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MARIA NA BÍBLIA

MARIA NA BÍBLIA
Por vezes, pensa-se que a Virgem não é muito evocada na Bíblia…
Mostraremos que as citações diretas, no Novo Testamento, são muito mais numerosas do que pensamos e que têm um significado muito peculiar, em momentos cruciais da vida de Cristo. Por outro lado, as alusões indiretas à Maria são numerosas e muito importantes: descobrimos, por exemplo, que Maria é a única no mundo que passa mais de trinta anos ao lado de Cristo durante a sua vida terrena; que ela é Aquela há quem o Apocalipse chama a “Arca da verdadeira Aliança”; Aquela há quem, sobretudo, o anjo da Anunciação saudou como a “cheia de graça” e que pode anunciar à toda a Criação: “de agora em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações”…
O Antigo Testamento está, também ele, repleto de figuras, imagens e profecias nas quais tanto o Magistério como os Padres da Igreja, os seus Doutores e Santos reconheceram o anúncio daquela que deu ao mundo o Messias esperado. Do “Gênesis” ao Livro do Profeta Isaías, e até aos últimos profetas da Primeira Aliança… prefigurações e outros anúncios, respeitantes à Virgem Mãe do Salvador, atravessam todo o Antigo Testamento, do Pentateuco aos Profetas, passando pelos Livros Históricos e Sapienciais!

Maria pertence ao Novo Testamento. Ela nasceu no tempo do Novo Testamento. Todos os relatos específicos e diretos que falam dela, estão no Novo Testamento. Porém, podemos formular-nos uma pergunta: O Antigo Testamento referiu-se alguma vez a Mãe do Messias esperado? Existem textos bíblicos que, mesmo em sentido figurado, mencionam algo sobre a Mãe do Filho de Deus? Podemos associar alguns textos do Antigo Testamento e aplicarmos a Maria?
ANÚNCIOS DE MARIA NO ANTIGO TESTAMENTO
Segundo a visão cristã, Eva, a primeira mulher, cedo se tornou aquela que, com Adão, arrastou toda a humanidade no naufrágio do pecado original. Deus prometeu um Salvador, e a mãe do Redentor foi anunciada naquele mesmo momento, no texto do Gênesis já citado: “Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher” (Gn.3,15)
A mais autêntica das filhas de Abraão
Abraão, nosso “pai na fé”, obedeceu de maneira total e incondicional aos desígnios de Deus, mesmo quando, exteriormente, lhe era difícil compreender como se cumpririam tais promessas. O Papa João Paulo II, na sua homilia em Nazaré, a 25 de março de 2000, chamou à Virgem Maria a “mais autêntica das filhas de Abraão” já que, pela sua fé, se tornou a Mãe do Messias e a Mãe de todos os crentes (cf. Homilia publicada no Obsservatore Romano, edição semanal em língua portuguesa).
Eis os símbolos da Virgem Maria que podemos encontrar na Bíblia hebraica, o Antigo Testamento para os cristãos:
Imagens e figuras de Maria no Antigo Testamento:
Podemos encontrar imagens da Virgem Mãe no Gênesis e em Isaías, a Filha de Sião, o Jardim do Éden, a Amada do Cântico dos Cânticos e a Arca da Aliança. Rute pode ser um símbolo de Maria e da Igreja, porque aparece providencialmente colocada na árvore genealógica de Cristo. Também em Ester e Judite podemos ver um símbolo de Maria, já que são associadas ao Salvador no desenrolar do plano divino da Salvação. Podemos agrupar estes diversos anúncios de Maria no Antigo Testamento em 3 “categorias”:
– Imagens: Estrela da Manhã; Torre de David, Trono da Sabedoria, etc…;
– Figuras: Sara, Raquel, Débora, Judite, Ester e tantas outras…;
– Profecias: Gn.3,15; Is.7,11; etc…
Ao lado de Cristo, Maria é a maior glória do povo judeu
A Virgem Maria pode ser vista, a par de Cristo, como a maior glória do povo judeu. Foi do seio deste povo da Aliança que Deus escolheu esta excepcional figura que viria a dar à luz o Salvador da Humanidade. Por isso, ninguém melhor do que a Santa Virgem para interceder, junto de Deus, pela contínua promoção das relações judeu-cristãs.
Muitos estudiosos afirmam que o tema mariano está “escondido” sob três modos no Antigo Testamento: preparação moral, preparação tipológica e preparação profética.
1) Preparação moral: como a humanidade estava corrompida pelo pecado, Deus escolhe uma linhagem de fé e santidade para que o seu filho possa nascer da raça humana.
2) Preparação tipológica (linguagem simbólica): constatamos que no Antigo Testamento, muitas mulheres foram favorecidas com nascimentos milagrosos (Sara, Judite…). Todas estas mulheres fazem parte dos ancestrais do Messias esperado. Maria aparece como símbolo da “Filha de Sião” (Sof 3, 14-17), o lugar da residência de Javé. Maria também é simbolizada com a nova Arca da Aliança (dentro da Arca era depositada a LEI), que vai trazer dentro de si a Lei definitiva (revelação) de Deus, seu próprio Filho, Jesus.
”. Rejubila-te, filha de Sião, solta gritos de alegria, Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, filha de Jerusalém! 15O Senhor revogou tua sentença, eliminou teu inimigo. O Senhor, o rei de Israel, está no meio de ti, não verás mais a desgraça. 16Naquele dia, será dito a Jerusalém: Não temas, Sião! Não desfaleçam as tuas mãos! 17O Senhor teu Deus está no meio de ti, como um herói que salva! Ele exulta de alegria por tua causa, ele te renova por seu amor, ele se regozija por causa de ti com gritos de alegria, 18como nos dias de festa. ” (Sof 3, 14-18)
3) Preparação profética: Além do texto acima, temos mais alguns que podem ser aplicados a Maria:
a) Ct 4,7: Tu és toda formosa, amada minha, e em ti não há mancha. O texto pode fazer alusão à concepção imaculada de Maria;
b) Jer 31,22: Até quando andarás errante, ó filha rebelde? Pois o senhor criou uma coisa nova na terra: uma mulher protege a um varão.
c) Gn 3,15: Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Uma consideração sobre este texto.
O texto é muito significativo e apresenta, numa primeira leitura, a luta até o fim dos tempos entre a humanidade e o demônio. O termo “Ela te ferirá a cabeça” pode aludir tanto a Maria, a nova Eva, como a Igreja.
d) Is 7,14: Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel.
Considerando o texto…

Embora o texto faz referência ao nascimento de um herdeiro na linhagem de Davi, pode ser muito bem ser aproveitado como uma profecia Mariana.
e) Miq 5, 1-4: Agora, ajunta-te em tropas, ó filha de tropas; pôr-se-á cerco contra nós; ferirão com a vara no queixo ao juiz de Israel.
2, mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
3, portanto os entregará até o tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
4 E ele permanecerá, e apascentará o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra.
Sobre o texto…
Mesmo não apontando diretamente uma referência mariana, o texto fala diretamente de um rei-pastor, saído da tribo de Davi. Seu nascimento se projeta para o futuro (os verbos estão no futuro).
MARIA NO EVANGELHO DE JOÃO
João escreveu o seu evangelho por volta do ano 90-100 d.C. É também autor do livro do Apocalipse. Tanto o quarto evangelho com o livro do Apocalipse apresentam, por serem os escritos mais tardios, uma reflexão bem mais madura sobre Jesus.
O Evangelho de João está dividido em três partes:
a) Prólogo (Jo 1, 1-18)
b) Livro dos Sinais (Jo 1,19 – 12,50)
c) Livro da Exaltação (Jo 13-20)
Menciona a Mãe de Jesus em três ocasiões: uma indiretamente, na encarnação do Filho de Deus (Jo 1, 14), e as duas de uma maneira bem explicita: as Bodas de Caná (Jo 2, 1-12) e na Morte de Jesus (Jo 19, 25-27).
1) Jo 1,14: (PROLOGO)
E o Verbo divino se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.
Embora o texto não mencione Maria, porque a intenção do autor é mostrar a origem divina de Jesus (Verbo de Deus), dá-se a entender que Ela está implícita no processo da encarnação de Jesus (“e habitou entre nós”). Não podemos, em hipótese alguma, afirmar que este é um texto mariano, mas quando se fala em “encarnação” do Verbo Divino, Maria é lembrada.
2) Jo 2, 1-12 (AS BODAS DE CANÁ)
Este relato encontra-se inserido no chamado “bloco dos sinais”. É cheio de uma simbologia muito grande. Os sinais apresentam um sentido de revelação da pessoa de Jesus e têm uma intima relação com a fé. Quando Jesus realiza um milagre, este serve de sinal para que as pessoas vendo possam acreditar em Jesus. Em Mateus, Marcos e Lucas, os milagres que Jesus realiza indicam o poder de Deus sobre as forças do mal.
Os sinais que o quarto evangelho mencionam também expressam a Glória de Deus, que com Jesus, aos poucos vai se manifestando ao mundo.
Analisando o texto…
Um primeiro dado interessante que se percebe à primeira vista é que João não menciona o nome “Maria”. Ele refere-se à Maria chamando-a de “Mulher” ou “Mãe de Jesus” (seis vezes). A explicação é simples: João gosta de apresentar certas pessoas como modelos de seguidores do projeto de Jesus. Maria, portanto, é um modelo, uma figura símbolo que aceitou a mensagem de Jesus.
Apesar de ser uma festa de casamento, os personagens principais não são os noivos e sim Jesus e Maria. Apesar de usar uma linguagem de um casamento, João quer mostrar, com este relato, que o pacto (casamento) entre o povo da Antiga Aliança (Israel) e Deus estava desgastado, sem vida, vazio, devido o abismo do pecado
, br> O relato data muito a sequência dos dias, com destaque especial “ao terceiro dia”, alusão simbólica à Aliança no Monte Sinai (Ex 19, 11.9) e principalmente à Ressurreição de Jesus.
Ao fazer chegar até Jesus a problemática da falta de vinho, Maria se apresenta como aquela que, conhecendo as necessidades da humanidade, pede ajuda para Jesus. Aqui está simbolizado o papel de intercessora atribuído a Maria.
A primeira reação de Jesus ao afirmar “Mulher, que tenho eu contigo” (ou, que importa a mim e a ti), parece ser um tanto ríspida com relação a Maria, mas serve para ilustrar o deslocamento de perspectiva: que Jesus chama os seus interlocutores (na pessoa de Maria) para perceber um outro nível de sua presença.
A palavra “mulher” pode representar três idéias:
Pode lembrar Gn 3, referindo a Eva-Mulher que trouxe o pecado ao mundo. Assim Maria, a nova Mulher trouxe a salvação, Jesus;
Maria, Mulher, pode representar todo o povo de Israel (Filha de Sião);
Pode traduzir todo o reconhecimento da figura feminina na comunidade de João pelo papel evangelizador que as mulheres desempenhavam no testemunho do Evangelho.
Depois de realizar o milagre da transformação da água em vinho, o relato tem um desfecho muito significativo. E é para lá que apontava João: Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele. (V11). Com isso, o autor acentua a centralidade do relato: mostrar quem é Jesus (aquele que traz o vinho novo, a Nova Aliança, o Novo Pacto, a alegria, a plenitude, a graça, a salvação) e a fé dos discípulos que aderem ao projeto do Filho de Deus. E todo o projeto do Reino de Deus é simbolizado através da figura das Bodas, o grande Banquete, as Núpcias do Cordeiro, a grande Festa da plena e definitiva alegria. Jesus é o novo NOIVO.
Maria-mulher é aquela que leva os discípulos a crerem em Jesus. Incentiva os filhos a fazerem a vontade do seu Filho.
3) Jo 19, 25-27 (MARIA JUNTO À CRUZ)
O texto mostra que estavam presentes junto à cruz de Jesus quatro mulheres: a mãe de Jesus, uma irmã de Maria, Maria esposa de Cléofas e Maria Madalena e também o discípulo amado.
As mulheres, como já vimos, representam o serviço generoso e destacado que elas exerciam na comunidade; o “discípulo amado” representa o modelo ideal de todo cristão que apesar das contrariedades e cruzes da vida, permanece fiel a Cristo.
Ao colocar Maria junto à cruz de Jesus, o autor do livro, quer:
Simbolizar a presença da mãe sofredora que sempre esteve ao lado de Jesus e de todo aquele que sofre;
Fazer uma relação entre as Bodas de Cana onde Maria esteve presente no início das atividades do seu Filho, como no pleno cumprimento de sua missão, através da morte da Cruz.
Tanto o discípulo amado com Maria, são representações da Igreja:
Maria como geradora de novos filhos (mulher, membro constitutivo da Igreja e mãe da comunidade);
O Discípulo amado como representante de todos os fiéis que seguem Jesus custe o que custar.
Resumindo, podemos sintetizar a figura de Maria no quarto evangelho como:
– Discípula fiel
– Pessoa de fé
– Mãe da comunidade
– Mulher solidária
MARIA NO EVANGELHO DE LUCAS e ATOS DOS APÓSTOLOS
SINOPSE
O livro de Lucas foi escrito por volta dos anos 79-80 d. C. Teve como destinatário primeiro um certo “Teófilo” (Lc 1,1 e At 1,1-2), cuja identidade é desconhecida. A evidência mostra que o livro foi escrito especialmente para os gentios. Lucas se esforça para mostrar os costumes judaicos e, algumas vezes substitui nomes gregos por hebraicos.
Como bom médico que foi, Lucas retrata a figura de Cristo mostrando todo o seu lado humano e misericordioso que socorre, cura, liberta e salva a todos sem distinção.
Como também é autor do livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas compreende a HISTÓRIA DA SALVAÇÃO em três tempos ou etapas e organiza toda a sua obra a partir desta perspectiva:
1ª etapa: período preparatório à vinda de Jesus Salvador (O antigo Israel espera com alegria a manifestação do Messias e prepara a sua vinda)
2ª etapa: A vida de Jesus: sua encarnação, sua presença, sua manifestação, paixão, morte, ressurreição e glorificação.
3ª etapa: tempo da Igreja que se faz por obra do Espírito Santo. A Igreja é a grande portadora da salvação a todos os povos.
Estes três períodos ou etapas se articulam a partir de Jerusalém.
Segundo os estudiosos do tema, Lucas é o evangelista que mais fala de Maria. Num total de 152 versículos do NT sobre Maria, 90 são de Lucas (1 versículo aparece no livro dos Atos e 89 no terceiro evangelho).
Lucas nos apresenta muitas qualidades de Maria. Ela é o exemplo vivo do discípulo e seguidor de Jesus, que acolhe a Palavra de Deus com fé, guarda e medita em seu coração e põe em prática, produzindo muitos e bons frutos.
Maria é apresentada como a grande peregrina na fé. O “SIM” dado a Deus na sua juventude é renovado constantemente no decorrer de toda a sua vida.
Maria não nasce como uma santa pronta e acabada. Ela passa por crises e situações difíceis e desafiadoras contribuindo para o seu crescimento na fé.
Por outro lado, Maria nos lembra que Deus escolhe preferencialmente os pobres e os pequenos para iniciar seu Reino. Maria é uma pessoa de coração pobre todo aberto para Deus; tem um coração solidário e serviçal sempre disponível a ajudar os mais necessitados.
MARIA NO EVANGELHO DE MARCOS
Marcos escreve o seu evangelho por volta do ano 60 d.C. Acredita-se que o escritor, ao preparar o seu livro, teve em mente os cristãos gentios. O evangelista tem com preocupação primeira mostrar que Jesus é o Filho de Deus. Esse é a sua grande tese verificada a partir do primeiro versículo:
 “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. ”. Um Filho de Deus que é confirmado pelos discípulos, através da pessoa de Pedro (Mc 8,29) e testemunhado pelo centurião na morte de Jesus (Mc 15,39); um Filho de Deus que se deixa reconhecer na medida que se caminha ao seu lado assumindo o seu projeto de vida.
O Evangelho de Marcos está tecido em duas grandes partes:
– Primeira parte: (Mc 1,1 – 8,26). Neste primeiro bloco Jesus aparece na Galiléia inaugurando o Reino de Deus que vem com toda força. A prática de Jesus é contestada pelos escribas e fariseus. Diante da sua proposta vão se formando dois grupos: os que seguem Jesus (discípulos e multidão) e os que não aceitam a proposta de Jesus.
– A segunda parte (restante do evangelho) apresenta as condições e os elementos necessários para seguir Jesus. Seguimento que não significa “ir atrás” mas entrar no caminho de sua vida, identificar-se com ele, deixar tocar pela sua pessoa, fazer parte de sua missão de inaugurar o Reino e vencer as forças do anti-reino.
Maria aparece duas vezes durante todo o seu relato. As citações são poucas, mas muito significativas onde ela é apresentada como a discípula fiel que faz parte essencial da família de Jesus porque cumpre a vontade do Pai e a mulher que acolhe a todos como filhos e irmãos de Jesus.
I – Textos marianos:
1)) Mc 3, 20-21. 31-35: A FAMÍLIA DE JESUS.
Contexto: No tempo de Jesus, a estrutura familiar exercia importante influência na definição dos papéis e no lugar social ocupado pelo indivíduo. No judaísmo, as famílias eram classificadas conforme seu grau de pureza de origem, ou seja, se eram imaculadas cruzamento com sangues de estrangeiros ou atingidas por mancha de mistura étnica.
A cena bíblica é a seguinte: Jesus e os Doze, recém-eleitos, vão a uma casa em Cafarnaum. Havia uma multidão acirrada, a tal ponto que eles nem podiam e não tinham tempo nem para alimentar-se. E quando os “seus” ficaram sabendo disso, saíram para proteger Jesus, porque diziam que Ele tinha “perdido o juízo”. E neste grupo que vai até Jesus, está a figura de Maria, sua mãe.
Os parentes de Jesus consideram que Ele estava exagerando no modo como se dedicava à sua missão, porque Jesus desleixa até as suas necessidades mais elementares, como a de comer (v.20)
Marcos mostra aqui o caminho progressivo de Maria na fé. O evangelista revela o traço tão humano de Maria de Nazaré que se preocupa pelo Filho, o que denota uma preocupação normal.
Num olhar mais profundo, Marcos quer mostrar que o seguimento de Jesus (para fazer parte de sua família) ultrapassa os laços de parentesco.
Jesus inaugura uma NOVA FAMÍLIA constituída não mais do sangue e dos laços de parentesco (valor absoluto nas sociedades antigas) e sim daqueles que se juntam ao redor de Jesus para fazer a vontade do Pai.
Marcos ensina que até Maria, a criatura mais estreitamente ligada a Jesus pelos laços de sangue (maternidade) teve que elevar a ordem mais alta dos seus valores.
Depois de ter levado Jesus no seu ventre, era preciso que Ela o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus. Uma vontade que se torna manifesta naquilo que Jesus dizia e realizava.
Assim, a figura de Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura de “discípula” e “primeira cristã”.
2) Mc 6, 1-6: JESUS DE NAZARÉ (O SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRES)
Contexto: O texto de Marcos refere-se a um acontecimento concreto: a rejeição dos Moradores de Nazaré ao anúncio de Jesus e à sua pessoa. Eles não se colocam como inimigos de Jesus, mas se escandalizam dele por sua incredulidade. A fé é um grande requisito para o seguimento de Jesus.
a) Mc 6, 3: O “Filho de Maria”
3 não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele.
4 Então Jesus lhes dizia: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa.
No costume judeu, o nome da pessoa era conferido ou vinha relacionado por referência ao Pai. Temos alguns exemplos:
– Simão, filho de Jonas (Mt 16,13)
– Tiago, filho de Zebedeu (Mt 4,21)
– Levi, filho de Alfeu (Mc 2,13)
Sendo assim, surge a grande pergunta: por que Jesus não é chamado “filho de José”? Para esta pergunta há quatro tipos de respostas:
– Marcos queria enfatizar os traços humanos de Jesus;
– É uma referência à concepção virginal de Jesus (obra do Espírito Santo);
– Foi um intento de difamação contra Jesus (desvalorizar a sua pessoa pela profissão humilde de José);
– José não é citado porque já havia morrido.
b) “Os irmãos e as irmãs de Jesus” (v3):
Versículo de caráter polêmico principalmente entre os “evangélicos” onde se afirma a existência de outros filhos de Maria.
A verdade é que para os conceitos orientais tradicionais, não se define a família como pequeno núcleo “pai-mãe-filhos”, como conhecemos hoje, mas num amplo leque no qual se incluem tanto os parentes próximos como os distantes.
No aramaico falado, usado por Jesus e seu povo, não havia uma diferenciação nos conceitos de parentesco (primo, tio, tia, irmão, sobrinho, etc…). A palavra que exprimia e englobava todo este parentesco era “irmãos”, que os gregos traduziram por “adelfos”. Assim, quando ouvimos falar que “tua mãe e teus irmãos estão lá fora…” significa que Maria e os parentes de Jesus queriam protegê-lo um pouco da multidão.
Não podemos confundir: “irmãos” de Jesus significa “parentes próximos” dele. Tiago e Joset, chamados de “irmãos de Jesus” são considerados, dentro desta lógica explicativa, de “parentes próximos” de Jesus e não “irmãos carnais” dele.
Se assim não fosse, qual seria a necessidade de Jesus, no alto da cruz, entregar a João, o discípulo a quem amava, os cuidados de Maria quando disse: ” Filho, eis aí a tua mãe” (Jo 19,27)? Não seria mais comum, Tiago e José, se fossem realmente filhos carnais de Maria, tomar conta de sua “mãe” após a morte do “irmão” Jesus?
Quando estudarmos o dogma da Virgindade de Maria entenderemos mais esta questão.
Com isso, o evangelista quer mostrar a necessidade da fé no ato do seguimento de Jesus. Condição indispensável para reconhecer a sua presença e caminhar com Ele.
MARIA NO EVANGELHO DE MATEUS
Mateus (também chamado de Levi), um dos Doze apóstolos, foi sem dúvida um judeu que também era publicano romano.
Mateus escreveu o seu evangelho por volta do ano 70 d.C. Tinha como destinatários principalmente os judeus. Este ponto de vista está confirmado pelas referências às profecias hebraicas, cerca de sessenta, e pelas aproximadamente quarenta citações do Antigo Testamento.
Ressalta especialmente a missão de Cristo aos judeus.
A intenção de Mateus é a de mostrar que Jesus foi o Messias prometido no Antigo Testamento através do cumprimento das promessas feitas a Abraão e a Davi, passando por todos os profetas.
Maria é apresentada como a mãe virginal de Jesus que o concebe pela ação do Espírito Santo sem intervenção humana, mostrando a gratuidade da iniciativa divina.
O Evangelho de Mateus amplia bastante a imagem de Maria.
Ela aparece na narrativa da origem e da infância de Jesus (Mt 1-2) e em alguns textos referentes à vida pública de Jesus (Mt 12, 46-50 e Mt 13, 53-58).
I – GENEALOGIA DE JESUS (Mt 1, 1-25)
Primeiramente o objetivo desta genealogia é o de mostrar que Jesus descende de Abraão e Davi e que, portanto, Ele herda as promessas feitas a esses dois patriarcas de Israel. De Abraão, a promessa da numerosa descendência (Gn12); de Davi, a promessa da eterna realeza (2Sam7).
A genealogia de uma pessoa e de uma família tinha enorme importância jurídica e trazia consequências para a vida social e religiosa. A pureza de uma linha genealógica dava participação ao descendente nos méritos de seus antepassados.
Mateus remonta a origem de Cristo a partir de Abraão passando por todas as gerações até chegar a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus. Esse elenco de nomes que vai de Abraão a Cristo é subdividido em três grupos e cada grupo abrange 14 gerações:
1o grupo: de Abraão a Davi
2o grupo: de Davi a Jeconias ( exílio na Babilônia)
3o grupo: de Jeconias a Cristo
A grande novidade nesta descrição genealógica que passou de geração em geração foi a intervenção da Providência Divina através do Espírito Santo na geração de Jesus por Maria.
Se antes o encadeamento paterno era o elemento fundante na genealogia, aqui nós temos agora uma ruptura visível e explicita: apesar de pertencer a descendência de Abraão e sucessão, José não é o pai biológico de Jesus. Assim, a mensagem do relato resume-se em: o nascimento de Jesus se deve à ação do Espírito Santo em Maria. Mostra que Jesus, o Messias esperado, é fruto da intervenção divina que gratuitamente irrompe a história da humanidade e oferece o seu filho para a salvação do seu povo.
José ao receber Maria em sua casa e assumir Jesus dando-lhe o nome (de Jesus), sela definitivamente o vínculo histórico da descendência messiânica. Por outro lado, revela a concepção virginal de Jesus.
Mt 2, 10-23: ADORAÇÃO DOS MAGOS E FUGA PARA O EGITO
Nas cenas (adoração dos Magos e Fuga para o Egito) se repete várias vezes “o menino e sua mãe” (v.13, v.14, v.20). Isso reforça a real maternidade de Maria não aludindo à “paternidade real” de José.
II – MARIA NA VIDA PÚBLICA DE JESUS.
Apesar de usar a mesma fonte de Marcos quando fala de Maria e dos “irmãos de Jesus” e a cena da casa e da rejeição em Nazaré, Mateus interpreta num outro sentido.
1) Mt 12, 46-50: a família de Jesus e os seguidores
Aqui aparece claro a idéia e a importância de seguir a Jesus e fazer a sua vontade. Não há, portanto, referência negativa à família biológica de Jesus.
2) Mt 13, 53-58: O profeta rejeitado em sua pátria
Mateus substitui aqui o “filho de Maria” que aparece em Marcos por “filho do carpinteiro” e suprime a palavra “parentes”.
Há dois motivos fundamentais nestas mudanças operadas por Mateus:
a) Tiago, que aparece como sendo “o irmão do Senhor” que na verdade é primo de Jesus, é um membro ativo na comunidade atual onde Mateus vive (composta de natureza judeu-cristã)
b) Mateus parece ter uma idéia bem clara sobre a concepção virginal de Maria
Com isso tudo, fica claro que Maria é vista como mãe virginal do Messias, por ação do Espírito Santo.
MARIA NO LIVRO DO APOCALIPSE 12
Todo o livro do Apocalipse é repleto de uma linguagem de muitas imagens e números. Numa primeira vista, parece que o livro é enigmático, assustador e cheio de mistérios. Mas, apesar de usar uma linguagem “não muito clara”, o autor quer reforçar a fé e a esperança dos cristãos frente às perseguições de dificuldades que na qual se encontrava a Igreja primitiva.
O uso deste tipo de linguagem (Gênero literário) é bem simples de se explicar: João está preso. Ele manda cartas para os cristãos. Usa linguagem simbólica que só os cristãos entendiam. Caso contrário, as correspondências não chegariam ao seu destino. Portanto, cada imagem, cada número, cada ação…tem o seu significado. Mas nós vamos nos ater somente naquelas passagens que podem fazer referência à pessoa de Maria. Neste caso, o capítulo 12, principalmente porque tem algumas referências sobre uma “mulher vestida de sol”.
O Capítulo pode muito bem ser dividido em três partes que apresentam três cenas com os seguintes personagens:
1ª cena (Ap 12, 1-6): a mulher, o dragão e a criança.
2ª cena (Ap 12, 7-12): a guerra entre as forças de Deus (Miguel) e do mal (Satanás)
3ª cena: (Ap 12, 13-17): a mulher perseguida pelo dragão que é vencido.
Vamos analisar estas três cenas…
1ª Cena: Ap 12, 1-6
Este “grande sinal” significa a importância do acontecimento;
” Céu”, mais que morada de Deus, simboliza o lugar onde estão as forças transcendentais que interferem na história humana;
“Mulher vestida de sol” numa primeira leitura não se refere a Maria (Maria não apareceu no céu, não deu à luz no céu e muito menos o menino foi levado para junto de Deus. Foi exatamente o contrário…Ele veio de Junto de Deus, no mistério da encarnação) faz alusão à glória de Deus que reveste o seu povo. O sol que ilumina;
“Tem a lua debaixo de seus pés” significa o domínio sobre as coisas temporais;
“Coroa de doze estrelas” lembra as doze tribos de Israel, bem como os doze Apóstolos recompensados no final dos tempos;
“Dores de parto” recorda todo o sofrimento vivido pelo povo do Antigo Testamento, bem como as perseguições da comunidade do Novo Testamento que quer continuar gerando Jesus para a humanidade através do seu testemunho;
“Dragão de sete cabeças e dez chifres” representa o poder político e dominador da época. As “sete cabeças” simboliza a plenitude (o número sete significa a plenitude, a totalidade) de poder. Os “dez chifres” representam os dez governadores senatorias do Império Romano; O “diadema” sobre cada uma das cabeças, referem-se à linhagem nobre de cada um dos governadores.
Tanto a Mulher como o Dragão são colocados juntos e em contraposição, simbolizando que as forças do bem e do mal travam um conflito constante na história;
A Mulher “deu à luz a um filho, um varão que irá reger todas as nações com um cetro de ferro”. Este versículo lembra o Salmo 2, 7b-9 (Tu és meu Filho, hoje te gerei.8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão. 9 tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.). Não se refere ao nascimento de Jesus em Belém, mas sim na Paixão, quando então sairá vitorioso pela Ressurreição;
O “deserto” tanto significa o lugar da tentação (Jesus foi tentado no deserto durante 40 dias e 40 noites) com também o lugar da proteção de Deus;
2ª Cena: Ap 12, 7-12
Entram em cena novos personagens: Miguel e seus anjos. A luta que começa no céu desce à terra. Nesta cena não aparece mais a figura da “mulher” e sim “Miguel e o Dragão”. O Dragão é descrito como a “antiga serpente”. Faz lembrar Gn 3,15 (Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar) que já foi vencida. Conforme o texto, esta vitória sobre a serpente se deu “pelo sangue do cordeiro” (sacrifício de Jesus).
3ª Cena: Ap 12, 13-17:
Esta cena tem como cenário, a terra. Os personagens são: o dragão e a mulher e sua descendência. Já que o dragão perdeu a batalha para Miguel e seus anjos, ele volta-se contra a mulher, que, por sua vez, consegue escapar pela proteção de Deus.
Assim, a descendência da mulher (A Igreja), “os que guardam os mandamentos de Deus, e mantêm o testemunho de Jesus”, são continuamente ameaçados pelas forças do mal (serpente). Mas Deus aparece sempre com sua força protetora encorajando os filhos para a vitória final.
Conclusão: O Capítulo 12 do Apocalipse é um texto que deve ser interpretado, primeiramente como sendo eclesiológico (A Igreja peregrina que sofre, é perseguida, mas que tem a força de Jesus e do Espírito Santo de Deus para vencer as armadilhas do mal), depois mariológico (Maria, mãe da Igreja que caminha).
MARIA NO NOVO TESTAMENTO- SEGUNDO GÁLATAS
Faremos um estudo mais detalhado, em ordem cronológica, dos livros bíblicos do Novo Testamento que falam explicitamente de Maria. São eles:
– Gálatas (as informações mais antigas sobre Maria)
– Livro escrito por volta do ano 50 d.C.
– Marcos (escrito por volta do ano 60 d.C)
Mateus (escrito por volta do ano 70 d.C)
Lucas (escrito por volta do ano 70 d.C.)
Atos (também escrito por volta do ano 70 d.C)
João (escrito por volta dos anos 90-100 d.C)
Apocalipse (também escrito por volta dos anos 90-100 d.C)
I – GÁLATAS.
Por conter a informação mais antiga sobre Maria, analisaremos um único versículo referente ao estudo mariano. Gal 4, 4. Eis o texto: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. ”
CONTEXTO:
O tema central deste versículo é sobre a ENCARNAÇÃO do FILHO DE DEUS, ou seja, o modo através do qual Deus quis vir ao encontro do homem. E isso se deu na “plenitude dos tempos”, isto é, quando o Pai envia o seu Filho ao mundo os tempos do desígnio divino atingem a sua “plenitude”. A encarnação de Cristo é o ponto culminante desta etapa.
E Maria é colocada exatamente nesse vértice do plano redentor. Através do seu ministério materno, o Filho do Pai, preexistente ao mundo, se radica na cepa da humanidade.
Ela é a MULHER que o reveste com a nossa carne e o nosso sangue. São Paulo quer mostrar com isso a condição real e humana de Jesus. O apóstolo declara que a pessoa de Maria está vitalmente vinculada ao projeto salvífico de Deus.
MARIA NOS OUTROS ESCRITOS DA IGREJA
Se, no Novo Testamento, encontramos poucas alusões à Virgem Maria, são muitos os outros escritos, pertencentes ao tesouro da Igreja, que evocam a Mãe de Jesus.
Primeiramente, temos os escritos da Tradição: dogmas e ensinamentos do Magistério da Igreja (pontifical, conciliar, apostólico), textos e homilias dos Padres da Igreja, textos da liturgia, tratados dos Doutores da Igreja;
Há, também, escritos e comentários exegéticos dos teólogos; e ainda, os numerosos testemunhos dos grandes místicos reconhecidos e canonizados;
Há, enfim, os inumeráveis “Evangelhos Apócrifos” (1): estes escritos constituem mesmo a maior fonte de informação sobre a vida da Mãe do Cristo, porque foram redigidos na época e por pessoas diretamente relacionadas com a vida da Santa Família.
Ainda que esses escritos não sejam canônicos (2), muitos deles são considerados escritos fidedignos e são citados, algumas vezes, pela própria Hierarquia da Igreja e seu Magistério.
(1) O termo « apócrifo » (do grego apockryphos = escondido) designa um texto geralmente atribuído a um escritor próximo do meio ou da época do Cristo, mas que não foi incluído no cânone das Escrituras bíblicas cristãs.

(2) O Cânone (do grego kânon = regra) é a lista das Escrituras cristãs reconhecidas como inspiradas. Um livro é “canônico” quando faz parte da Bíblia, e nisto difere do livro “apócrifo”.

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