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Mariologia dogmática

Mariologia dogmática
OS DOGMAS DE FÉ DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA.
O termo "dogma" provém da língua grega, "dogma", que significa "opinião" e "decisão". No Novo Testamento, é empregado no sentido de decisão comum sobre uma questão, tomada pelos apóstolos (cf. At 15,28). Os Padres da Igreja, antigos escritores eclesiásticos, usavam a palavra dogma para designar o conjunto dos ensinamentos e das normas de Jesus e também uma decisão da Igreja.
Pouco a pouco, a Igreja, com o auxílio dos teólogos e pensadores cristãos, precisou e esclareceu o sentido de dogma. Na linguagem atual do Magistério e da Teologia, o "dogma" é uma doutrina na qual a Igreja: quer com um juízo solene, quer mediante o magistério ordinário e universal, propõe de maneira definitiva. É uma verdade revelada, de uma forma que obriga o povo cristão a crer nele, em sua totalidade, de modo que sua negação é repelida como heresia e estigmatizada com anátema. (Marcelo Semeraro, professor de Teologia).

Definidos pelo magistério da Igreja de maneira clara e definitiva, os dogmas são verdades de fé, contidas na Bíblia e na Tradição. Não se tratam de invenções novas, ou coisa apenas dos homens.
Na Igreja os dogmas são importantes, porque ajudam os cristãos a se manterem fiéis na fé genuína do cristianismo. "Os dogmas são como placas que indicam o caminho de nossa fé. Foram criados para ajudar a gente a se manter no rumo do Santuário vivo, que é Jesus" (CNBB. Com Maria, Rumo ao Novo Milênio. pág. 81).
Muitos protestantes combatem os Dogmas da Igreja católica, entretanto não percebem que os dogmas são fundamentos doutrinários que não permitem divergências, e levam a unidade da Igreja.
Para que o ensinamento divino contido nas Sagradas Escrituras seja um dogma são necessárias duas condições:
1) O sentido deve estar suficientemente manifestado.
2) Esta doutrina deve ser proposta pela Igreja como revelada. Quando o texto das Escrituras estiver definido pela igreja como contendo um dogma revelado, com sentido preciso e determinado, é um dever estrito para os católicos aceitá-lo.
"O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão." (Mt, 24, 35)
"Mas, ainda que alguém - nós ou um anjo baixado do céu - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema". (Epístola de São Paulo aos Gálatas, 1,8)
D. 39.1 Definições dos dogmas pela autoridade pela Igreja
§88 O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária.
D. 39.3 Dogmas de fé
§89 Há uma conexão orgânica entre nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no caminho de nossa fé que o iluminam e tornam seguro. Na verdade, se nossa vida for reta, nossa inteligência e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé.
§90 Os laços mútuos e a coerência dos dogmas podem ser encontrados no conjunto da Revelação do Mistério de Cristo. "Existe uma ordem ou 'hierarquia' das verdades da doutrina católica, já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente."
Ao total são 249 dogmas da fé católica.
Dogmas: Por que e para quê?  Normalmente, o termo “dogma” está associado a:- algo incompreensível,- colocado de forma autoritária pelo magistério,- verdade congelada e inflexível,- você é obrigado a aceitar sem questionar.Os dogmas marianos são um problema para o diálogo ecumênico
Início dos dogmas.  Os dogmas nascem nos primeiros séculos do cristianismo, para superar conflitos de interpretação na fé. Um confronto é resolvido através de Concílio. Os principais dogmas respondem às perguntas: quem é Deus para nós, quem é Jesus.
Dogmas na história.  Depois da Reforma Protestante, a Igreja católica valoriza demais os dogmas, como base da teologia e do catecismo. Dogmatismo: tudo o que vem da hierarquia deve ser aceito sem questionamento. Reação: considera a opinião de cada um e relativiza as verdades.
Dogmas hoje. Há dogmas centrais e periféricos. Dogmas marianos centrais: maternidade de Maria e concepção virginal.  Dogmas mais longe do centro: virgindade perpétua, Imaculada e Assunção.


  1. Dogma da Theotókos: Maria, mãe do Filho de Deus encarnado
História do dogma.  Pode uma criatura ser mãe do criador? Fonte bíblica: Maria é mãe de Jesus. Correntes espiritualistas: se Jesus é divino, não teria uma mãe humana. Patrística: afirma a real encarnação de Jesus em Maria e sua importância para a humanidade. Final do século III: surge a oração do Sub Tuum. Maria é parturiente de Deus (theotókos). Santo Agostinho: a maternidade de Maria é consequência e expressão da sua fé.
Contexto do dogma.  Nestório considera a humanidade e a divindade de Jesus como dois compartimentos separados. O Concílio de Éfeso (431) defende a unidade da pessoa de Jesus. Tudo o que se diz de sua humanidade vale para o Filho de Deus. Consequência: Maria não é mãe somente do homem de Nazaré, mas do Filho de Deus encarnado, da sua pessoa inteira.
Sentido teológico da Theotokos.  Deus é comunidade: Pai- materno, Filho e Espírito. Maria é a mãe do filho de Deus encarnado. Maria é uma criatura especial, não uma deusa. Relação especial de Maria com a Trindade: filha predileta e agraciada pelo Pai; mãe, educadora e discípula do Filho, templo do Espírito
 Sentido eclesial. Maria é a imagem da Igreja-mãe:• Comunidade que gera novos filhos pela fé, pelo batismo e pelo testemunho. • Alimenta-os com a eucaristia, a oração, a fraternidade e solidariedade. • Acolhe os mais fracos (opção preferencial pelos pobres).
Sentido espiritual• O cristão, como Maria, gera Cristo em si e nos outros (Cf. Santo Ambrósio). • Cada ser humano tem traços maternos: ternura, calor, intuição, cuidado, acolhida.
Sentido Existencial• Maria vive uma relação materna com Jesus: espera, amamenta, nutre e protege. Dá a Jesus as condições para formar uma personalidade madura e livre. • Maria é mãe-educadora de Jesus. Sabe pontuar os limites do filho e o respeita. Ama sem reter.
  1. Dogma da Virgindade de Maria
Dificuldades em aceitar este dogma.  Valorização da sexualidade e questionamento de moral tradicional, Exegese e gêneros literários: o relato da anunciação não seria somente simbólico? Mentalidade científica: seria impossível uma concepção virginal.
Este dogma tem três componentes, por ordem de importância concepção virginal, opção celibatária, virgindade no parto.
Interpretações da Concepção Virginal.  Literal: aconteceu conforme está contado na bíblia.  Metafórica: o importante é a mensagem, o fato não interessa. A concepção de Jesus é um presente de Deus para a humanidade. Real Simbólica: A concepção de Jesus e seu nascimento são uma nova criação, fruto do dom de Deus e da resposta humana. A concepção virginal vai além da questão sexual, mas é real.
Opção celibatária de Maria.  Mc 6,3s: cita seis irmãos de Jesus. Mas Tiago e Joset são filhos de outra Maria (Mc 15,40; 16,1). • Gal 1,18s: Paulo diz que não viu nenhum outro apóstolo, senão Tiago, o irmão do Senhor. • 1 Cor 9,5: “os irmãos do Senhor”. Paulo escreve para uma comunidade de cultura grega, que conhece palavras como “primo” ou “parente”. Por que fala em “irmãos”? • At 1,14: “Maria a mãe de Jesus e os irmãos de Jesus”. • A primeira geração da patrística (Inácio de Antioquia e Ireneu de Lion) parece desconhecer a virgindade perpétua.
Opção pela virgindade no Proto-evangelho de Tiago • Maria nasce de maneira extraordinária, pois Joaquim e Ana eram estéreis. Ela é uma menina inteligente e precoce. • Maria é levada para o templo aos 8 anos. • Ao se aproximar sua puberdade, deve ser afastada do templo, para não manchá-lo com sangue da menstruação. • Os sacerdotes escolhem um homem idoso para zelar de sua castidade. • Viúvo com seis filhos, José é o escolhido, depois de um sinal maravilhoso.
 Uma tradição que se consolida• Para Jerônimo, os “irmãos de Jesus” seriam seus primos. • Agostinho afirma que José e Maria optaram pelo celibato, antes da anunciação. • A opção celibatária de Maria não se fundamenta na bíblia, mas em testemunhos da Tradição, influenciada pela valorização da castidade consagrada. • A expressão “sempre virgem maria” foi incorporada no Credo.
Virgindade no parto? • Origem: narração mágica do Protoevangelho de Tiago. • Jesus não nasce, simplesmente aparece. A parteira vê que ela permanece virgem. • Salomé não acredita nisso, toca em Maria e seu dedo cai. Pede perdão pela falta de fé e fica curada. • Nos primeiros séculos não se discute sobre o “como” do parto de Maria. Crê-se somente que o nascimento de Jesus não altera sua opção de vida. • Sentido metafórico: no nascimento do Jesus se supera a maldição do Gênesis, do parto doloroso (Gn 3,16).
Sentido teológico-espiritual• O ser humano é como terra virgem, que pode ser muito fértil, quando fecundado pela Palavra. • A virgindade é uma forma legítima de consagrar-se integralmente a Deus (não a única). • Mãe e Virgem: para Deus tudo é possível.
  1. Imaculada Conceição
Questionamentos aos dogmas da Imaculada e Assunção• Não têm base bíblica. • Não vieram de polêmica sobre a identidade da fé cristã. • Não foram decididos por Concílio Ecumênico. • Estão contaminados pelo maximalismo mariano. • Sobrecarregam a Igreja de dogmas e dificultam o diálogo ecumênico.
Resposta aos questionamentos• A revelação cristã é processo aberto de interpretação. • A ausência de concílio se deve a um limite da época. • Imaculada e Assunção foram definidas pelo magistério ordinário, com apoio da Tradição. • São dogmas secundários na hierarquia das verdades da fé. Fazem parte da identidade católica, mas não devem ser assunto de polêmica. • Depois de aceitos, não se pode voltar atrás.
Questões sobre a Imaculada• Se Maria nasce imaculada, qual é o seu mérito? • Como conciliar a imagem bíblica de peregrina na fé com a de Imaculada? • Por que ela é melhor que nós, pessoas comuns? • Maria é um modelo inatingível, portanto ineficaz.
Horizonte bíblico• Lc 1,28 e Gn 3,15 com Ap 12,1 não afirmam o dogma. • Horizonte bíblico de compreensão:• Antes da criação do mundo, Deus nos escolheu em Cristo, para sermos, diante dele, santos e imaculados (Ef 1,4). • Antes de saires do ventre de tua mãe, eu te conhecia e te consagrei (Jr 1,5) • O senhor me chamou desde o ventre materno (Is 49,1) • O triunfo da graça, em Jesus Cristo, em comparação com Adão (Rm 5).
História do dogma da Imaculada• Não há texto bíblico direto sobre a Imaculada• A comunidade cristã dos inícios reconhece que Maria é toda de Deus e caminhante na fé. • Com Santo Agostinho se define “Pecado Original”. • No início da Idade Média cresce a convicção de que Maria foi purificada da “mancha do Pecado Original”. Para uns, durante a gestação, para outros, antes de nascer. • Com o aumento da devoção popular, se espalha a festa da Imaculada. • A euforia mariana do século XIX estimula a definição do dogma (+ Medalha milagrosa). • Após consultas e estudos, Pio IX proclama o dogma da Assunção, em 1854.
História: antecipação da mancha do Pecado Original No momento No Durante a Após a Na do nascimento gestação concepção anunciação
Interpretação tradicional• Adão e Eva tinham dons preternaturais (imortalidade, inocência). Com o Pecado Original, perdem estes dons. • O P.O. é transmitido por geração a todos os descendentes de Adão e Eva. • Conscuspiscência: não é pecado, mas leva a pecar. Enfraquece a liberdade. • A redenção de Cristo atingiu a todos os homens, no passado e no presente. • Maria é a única pré-redimida.
Declaração dogmática (1854) Para a honra da santa e indivisível Trindade, para adorno e ornamento da Virgem Deípara, para exaltação da fé católica e incremento da religião cristã, com a autoridade do Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e Nossa, declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis. (DS 2803)
Sentido atual da Imaculada• Fomos criados em Cristo: “graça original”: Antes da criação do mundo, Deus nos escolheu em Cristo, para sermos, diante dele, santos e imaculados (Ef 1,4). • O ser humano é finito e em processo de evolução. • Há algo que estraga o projeto do Senhor. Está espalhado na humanidade e repercute dentro de cada pessoa. • Ao começar a existir, já estamos sob ação de condicionamentos externos, positivos e negativos, de vida e de destruição.
• As pulsões de natureza biológica, psicológica e cultural deveriam ser integradas. • Na atual condição humana, nós somos desintegrados. Os desejos são também instrumentos para o Mal “Concupiscência”. • A nossa liberdade está comprometida. Precisa ser libertada. É Dom e conquista. • Cremos na vitória da Graça em Jesus Cristo (Rom 5;8). • A Criação-redenção em Cristo (Col 1, Ef 1) é mais importante que o Pecado Original.
• Maria recebe uma graça especial. Nasce integrada, capaz de ser livre e acolher a proposta divina. • A Imaculada é peregrina na fé. Não entende tudo, tem que revisar esquemas e comportamentos. Deve crescer, do bem para um bem maior, como o fez Jesus. • O dogma afirma que Maria é pré- redimida por Cristo, recebe sua graça redentora numa intensidade ímpar. • Esta graça intensa e "original" lhe dá forças para integrar tendências e enfrentar o Mal. Está a serviço de sua missão de perfeita discípula, educadora e mãe do messias.
Música: Imaculada, Maria de Deus• Imaculada Maria de Deus, Coração pobre acolhendo Jesus. Imaculada Maria do povo, Mãe dos aflitos que estão junto à cruz• Um coração que era sim para a vida, Um coração que era sim para o irmão. Um coração que era sim para Deus, Reino de Deus renovando este chão! • Olhos abertos para a sede do povo, Passo bem firme que o medo desterra. Mãos estendidas que os tronos renegam, Reino de Deus que renova esta terra! • Faça-se ó Pai, vossa plena Vontade, Que os nossos passos se tornem memória do amor fiel que Maria gerou, Reino de Deus atuando na história!
A imaculada e nós• Maria se torna mais humana. Realiza o sonho da "Nova Humanidade", o projeto original de Deus para cada um. • A libertação de sua liberdade possibilita que Maria explore até o fundo as potencialidades humanas, tornando-se a criatura mais santa. • O “privilégio” de Maria se torna um serviço para o bem de todos. • Recorremos também a outros santos, que fizeram esforços enormes de conversão.


  1. Assunção de Maria
A assunção de Maria deve ser compreendida em relação à ressurreição de Jesus. Ele abre o caminho da Vida Nova após a morte. O dogma, usando uma linguagem tradicional, quer afirmar que Maria já participa da condição do Cristo ressuscitado.
História do Dogma• Túmulo vazio...• Início da “Festa da dormição” no oriente (séc. V). • Apócrifos do “Transito de Maria” (séc VIII):- Maria recebe com antecedência o anúncio de sua morte e a força para vencer o medo. - Todos os apóstolos se reúnem em torno dela. - Maria morre, como todos os seres humanos. - Ela é levada por Jesus ao paraíso. • Definição do dogma em 1950.
Declaração dogmática (1950) Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apoiam-se, como em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus em estreitíssima união com seu divino Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quaseimpossível imaginar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo (DS 3900). Sendo o nosso Redentor filho de Maria, como observador perfeitíssimo da divina lei não podia deixar de honrar, além do Eterno Pai, também a sua Mãe amantíssima. E podendo ele adorná-la com tamanha honra que a preservasse da corrupção do sepulcro, deve-se acreditar que realmente o fez. (DS 3900).
Declaração dogmática Por isso para glória do Deus onipotente, que à virgem Maria prodigiou sua peculiar benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte, para incremento da glória da sua augusta mãe, e para gáudio e exultação de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e a Nossa, proclamamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Deípara, sempre virgem Maria, completado o curso da vida terrestre, foi assumida em corpo e alma na glória celeste. (DS 3903)
Duas formas de compreender este dogma
Esquema dual:- Ser humano é corpo e alma. - Na morte, há uma separação. - Na ressurreição final, o corpo volta a se unir à alma, já transfigurado. - Maria vive antecipadamente esta união, com Jesus no céu.

Esquema unitário:- Ser humano é uma unidade complexa. - Na morte, passa para uma outra dimensão, rompendo tempo e espaço. - Maria é a segunda ressuscitada.

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