A Linguagem devocional de Santo Afonso de
Ligório a Maria
Publicado
em: 01/08/2014
Quem
teve a oportunidade de ler a obra Glórias de Maria, de Santo Afonso Maria de
Ligório, certamente percebeu com que alegria e seriedade ela foi escrita.
Quando lembramos no Evangelho de São Lucas (5,45) que a boca fala daquilo de
que o coração está cheio, é de se admirar quão cheio de amor por Maria está o
coração do nosso Santo Afonso, nada do que foi dito peca pela falta ou excesso,
o que vemos é a abundante fonte de vida que só deseja uma coisa: comunicar o
amor. Porém, o que parece a primeira vista uma tarefa fácil, permanece e
continuará permanecendo um esforço árduo e angustiante. Inúmeras foram as
descobertas na literatura e inúmeros foram os seus saltos linguísticos – desde
uma apreciação puramente estética ao um conteúdo ético-religioso do amor.
Quando nós, por outro lado, nos adentramos no âmbito do Cristianismo, nós nos
deparamos com uma encruzilhada, porque o Cristianismo, com a sua cruz fincada
no coração do mundo, instaura uma nova qualidade incomunicável outrora pela
linguagem que herdamos de Homero e de
toda as categorias de existência trágico-cômica do mundo grego.
Um
estudo de Erich Auerbach, na obra Mimesis, mostra com grande nitidez como a
linguagem reflete a percepção da realidade ao comparar duas civilizações
paralelas como a Grécia antiga e o Judaísmo. Segundo o autor, na linguagem
homérica o elemento de tensão é quase nulo senão débil, o estilo homérico só
conhece o primeiro plano, “só um presente uniformemente iluminado,
uniformemente objetivo”. Diferente da Odisseia, Abraão e Deus não estão
localizados num primeiro plano, não se sabe de onde vem a voz de Deus e nem de
onde Abraão responde. A linguagem Bíblica narra uma tensão interior presente
entre os interlocutores, isto é, uma tensão opressiva. Porém, se o poema
homérico nos parece mais elaborado, a linguagem bíblica consegue atingir uma
riqueza de camadas simultaneamente sobrepostas da consciência e o conflito
entre as mesmas que a linguagem direta não consegue captar.
Com
a entrada do Cristianismo a tensão da linguagem bíblica se torna absoluta por
carregar o paradoxo do Deus-homem. Incomunicável pela linguagem direta, Santo
Afonso consegue comunicá-lo através do amor de Maria que sustenta sozinha o
paradoxo da cruz, ou como bem ressalta o Santo nas palavras do Eclesiástico
(24,8) conferidas a ela: “Eu sozinha rodeei o giro do céu”. Não é por acaso que
Santo Afonso encerra cada subcapítulo com um Exemplo e Oração, pois são
elementos da linguagem devocional. Se muitos estudiosos enfatizaram tanto o
fato de que Santo Afonso não cometeu nenhum deslize teológico e doutrinal ao
afirmar a mediação de Nossa Senhora, então, deve-se, igualmente, enfatizar a
sua insistência nos relatos históricos que testemunharam o amor de Maria, não
como um apêndice à prova teológica, mas como uma nova camada da consciência
humana, a saber, da presença continua de Maria que se comunica no mundo através
da devoção.
Ana
Alice Mattielo
Associada
da Academia Marial de Aparecida
22/07/2014
– Para o Jornal O Santuário
Komentarze
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!