Virgindade perpétua
de Maria
9.1. Conceito de virgindade perpétua de Maria
** O dogma
da virgindade perpétua de Maria significa que ela foi sempre virgem.
- Assim, Maria permaneceu sempre
virgem, antes do parto, durante o parto e depois do parto.
- Maria concebeu Jesus Cristo por
ação do Espírito Santo, sem ter relações sexuais com José, seu esposo.
- A afirmação da virgindade
perpétua de Nossa Senhora pertence à fé cristã.
- O Concílio de Latrão preconizou
como verdade a Virgindade Perpétua de Maria, no ano 649, expressando-se deste
modo:
è “Se alguém não confessa segundo os Santos Padres
que a santa e sempre virgem e imaculada Maria seja, no sentido próprio e
segundo a verdade, Mãe de Deus, enquanto própria e verdadeiramente no final dos
séculos concebeu do Espírito Santo sem sêmen e deu à luz sem corrupção,
permanecendo mesmo depois do parto a sua indissolúvel virgindade, o próprio
Deus Verbo nascido do Pai antes de todos os séculos, seja condenado”.
A) Bases bíblicas
** O Novo Testamento atesta que Maria foi mesmo virgem.
-
No Novo Testamento, há duas tradições autônomas que
dão testemunho claro da virgindade de Maria, uma reforçando a outra: Evangelho
de São Mateus (1,18-25) e Evangelho de São Lucas (1,26-38).
-
De acordo com as tradições mateana e lucana, Maria
concebe e gera Jesus por obra do Espírito Santo (Mt 1,20;Lc 1,35).
-
Mateus e Lucas são unânimes em afirmar que José não
teve relações sexuais com Maria, não a engravidando, nem outro varão (Mt
1,16.18-25;Lc 1,31.34-35;3,24).
-
Como virgem e mãe, Maria é a única origem humana de
Jesus Cristo (Mt 1,16-25;Lc 1,27.35).
B) Magistério
** A virgindade perpétua de Maria constitui antigo dogma da Igreja,
proclamado pelo magistério depois de sua maternidade divina.
-
No
Símbolo Apostólico confessamos: “Nasceu da Virgem Maria”.
-
O Credo
Niceno-constantinopolitano também deixa claro: “se encarnou pelo Espírito
Santo, no seio da Virgem Maria”.
-
S. Inácio
de Antioquia (+110) atestava: “O Filho
de Deus verdadeiramente nasceu de uma virgem” (Carta aos Esmirnenses 1,1).
** Os concílio ecumênicos definem a
verdade da virgindade perpétua de Maria.
- Em
451, o Concílio de Calcedônia declarou que Jesus é “nascido de Maria Virgem”.
- Em
553, o Concílio de Constantinopla II declarou: “Encarnou-se da gloriosa Mãe de
Deus e sempre Virgem Maria”.
- Em
649, o Concílio
de Latrão fez da virgindade de Maria um autêntico dogma.
** De maneira clara e precisa, o Papa Paulo IV afirmou a noção da
virgindade permanente de Maria.
-
Na bula “Cum quorumdam hominum”, datada de 7 de
agosto de 1555, o Papa Paulo IV afirmou que Nossa Senhora é sempre virgem
-
Ou seja, Maria é virgem antes do parto, no parto e
depois do parto.
-
O dogma da virgindade perpétua de Maria tem sido
reiterado por outros papas.
** O Concílio
Vaticano II preconizou a concepção virginal de Jesus Cristo em Maria.
- Concílio afirma que o nascimento
de Jesus sagrou a integridade virginal de Maria.
- O Concílio diz textualmente:
è
No dia de
natal, a “Mãe de Deus mostrou cheia de alegria aos pastores
e magos seu Filho primogênito, que não lhe violou, mas sagrou a integridade
virginal” (L. G.,
no. 57).
** O Catecismo
da Igreja Católica mostra que sempre a Igreja acreditou na virgindade
de Maria (nos. 496-507).
- O Catecismo afirma que a Igreja,
desde os tempos apostólicos, sempre professou que Maria concebeu Cristo somente
pelo poder do Espírito Santo (no. 496).
- No Catecismo, os relatos evangélicos
são claros ao preconizarem que Maria é mãe virginal, pois a concepção de Jesus
Cristo foi obra do Espírito Santo (no. 497).
- De acordo com o Catecismo, o
dogma significa que Maria foi virgem antes de conceber Jesus, no parto e depois
que Jesus nasceu (no. 499).
- O Catecismo esclarece que Jesus é
Filho do Pai celeste segundo a natureza divina e Filho de Maria segundo a
natureza humana, mas propriamente Filho de Deus nas duas naturezas, havendo
nele uma só Pessoa, a divina (no. 498).
C) Senso dos fiéis
** A grande Tradição da Igreja é unânime em afirmar
a virgindade perpétua de Maria, não só na palavra dos Santos Padres e pela
liturgia, mas, sobretudo, por meio do senso
dos fiéis.
- Os amantes de Cristo não suportam
ouvir dizer que a Mãe de Deus deixou um dia de ser virgem (São Basílio).
- Afirma que Maria deixou de ser
virgem é um crime abominável e uma blasfêmia (Santo Ambrósio).
- Não dá para pensar, em absoluto,
que naquela carne em nascer a Verdade possa perecer a integridade (virginal)
(Santo Agostinho)
- Aos corações dos fiéis repugna
submeter Maria à maldição de Eva (Pascásio Radberto, século IX, referindo-se ao
parto entre dores de Gn 3,16).
** A expressão
“a Virgem” tornou-se cedo (desde o século II) o nome próprio de Maria,
como foi o caso da designação “Cristo” para Jesus.
- Os Santos Padre usam “Virgem”
três vezes mais do “Mãe de Deus” (3.567 contra 1.009).
- Refere Santo Epifânio:
è
“Quem, por acaso, e quando ousou pronunciar o nome
de Maria sem acrescentar de imediato ‘a Virgem’, quando interrogado”.
- Aliás, até hoje, “a Virgem” é o
nome que o povo mais usa para se referir a Maria.
- Tornou-se até uma exclamação
corrente: Virgem Maria, Virgem, Vixe, Ixe.
** Sempre houve na história contestações contra a virgindade de Maria.
- Mas a Igreja nunca cedeu às
contestações.
- A Igreja guardou a fé da grande
Tradição, convencida de que a virgindade de Maria pertence à esfera do mistério
e do milagre.
- Essa é uma área da exclusiva
competência de Deus, como explica o anjo a Maria (Lc 1,37).
9.3. Explicação teológica da virgindade perpétua de Maria
A) A virgindade de Maria implica a virgindade do corpo, dos sentidos e
do coração
** A virgindade de Maria implica a virgindade do corpo, dos sentidos e do
coração.
█
Virgindade do corpo: é a normal integridade fisiológica.
î Para os Padres da Igreja, a
virgindade de Maria compreendida sua integridade biológica, sem, contudo, se
reduzir a ela.
█
Virgindade dos
sentidos: é a não experiência de relação
sexual.
î Maria não teve relação sexual com
varão.
█
Virgindade do
coração: é a entrega total e perpétua a
Cristo a seu Reino.
î Tal entrega é a essência da
virgindade, que Maria realizou de forma insuperável.
** Assim sendo, a virgindade de Maria não é mera virgindade simbólica ou metafórica.
- Tal visão simbólica e metafórica
é o pensamento de alguns antropólogos (J. Campbell) e de muitos modernos.
- Essa visão não procede porque os
fatos da revelação são muito encarnados, corpóreos e mesmo viscerais, embora
sempre a serviço do Espírito.
B) A virgindade de Maria é
integral
** A virgindade de Maria é integral.
- A virgindade de Maria é completa,
não só no sentido da real entrega do corpo e alma a Deus, mas também no sentido
de uma entrega perpétua.
- Em outras palavras, Maria não foi
só toda de Deus, mas foi também sempre de Deus.
- Portanto, a prestação de Maria
não foi passageira, mas permanente e total, sem resto algum.
- Maria é a “virgem absoluta”
(Santo Tomás).
** Por viver a virgindade total e perpétua, Maria
se sentiu tão plenificada por Cristo,
o consumador de tudo, que não podia conceber outro filho.
- O amor ao seu Filho único
respondia totalmente às suas expectativas de mulher (A. Serra).
- Depois que foi invadida e
possuída totalmente pelo Espírito de Deus, Maria não podia pertencer mais a
homem nenhum.
- Por isso Orígenes afirmava:
è
“A dignidade de Maria exige que aquele corpo,
destinado a servir ao Verbo e sobre o qual descera o Espírito Santo, na
conhecesse relação sexual com homem nenhum”.
** A virgindade plena de Maria faz dela a virgem por antonomásia.
- Por isso, Maria é “sempre-virgem”
(“aeiparthenos”) ou ainda a virgem perpétua.
- Na iconografia oriental, a figura
da Mãe de Deus traz em geral no véu três estrelas, simbolizando justamente sua
tríplice virgindade.
C) Virgem antes do parto, no
parto e depois do parto
** A virgindade de Maria é perpétua, ou seja, antes do parto, no parto e depois do
parto.
- A reflexão teológica cedo
especificou os três momentos do mistério/milagre da virgindade perpétua de
Maria: antes do parto, no parto e depois do parto.
- Isso já nos inícios do século IV,
com S. Zeno de Verona, S. Pedro Crisólogo e Santo Agostinho.
█
Virgindade antes do
parto: Jesus nasce da concepção operada
pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria.
î Maria foi virgem antes do parto.
î A virgindade de Maria antes do
parto é um dado incontestável do Novo Testamento.
î A concepção de Jesus não foi
fruto de relações matrimoniais de Maria com José, mas aconteceu por pura graça e iniciativa de Deus, envolvendo a resposta
humana e a participação dela.
î A
concepção de Jesus. A encarnação do Verbo de Deus constitui uma nova criação,
um presente de Deus aos homens.
î A
Igreja sempre afirmou a virgindade de Maria.
î Houve
pessoas que negaram a virgindade de Maria fora e dentro da Igreja, de tal modo
que defendiam que Jesus seria filho de José ou de outro homem.
î Fora
da Igreja, vários negaram a virgindade de Maria: o filósofo pagão Celso,
Juliano Apóstata, os judeus, propagando a lenda negra da “origem ilegítima de
Jesus”, assim como os racionalistas hoje.
î Dentro da Igreja, alguns negaram
a virgindade de Maria: os ebionitas, alguns gnósticos tais como Carpócrates e
Cerinto, bem como vários exegetas atuais, que tratam a virgindade de Maria como
mito, lenda ou mero símbolo.
î É preciso dizer que essas
posições críticas, na verdade heréticas, são afirmações de minoria, das quais o
povo fiel sempre tomou distância e que o magistério da Igreja reprovou
terminantemente.
█
Virgindade no parto: Maria permaneceu virgem no parto.
î Jesus não violou a integridade
virginal de Maria, mas a sagrou.
î O fato de que Maria tenha
permanecido virgem no parto sob o ponto de vista físico e moral constitui um
dado de fé, definido pela Igreja.
î Mas os documentos eclesiásticos
nunca entraram em minúcias, nem deram explicações biológicas e ginecológicas do
fato.
î A teologia tem procurado
explicitar e aprofundar este aspecto do dogma mariano, embora considere o ponto
mais delicado.
î Diversos especialistas
interpretam o fato como especial milagre de Deus.
î O parto virginal, como a
concepção virginal, só se explica porque a Deus nada é impossível (Lc 1,37).
î Santo Agostinho diz:
&& “Nessas
coisas, a razão do fato está na onipotência de quem o fez”.
î Santo Tomás afirma, sem
hesitação, que o parto de Maria foi “totalmente miraculoso”.
î A Tradição da Igreja mostra uma convergência
impressionante em torno da virgindade de Maria no parto.
## Liturgia:
++: O mais antigo prefácio mariano, que remota ao
século VII e é fixado em 1095, reza: “E conservando a glória
de sua virgindade, Maria deu ao mundo a Luz eterna”.
++: A oração da missa de 19 de dezembro diz: “Ó
Deus, que revelastes ao mundo o esplendor de vossa glória pelo parto virginal
de Maria”.
++: Ademais, como fez notar Santo Ambrósio, o Credo
Apostólico declara expressamente: “Nasceu da Virgem Maria”, e não apenas “foi
concebido da Virgem Maria”.
## Padres da Igreja:
++: Santo Inácio de Antioquia fala do parto da Virgem
Maria como um mistério clamoroso (“parto admirável”, diz o Papa Pio XII na Mystici
Corporis).
++: Há nesse ponto, entre os Padres da Igreja, imensa
unanimidade, com somente duas exceções (na verdade uma e meia): apenas
Tertuliano e Orígenes, e este só em parte, dizem que o parto da Mãe de Jesus
foi natural, e não miraculoso.
++: No século IV, um monge, Joviniano, afirmava que
Maria “concebeu virgem, mas não gerou virgem”.
++: Esse monge foi, porém, rebatido por gigantes como
Ambrósio, Jerônimo e Agostinho.
## Magistério:
++: Os documentos do Magistério fizeram afirmações
magistrais em favor da virgindade em geral, incluindo no parto.
++: O Concílio Vaticano II faz uma formulação discreta:
nascendo de Maria, Cristo “não lhe violou, mas consagrou a integridade
virginal” (L. G., no. 57).
## Senso dos fiéis:
++: Vários apócrifos atestam a virgindade de Maria no
parto, como a Ascensão de Isaías (n. XI), as Odes de Salomão (n. XIX) e,
especialmente, o Protoevangelho segundo Tiago (XIX-XX).
++: O Protoevangelho segundo Tiago registra que havia
na comunidade um falatório sobre se Maria, depois de ter gerado Jesus, tinha ou
não continuado virgem.
++: Tal texto, então, descreve, segundo um realismo bem
popular, a “prova ginecológica” do que a que a Santa Virgem foi temerariamente
submetida e da qual sai vitoriosa (Protoevangelho segundo Tiago, XX, 1-4).
++: Há uma quadrinha popular que remonta à Idade Média
e que se espalhou pelos quatro cantos da cristandade.
++: A quadrinha reza, na versão portuguesa: “No
seio da Virgem Mãe / Encarnou divina graça: / Entrou e saiu por ela / Como o
sol pela vidraça”.
î O sentido teológico da virgindade
de Maria no parto é riquíssimo e belíssimo.
## Primeiro sentido: O
parto de Jesus em Maria é divino.
++: Ou seja, o parto de Jesus em Maria é digno de Deus
ou conveniente à dignidade do Verbo (Papa Hormisdas, Santo Ambrósio, Santo
Tomás etc.).
++: O corpo da Virgem foi comparado por Santo Ambrósio
e São Jerônimo à “porta oriental” do novo templo descrito por Ezequiel (44,2), porta
que ficaria sempre fechada e só se abriria à passagem do Príncipe do Povo.
++: O corpo da Virgem é também visto como “jardim
fechado, a fonte selada, só acessível ao Amado” (Ct 4,12).
## Segundo sentido: O parto
de Jesus em Maria é paradisíaco.
++: É um parto paradisíaco, como teria sido o de Eva,
antes do pecado.
++: A Imaculada Conceição não foi submetida à maldição
do “parto com dores”, fruto do pecado (Gn 3,16).
## Terceiro sentido: O
parto de Jesus em Maria é messiânico.
++: Foi um parto messiânico, como o de Jerusalém do fim
dos tempos, a qual “antes de sentir as dores, deu à luz um filho” (Is 66,7), segundo Santo Irineu
e São João Damasceno.
++: Como os milagres em geral, esse parto é a
antecipação da plenitude da redenção no “mundo novo”, onde “o
parto se dá na alegria, sem dor” (São Gregório de Nissa).
++: A tanto chegou a potência do Redentor na “primeira
dos redimidos”!
î Hoje há teólogo (A. Mitterer, J.
Galot, D. Fernández, L. Boff etc.) que interpretam a virgindade no parto de
modo simbólico, ou seja, não como integridade fisiológica, mas apenas como
integração espiritual, pois ela teria integrado plenamente na fé os incômodos
da gravidez e as dores do parto.
++: Para eles, Maria teria tido um parto normal, com
dor.
++: Todavia, essa posição, embora não desaprovada pela
Igreja, atrita claramente com o sentido realista que a grande tradição deu à
virgindade de Maria no parto, apesar de certa matriz “encratista” ou anti-sexo
que se insinuou em vastos setores da cristandade quanto à compreensão da
virgindade.
█
Virgindade depois
do parto: Maria permaneceu virgem depois
do parto, não tendo relações sexuais e, consequentemente, não concebendo outros
filhos.
î P Baseando-se
na autêntica interpretação da Bíblica e em sua tradição, a Igreja acredita que
Maria permaneceu virgem após o parto.
î Depois
do nascimento de Jesus, Maria não teve outros filhos, nem consumou seu
casamento com José.
î A
própria Bíblia não diz claramente que ela tenha tido outros filhos.
î Como os “crentes” de hoje, já no
século IV houve quem afirmasse que Maria teria tido outros filhos, apelando
para a expressão do Novo Testamento “irmãos de Jesus”.
î É o caso dos antidicomarianitas
(contrários à integridade virginal de Maria), do ariano Eunômio, do bispo
Bonoso e, especialmente, do leigo Helvídio.
î O leigo Helvídio foi refutado
brilhantemente por São Jerônimo.
î A tradição da Igreja explicou a
expressão “irmãos de Jesus” de dois modos:
## Primeira explicação: Os irmãos de Jesus são filhos de São José e não de Maria.
++: Os irmãos de Jesus seriam, na verdade, filhos de
São José, como consta de alguns apócrifos.
++: Tal modo é a explicação mais aceita ainda hoje
pelas Igrejas grega e síria.
## Segunda explicação: Os
irmãos de Jesus são os parentes de Jesus e não os irmãos de sangue dele.
++: Os irmãos de Jesus seriam, de fato, os parentes
próximos de Jesus.
++: Disso há várias provas:
++: 1ª. prova: é o modo bíblico de falar.
++: Por exemplo, os primos Abraão e Lot se chamam entre
si de “irmãos” (Gn 13,8).
++: 2ª. prova: Tiago e José, chamados em Marcos “irmãos
de Jesus” (6,3), são, autenticamente, filhos de outra Maria, como se sabe
lendo, mais adiante, no mesmo Evangelho(15,47;16,1).
++: 3ª. prova: Jesus moribundo não teria confiado sua
Mãe ao Discípulo amado caso tivesse tido outros irmãos carnais, como já
observara Orígenes.
9.4. Aplicações do dogma da virgindade perpétua de Maria
A) A virgindade de Maria é sinal da identidade de Jesus como Messias
divino
** A virgindade de Maria é sinal da identidade de Jesus como Messias divino.
- A fé na virgindade de Maria
garante a fé na divindade de Jesus, já que a maternidade garante a fé na humanidade
de Cristo.
- Em termos existenciais, a Virgem
é sinal de que o Messias não é criação de potência humana, mas do poder do
Altíssimo, que é o Espírito Santo.
- A Virgem testemunha que o
Salvador vem do céu e não da terra, que é graça de Deus e não conquista do
homem, como explica bem o grande teólogo protestante Karl Barth.
B) A virgindade de Maria mostra que Jesus é dom de Deus
** A virgindade de Maria mostra que Jesus Cristo
não é fruto do esforço humano, mas dom
de Deus (cf. 1,13).
- Tal é o sentido profundo que
também subjaz às narrações de Mateus e Lucas acerca da concepção virginal de
Jesus.
- A expressão do Credo “o qual foi
concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria” se refere respectivamente
ao lado divino (poder do Espírito Santo) e ao lado humano (limitação de Maria
como virgem) do mistério da encarnação.
- A concepção virginal de Jesus não é
prolongamento natural da criação, mas ruptura e renovação como obra da redenção
de Deus, pois Ele vem do alto.
- Maria pertence à humanidade e
representa a história diante de Deus, embora preservada e isenta de toda mácula
do pecado.
C) A virgindade de Maria marca o início do novo povo de Deus
** A virgindade de Maria marca o início do novo povo de Deus.
- Declara Tertuliano: “O
iniciador do novo nascimento devia nascer de forma nova”.
- Ou seja, a virgindade de Maria
mostra que, assim como Jesus nasceu da Virgem por obra do Espírito Santo,
também o povo da Nova Aliança não nasce simplesmente da carne e do sangue, mas
nasce virginalmente da Igreja e espiritualmente do Espírito Santo.
- É isso que sugere a genealogia do
Evangelho de São Mateus (1,1-17): o velho povo de Deus (natural,) nasce do
homem e da mulher e se perpetua por via carnal, enquanto o novo povo de Deus
(sobrenatural) provém da Virgem e do Espírito Santo, perpetuando-se mediante a
fé.
- São João diz o mesmo: os filhos
de Deus “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas sim de Deus” (Jo 1,13).
D) Como Maria, a Igreja gera os filhos de Deus sendo virgem e mãe
** Como Maria, a Igreja gera os filhos de Deus sendo virgem e mãe.
- Os fiéis são gerados
virginalmente pela Igreja, enquanto fecundada pelo Espírito Santo através da
Palavra de Deus e dos Sacramentos.
- Daí ser a Igreja ao mesmo tempo
virgem (enquanto concebe a vida dos fiéis como obra do Espírito Santo) e mãe
(enquanto gera a vida divina em nós).
- É o que ensina o Concílio
Vaticano II na linha de Santo Ambrósio e de outros Padres (L. G., no.
64).
- Como virgem e mãe, Maria é modelo
para a Igreja, em sua função de mãe – que gera, pela pregação e pelo batismo,
os filhos de Deus -, e de virgem – que conserva íntegra a fé, a esperança e o
amor (L. G., no. 64).
E) Cristo veio pelo caminho da virgindade, relativizando o sexo
** Cristo veio pelo caminho da virgindade, relativizando o sexo.
- A virgindade não é em absoluto a
condenação do sexo, pois esse foi feito pelo Criador e tem sua função própria:
a vida e o amor humano.
- A vida e o amor são realidades
que a graça pode assumir e elevar à ordem de sacramento do matrimônio.
- Mas a escolha por Cristo de uma
mãe virgem significa certamente a relativização da sexualidade genital, pois
mostra que esta não tem o poder de conferir a vida nova, espiritual, salvífica,
a vida da graça.
- O sexo é apenas sinal daquela
vida mais alta, e não seu instrumento, e isso é muito relevante num como o
nosso, onde o sexo é idolatrado.
F) A virgindade de Maria é profética no mundo atual
** A virgindade de Maria é profética no mundo atual.
- A virgindade de Maria ajuda os
homens de hoje a romperem com a visão errada de pessoa humana e de sexualidade.
- A maternidade virginal de Maria
pode ajudar a superar preconceitos machistas e moralistas, que consideram o
corpo como pecaminoso, e a mulher, lugar de tentação e desvio.
- Em Maria, o corpo humano,
especialmente o da mulher, se tornou para sempre espaço onde o Espírito do
Altíssimo pousa e faz morada.
- Todo ser humano, independente de
sua condição sexual, tem algo de virgem, e pode se tornar templo de Deus e
espaço aberto das sementes do Reino.
G) A virgindade de Maria é modelo de doação para os cristãos
** A virgindade de Maria é modelo de doação para os cristãos.
-
Por opção livre, Maria permaneceu virgem,
consagrando-se a Deus pela castidade, e, consequentemente, sua decisão generosa
é modelo de doação para os cristãos.
-
Sua virgindade, amor-doação ao Senhor, foi
inseparável da fé, pobreza, obediência, e assim tornou-se fecunda pelo Espírito
Santo.
-
No mistério da Igreja, esta virgindade reúne duas
realidades: Maria é toda de Cristo e toda servidora dos homens.
-
Assim quer ser a Igreja: unida a Cristo e Mãe de
todos os homens.
H) A virgindade de Maria é fonte de inspiração para os pais terrenos
** A virgindade de Maria é fonte de inspiração para
os pais terrenos.
- Pela sua virgindade, Maria se
colocou totalmente a serviço de Jesus e da salvação dos seres humanos,
contribuindo para que eles renascessem para a vida espiritual.
- Os pais começam gerando filhos
para este mundo, no sentido de gerar vidas físicas.
- Agora, se querem gerá-los para a
Igreja e o Reino de Deus, não lhes basta a geração carnal, biológica, pois a fé
não se transmite com a carga hereditária.
- Os pais precisam ainda gerar
filhos na fé e para fé, esse é um parto ao mesmo tempo virginal e espiritual.
I) A virgindade de Maria abre caminhos para os que querem ser somente do
Senhor
** A virgindade de Maria abre caminhos para os que
querem ser somente do Senhor.
- Em sua virgindade, Maria mostra a
vocação específica da consagração, que assume a sexualidade, relativizando sua
mera expressão genital (carnal) e superando-a em vista de um amor transgenital,
ou seja, agápico, oblativo, generoso e gratuito.
- Por meio da virgindade, Maria
mostra uma existência totalmente centrada no serviço do Messias, uma total
disponibilidade ao desígnio de Deus, pois ela viveu isso não só no espírito,
mas também no corpo.
- Por causa dessa atitude, torna-se
exemplo para multidões que, após ela, irão consagrar suas vidas, na virgindade.
- Os castos e celibatários
renunciarão ao matrimônio e à família, não porque os considerem negativos, mas
porque querem viver totalmente para Deus e para os irmãos.
Faltou mencionar livro, capítulo e parágrafo da citação de Orígenes que não consegui em nenhum lugar em que ela é citada.
OdpowiedzUsuńverdade. podemos procurar melhor
Usuń