MARIA
NA BÍBLIA
Por vezes, pensa-se que
a Virgem não é muito evocada na Bíblia…
Mostraremos que as
citações diretas, no Novo Testamento, são muito mais numerosas do que pensamos
e que têm um significado muito peculiar, em momentos cruciais da vida de
Cristo. Por outro lado, as alusões indiretas à Maria são numerosas e muito
importantes: descobrimos, por exemplo, que Maria é a única no mundo que passa
mais de trinta anos ao lado de Cristo durante a sua vida terrena; que ela é
Aquela há quem o Apocalipse chama a “Arca da verdadeira Aliança”; Aquela há
quem, sobretudo, o anjo da Anunciação saudou como a “cheia de graça” e que pode
anunciar à toda a Criação: “de agora em diante me chamarão bem-aventurada todas
as gerações”…
O Antigo Testamento
está, também ele, repleto de figuras, imagens e profecias nas quais tanto o
Magistério como os Padres da Igreja, os seus Doutores e Santos reconheceram o
anúncio daquela que deu ao mundo o Messias esperado. Do “Gênesis” ao Livro do
Profeta Isaías, e até aos últimos profetas da Primeira Aliança… prefigurações e
outros anúncios, respeitantes à Virgem Mãe do Salvador, atravessam todo o
Antigo Testamento, do Pentateuco aos Profetas, passando pelos Livros Históricos
e Sapienciais!
Maria pertence ao Novo
Testamento. Ela nasceu no tempo do Novo Testamento. Todos os relatos
específicos e diretos que falam dela, estão no Novo Testamento. Porém, podemos
formular-nos uma pergunta: O Antigo Testamento referiu-se alguma vez a Mãe do
Messias esperado? Existem textos bíblicos que, mesmo em sentido figurado,
mencionam algo sobre a Mãe do Filho de Deus? Podemos associar alguns textos do
Antigo Testamento e aplicarmos a Maria?
ANÚNCIOS DE MARIA NO
ANTIGO TESTAMENTO
Segundo a visão cristã,
Eva, a primeira mulher, cedo se tornou aquela que, com Adão, arrastou toda a
humanidade no naufrágio do pecado original. Deus prometeu um Salvador, e a mãe
do Redentor foi anunciada naquele mesmo momento, no texto do Gênesis já citado:
“Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher” (Gn.3,15)
A mais autêntica das
filhas de Abraão
Abraão, nosso “pai na
fé”, obedeceu de maneira total e incondicional aos desígnios de Deus, mesmo
quando, exteriormente, lhe era difícil compreender como se cumpririam tais
promessas. O Papa João Paulo II, na sua homilia em Nazaré, a 25 de março de
2000, chamou à Virgem Maria a “mais autêntica das filhas de Abraão” já que,
pela sua fé, se tornou a Mãe do Messias e a Mãe de todos os crentes (cf.
Homilia publicada no Obsservatore Romano, edição semanal em língua portuguesa).
Eis os símbolos da
Virgem Maria que podemos encontrar na Bíblia hebraica, o Antigo Testamento para
os cristãos:
Imagens
e figuras de Maria no Antigo Testamento:
Podemos encontrar
imagens da Virgem Mãe no Gênesis e em Isaías, a Filha de Sião, o Jardim do
Éden, a Amada do Cântico dos Cânticos e a Arca da Aliança. Rute pode ser um
símbolo de Maria e da Igreja, porque aparece providencialmente colocada na
árvore genealógica de Cristo. Também em Ester e Judite podemos ver um símbolo
de Maria, já que são associadas ao Salvador no desenrolar do plano divino da
Salvação. Podemos agrupar estes diversos anúncios de Maria no Antigo Testamento
em 3 “categorias”:
– Imagens: Estrela da
Manhã; Torre de David, Trono da Sabedoria, etc…;
– Figuras: Sara,
Raquel, Débora, Judite, Ester e tantas outras…;
– Profecias: Gn.3,15;
Is.7,11; etc…
Ao lado de Cristo,
Maria é a maior glória do povo judeu
A Virgem Maria pode ser
vista, a par de Cristo, como a maior glória do povo judeu. Foi do seio deste
povo da Aliança que Deus escolheu esta excepcional figura que viria a dar à luz
o Salvador da Humanidade. Por isso, ninguém melhor do que a Santa Virgem para
interceder, junto de Deus, pela contínua promoção das relações judeu-cristãs.
Muitos estudiosos
afirmam que o tema mariano está “escondido” sob três modos no Antigo
Testamento: preparação moral, preparação tipológica e preparação profética.
1) Preparação moral:
como a humanidade estava corrompida pelo pecado, Deus escolhe uma linhagem de
fé e santidade para que o seu filho possa nascer da raça humana.
2) Preparação
tipológica (linguagem simbólica): constatamos que no Antigo Testamento, muitas
mulheres foram favorecidas com nascimentos milagrosos (Sara, Judite…). Todas
estas mulheres fazem parte dos ancestrais do Messias esperado. Maria aparece
como símbolo da “Filha de Sião” (Sof 3, 14-17), o lugar da residência de Javé.
Maria também é simbolizada com a nova Arca da Aliança (dentro da Arca era
depositada a LEI), que vai trazer dentro de si a Lei definitiva (revelação) de
Deus, seu próprio Filho, Jesus.
”. Rejubila-te, filha
de Sião, solta gritos de alegria, Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração,
filha de Jerusalém! 15O Senhor revogou tua sentença, eliminou teu inimigo. O
Senhor, o rei de Israel, está no meio de ti, não verás mais a desgraça.
16Naquele dia, será dito a Jerusalém: Não temas, Sião! Não desfaleçam as tuas
mãos! 17O Senhor teu Deus está no meio de ti, como um herói que salva! Ele
exulta de alegria por tua causa, ele te renova por seu amor, ele se regozija
por causa de ti com gritos de alegria, 18como nos dias de festa. ” (Sof 3,
14-18)
3) Preparação
profética: Além do texto acima, temos mais alguns que podem ser aplicados a
Maria:
a) Ct 4,7: Tu és toda
formosa, amada minha, e em ti não há mancha. O texto pode fazer alusão à
concepção imaculada de Maria;
b) Jer 31,22: Até
quando andarás errante, ó filha rebelde? Pois o senhor criou uma coisa nova na
terra: uma mulher protege a um varão.
c) Gn 3,15: Porei
inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência;
esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Uma consideração sobre
este texto.
O texto é muito
significativo e apresenta, numa primeira leitura, a luta até o fim dos tempos
entre a humanidade e o demônio. O termo “Ela te ferirá a cabeça” pode aludir
tanto a Maria, a nova Eva, como a Igreja.
d) Is 7,14: Portanto o
Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e será o seu nome Emanuel.
Considerando o texto…
Embora o texto faz
referência ao nascimento de um herdeiro na linhagem de Davi, pode ser muito bem
ser aproveitado como uma profecia Mariana.
e) Miq 5, 1-4: Agora,
ajunta-te em tropas, ó filha de tropas; pôr-se-á cerco contra nós; ferirão com
a vara no queixo ao juiz de Israel.
2, mas tu, Belém
Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me
sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos
antigos, desde os dias da eternidade.
3, portanto os
entregará até o tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o
resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
4 E ele permanecerá, e
apascentará o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu
Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra.
Sobre o texto…
Mesmo não apontando
diretamente uma referência mariana, o texto fala diretamente de um rei-pastor,
saído da tribo de Davi. Seu nascimento se projeta para o futuro (os verbos
estão no futuro).
MARIA NO EVANGELHO DE
JOÃO
João escreveu o seu
evangelho por volta do ano 90-100 d.C. É também autor do livro do Apocalipse.
Tanto o quarto evangelho com o livro do Apocalipse apresentam, por serem os
escritos mais tardios, uma reflexão bem mais madura sobre Jesus.
O Evangelho de João
está dividido em três partes:
a) Prólogo (Jo 1, 1-18)
b) Livro dos Sinais (Jo
1,19 – 12,50)
c) Livro da Exaltação
(Jo 13-20)
Menciona a Mãe de Jesus
em três ocasiões: uma indiretamente, na encarnação do Filho de Deus (Jo 1, 14),
e as duas de uma maneira bem explicita: as Bodas de Caná (Jo 2, 1-12) e na
Morte de Jesus (Jo 19, 25-27).
1) Jo 1,14: (PROLOGO)
E o Verbo divino se fez
carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória,
como a glória do unigênito do Pai.
Embora o texto não
mencione Maria, porque a intenção do autor é mostrar a origem divina de Jesus
(Verbo de Deus), dá-se a entender que Ela está implícita no processo da
encarnação de Jesus (“e habitou entre nós”). Não podemos, em hipótese alguma,
afirmar que este é um texto mariano, mas quando se fala em “encarnação” do
Verbo Divino, Maria é lembrada.
2) Jo 2, 1-12 (AS BODAS
DE CANÁ)
Este relato encontra-se
inserido no chamado “bloco dos sinais”. É cheio de uma simbologia muito grande.
Os sinais apresentam um sentido de revelação da pessoa de Jesus e têm uma
intima relação com a fé. Quando Jesus realiza um milagre, este serve de sinal
para que as pessoas vendo possam acreditar em Jesus. Em Mateus, Marcos e Lucas,
os milagres que Jesus realiza indicam o poder de Deus sobre as forças do mal.
Os sinais que o quarto
evangelho mencionam também expressam a Glória de Deus, que com Jesus, aos
poucos vai se manifestando ao mundo.
Analisando o texto…
Um primeiro dado
interessante que se percebe à primeira vista é que João não menciona o nome
“Maria”. Ele refere-se à Maria chamando-a de “Mulher” ou “Mãe de Jesus” (seis
vezes). A explicação é simples: João gosta de apresentar certas pessoas como
modelos de seguidores do projeto de Jesus. Maria, portanto, é um modelo, uma
figura símbolo que aceitou a mensagem de Jesus.
Apesar de ser uma festa
de casamento, os personagens principais não são os noivos e sim Jesus e Maria.
Apesar de usar uma linguagem de um casamento, João quer mostrar, com este
relato, que o pacto (casamento) entre o povo da Antiga Aliança (Israel) e Deus
estava desgastado, sem vida, vazio, devido o abismo do pecado
, br> O relato data
muito a sequência dos dias, com destaque especial “ao terceiro dia”, alusão
simbólica à Aliança no Monte Sinai (Ex 19, 11.9) e principalmente à
Ressurreição de Jesus.
Ao fazer chegar até
Jesus a problemática da falta de vinho, Maria se apresenta como aquela que,
conhecendo as necessidades da humanidade, pede ajuda para Jesus. Aqui está
simbolizado o papel de intercessora atribuído a Maria.
A primeira reação de
Jesus ao afirmar “Mulher, que tenho eu contigo” (ou, que importa a mim e a ti),
parece ser um tanto ríspida com relação a Maria, mas serve para ilustrar o
deslocamento de perspectiva: que Jesus chama os seus interlocutores (na pessoa
de Maria) para perceber um outro nível de sua presença.
A palavra “mulher” pode
representar três idéias:
Pode lembrar Gn 3,
referindo a Eva-Mulher que trouxe o pecado ao mundo. Assim Maria, a nova Mulher
trouxe a salvação, Jesus;
Maria, Mulher, pode
representar todo o povo de Israel (Filha de Sião);
Pode traduzir todo o
reconhecimento da figura feminina na comunidade de João pelo papel
evangelizador que as mulheres desempenhavam no testemunho do Evangelho.
Depois de realizar o
milagre da transformação da água em vinho, o relato tem um desfecho muito
significativo. E é para lá que apontava João: Assim deu Jesus início aos seus sinais
em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
(V11). Com isso, o autor acentua a centralidade do relato: mostrar quem é Jesus
(aquele que traz o vinho novo, a Nova Aliança, o Novo Pacto, a alegria, a
plenitude, a graça, a salvação) e a fé dos discípulos que aderem ao projeto do
Filho de Deus. E todo o projeto do Reino de Deus é simbolizado através da
figura das Bodas, o grande Banquete, as Núpcias do Cordeiro, a grande Festa da
plena e definitiva alegria. Jesus é o novo NOIVO.
Maria-mulher é aquela
que leva os discípulos a crerem em Jesus. Incentiva os filhos a fazerem a
vontade do seu Filho.
3) Jo 19, 25-27 (MARIA
JUNTO À CRUZ)
O texto mostra que
estavam presentes junto à cruz de Jesus quatro mulheres: a mãe de Jesus, uma
irmã de Maria, Maria esposa de Cléofas e Maria Madalena e também o discípulo
amado.
As mulheres, como já
vimos, representam o serviço generoso e destacado que elas exerciam na
comunidade; o “discípulo amado” representa o modelo ideal de todo cristão que
apesar das contrariedades e cruzes da vida, permanece fiel a Cristo.
Ao colocar Maria junto
à cruz de Jesus, o autor do livro, quer:
Simbolizar a presença
da mãe sofredora que sempre esteve ao lado de Jesus e de todo aquele que sofre;
Fazer uma relação entre
as Bodas de Cana onde Maria esteve presente no início das atividades do seu
Filho, como no pleno cumprimento de sua missão, através da morte da Cruz.
Tanto o discípulo amado
com Maria, são representações da Igreja:
Maria como geradora de
novos filhos (mulher, membro constitutivo da Igreja e mãe da comunidade);
O Discípulo amado como
representante de todos os fiéis que seguem Jesus custe o que custar.
Resumindo, podemos
sintetizar a figura de Maria no quarto evangelho como:
– Discípula fiel
– Pessoa de fé
– Mãe da comunidade
– Mulher solidária
MARIA NO EVANGELHO DE
LUCAS e ATOS DOS APÓSTOLOS
SINOPSE
O livro de Lucas foi
escrito por volta dos anos 79-80 d. C. Teve como destinatário primeiro um certo
“Teófilo” (Lc 1,1 e At 1,1-2), cuja identidade é desconhecida. A evidência
mostra que o livro foi escrito especialmente para os gentios. Lucas se esforça
para mostrar os costumes judaicos e, algumas vezes substitui nomes gregos por
hebraicos.
Como bom médico que
foi, Lucas retrata a figura de Cristo mostrando todo o seu lado humano e
misericordioso que socorre, cura, liberta e salva a todos sem distinção.
Como também é autor do
livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas compreende a HISTÓRIA DA SALVAÇÃO em três
tempos ou etapas e organiza toda a sua obra a partir desta perspectiva:
1ª etapa: período
preparatório à vinda de Jesus Salvador (O antigo Israel espera com alegria a
manifestação do Messias e prepara a sua vinda)
2ª etapa: A vida de
Jesus: sua encarnação, sua presença, sua manifestação, paixão, morte,
ressurreição e glorificação.
3ª etapa: tempo da
Igreja que se faz por obra do Espírito Santo. A Igreja é a grande portadora da
salvação a todos os povos.
Estes três períodos ou
etapas se articulam a partir de Jerusalém.
Segundo os estudiosos
do tema, Lucas é o evangelista que mais fala de Maria. Num total de 152
versículos do NT sobre Maria, 90 são de Lucas (1 versículo aparece no livro dos
Atos e 89 no terceiro evangelho).
Lucas nos apresenta
muitas qualidades de Maria. Ela é o exemplo vivo do discípulo e seguidor de
Jesus, que acolhe a Palavra de Deus com fé, guarda e medita em seu coração e
põe em prática, produzindo muitos e bons frutos.
Maria é apresentada
como a grande peregrina na fé. O “SIM” dado a Deus na sua juventude é renovado
constantemente no decorrer de toda a sua vida.
Maria não nasce como
uma santa pronta e acabada. Ela passa por crises e situações difíceis e
desafiadoras contribuindo para o seu crescimento na fé.
Por outro lado, Maria
nos lembra que Deus escolhe preferencialmente os pobres e os pequenos para
iniciar seu Reino. Maria é uma pessoa de coração pobre todo aberto para Deus;
tem um coração solidário e serviçal sempre disponível a ajudar os mais
necessitados.
MARIA NO EVANGELHO DE
MARCOS
Marcos escreve o seu
evangelho por volta do ano 60 d.C. Acredita-se que o escritor, ao preparar o
seu livro, teve em mente os cristãos gentios. O evangelista tem com preocupação
primeira mostrar que Jesus é o Filho de Deus. Esse é a sua grande tese
verificada a partir do primeiro versículo:
“Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho
de Deus. ”. Um Filho de Deus que é confirmado pelos discípulos, através da
pessoa de Pedro (Mc 8,29) e testemunhado pelo centurião na morte de Jesus (Mc
15,39); um Filho de Deus que se deixa reconhecer na medida que se caminha ao
seu lado assumindo o seu projeto de vida.
O Evangelho de Marcos
está tecido em duas grandes partes:
– Primeira parte: (Mc
1,1 – 8,26). Neste primeiro bloco Jesus aparece na Galiléia inaugurando o Reino
de Deus que vem com toda força. A prática de Jesus é contestada pelos escribas
e fariseus. Diante da sua proposta vão se formando dois grupos: os que seguem
Jesus (discípulos e multidão) e os que não aceitam a proposta de Jesus.
– A segunda parte
(restante do evangelho) apresenta as condições e os elementos necessários para
seguir Jesus. Seguimento que não significa “ir atrás” mas entrar no caminho de
sua vida, identificar-se com ele, deixar tocar pela sua pessoa, fazer parte de
sua missão de inaugurar o Reino e vencer as forças do anti-reino.
Maria aparece duas
vezes durante todo o seu relato. As citações são poucas, mas muito
significativas onde ela é apresentada como a discípula fiel que faz parte
essencial da família de Jesus porque cumpre a vontade do Pai e a mulher que
acolhe a todos como filhos e irmãos de Jesus.
I – Textos marianos:
1)) Mc 3, 20-21. 31-35:
A FAMÍLIA DE JESUS.
Contexto: No tempo de
Jesus, a estrutura familiar exercia importante influência na definição dos
papéis e no lugar social ocupado pelo indivíduo. No judaísmo, as famílias eram
classificadas conforme seu grau de pureza de origem, ou seja, se eram
imaculadas cruzamento com sangues de estrangeiros ou atingidas por mancha de
mistura étnica.
A cena bíblica é a
seguinte: Jesus e os Doze, recém-eleitos, vão a uma casa em Cafarnaum. Havia
uma multidão acirrada, a tal ponto que eles nem podiam e não tinham tempo nem
para alimentar-se. E quando os “seus” ficaram sabendo disso, saíram para
proteger Jesus, porque diziam que Ele tinha “perdido o juízo”. E neste grupo
que vai até Jesus, está a figura de Maria, sua mãe.
Os parentes de Jesus
consideram que Ele estava exagerando no modo como se dedicava à sua missão,
porque Jesus desleixa até as suas necessidades mais elementares, como a de
comer (v.20)
Marcos mostra aqui o
caminho progressivo de Maria na fé. O evangelista revela o traço tão humano de
Maria de Nazaré que se preocupa pelo Filho, o que denota uma preocupação
normal.
Num olhar mais
profundo, Marcos quer mostrar que o seguimento de Jesus (para fazer parte de
sua família) ultrapassa os laços de parentesco.
Jesus inaugura uma NOVA
FAMÍLIA constituída não mais do sangue e dos laços de parentesco (valor
absoluto nas sociedades antigas) e sim daqueles que se juntam ao redor de Jesus
para fazer a vontade do Pai.
Marcos ensina que até
Maria, a criatura mais estreitamente ligada a Jesus pelos laços de sangue
(maternidade) teve que elevar a ordem mais alta dos seus valores.
Depois de ter levado
Jesus no seu ventre, era preciso que Ela o gerasse no coração, cumprindo a
vontade de Deus. Uma vontade que se torna manifesta naquilo que Jesus dizia e
realizava.
Assim, a figura de
Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura de “discípula” e “primeira
cristã”.
2) Mc 6, 1-6: JESUS DE
NAZARÉ (O SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRES)
Contexto: O texto de
Marcos refere-se a um acontecimento concreto: a rejeição dos Moradores de
Nazaré ao anúncio de Jesus e à sua pessoa. Eles não se colocam como inimigos de
Jesus, mas se escandalizam dele por sua incredulidade. A fé é um grande
requisito para o seguimento de Jesus.
a) Mc 6, 3: O “Filho de
Maria”
3 não é este o
carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E
não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele.
4 Então Jesus lhes
dizia: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus
parentes, e na sua própria casa.
No costume judeu, o
nome da pessoa era conferido ou vinha relacionado por referência ao Pai. Temos
alguns exemplos:
– Simão, filho de Jonas
(Mt 16,13)
– Tiago, filho de
Zebedeu (Mt 4,21)
– Levi, filho de Alfeu
(Mc 2,13)
Sendo assim, surge a
grande pergunta: por que Jesus não é chamado “filho de José”? Para esta
pergunta há quatro tipos de respostas:
– Marcos queria
enfatizar os traços humanos de Jesus;
– É uma referência à
concepção virginal de Jesus (obra do Espírito Santo);
– Foi um intento de
difamação contra Jesus (desvalorizar a sua pessoa pela profissão humilde de
José);
– José não é citado
porque já havia morrido.
b) “Os irmãos e as
irmãs de Jesus” (v3):
Versículo de caráter
polêmico principalmente entre os “evangélicos” onde se afirma a existência de
outros filhos de Maria.
A verdade é que para os
conceitos orientais tradicionais, não se define a família como pequeno núcleo
“pai-mãe-filhos”, como conhecemos hoje, mas num amplo leque no qual se incluem
tanto os parentes próximos como os distantes.
No aramaico falado,
usado por Jesus e seu povo, não havia uma diferenciação nos conceitos de
parentesco (primo, tio, tia, irmão, sobrinho, etc…). A palavra que exprimia e
englobava todo este parentesco era “irmãos”, que os gregos traduziram por
“adelfos”. Assim, quando ouvimos falar que “tua mãe e teus irmãos estão lá
fora…” significa que Maria e os parentes de Jesus queriam protegê-lo um pouco
da multidão.
Não podemos confundir:
“irmãos” de Jesus significa “parentes próximos” dele. Tiago e Joset, chamados
de “irmãos de Jesus” são considerados, dentro desta lógica explicativa, de
“parentes próximos” de Jesus e não “irmãos carnais” dele.
Se assim não fosse,
qual seria a necessidade de Jesus, no alto da cruz, entregar a João, o
discípulo a quem amava, os cuidados de Maria quando disse: ” Filho, eis aí a
tua mãe” (Jo 19,27)? Não seria mais comum, Tiago e José, se fossem realmente
filhos carnais de Maria, tomar conta de sua “mãe” após a morte do “irmão”
Jesus?
Quando estudarmos o
dogma da Virgindade de Maria entenderemos mais esta questão.
Com isso, o evangelista
quer mostrar a necessidade da fé no ato do seguimento de Jesus. Condição
indispensável para reconhecer a sua presença e caminhar com Ele.
MARIA NO EVANGELHO DE
MATEUS
Mateus (também chamado
de Levi), um dos Doze apóstolos, foi sem dúvida um judeu que também era
publicano romano.
Mateus escreveu o seu
evangelho por volta do ano 70 d.C. Tinha como destinatários principalmente os
judeus. Este ponto de vista está confirmado pelas referências às profecias
hebraicas, cerca de sessenta, e pelas aproximadamente quarenta citações do
Antigo Testamento.
Ressalta especialmente
a missão de Cristo aos judeus.
A intenção de Mateus é
a de mostrar que Jesus foi o Messias prometido no Antigo Testamento através do
cumprimento das promessas feitas a Abraão e a Davi, passando por todos os
profetas.
Maria é apresentada
como a mãe virginal de Jesus que o concebe pela ação do Espírito Santo sem
intervenção humana, mostrando a gratuidade da iniciativa divina.
O Evangelho de Mateus
amplia bastante a imagem de Maria.
Ela aparece na
narrativa da origem e da infância de Jesus (Mt 1-2) e em alguns textos
referentes à vida pública de Jesus (Mt 12, 46-50 e Mt 13, 53-58).
I – GENEALOGIA DE JESUS
(Mt 1, 1-25)
Primeiramente o
objetivo desta genealogia é o de mostrar que Jesus descende de Abraão e Davi e
que, portanto, Ele herda as promessas feitas a esses dois patriarcas de Israel.
De Abraão, a promessa da numerosa descendência (Gn12); de Davi, a promessa da
eterna realeza (2Sam7).
A genealogia de uma
pessoa e de uma família tinha enorme importância jurídica e trazia consequências
para a vida social e religiosa. A pureza de uma linha genealógica dava
participação ao descendente nos méritos de seus antepassados.
Mateus remonta a origem
de Cristo a partir de Abraão passando por todas as gerações até chegar a José,
esposo de Maria, da qual nasceu Jesus. Esse elenco de nomes que vai de Abraão a
Cristo é subdividido em três grupos e cada grupo abrange 14 gerações:
1o grupo: de Abraão a
Davi
2o grupo: de Davi a
Jeconias ( exílio na Babilônia)
3o grupo: de Jeconias a
Cristo
A grande novidade nesta
descrição genealógica que passou de geração em geração foi a intervenção da Providência
Divina através do Espírito Santo na geração de Jesus por Maria.
Se antes o encadeamento
paterno era o elemento fundante na genealogia, aqui nós temos agora uma ruptura
visível e explicita: apesar de pertencer a descendência de Abraão e sucessão, José
não é o pai biológico de Jesus. Assim, a mensagem do relato resume-se em: o
nascimento de Jesus se deve à ação do Espírito Santo em Maria. Mostra que
Jesus, o Messias esperado, é fruto da intervenção divina que gratuitamente
irrompe a história da humanidade e oferece o seu filho para a salvação do seu
povo.
José ao receber Maria
em sua casa e assumir Jesus dando-lhe o nome (de Jesus), sela definitivamente o
vínculo histórico da descendência messiânica. Por outro lado, revela a
concepção virginal de Jesus.
Mt 2, 10-23: ADORAÇÃO
DOS MAGOS E FUGA PARA O EGITO
Nas cenas (adoração dos
Magos e Fuga para o Egito) se repete várias vezes “o menino e sua mãe” (v.13,
v.14, v.20). Isso reforça a real maternidade de Maria não aludindo à
“paternidade real” de José.
II – MARIA NA VIDA
PÚBLICA DE JESUS.
Apesar de usar a mesma
fonte de Marcos quando fala de Maria e dos “irmãos de Jesus” e a cena da casa e
da rejeição em Nazaré, Mateus interpreta num outro sentido.
1) Mt 12, 46-50: a
família de Jesus e os seguidores
Aqui aparece claro a
idéia e a importância de seguir a Jesus e fazer a sua vontade. Não há,
portanto, referência negativa à família biológica de Jesus.
2) Mt 13, 53-58: O
profeta rejeitado em sua pátria
Mateus substitui aqui o
“filho de Maria” que aparece em Marcos por “filho do carpinteiro” e suprime a
palavra “parentes”.
Há dois motivos
fundamentais nestas mudanças operadas por Mateus:
a) Tiago, que aparece
como sendo “o irmão do Senhor” que na verdade é primo de Jesus, é um membro
ativo na comunidade atual onde Mateus vive (composta de natureza judeu-cristã)
b) Mateus parece ter
uma idéia bem clara sobre a concepção virginal de Maria
Com isso tudo, fica
claro que Maria é vista como mãe virginal do Messias, por ação do Espírito
Santo.
MARIA NO LIVRO DO
APOCALIPSE 12
Todo o livro do
Apocalipse é repleto de uma linguagem de muitas imagens e números. Numa
primeira vista, parece que o livro é enigmático, assustador e cheio de
mistérios. Mas, apesar de usar uma linguagem “não muito clara”, o autor quer
reforçar a fé e a esperança dos cristãos frente às perseguições de dificuldades
que na qual se encontrava a Igreja primitiva.
O uso deste tipo de
linguagem (Gênero literário) é bem simples de se explicar: João está preso. Ele
manda cartas para os cristãos. Usa linguagem simbólica que só os cristãos
entendiam. Caso contrário, as correspondências não chegariam ao seu destino.
Portanto, cada imagem, cada número, cada ação…tem o seu significado. Mas nós
vamos nos ater somente naquelas passagens que podem fazer referência à pessoa
de Maria. Neste caso, o capítulo 12, principalmente porque tem algumas
referências sobre uma “mulher vestida de sol”.
O Capítulo pode muito
bem ser dividido em três partes que apresentam três cenas com os seguintes
personagens:
1ª cena (Ap 12, 1-6): a
mulher, o dragão e a criança.
2ª cena (Ap 12, 7-12):
a guerra entre as forças de Deus (Miguel) e do mal (Satanás)
3ª cena: (Ap 12,
13-17): a mulher perseguida pelo dragão que é vencido.
Vamos analisar estas
três cenas…
1ª Cena: Ap 12, 1-6
Este “grande sinal”
significa a importância do acontecimento;
” Céu”, mais que morada
de Deus, simboliza o lugar onde estão as forças transcendentais que interferem
na história humana;
“Mulher vestida de sol”
numa primeira leitura não se refere a Maria (Maria não apareceu no céu, não deu
à luz no céu e muito menos o menino foi levado para junto de Deus. Foi
exatamente o contrário…Ele veio de Junto de Deus, no mistério da encarnação)
faz alusão à glória de Deus que reveste o seu povo. O sol que ilumina;
“Tem a lua debaixo de
seus pés” significa o domínio sobre as coisas temporais;
“Coroa de doze
estrelas” lembra as doze tribos de Israel, bem como os doze Apóstolos
recompensados no final dos tempos;
“Dores de parto”
recorda todo o sofrimento vivido pelo povo do Antigo Testamento, bem como as
perseguições da comunidade do Novo Testamento que quer continuar gerando Jesus
para a humanidade através do seu testemunho;
“Dragão de sete cabeças
e dez chifres” representa o poder político e dominador da época. As “sete
cabeças” simboliza a plenitude (o número sete significa a plenitude, a
totalidade) de poder. Os “dez chifres” representam os dez governadores
senatorias do Império Romano; O “diadema” sobre cada uma das cabeças,
referem-se à linhagem nobre de cada um dos governadores.
Tanto a Mulher como o
Dragão são colocados juntos e em contraposição, simbolizando que as forças do
bem e do mal travam um conflito constante na história;
A Mulher “deu à luz a
um filho, um varão que irá reger todas as nações com um cetro de ferro”. Este
versículo lembra o Salmo 2, 7b-9 (Tu és meu Filho, hoje te gerei.8 Pede-me, e
eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão. 9
tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de
oleiro.). Não se refere ao nascimento de Jesus em Belém, mas sim na Paixão,
quando então sairá vitorioso pela Ressurreição;
O “deserto” tanto
significa o lugar da tentação (Jesus foi tentado no deserto durante 40 dias e
40 noites) com também o lugar da proteção de Deus;
2ª Cena: Ap 12, 7-12
Entram em cena novos
personagens: Miguel e seus anjos. A luta que começa no céu desce à terra. Nesta
cena não aparece mais a figura da “mulher” e sim “Miguel e o Dragão”. O Dragão
é descrito como a “antiga serpente”. Faz lembrar Gn 3,15 (Porei inimizade entre
ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá
a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar) que já foi vencida. Conforme o texto,
esta vitória sobre a serpente se deu “pelo sangue do cordeiro” (sacrifício de
Jesus).
3ª Cena: Ap 12, 13-17:
Esta cena tem como
cenário, a terra. Os personagens são: o dragão e a mulher e sua descendência.
Já que o dragão perdeu a batalha para Miguel e seus anjos, ele volta-se contra
a mulher, que, por sua vez, consegue escapar pela proteção de Deus.
Assim, a descendência
da mulher (A Igreja), “os que guardam os mandamentos de Deus, e mantêm o
testemunho de Jesus”, são continuamente ameaçados pelas forças do mal
(serpente). Mas Deus aparece sempre com sua força protetora encorajando os filhos
para a vitória final.
Conclusão: O Capítulo
12 do Apocalipse é um texto que deve ser interpretado, primeiramente como sendo
eclesiológico (A Igreja peregrina que sofre, é perseguida, mas que tem a força
de Jesus e do Espírito Santo de Deus para vencer as armadilhas do mal), depois
mariológico (Maria, mãe da Igreja que caminha).
MARIA NO NOVO
TESTAMENTO- SEGUNDO GÁLATAS
Faremos um estudo mais
detalhado, em ordem cronológica, dos livros bíblicos do Novo Testamento que
falam explicitamente de Maria. São eles:
– Gálatas (as
informações mais antigas sobre Maria)
– Livro escrito por
volta do ano 50 d.C.
– Marcos (escrito por
volta do ano 60 d.C)
Mateus (escrito por
volta do ano 70 d.C)
Lucas (escrito por
volta do ano 70 d.C.)
Atos (também escrito
por volta do ano 70 d.C)
João (escrito por volta
dos anos 90-100 d.C)
Apocalipse (também
escrito por volta dos anos 90-100 d.C)
I – GÁLATAS.
Por conter a informação
mais antiga sobre Maria, analisaremos um único versículo referente ao estudo
mariano. Gal 4, 4. Eis o texto: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam
debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. ”
CONTEXTO:
O tema central deste
versículo é sobre a ENCARNAÇÃO do FILHO DE DEUS, ou seja, o modo através do
qual Deus quis vir ao encontro do homem. E isso se deu na “plenitude dos
tempos”, isto é, quando o Pai envia o seu Filho ao mundo os tempos do desígnio
divino atingem a sua “plenitude”. A encarnação de Cristo é o ponto culminante
desta etapa.
E Maria é colocada
exatamente nesse vértice do plano redentor. Através do seu ministério materno,
o Filho do Pai, preexistente ao mundo, se radica na cepa da humanidade.
Ela é a MULHER que o
reveste com a nossa carne e o nosso sangue. São Paulo quer mostrar com isso a
condição real e humana de Jesus. O apóstolo declara que a pessoa de Maria está
vitalmente vinculada ao projeto salvífico de Deus.
MARIA NOS OUTROS
ESCRITOS DA IGREJA
Se, no Novo Testamento,
encontramos poucas alusões à Virgem Maria, são muitos os outros escritos,
pertencentes ao tesouro da Igreja, que evocam a Mãe de Jesus.
Primeiramente, temos os
escritos da Tradição: dogmas e ensinamentos do Magistério da Igreja
(pontifical, conciliar, apostólico), textos e homilias dos Padres da Igreja,
textos da liturgia, tratados dos Doutores da Igreja;
Há, também, escritos e
comentários exegéticos dos teólogos; e ainda, os numerosos testemunhos dos
grandes místicos reconhecidos e canonizados;
Há, enfim, os
inumeráveis “Evangelhos Apócrifos” (1): estes escritos constituem mesmo a maior
fonte de informação sobre a vida da Mãe do Cristo, porque foram redigidos na
época e por pessoas diretamente relacionadas com a vida da Santa Família.
Ainda que esses
escritos não sejam canônicos (2), muitos deles são considerados escritos
fidedignos e são citados, algumas vezes, pela própria Hierarquia da Igreja e
seu Magistério.
(1) O termo « apócrifo
» (do grego apockryphos = escondido) designa um texto geralmente atribuído a um
escritor próximo do meio ou da época do Cristo, mas que não foi incluído no
cânone das Escrituras bíblicas cristãs.
(2) O Cânone (do grego
kânon = regra) é a lista das Escrituras cristãs reconhecidas como inspiradas.
Um livro é “canônico” quando faz parte da Bíblia, e nisto difere do livro
“apócrifo”.
Komentarze
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!