Pe. Alexandre Awi Mello, ISch,
Nos seus 30 anos de existência a
Academia Marial de Aparecida tem testemunhado e refletido sobre a fé mariana de
nosso povo. No meio dele, e como expressão condensada do seu sensus fidei (cf.
Lumen Gentium 12), destaca-se o grande amor que os Papas deste período têm
devotado à Mãe de Jesus. Fundada no pontificado de São João Paulo II, a
Academia se sentiu estimulada pelo testemunho deste Papa, cujo lema, dirigido a
Maria, era nada menos que Totus tuus (“Todo teu, Maria”).
Seu sucessor Bento XVI, embora
mais discreto em suas manifestações exteriores de piedade, cultivou também um
profundo amor a Nossa Senhora. A título de exemplo, mencione-se apenas o fato
de ele ter escolhido Aparecida para ser sede da V Conferência Geral do CELAM,
justamente por ser um Santuário mariano. Sabemos do grande efeito que este fato
teve nas conclusões do documento final e na vivência dos bispos ali reunidos,
entre
eles aquele que viria a ser o próximo pontífice: o Cardeal Jorge Mario Bergoglio. Já como Papa, em seu discurso aos bispos do CELAM, no Rio de Janeiro, ele recorda que “a presença de Nossa Senhora, Mãe de América”, foi uma das “colunas do desenvolvimento [da Conferência] de Aparecida, que lhe deram originalidade” (28/7/2013).
De fato, o amor a Maria pertence
à íntima “identidade dos povos latino-americanos” (cf. Puebla 283). Como típico
integrante deste povo e profundamente identificado com ele, o Papa Francisco
cultiva desde a infância uma relação pessoal e afetiva com Maria, e essa
relação é importante para entender seu pontificado e sua visão da Igreja.
Contudo, expressar em poucas palavras a riqueza desta relação é uma tarefa
arriscada. Há pouco tempo atrás tive a graça de conversar por mais de uma hora
com o Papa Francisco sobre seus “encontros com Nossa Senhora” e testemunhar
pessoalmente o lugar e a importância de Maria na sua experiência de fé e de
Igreja. De forma sintética procuro esboçar aqui um pouco do que descobri na
ocasião. Para um maior aprofundamento, remeto o leitor ao livro que recolhe e
comenta a mencionada entrevista (cf. “Ela é minha Mãe!” Encontros do Papa
Francisco com Maria. 4ª ed. Loyola, 2015, 256p).
Desde o início de seu
pontificado, chamam a atenção as expressões de amor filial de Francisco
dirigidas a Maria. Em seu primeiro ato como Papa, no dia seguinte à eleição,
fez questão de peregrinar à Basílica de Santa Maria Maior, lugar do primeiro
templo cristão dedicado a Maria no Ocidente, para confiar-lhe seu ministério.
As visitas privadas a esse lugar têm se repetido, quase como um ritual, antes e
depois de cada uma das suas viagens apostólicas.
Ao descrever a origem deste amor
singelo e profundo pela Mãe de Jesus, o Papa Bergoglio se remete à sua família,
de origem italiana, “na qual se vivia a fé de forma simples e concreta”, e em
especial à sua avó Rosa, que caracteriza como a pessoa que mais “marcou seu
caminho de fé”. Em nossa conversa comentou que “desde pequenos [lhes] ensinavam
em casa a rezar as três Ave Marias e a realizar pequenas devoções”. E agrega:
“Sim, Nossa Senhora sempre esteve presente!” Ainda recorda uma pequena imagem
de metal de Nossa Senhora das Mercês que ganhou de presente aos 11 anos: “Eu a
senti como algo que tinha tudo a ver comigo, que me caía bem, que era uma
referência familiar, pessoal”. Em casa aprendeu a rezar o terço, costume que o
acompanha até hoje: “Sou do rosário diário!”, faz questão de ressaltar. E
justifica essa sua prática de forma muito simples: “O rosário me faz bem!”.
No colégio dos salesianos e no
vínculo pessoal ao Pe. Enrique Pozzoli, salesiano muito próximo a sua família,
aprendeu a devoção a Maria Auxiliadora, que sempre o acompanhou. Não só nos
dias 24 de maio Bergoglio se dirigia à bela basílica no bairro de Almagro.
“Como Bispo, cada vez que tinha um problema eu ia lá”, relata. “Tanto que
quando os padres do santuário me viam chegando diziam: Aí vem o Bispo. Deve
andar com um problemão daqueles!”
Dom Bergoglio teve também
variadas e belas experiências de fé no Santuário de Nossa Senhora de Luján, em
especial nas muitas horas que passava confessando durante as multitudinárias
peregrinações juvenis realizadas todos os anos. “Fui me envolvendo nas
peregrinações”, relatou-me, “e aí eu descobri o que são os milagres de Nossa
Senhora, as coisas que ela faz. É que ela mexe com as consciências, é a mãe que
coloca as coisas em ordem”, explica o Papa.
Outra devoção com frequência
associada ao Cardeal Bergoglio é a de Nossa Senhora “Desatadora dos Nós”:
“Mandaram-me uma saudação de Natal com a imagem, e eu gostei dela”, explica o
Papa negando o fato, muitas vezes afirmado, de que ele tenha conhecido esta
devoção na Alemanha. Gostou dela, pediu mais estampas e começou a
distribui-las. “Nunca me senti tão instrumento nas mãos de Deus”, confidenciou
uma vez referindo-se à crescente difusão desta devoção em seu país.
Jorge Bergoglio tem ainda orações
marianas preferidas, como a Sub tuum praesidium (“À vossa proteção
recorremos”), a oração mariana mais antiga da Igreja (séc. II-III), e a Alma
Redemptoris Mater (“Ó Mãe do Redentor”), e tem peregrinado por muitos santuários
marianos. Estes constituem uma verdadeira “geografia da fé” mariana de nossos
povos, como indicou o papa peregrino, São João Paulo II (cf. Redemptoris Mater
28). A geografia da piedade mariana do Papa Francisco é vasta e, desde 2007,
passou a fazer parte dela nosso Santuário de Aparecida, “casa da Mãe de cada
brasileiro”, como ele mesmo o definiu ao fazer questão de voltar lá em sua
recente visita ao Brasil.
Tudo isso, porém, vai muito mais
além da simples devoção; é expressão de sua profunda experiência espiritual e
pastoral. Neste sentido, considero que há duas “chaves” para entender tanto o
coração mariano do Papa Francisco, como o lugar de Maria na sua ação pastoral.
A primeira é o grande valor que ele dá à piedade popular, como experiência de
uma autêntica “espiritualidade popular” (Aparecida 263), como ele gosta de
recordar; um caminho original pelo qual Deus conduz seu povo, um “lugar
teológico”, expressão cultural e sapiencial do povo cristão. Bergoglio ama
Maria como o povo de Deus, em especial os mais simples, a amam, com as típicas
manifestações da religiosidade popular, porque “os pobres são ricos na fé”. E
isso é expressão da “Igreja pobre para os pobres”, reivindicada por ele, que
reza do jeito que o povo simples reza, e liberta o pobre a partir desta
espiritualidade popular, e não apesar dela.
A segunda “chave” é, a meu ver, a
profunda relação que o Papa vê entre Maria e a Igreja, pois ambas estão
chamadas a ser Mãe. A principal definição de Igreja que se encontra nas suas
palavras é a da Igreja como Mãe, a exemplo de Maria Mãe (cf. sua catequese em
11/9/2013). Uma mãe misericordiosa, cheia de ternura, que abraça, acolhe,
alimenta, sai ao encontro dos seus filhos. Por isso, na hora de me responder
quem é Maria para ele, Bergoglio não titubeia: “Ela é a minha mãe!” Essas
palavras resumem tudo o que conversamos; condensam toda uma vida de amor e
vínculo profundo entre Jorge Mario e Maria. Ela é simplesmente mãe: dos pobres,
da família, mãe de todos. Mãe mulher, mãe da nossa fé e da nossa esperança.
Esta é a experiência milenar da Igreja, é a experiência de milhões de cristãos.
É a experiência viva e real do coração do Papa Francisco.
Pe. Alexandre Awi Mello, ISch
Diretor nacional do Movimento de
Schoenstatt no Brasil
Membro da Academia Marial
Komentarze
Prześlij komentarz
Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!