuta, reflete, mas sabe também dar um passo mais:
decide. Foi assim na opção fundamental da sua existência: «Eis a serva do
Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Assim sucedeu também
nas bodas de Caná, quando Maria Se dá conta do problema e decide falar a Jesus
para que intervenha: «Não têm vinho» (Jo 2, 3). Muitas vezes é difícil tomar
decisões na vida, pelo que tendemos a adiá-las e, quem sabe, a deixar que
outros decidam por nós; ou então preferimos deixar-nos arrastar pelos
acontecimentos, seguir a «tendência» do momento; às vezes compreendemos o que
deveríamos fazer, mas não temos a coragem para isso, porque nos parece muito
difícil ir contra corrente... Maria não teme ir contra corrente: com o coração
firme na escuta, decide, assumindo-Se todos os riscos, não sozinha mas junta
com Deus.
E, por fim, a ação.
Maria pôs-se a caminho e «dirigiu-se à pressa…» (Lc 1, 39). Apesar das
dificuldades e das críticas que terá recebido, não se demora, não hesita, mas
parte e «parte à pressa», porque nela há a força da Palavra de Deus. E o seu
agir é cheio de caridade, repleto de amor: este é a marca de Deus. Maria vai
ter com Isabel, não para ouvir dizer-lhe que é estupenda, mas para ajudar a
prima, tornar-se útil, servir. E ao sair da sua casa, de si mesma, por amor,
leva o que tem de mais precioso: Jesus, o Filho de Deus, o Senhor. Isabel
identifica-o imediatamente: «Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu
Senhor?» (Lc 1, 43); o Espírito Santo desperta nela ressonâncias de fé e de
alegria: «Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino
saltou de alegria no meu seio» (Lc 1, 44).
Também no voluntariado
cada serviço é importante, mesmo o mais simples. E o seu sentido último é a
abertura à presença de Jesus; é a experiência do amor que, vindo do Alto, põe a
caminho e enche de alegria. O voluntário das Jornadas Mundiais da Juventude não
é apenas um «agente», mas sempre um evangelizador, porque a Igreja existe e age
para evangelizar.
Terminado o serviço a
Isabel, Maria voltou para sua casa, em Nazaré. Com delicadeza e simplicidade,
como veio, assim vai. Também vós, caríssimos, não vereis todos os frutos do
trabalho realizado aqui em Cracóvia ou durante as «geminações». Descobri-los-ão
na sua vida e rejubilarão as vossas irmãs e irmãos que servistes. É a
gratuidade do amor! Mas Deus conhece a vossa dedicação, o vosso empenho e a
vossa generosidade. Ele – podeis ter certeza – não deixará de vos recompensar
por tudo o que fizestes por esta Igreja dos jovens, que se reuniu nestes dias
em Cracóvia com o Sucessor de Pedro. Confio-vos a Deus e à Palavra da sua graça
(cf. At 20, 32); confio-vos à nossa Mãe, modelo de voluntariado cristão; e
peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim.
CONFERÊNCIA
DE IMPRENSA COM OS JORNALISTAS
DURANTE O VOO DE REGRESSO DE CRACÓVIA
Domingo, 31 de julho de
2016
(Padre Lombardi)
Santo Padre, muito
obrigado por estar aqui conosco, no regresso desta viagem. Apesar do temporal
desta tarde, parece-me que tudo correu tão bem, que estamos todos muito felizes
e contentes e esperamos que também Vossa Santidade sinta o mesmo por estes
dias. Como de costume, far-lhe-emos algumas perguntas. Mas se quiser dizer-nos
algo para introduzir, estamos prontos a ouvi-lo...
(Papa Francisco)
Boa tarde! Agradeço-vos
pelo vosso trabalho e companhia. Gostaria de vos apresentar, porque sois
companheiros de trabalho, as condolências pela morte de Anna Maria Jacobini.
Hoje recebi a irmã, o sobrinho e a sobrinha, estavam tão entristecidos por
isto... É um acontecimento triste desta viagem.
Depois gostaria de
agradecer ao padre Lombardi e a Mauro [De Horatis], porque esta será a última
viagem que fazem conosco. O padre Lombardi esteve na Rádio Vaticano por mais de
25 anos e depois 10 nos voos. E Mauro 37, 37 anos encarregado das bagagens nos
voos. Agradeço imenso a Mauro e ao padre Lombardi. E depois, no final,
agradeceremos com um bolo.
Estou à vossa
disposição. A viagem é breve... Faremos depressa esta vez.
(Padre Lombardi)
Obrigado, Santo Padre!
A primeira pergunta, deixamo-la fazer, como de costume, a uma das nossas
colegas polacas: a Magdalena Wolinska, de TVP.
(Magdalena Wolinska -
TVP)
Santo Padre, no seu
primeiro discurso no Wawel, logo que chegou a Cracóvia, disse que estava
contente por começar a conhecer a Europa Centro-Oriental precisamente pela
Polónia. Em nome da nossa nação, gostaria de perguntar-lhe como viveu a Polónia
nestes cinco dias? Que impressão teve?
(Papa Francisco)
Era uma Polónia
especial, porque era uma Polónia de novo «invadida», mas desta vez pelos
jovens! Cracóvia, aquilo que vi, era tão belo. O povo polaco é muito
entusiasta... Repare nesta tarde: com a chuva, ao longo das estradas… e não só
os jovens, mas também as idosas... São bondosos, nobres. Eu conheci por
experiência os polacos quando era criança: onde meu pai trabalhava, depois da
guerra vieram trabalhar muitos polacos. Era gente boa… e isto permaneceu-me no
coração. Reencontrar esta vossa bondade, que beleza! Obrigado.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a
outra nossa colega polaca: Urzula Rzepczak, de Polsat. E peço a Marco Ansaldo
para se preparar, aproximando-se...
(Urzula Rzepczak -
Polsat)
Santo Padre, os nossos
filhos jovens ficaram comovidos com as suas palavras, que correspondem muito
bem à sua realidade e aos seus problemas. Mas Vossa Santidade usava também, nos
seus discursos, as palavras e as expressões próprias da linguagem dos jovens.
Como se preparou? Como conseguiu dar tantos exemplos tão próximos da vida
deles, dos seus problemas e com as palavras deles?
(Papa Francisco)
Eu gosto de falar com
os jovens. E gosto de ouvir os jovens. Põem-me sempre em dificuldade, porque me
dizem coisas nas quais eu não pensei ou que pensei a meio. Os jovens inquietos,
os jovens criativos... gosto disso e daí tomo aquela linguagem. Muitas vezes
tenho de perguntar: «Mas que significa isto?» E eles explicam-me o significado.
Eu gosto de falar com eles. Eles são o nosso futuro, e devemos dialogar. É
importante este diálogo entre passado e futuro. É por isso que eu realço tanto
a relação entre os jovens e os avós, e quando digo «avós» quero dizer os mais
velhos e mesmo os que ainda não são muito velhos – mas eu já o sou – para lhes
dar também a nossa experiência, para que ouçam o passado, a história e a
agarrem e a levem por diante com a coragem do presente, como eu disse esta
tarde. É importante, muito importante! Não gosto de ouvir dizer: «Mas estes
jovens dizem disparates». Também nós dizemos muitos! Os jovens dizem disparates
e dizem coisas boas, como nós, como todos. Mas é preciso ouvi-los, falar com
eles, porque nós devemos aprender deles como eles devem aprender de nós. É
assim. E deste modo se faz a história e se cresce sem fechamentos nem censuras.
Não sei [se respondi]; é assim. É deste modo que aprendo estas palavras.
(Padre Lombardi) Muito
obrigado. Agora passamos a palavra a Marco Ansaldo, de «La Repubblica», que faz
a pergunta pelo grupo italiano... Entretanto prepare-se e aproxime-se Frances
D'Emilio...
(Marco Ansaldo - «La
Repubblica»)
Santidade, a repressão
na Turquia e os quinze dias que se seguiram ao golpe, segundo a quase
totalidade dos observadores internacionais, foram talvez piores do que o golpe
de Estado. Foram atingidas categorias inteiras: militares, magistrados,
administradores públicos, diplomatas, jornalistas. Cito dados do governo turco;
fala-se de mais de 13.000 detidos, e mais de 50.000 pessoas irradiadas. Uma
limpeza... Anteontem o Presidente Recep Tayyip Erdogan, a propósito das
críticas externas, disse: «Cuidai da vossa vida!» Nós queremos perguntar-lhe:
Porque é que até agora Vossa Santidade não interveio, não falou? Teme,
porventura, que possam haver repercussões sobre a minoria católica na Turquia?
Obrigado.
(Papa Francisco)
Quando tive que dizer
algo que não agradava à Turquia mas de que eu tinha a certeza, disse-o com as
consequências que conheceis. Disse-lhes aquelas palavras... Eu tinha a certeza.
Não falei, porque ainda não tenho a certeza, com as informações que recebi, do
que está a acontecer lá. Ouço as informações que chegam à Secretaria de Estado,
e também as de algum analista político importante. Estou a estudar a situação
inclusive com os colaboradores da Secretaria de Estado, e a situação ainda não
é clara. É verdade; deve-se evitar o mal aos católicos – e, isto, todos o
fazemos –, mas não à custa da verdade. Há a virtude da prudência – deve-se
dizer isto, quando, como –, mas no meu caso vós sois testemunhas de que, quando
tive de dizer algo relativo à Turquia, o fiz.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a
Frances D'Emilio, que é a colega da Associated Press, a grande agência de
língua inglesa.
(Frances D'Emilio -
Associated Press)
Boa noite. A minha é
uma pergunta que muitas pessoas se põem nestes dias, porque veio ao de cima na
Austrália que a polícia australiana estaria indagando sobre novas acusações
contra o Cardeal Pell e, desta vez, as acusações são relativas a abusos contra
menores, que são muito diversas das acusações precedentes. A pergunta que eu
faço e que fizeram muitos outros: na sua opinião, qual seria a coisa justa a
fazer pelo Cardeal Pell, considerando a grave situação, o lugar tão importante
e a confiança de que goza por parte de Vossa Santidade?
(Papa Francisco)
Obrigado. As primeiras
notícias que chegaram eram confusas. Tratava-se de notícias de há quarenta
anos, e nem sequer a polícia as tinha considerado num primeiro momento. Uma
coisa confusa. Depois todas as denúncias foram apresentadas à justiça e, neste
momento, estão nas mãos da justiça. Não se deve julgar antes que a justiça julgue.
Se eu desse um juízo a favor ou contra o Cardeal Pell, não seria bom, porque
julgaria antes. É verdade; a dúvida existe. E há aquele princípio claro do
Direito: in dubio pro reo. Temos que esperar a justiça e não expressar
antecipadamente um juízo mediático, porque isto não ajuda. O juízo dos
mexericos, e depois? Não se sabe como vai acabar. Estar atentos ao que decidir
a justiça. Quando a justiça se pronunciar, eu falarei. Obrigado.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a
Hernán Reyes, de Télam. Peço-lhe para se aproximar. Como sabemos, é argentino;
e agora, entre nós, representa a América Latina.
(Hernán Reyes - Télam)
Santidade, como se
sente depois da queda de alguns dias? Vemos que está bem. Esta é a primeira
pergunta. A segunda: na semana passada, o secretário-geral da Unasur, Ernesto
Samper, falou de uma mediação do Vaticano na Venezuela. Trata-se de um diálogo
concreto? Esta é uma possibilidade real? E como pensa que esta mediação, com a
missão da Igreja, possa ajudar a estabilização do país?
(Papa Francisco)
Primeiro, a queda. Eu
olhava para Nossa Senhora e esqueci-me do degrau. Estava com o turíbulo na
mão... Quando me dei conta que caía, deixei-me cair e isso salvou-me, porque se
tivesse feito resistência, teria havido consequências. Nada. Estou muito bem.
A segunda era?
Venezuela. Há dois anos tive um encontro com o Presidente Maduro, muito, muito
positivo. Depois ele pediu audiência no ano passado: era num domingo, no dia
seguinte à chegada de Sarajevo. Mas entretanto ele cancelou aquele encontro,
porque estava doente de otite e não podia vir. Depois disto, deixei passar
algum tempo e escrevi-lhe uma carta. Houve contactos – tu mencionaste um – para
um eventual encontro. Sim, com as condições que se põem nestes casos. E, neste
momento, pensa-se – mas não tenho a certeza; isto não posso garantir-lho, está
claro? – que, no grupo de mediação, alguém (não sei se o governo também… mas
não tenho a certeza) quer um representante da Santa Sé. E isto, até ao momento
em que parti de Roma. Mas as coisas estão neste ponto. O grupo inclui Zapatero
da Espanha, Torrijos, outra pessoa e uma quarta – dizia-se – da Santa Sé. Mas
não tenho a certeza disto.
(Padre Lombardi)
Agora damos a palavra a
Antoine-Marie Izoard, de Media, França. E sabemos o que vive a França nestes
dias...
(Antoine-Marie Izoard –
I. Media)
Santo Padre, antes de
mais nada felicito Vossa Santidade, o Padre Lombardi e também o Padre Spadaro
pela festa de Santo Inácio.
A pergunta é um pouco
mais difícil. Os católicos estão chocados – e não só em França – depois do
bárbaro assassinato do padre Jacques Hamel na sua igreja enquanto celebrava a
Santa Missa. Aqui, há quatro dias, Vossa Santidade disse-nos de novo que todas
as religiões querem a paz. Mas este santo sacerdote de 86 anos foi claramente assassinado
em nome do Islão. Nesta linha, Santo Padre, tenho duas perguntas breves. Porque
é que Vossa Santidade, quando fala destes atos violentos, fala sempre de
terroristas, mas nunca de Islão? Nunca utiliza a palavra «Islão». E depois,
além das orações e do diálogo que obviamente são essencialíssimos, que
iniciativa concreta Vossa Santidade pode empreender ou, porventura, sugerir a
fim de contrastar a violência islâmica? Obrigado, Santidade.
(Papa Francisco)
Eu não gosto de falar
de violência islâmica, porque todos os dias, quando folheio os jornais, vejo
violência, aqui na Itália: um que mata a namorada, outro que mata a sogra... E
estes são católicos batizados violentos! São católicos violentos... Se falasse
de violência islâmica, deveria falar também de violência católica. Nem todos os
islâmicos são violentos; nem todos os católicos são violentos. É como uma
salada de frutas: há de tudo, há violentos destas religiões. Uma coisa é
verdade: creio que, em quase todas as religiões, há sempre um pequeno grupo
fundamentalista. Fundamentalista. Nós temo-los. E, se o fundamentalismo chega e
mata – mas pode-se matar com a língua (isto não o digo eu, mas o apóstolo
Tiago), e também com a faca – penso que não é justo identificar o Islão com a
violência. Isto não é justo, nem é verdade! Tive um longo diálogo com o
Grão-Imã da Universidade de al-Azhar e sei o que eles pensam: procuram a paz, o
encontro. O Núncio dum país africano dizia-me que, na capital, há sempre uma
fila de gente – está sempre cheio – diante da Porta Santa para o Jubileu:
alguns abeiram-se do confessionário, outros rezam nos bancos. Mas a maioria
prossegue e vai rezar ao altar de Nossa Senhora: estes são muçulmanos que
querem celebrar o Jubileu. São irmãos. Quando estive na África Central, encontrei-me
com eles e o próprio imã subiu para o papamóvel. Pode-se conviver bem. Mas
existem pequenos grupos fundamentalistas. E pergunto-me também quantos jovens
que nós, europeus, deixamos esvaziados de ideais, que não têm trabalho, que se
entregam à droga, ao álcool... quantos destes jovens vão alistar-se em grupos
fundamentalistas. Sim, podemos dizer que o autoproclamado Ei é um Estado
islâmico que se apresenta violento, porque, quando nos mostra os seus bilhetes
de identidade, mostra-nos como degola os egípcios no litoral líbico ou coisas
deste género. Mas este é um pequeno grupo fundamentalista, que se chama Ei. Mas
não se pode dizer – penso que não é verdade nem justo – que o Islão é
terrorista.
(Antoine-Marie Izoard)
Uma sua iniciativa
concreta para contrastar o terrorismo, a violência...
(Papa Francisco)
O terrorismo está em
toda a parte! Pense no terrorismo tribal de alguns países africanos... O
terrorismo – não sei se devo dizê-lo, porque é um pouco perigoso – cresce
quando não há outra opção, quando, no centro da economia mundial, está o
deus-dinheiro e não a pessoa, o homem e a mulher. Este é já o primeiro
terrorismo. Expulsaste a maravilha da criação, o homem e a mulher, e no seu
lugar puseste o dinheiro. Isto é terrorismo de base contra a humanidade inteira.
Reflitamos nisto.
(Padre Lombardi)
Obrigado, Santidade!.
Dado que houve esta manhã o anúncio do Panamá como sede da próxima Jornada
Mundial da Juventude, há aqui um colega que lhe queria dar um pequeno presente
para se preparar para tal Jornada.
(Javier Martínez Brocal
– Rome reports Tv)
Santo Padre, antes, no
encontro com os voluntários, disse-nos que talvez não iria ao Panamá. E isto
não o pode fazer, porque nós o esperamos no Panamá!
(Papa Francisco)
Se eu não for, irá
Pedro!
(Javier Martínez Brocal)
Nós pensamos que irá
Vossa Santidade. Trago-lhe, da parte dos panamenses, duas coisas: uma t-shirt
com o número 17, que é a data do seu nascimento, e o chapéu dos camponeses do
Panamá. Pediram-me se o podia colocar na cabeça e saudar os panamenses.
Obrigado!
(Papa Francisco)
Agradeço imenso aos
panamenses por isto. Desejo-vos que vos prepareis bem, com a mesma força, a
mesma espiritualidade e profundidade com que se prepararam os polacos, os
habitantes de Cracóvia e todos os polacos.
(Antoine-Marie Izoard)
Santidade, em nome dos
colegas jornalistas já que de certo modo sou obrigado a representá-los, queria
dizer duas palavras também eu, se Vossa Santidade me permitir, sobre o Padre
Lombardi, para lhe agradecer.
É impossível resumir 10
anos de presença do Padre Lombardi na Sala de Imprensa: com o Papa Bento, em
seguida um interregno inédito e depois a sua eleição, Santo Padre, e as
surpresas sucessivas. O que podemos referir com certeza é a sua constante
disponibilidade, o empenho e a dedicação do Padre Lombardi; a sua capacidade
incrível de responder ou não às nossas perguntas – muitas vezes estranhas – e
isto é também uma arte. E ainda o seu humor um pouco britânico… em todas as
situações, incluindo as piores. E temos muitos exemplos... [voltando-se para o
Padre Lombardi] Obviamente acolhemos com alegria os seus sucessores, dois bons
jornalistas; mas não esquecemos que o senhor, para além de jornalista, era e
continua a ser padre e também jesuíta. Não deixaremos, em setembro, de celebrar
condignamente a sua partida para outros serviços, mas queremos já hoje formular
os nossos votos. Votos duma boa festa de Santo Inácio e ainda duma longa vida,
de 100 anos – como se diz na Polónia – de serviço humilde. Sto lat: diz-se na
Polónia. Sto lat, Padre Lombardi!
JMJ – Cracóvia – 2016
Textos do
Papa Francisco
1. Hino da
Jornada..................................................02
2. Encontro
com o corpo diplomático...................04
3. Encontro
com o s bispos poloneses, 27.07.........09
4. Saudação da
janela episcopal...27.07.................27
5. Homilia em
Czestochowa …28.07......................29
6. Abertura da
JMJ Boas-vindas. 28.07...................35
7. Saudação da
janela episcopal..........28.07..........43
8. Hospital
pediátrico............................................45
9. Via-Sacra............................................................47
10. Saudação da
janela episcopal...29.07................51
11. Missa em
Lagiewniki – Clero e religiosos...........53
12. Visita a
igreja São Francisco...............................58
13. Vigília de Oração.30.07......................................60
14. Angelus..............................................................69
15. Encontro
com os voluntários.............................71
16. Conferência
de imprensa no voo de regresso....77
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!