Mariologia
bíblica
1.
Typus de Maria no Antigo Testamento
Grande parte dos estudiosos da Bíblia
está de acordo neste ponto: não há nenhum texto nas escrituras judaicas, ou
primeiro testamento, com a intenção explícita de fazer um anúncio antecipado
sobre Maria. Na realidade, depois que Maria se tornou reconhecida na comunidade
cristã, a partir do século 3, aconteceu uma releitura dos textos bíblicos.
Ampliou-se o sentido original. Assim, algumas imagens e alegorias, como “a
descendência da mulher que esmaga a cabeça da serpente” (Gn 3,15), passaram a
ser compreendidas em relação à mãe de Jesus.
Desde
o Antigo Testamento temos algumas passagens que se referem a Maria, anunciam
Cristo de uma maneira velada e profética, mas também projetam o rosto de Maria
(Arca da Aliança, Arca de Noé, Sarça Ardente, Tabernáculo do Altíssimo, Templo
de Deus, Filha de Sião). O primeiro texto da Bíblia que se refere a Mãe do
Messias é este:” Porei inimizade entre você e a mulher, entre a descendência de
você e os descendentes dela” (Gn 3,15). Este texto do protoeveanglho ressoa em
Jo 2,4 e Jo 19,26; passagens em que Jesus dá a sua Mãe o nome de mulher.
Por
exemplo, em Is 7,12, o profeta, em nome de Deus propôs o sinal: “Sabei que o Senhor mesmo vos dará um
sinal: Eis que a jovem concebeu e dará à luz um filho, e por-lhe-á o nome de
Emanuel” (Is 7,14). Quem é o Emanuel? – Há quem veja nele o rei Ezequias,
filho e Acaz, só que este não preenche o título “Deus conosco”. Isaías tem em vista, o Messias, que é a
garantia de que a dinastia de Davi não será destronada. Em Is
9,5s “Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Traz o cetro do
principado e se chama ‘Conselheiro Admirável, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe
da Paz’. O seu glorioso principado e a paz não terão fim, no trono de Davi e no
seu reino, firmando-o e consolidando-o sobre o direito e sobre a justiça”.
E quem
é a mãe do Emanuel? – É dita “almah” – Há quem veja nela a esposa do rei Acaz,
mãe de Ezequias, cabe lembrar que jamais na Bíblia a palavra “almah” designa uma mulher casada ou
jovem que tenha perdido a virgindade. O grego
em Alexandria, ao criar a versão dos LXX usou o vocábulo “parte-nos”, virgem, e
em Mt 1,23 “Eis que a ‘virgem’ conceberá e dará à luz um filho e lhe dará o
nome de Emanuel”.
A virgindade da mãe do Messias
põe em relevo o caráter extraordinário do seu parto. O filho dessa Virgem Mãe é especial dom de
Deus aos homens, como a salvação é dom de Deus.
E, em conclusão: Isaías garante a Acaz a incolumidade do seu trono. É a salvação a ser trazida em plenitude pelo
Messias; a grande bênção do Deus-conosco exerce ação antecipada nos tempos de
Acaz.
Para entender bem o valor do
sinal assim dado por Isaías, devemos entender: estamos acostumados a ver a
história, como algo que se desdobra do passado para o futuro. No caso dos profetas, requer-se outro modo de
conceituar a história, ela tem seu ponto de partida no futuro. A história sagrada tem seu centro no Messias
ou em Jesus Cristo e é a partir deste que os eventos se sucedem e desenvolvem. Assim, Davi é função de Jesus Cristo, em vez
de Jesus Cristo ser função de Davi.
Miquéias, capítulo 5, verso 1 e
seguintes: “E tu, Belém Éfrata, pequena demais para ser contada entre os clãs
de Judá, de ti sairá para mim aquele que deve governar Israel. Suas origens são
de tempos antigos, de dias imensuráveis.
Por isto Deus os abandonará até o tempo em que dará à luz aquela que
deve dar à luz. Então o que houver restado de seus irmãos, se reunirá aos
filhos de Israel”.
Este texto pode não ser tido como
profecia messiânica; seria explicável simplesmente como anúncio de salvação e
restauração do povo de Israel após o exílio babilônico. Miquéias foi contemporâneo de Isaías. A própria tradição judaica, antes dos
cristãos, viu nestes versículos uma profecia messiânica a anunciar a vinda de
um novo Davi, que governaria com firmeza e segurança o povo de Deus. São Mateus mostra que tal profecia se cumpriu
por ocasião do nascimento de Jesus (Mt 2,6).
Os sacerdotes e escribas de Israel citaram Mq 5,1s para indicar o lugar
em que o Messias devia nascer (Mt 2,4-6).
Não se pode esperar encontrar no AT um
quadro Mariológico muito nítido.
Importa, porém, verificar que as profecias messiânicas mais antigas já
delineiam alguns traços de Maria, concebida como Mãe do Salvador.
A esperança fundamental do AT é a do
Messias. Por isto Maria Santíssima é aí
esboçada estritamente como mãe do Messias. Sendo a prerrogativa principal de
Maria a maternidade messiânica, Isaías não tenciona exaltar a virgindade, mas
tem em vista realçar o dom gratuito do Filho do Messias. Não é o homem quem,
por sua própria capacidade, gera a sua salvação.
O Salmo de Ana - (1 Sm 2:1-10)
“Então, orou Ana e disse: O
meu coração se regozija no Senhor, a minha força está exaltada no Senhor; a
minha boca se ri dos meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação. Não há
santo como o Senhor; porque não há outro além de ti; e Rocha não há, nenhuma,
como o nosso Deus. Não multipliqueis palavras de orgulho, nem saiam coisas
arrogantes da vossa boca; porque o Senhor é o Deus da sabedoria e pesa todos os
feitos na balança. O arco dos fortes é quebrado, porém os débeis, cingidos de
força. Os que antes eram fartos hoje se alugam por pão, mas os que andavam
famintos não sofrem mais fome; até a estéril tem sete filhos, e a que tinha
muitos filhos perde o vigor. O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à
sepultura e faz subir. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta.
Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o necessitado, para o fazer
assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do
Senhor são as colunas da terra, e assentou sobre elas o mundo. Ele guarda os
pés dos seus santos, porém os perversos emudecem nas trevas da morte; porque o
homem não prevalece pela força. Os que contendem com o Senhor são quebrantados;
dos céus troveja contra eles. O Senhor julga as extremidades da terra, dá força
ao seu rei e exalta o poder do seu ungido.”
Neste Salmo de louvor foi o
pano de fundo do Magnificat de Maria.
O
Cântico dos Cânticos apresenta o amor entre um jovem e uma jovem,
desde o início do namoro até o contrato matrimonial, como tipo ou figura do
amor do Senhor Deus pela Filha de Sião. (Ct 6,10) – “Quem é esta que avança como a aurora que desponta, bela
como a lua, incomparável como o sol, terrível como um exército em linha de
batalha?” Esta é tida pelos
Profetas como Esposa de Javé (Is 54,1-8; 62,4s; Os 1-3). Já no NT a Esposa de Javé é a Igreja (2Cor
11,2; Ef 5,25-29), da qual Maria é a miniatura, protótipo e o estado final que
tocará a todos os justos. A Alma de
Maria, cheia de graça, estava (e está) unida ao Senhor Deus mais do que
qualquer criatura.
Os
livros de Provérbios e Eclesiástico personificam a Sabedoria, e os respectivos
autores não a conceberam como simples atributo de Deus, mas como uma pessoa que
assistiu a Deus na obra da criação (Pr 8,22-31 e Eclo 24,3-21).
Merecem registro duas mulheres
do AT: Judite e Ester. Judite
é viúva, figura desprotegida e fraca do ponto de vista humano, fortalecida pela
oração e jejum, realiza a extraordinária façanha; matou o general Holofernes,
que se fazia de grande “deus”. (Jd 13,18) “Por sua vez, dirigindo-se a Judite, falou Ozias: “Tu és
bendita, ó filha, pelo Deus altíssimo, mais que todas as mulheres da terra.
Bendito é o Senhor, nosso Deus, que criou o céu e a terra, e te conduziu para
ferires na cabeça o chefe dos nossos inimigos” Judite foi hipócrita e
mentirosa junto a Holofernes, mas estava no seu papel de espiã adversária; o
procedimento de Judite foi lícito, dado que estava em situação de guerra. À Virgem Santíssima, na Liturgia, são
aplicados os louvores tributados pelo povo a Judite: “Tu és a glória de
Jerusalém! Tu és o supremo orgulho de Israel! Tu és a grande honra do nosso povo!
... Abençoada sejas tu pelo Senhor na sucessão dos tempos!” (Jd 15,9s).
Ester,
figura frágil, israelita na corte do rei Assuero da Pérsia, fortalecida pelo
Senhor Deus, sabe encaminhar os acontecimentos de modo a livrar seu povo do
grave perigo de extermínio planejado pelo Primeiro Ministro Amã; foi a grande
intercessora junto ao rei em prol de sua gente. Est 7,3 – “Ela respondeu: “Se encontrei graça a teus olhos, ó rei, e
se te agrada, concede-me a vida, pela qual suplico, e a vida do meu povo, pelo
qual te peço”.
Judite
e Ester, lembram que é Deus quem salva os homens como Ele quer, servindo-se dos
instrumentos mais precários aos olhos humanos.
Maria foi certamente a humilde serva do Senhor, que a Providência Divina
quis elevar à categoria de nova Eva, intimamente associada à obra de salvação
do gênero humano.
Maria, filha de Sião. (Sl 87,
este nela nasceu).
2.
O Proto-Evangelho
O Antigo
Testamento não fala de Maria, com palavras explícitas. Alguns de seus textos
referem-se à Mãe do Messias, contendo profecias sobre Maria. A Constituição
Dogmática “Lumen Gentium” sobre a Igreja, no Capítulo VIII: A Bem-Aventurada
Virgem Maria Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja (nº 55), refere-se
à mulher, Mãe do Redentor (Gn 3,15); a Virgem Mãe que dará à luz um Filho
chamado Emanuel (Is 7,14 – cf. Mt 1, 22-23), o qual nascerá em Belém (Mq 5,2-3
– cf. Mt 2, 5-6).
“Proto-Evangelho” (Gn 3,15)
Gn 3,15: “Porei hostilidade entre ti e a
mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe
ferirás o calcanhar”. Esse texto da Bíblia é chamado o “Proto-Evangelho”
(primeiro evangelho). A primeira “Boa-Nova” da salvação. Deus compromete-se a
dar aos homens um Redentor. É o primeiro anúncio da vitória do Messias
Redentor, nascido de uma mulher. Quem é a mulher? Em sentido literal se refere
à Eva, a primeira mulher que se deixou seduzir pela serpente; Eva como mãe da
linhagem que há de vencer a serpente. Quem obteria a vitória final sobre a
serpente, num sentido coletivo, seria todo o gênero humano fiel a Deus
Entende-se por “Sentido literal”: “É não apenas legítimo mas indispensável
procurar definir o sentido preciso dos textos tais como foram produzidos por
seus autores, sentido chamado “literal” ... O sentido literal da Escritura é
aquele que foi expresso diretamente pelos autores humanos inspirados”. Conforme
a letra do texto, e este tomado isoladamente, Maria, bem como Jesus Cristo, não
aparecem na passagem bíblica. Sob o aspecto mariológico, se bem que o texto não
fale diretamente de Maria, explica o Concílio Vaticano II, Maria “já é
profeticamente esboçada na promessa dada aos primeiros pais caídos no pecado,
quando se fala da vitória sobre a serpente (cf. Gn 3,15)”. (Constituição
Dogmática “Lumen Gentium” Sobre a Igreja, nº 55).
Além do “sentido literal”, a Igreja reconhece um “sentido pleno”. “Define-se o sentido pleno como um sentido mais
profundo do texto, desejado por Deus, mas não claramente expresso pelo autor
humano. Descobre-se sua existência em um texto bíblico quando se estuda esse
texto à luz de outros textos bíblicos que o utilizam ou em sua relação com o
desenvolvimento interno da revelação. Trata-se, então, ou do significado que um
autor bíblico atribui a um texto bíblico que lhe é anterior, quando ele o
retoma em um contexto que lhe confere um sentido literal novo, ou ainda do
significado que a tradição doutrinal autêntica ou uma definição conciliar dão a
um texto da Bíblia”. 3 João Paulo II, na Carta apostólica “Fides et Ratio”
Sobre as relações entre fé e razão esclarece: “...não se deve subestimar o
perigo que existe quando se quer individuar a verdade da Sagrada Escritura, com
a aplicação de uma única metodologia, esquecendo a necessidade de uma exegese
mais ampla que permita o acesso em união com toda a Igreja, ao sentido pleno
dos textos.” (Nº 55). Sentido pleno faz crescer na Igreja, o significado mais
profundo das palavras da Escritura, quando são estudadas considerando-se os
caminhos do Senhor na história da salvação. “A Bíblia se explica pela Bíblia
por inteiro”. O Catecismo da Igreja Católica ensina: “O Concílio Vaticano II
indica três critérios para uma interpretação da Escritura conforme ao Espírito
que a inspirou:
1) Prestar muita atenção “ao conteúdo e
à unidade da Escritura inteira”. Pois, por mais diferentes que sejam os livros
que a compõem, a Escritura é una em razão da unidade do projeto de Deus, do
qual Cristo Jesus é o centro e o coração, aberto depois da sua Páscoa...
2) Ler a Escritura dentro “da Tradição
viva da Igreja inteira” ... Com efeito, a Igreja leva na sua Tradição, a
memória viva da Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que lhe dá a
interpretação espiritual da Escritura...
3) Estar atento “a analogia da fé”. Por
“analogia da fé” entendemos a coesão das verdades da fé entre si e no projeto
total da Revelação “(nº 112/114). Aplicando esses princípios a Gn 3,15, pode-se
dizer que o descendente da mulher foi o Messias. Com o Messias Jesus fica
implicada sua mãe. O sentido pleno aponta para Jesus e Maria.
Interpretação
da Tradição
A tradição católica interpreta Gn 3,15
como o anúncio da vitória do Messias, nascido de uma mulher. É o primeiro
anúncio da salvação que Cristo trouxe destruindo as obras do demônio. A
tradição católica reconheceu aqui a pessoa de Maria e o papel importante da mãe
do Messias. No século II, encontramos nos Padres da Igreja o tema da comparação
Eva/Maria. Eles viram a pessoa de Maria associada com Jesus para a salvação de
todos os homens, como Eva com Adão no pecado. O paralelismo Maria nova – Eva
associado com Cristo novo- Adão, na luta contra o diabo, luta que termina pela
vitória total sobre o demônio (protoevangelho). Somente depois de realizada a
obra redentora compreendemos que Cristo é o “segundo Adão” (Rm 5,12-19).
São Justino (+ 165) afirma: “<Jesus>
se fez homem por meio da Virgem, de sorte a ser
finalizada a desobediência, oriunda da
serpente, por ali mesmo onde havia começado. Eva era virgem e incorrupta;
concebendo a palavra da serpente, gerou a desobediência e a morte. A Virgem
Maria, porém, concebeu fé e alegria quando o anjo Gabriel lhe anunciou a boa
nova”... (citado em C. Folch Gomes, Antologia dos Santos Padres, Paulinas,
1979, p. 79). Santo Irineu (+ 202) acrescenta: “Ora, como Eva..., que tendo-se
feito desobediente, se tornou causa de morte tanto para si quanto para todo o
gênero humano, também Maria...obedecendo, tornou-se causa de salvação tanto
para si quanto para todo o gênero humano...” (citado em S. Fiores e S. Meo,
Dicionário de Mariologia, Paulus, 1995, p. 1006). Santo Epifânio (+ 403) diz:”
Numa consideração exterior e aparente, dir-se-ia que de Eva derivou a vida de
todo o gênero humano, sobre a terra. Mas na verdade é de Maria que deriva a
verdadeira vida para o mundo, é ela que dá à luz o Vivente, ela a Mãe dos
viventes. Portanto, o título de “mãe dos viventes” queria indicar, na sombra e
na figura Maria.”(Ibidem C.F.Gomes, p. 306). Daí o título de “Nova Eva”. Maria
é a mulher “mãe dos vivos”, pois deu a luz o vencedor da morte.
3. Typus de Maria nas
cartas de São Paulo
Maria, a ignorada – Os
primeiros escritos do Novo Testamento foram as cartas de São Paulo. E nelas há
3 referências ao nascimento de Jesus, porém nunca se fala de Maria. A primeira
está na Carta aos Filipenses, na
qual ele diz que Jesus “nasceu à semelhança dos homens” (2,7). A segunda, na Epístola aos Romanos, diz que Jesus
nasceu “como homem, da família da Davi” (1,3). A terceira, a mais explícita, em
Gálatas 4,4: “quando chegou a
plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher”. Vemos,
pois, que Paulo nunca menciona Maria. O fato é que Paulo concentrou toda sua
pregação unicamente na morte e ressurreição de Jesus. Tudo mais ficou em
segundo plano para ele.
No NT os relatos a respeito de Maria são
incompletos, não sistemáticos e, as vezes, contraditórios. Também referem-se a
Maria, as palavras do Evangelho de João, as mesmas dirigidas a Igreja: “Mas o
Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas
as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14,26) e “Quando vier
o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que
procede do Pai, ele dará testemunho de mim” (Jo 15,26).
Paulo
não fala da maternidade de Maria, ele não se preocupa como o Filho de Deus
tornou-se homem, mas diz que assim aconteceu. Paulo fala que Jesus é verdadeiro
homem e verdadeiro Deus. Em sua carta aos Gálatas escreve
assim: "Dos outros apóstolos não vi
mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor”. Gal 1,19. Paulo afirma que o
Senhor teve irmão, põem, não explica em que sentido usa a palavra irmão: no
sentido exato ou no sentido mais amplo.
Aos
Romanos ele escreve: “Paulo, servo de Jesus Cristo, escolhido para ser
apóstolo, reservado para anunciar o Evangelho de Deus; este Evangelho Deus
prometera outrora pelos seus profetas na Sagrada Escritura, acerca de seu Filho
Jesus Cristo, nosso Senhor, descendente de Davi quanto à carne, que, segundo o
Espírito de santidade, foi estabelecido Filho de Deus no poder por sua
ressurreição dos mortos” Rm
1,1-4. Aqui Paulo não informa
que Jesus é descendente de Davi. O mesmo está em 2 Tm 1,8; “Lembra-te de Jesus Cristo, saído da estirpe de Davi e
ressuscitado dos mortos, segundo o meu Evangelho” - como esta promessa dada a
Davi passou para Jesus – através do pai ou da mãe – aqui isso não está
explicado.
Paulo
não estava interessado na família de Jesus nem os seus pais. Falando da
dignidade messiânica ele usa dois termos a vida “segundo a carne”’ e “segundo o
espírito”. Em Gal 4,4, fala sobre a mãe de Jesus como aquela que lhe transmitiu
a existência terrestre, e não o pai, e fala do nascimento do espírito. Assim, a
pergunta sobre a função de Maria na historia da salvação, em Paulo, é uma
questão aberta.
Maria
no Novo Testamento
A ordem cronológica, dos
livros bíblicos do Novo Testamento que falam explicitamente de Maria. São eles:
A Carta aos Gálatas que contém
as informações mais antigas sobre Maria – (livro escrito por volta do ano 50 d.C.).
O Evangelho de Marcos (escrito
por volta do ano 60 d.C.)
O Evangelho de Mateus (escrito
por volta do ano 70 d.C.)
O Evangelho de Lucas (escrito
por volta do ano 70 d.C.)
O Livro dos Atos dos Apóstolos
(também escrito por volta do ano 70 d.C.)
O Evangelho de João (escrito
por volta dos anos 90-100 d.C.)
Apocalipse (também escrito por
volta dos anos 90-100 d.C.)
3. A nova família de
Jesus: o enfoque de Marcos
Marcos
apresenta um retrato de Maria convidada para entrar na escola do seguimento de
Jesus (Mc 9,7) e a proclamar a sua fé com valentia (Mc 6,7. 13; 16,15). Logo
depois de escolher os doze, Jesus sobe à montanha, lugar do encontro com o Pai,
e aí cria uma nova família, a família dos seguidores, inclusive Maria, sua mãe,
é convidada a fazer parte deste discipulado tornando-se uma "peregrina da
fé".
No evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, Maria
aparece no meio dos familiares de Jesus, sem qualquer destaque. O evangelista
mostra com clareza que, para Jesus, importa sobretudo uma nova família, não
mais formada por laços de parentesco. A verdadeira família de Jesus será, de
agora em diante, a dos seus seguidores, ou seja, os discípulos e discípulas que
fazem a vontade do Pai. Sobre Maria tem duas passagens, que nos referem algo a
respeito de Maria:
1.
Mc 3,31-35 – sua mãe e sues irmãos procuravam Jesus. Jesus precisa romper com a família para ter
liberdade de anunciar o Reino de Deus (Mc 3)
2.
Mc 6,1-3: Jesus é o filho de Maria
O Evangelho de Marcos:(+ou-60)
Maria = Mãe clânica ou canal do Messias.
4. Maria em Mateus
O
Evangelho de Mateus: (+ou-70) Maria= Mãe virginal do Messias segundo as
profecias Mateus destaca Maria como mulher descendente do povo de Deus e
sua ação é colaborar no cumprimento das Escrituras. "Eis que a virgem
conceberá e dará a luz um filho" (Is 7,14). Ela, mesmo no seu silêncio,
tem uma missão especial a favor de Jesus, o Salvador do povo. Maria aparece
como aquela mulher que vive plenamente o seguimento a Jesus e é fiel às
exigências feitas por Ele: Maria ama a Jesus acima de tudo (Mt 10,37), Ela
acompanha o Filho em todos os momentos, mesmo que lhe custe dor e sofrimento
(Mt 10,38). Maria é capaz de perder tudo para manter-se unida a Jesus (Mt
10,39). Maria, com sua vida, sua obediência e sua proximidade junto a seu
Filho, é a perfeita discípula e modelo de seguimento para todos nós.
Mateus acrescenta um dado novo. Ele prepara o
anúncio da vida pública de Jesus com os “relatos de infância”, que estão
centrados na figura de José, o homem justo que sempre age de acordo com o apelo
de Deus. Assim, José acolhe a Maria como sua esposa e não tem relações intimas
com ela até o nascimento. Adota Jesus como seu filho, mesmo não sendo o pai
biológico e protege a ambos dos perigos que surgem. Maria é apresentada como
aquela que concebe pela ação do Espírito e está unida ao filho, como mostra a
expressão “o menino e sua mãe”, repetida 5 vezes.
•
A
mãe virginal do Messias (Mt 1)
•
Com
José, cuida do menino Jesus (Mt 2)
•
Interessa-nos o Evangelho da infância em
Mt 1-2
Mt
1,1-17 – a genealogia de Jesus. Entre tantos homens, somente quatro mulheres,
além de Maria, são citadas por Mateus nessa lista genealógica: Tamar, Raabe, Rute e a mulher de Urias
(Betsabé), respectivamente: uma incestuosa, uma prostituta, uma estrangeira
(era proibido aos israelitas casarem-se com estrangeiras) e a que foi tomada
como esposa pelo rei Davi, que para obter isso encomendou a morte de seu
marido, Urias, significando aqui o assassinato e o adultério. O versículo 16,
quebra o ritmo...Jacó quebrou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus
chamado Cristo” No mistério de Jesus foi enquadrado o mistério de Maria, a Mãe
de Jesus.
Mt
1, 18-23 “A origem de Jesus Cristo deu-se do seguinte modo: Maria sua mãe...
Este trecho afirma que José era o homem justo. Cita-se Is 7,14, referencia a
palavra almah – que significa apenas
a jovem mulher, sem especificar se é casada ou não.
5. E agora, José? - Mt
1,18-25
José
era da família real, descendente de Davi. Cuidou de Jesus até os doze anos…depois
um grande silêncio. O anjo disse “Toma contigo Maria”. “Tu lhe porás o nome de Jesus”
- Mt 1,20-21. “Teu pai e eu te procurávamos aflitos” Mt 2,48. Era homem justo
em três níveis:
- frente à lei –
respeito,
- na relação com as
pessoas,
- perante Deus.
É dezenove vezes citada no
Novo Testamento, entre elas: «A virgem engravidará e dará à luz um filho... Mas
José não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe
pôs o nome de Jesus. » (Mateus 1:23-25), "Você ficará grávida e dará à luz
um filho, e lhe porá o nome de Jesus... será chamado Filho do Altíssimo."
Maria pergunta ao anjo Gabriel: "Como acontecerá isso, se sou virgem
(literalmente: se não conheço homem)?" O anjo respondeu: O Espírito Santo
virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim,
aquele que nascer será chamado santo, Filho de Deus (Lucas 1:26-35)
6.
Síntese sobre Maria nos Evangelhos
1. O aparecimento do arcanjo
Gabriel, e anúncio de que seria ela a mãe do Filho de Deus, o prometido Messias
(ou Cristo), (Lucas 1:26-56) a (Lucas 2:1-52); compare com Mateus 1:2).
2. A visitação à sua prima
Isabel e o Magnificat (Lc. 1,39-56).
O nascimento do Filho de Deus
em Belém, a adoração dos pastores e dos reis magos (Lc. 2,1-20).
3. A sua purificação e a
apresentação do Menino Jesus no templo (Lc. 2,22-38).
4. À procura do Menino-Deus no
templo debatendo com os doutores da lei (Lc. 2,41-50).
5. Meditando sobre todos estes
fatos (Lc. 2,51).
6. Nas bodas de Casamento em
Caná, na Galiléia (João 2:1-11).
7. À procura de Cristo
enquanto este pregava e o elogio que Lhe faz (Lc. 8,19-21) e (Mc. 3, 33-35).
8. “Stabat Mater” - Ao pé da
Cruz quando Jesus aponta a Maria como mãe do discípulo e a este como seu filho
(Jo, 19,26-27).
9. Depois da Ascensão de
Cristo aos céus, Maria era uma das mulheres que estavam reunidas com os
restantes discípulos no derramamento do Espírito Santo no Pentecostes e
fundação da Igreja Cristã. (Atos 1:14; Atos 2:1-4).
E não há mais nenhuma
referência ao seu nome nos restantes livros do Novo Testamento, salvo em Lucas
(11, 27-28): “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te
amamentaram”.
7. As
palavras de Maria
Nos Evangelhos, Maria faz uso
da palavra sete vezes, três delas dirigidas ao Anjo da Anunciação, o
Magnificat, em resposta a Isabel, duas dirigidas ao seu Filho e uma só e última
vez dirigida aos homens (aos servos das bodas de Caná) que a Igreja Católica
conserva com todo o valor de um testamento.
1. “Como poderá ser isto, se
não conheço varão? (Lc. 1,34),
2. "Eis a escrava do
Senhor". (Lc. 1,38),
3. "Faça-se em mim
segundo a tua palavra." (Lc. 1,38),
4. "A minha alma
engrandece o Senhor." (Lc. 1,46-55),
5. "Filho, porque fizeste
isto conosco? eis que teu pai e eu te procurávamos angustiados." (Lc
2,48),
6. "Não têm mais vinho"... (Jo. 2,3),
7. "Fazei tudo o que Ele
vos disser" (Jo. 2,5).
8. As palavras dirigidas a Maria
Nos Evangelhos oito vezes
a palavra é dirigida a Maria:
1. A saudação do anjo: “Ave,
cheia de graça, o Senhor está contigo”. (Lc 1,28).
2. O anúncio da Encarnação:
“Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho a quem porás o nome de
Jesus” (Lc. 1,30-33).
3. Por obra e graça do
Espírito Santo: “O Espírito Santo descerá sobre ti e o poder do Altíssimo te
cobrirá com a sua sombra; por isso também o que nascer será chamado Santo,
Filho de Deus” (Lc. 1,35-37).
4. Simeão lhe fala da espada
que trespassará o coração: ...” e uma espada trespassará a tua própria alma a
fim de que se descubram os pensamentos de muitos corações” (Lc. 2,34).
5. Isabel, ao responder a sua
saudação: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”
(Lc 1, 42-45).
6. O Menino-Deus lhe responde
no templo: “Por que me buscáveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu
Pai?” (Lc. 2,49).
7. Jesus em Caná
respondeu-lhe: “Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou”
(Jo.2,4).
8. Cristo na cruz:
"Mulher, eis aí o teu filho" (19,26-27).
As Escrituras fazem-nos compreender que Jesus passou com
ela trinta anos, sem contar o período de gravidez e os anos de vida pública (Lc
2,51). O Apocalipse diz-nos que ela é a
verdadeira Arca, que estava no cerne de todo o Antigo Testamento (Ap 11,19).
Maria "bendita entre todas as mulheres" (Lc 1,42), "cheia de
graça" (Lc 1,28) sobre quem o Espírito Santo repousa (Lc 1,35) deve, ela
mesma, declarar que "todas as gerações a chamarão de bem-aventurada"
(Lc 1,48).
É importante tentar
compreender e aprofundar, com a Igreja (At 8,31), todo o alcance da Palavra de
Deus. Jesus disse que se deve julgar a árvore pelos frutos e que a qualidade do
fruto constitui uma medida da qualidade da árvore (Mt 7,20; 12,33; Lc 6,43).
Ora, não pode haver fruto mais belo que o Próprio Jesus. E como Jesus é o Fruto
Bendito (Lc 1,42) do seio dessa extraordinária árvore que é Maria, só olhando
para Ele Próprio poderemos ter uma idéia da grandeza e da bondade da Mãe de
Deus... Voltemos às Escrituras, pois como Hugues de Saint Victor resumia,
retomando Santo Afonso de Ligório: "Tal Cordeiro, tal Mãe, pois a árvore
conhece-se pelo fruto".
9. As expressões bíblicas mais bonitas a respeito
de Maria - as sete jóias
1. Ave cheia de graça –
kecharitomenee (Lc 1,28);
2. A bendita entre as mulheres
(Lc 1,42);
3. A mãe do meu Senhor (Lc
1,43);
4. Aquela que acreditou (Lc
1,45);
5. Aquela que todas as
gerações proclamarão bem-aventurada (Lc 1,48);
6. Deus faz nela as grandes
coisas (Lc 1,49);
7. Ela é a Mulher, nova Eva
(Jo 2,4), (19,26) e (Ap 12,1).
Módulo
III Maria na Sagrada Escritura Lucas e João
Perfeita discípula e
peregrina: Maria em Lucas
O
evangelho da infância em Lucas 1-2 compreende dois quadros de duas cenas:
1. Os anúncios (Lc 1,5-56)
1.
Anúncio do nascimento de João Batista
|
2.
Anúncio do nascimento de Jesus
|
Lc
1,5-25
|
Lc
1, 26-38
|
3. A
visitação – Lc 1,39-56
|
2. Os nascimentos (Lc
1,75-2,52
4.
Nascimento de João Batista 1,57s
|
6.
Nascimento de Jesus 2, 1-2-
|
5.
Manifestação de João Batista 1,58-80
|
7.
Circuncisão e manifestação de Jesus 2,21-40
|
Conclusão:
o minuano crescia...
|
8.
Jesus no templo – 2,41-53
Conclusão:
o menino crescia...
|
As alusões às Escrituras
Malaquias
|
Lucas
|
2.6
– Ele converteu a muitos
|
1,16
– converterá muitos filhos de Israel
|
3,1
– preparará um caminho diante de mim
|
1,17
– caminhará à frente do Senhor
|
Sofonias
|
Lucas
|
3,14
Alegra-te, Filha de Sion
|
1,28
Alegra-te
|
3,15
O senhor está no meio de ti
|
1,18
O Senhor está contigo
|
3,16
Não tenhas medo, Sion
|
1,30
Não tenhas medo, ó Maria
|
Êxodo
|
Lucas
|
40,35
A nuvem cobriu com a sombra o tabernáculo
|
1,35
O poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra
|
O evangelho que mais se refere a Maria é
Lucas. A começar pela quantidade dos
relatos nos quais ela aparece ou se diz algo sobre a mãe de Jesus: anunciação,
visita a Isabel, cântico do Magnificat, nascimento de Jesus, apresentação no
templo, profecia de Simeão, desencontro no templo aos 11 anos, a vida em
Nazaré, as palavras de Jesus sobre a família, o diálogo com a mulher na
multidão, a presença de Maria na comunidade nascente, preparando a vinda do
Espírito Santo. Através de todos estes relatos, Lucas nos apresenta Maria como
a figura da/o perfeito discípulo de Jesus, que ouve a Palavra de Deus, guarda-a
no coração e dá frutos na perseverança.
Além
disso, Maria trilha um caminho na fé. Totalmente entregue aos projetos de Deus,
ela não entende tudo o que lhe acontece, e por isso mesmo precisa continuamente
meditar o sentido dos acontecimentos. Passa por momentos belos e difíceis,
alegres e sofridos. O fato de ter que aprender o “jeito novo” de ver o mundo
que Jesus propõe causa-lhe conflitos, que lhe atravessam o coração como uma
espada. Como mulher proveniente de Nazaré da Galiléia, Maria vive e anuncia a
opção preferencial de Deus pelos pobres, tal como Jesus o vive e anuncia no
sermão da planície.
Por
fim, Maria é uma pessoa especialmente contemplada pelo Espírito Santo, que a
cobre com sua sombra na concepção de Jesus e atua na comunidade dos discípulos
em Pentecostes, como línguas de fogo. “Nuvem” e “fogo” são os símbolos da
presença de Deus junto de seu povo peregrino, desde a libertação do Egito.
Nuvem quer dizer proteção e fecundidade. Já o fogo alude a energia, amor e
vitalidade. Este é perfil de Maria em Lucas: perfeita discípula, peregrina na
fé, sinal da opção de Deus pelos pobres, mulher contemplada pelo Espírito
Santo.
Em Lucas: Maria, a imagem do seguidor de
Jesus (discípula)
Em
Lucas
Maria é uma mulher ativa, comprometida, que se oferece livremente para
colaborar no plano da salvação sentindo-se, ela mesma, discípula e serva do
Senhor. Mulher disposta a servir e a anunciar a Boa Nova da Salvação. Maria
representa o povo de Israel que espera o Libertador. Ela é jovem, virgem, cheia
de graça e com uma fé parecida com a fé de Abraão. Sua figura inicia o povo
novo de Deus. Maria é a primeira a dar o seu sim para que o projeto de Deus
aconteça. Mulher de oração, que cultiva uma sadia vida interior. Ela guarda e
medita os acontecimentos no coração (cf. Lc 2,19-52). É terra boa que acolhe a
semente e faz produzir frutos. Por isso Maria é também mulher missionária que
abre caminho em meio às dificuldades.
O Evangelho de Lucas:
Maria= mulher livre, a crente por excelência e a Mãe do Messias. Em Lucas,
Maria já é uma personalidade: mulher responsável, autônoma, determinada. Tem um
rosto, um perfil, um caráter. Tem, em suma, uma identidade própria. Maria é uma
pessoa que caminha como discípula ideal. (Lc 1, 25-38), que está aberta aos
riscos da fé, (Lc 1, 38), ajuda aqueles que mais precisam, (Lc 2, 22-24) e está
sempre presente na comunidade cristã (At 1, 14).
Maria acolhe a palavra
Anunciação: um sim generoso e inteiro a
Deus
Maria guarda a palavra no coração
Lc 2,19: Maria conservava todos estes fatos e
meditava sobre eles em seu coração + Lc 2,50
Rezar como Maria rezou
“Magnificat”
(Lc 1,46-55) – a oração de Maria. Possui a estrutura de bênção. Este tipo do
gênero literário é chamado “beraka”. Ao receber a visita, Isabel chama Maria de
“bendita” e bendito é também o fruto do seu ventre. Então Maria exclama: “A
minha alma engrandece o Senhor”. O Magnificat é a síntese da experiência de
Maria, e ela agradece pelo presente; Deus viu a pequenez, e pela misericórdia
de Deus. Antes deste canto temos o cântico de Ana – (1Sm 2,1-10). As idéias
próprias do canto de Maria são as seguintes:
- Deus é poderoso,
- O Seu nome é santo,
- Seu amor é para todos,
- Dispersa os orgulhosos
e exalta os humildes
O retrato de Maria no
Magnificat
1. É a mulher de alegria.
Alegra-te... são as primeiras palavras do anjo.
2. Maria é mulher
inteligente – O Senhor fez em mim maravilhas…todas as gerações vão proclamá-la
ditosa.
3. Mulher humilde, sem
orgulho.
4. Maria de coração
modelado pelo Espírito.
5. Enraizada na história
do seu povo.
6. Mulher de fé profunda
7. Mulher que sabe dizer
obrigado.
•
No
encontro com Isabel: “Bendito é o fruto do teu ventre” -> fidelidade a Deus
é a condição para a fecundidade.
•
Lc
8,21: Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a Palavra de Deus e a
realizam.
•
Lc
11,27s: Antes, felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a estão guardando
(vigiando).
2. Maria em Lucas: síntese
Lucas
apresenta o mais belo e diversificado perfil de Maria na Bíblia. Para o
evangelista, o discípulo de Jesus é aquele(a) que ouve seu apelo, segue-o e
aprende com ele no caminho (Lc 5,10s; 13,22). Ser aprendiz de Jesus significa
também fazer parte de sua comunidade, peregrinar na fé e participar da causa de
Jesus, que é o Reino de Deus. O seguidor de Jesus é aquele que “ouve a Palavra
de Deus num coração generoso, conserva no coração e frutifica na perseverança”
(Lc 8,15: explicação da parábola da semente e dos tipos de terra). Ora, a
grande novidade de Lucas é apresentar Maria como a imagem viva do discípulo(a)
de Jesus.
Podemos
resumir as seguintes características de Maria no terceiro evangelista: a
seguidora de Jesus, a peregrina na fé, o sinal da opção de Deus pelos pobres e
a mulher contemplada pelo Espírito Santo.
(1) Seguidora de Jesus: Maria realiza as três qualidades
básicas do discípulo fiel. Ela acolhe a palavra de Deus com fé (relato da
anunciação: Lc 1,28-38), conserva a palavra no coração e a medita,
confrontando-a com os fatos (Lc 2,19 e Lc 2,51) e frutifica esta palavra viva;
sendo uma pessoa de intensa fé (“feliz de você que acreditou”: Lc 1,40) e a mãe
do messias (“bendito é o fruto do teu ventre” em Lc 1,42). Somente Lucas relata
a cena da mulher na multidão que grita: “Feliz o ventre que te gerou e o seio
que te amamentou”, em claro elogio à maternidade biológica. Mas Jesus lhe
responde: “Antes, felizes os ouvem a palavra de Deus e a realizam” (Lc 11,27).
Antes de ser uma crítica à Maria, este texto revela sua real importância. A
maternidade é conseqüência e expressão de sua fé. Neste sentido também, Lucas
refaz a expressão final do (des)encontro de Jesus com os familiares, com a
expressão: “Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a Palavra de Deus e a realizam”
(Lc 8,21). Há portanto uma prioridade da fé, enquanto adesão à Jesus e à sua
causa, sobre o simples fato de ser mãe de Jesus.
(2) Peregrina na fé: Somente Lucas relata as palavras de
Simeão a Maria: “Quanto a ti, uma espada transpassará tua alma” (Lc 2,25). Não
se trata de uma alusão ao sofrimento de Maria na hora da cruz, pois nos
evangelhos sinóticos Jesus morre sozinho e Maria não está incluída entre as
mulheres que o observam, de longe. A espada tem um sentido metafórico. Alude a
Jesus, que é a palavra-gesto do Pai, conforme Hb 4,12s: "A Palavra de Deus
é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes. Julga as
disposições e as intenções do coração. E não há criatura oculta à sua
presença". Maria, como os outros aprendizes de Jesus, não sabia tudo. Foi
fazendo descobertas no correr de seu caminho espiritual. Neste sentido, o
relato da perda no templo confirma que Maria e José não entendem naquele
momento as palavras e os gestos de Jesus (Lc 2,41-50). Por isso mesmo, ela
precisa refletir e buscar o sentido dos fatos. A interpretação nova que Jesus
dá à Lei, ao sábado, ao templo e às tradições questionava seus seguidores,
trazia conflitos e lhes provocava mudanças na sua visão religiosa. Era uma
espada! Maria passou pelo crivo da espada da Palavra, e cresceu com isso.
(3) Sinal da opção de Deus
pelos pobres: Lucas é o
evangelista que mais desenvolve a dimensão social da Boa Nova de Jesus.
Coerente com esta orientação, Maria é apresentada por ele como uma mulher
pobre, da desconhecida terra de Nazaré da Galiléia. Jesus nasce num lugar sem
recursos e é envolvido em faixas (Lc 2,12). Como são pobres, os pais de Jesus
oferecem pássaros no templo, em vez do cordeiro (Lc 2,24). O cântico de Maria,
chamado “Magnificat” resume, de forma poética, a proposta de Jesus nas
Bem-Aventuranças (Lc 2,46-55 em comparação com Lc 6,20s). Sinaliza, com
clareza, que a Boa Nova de Jesus propõe uma mudança nas atitudes das pessoas e
nas estruturas sociais. Deus se volta sobretudo para os mais pobres, pois são
os que mais necessitam. Sua misericórdia permanece para sempre.
(4) Mulher contemplada
pelo Espírito Santo: Em
Lucas, Jesus começa a missão recordando a profecia de Isaías: “O Espírito de
Deus está sobre mim” (Lc 4,14). É o Espírito que age em Jesus e nos seus
seguidores, após pentecostes. Maria é apresentada então como a mulher sobre a
qual “a sombra do altíssimo” se estende, para possibilitar a concepção de
Jesus. Ela também participa da comunidade que prepara a vinda do Espírito (At
1,14). Portanto, Maria é “contemplada” duplamente pelo Espírito Santo: no
nascimento de Jesus e no nascimento da comunidade cristã, após a ressurreição
de Jesus.
A
partir de Lucas, descobrimos traços originais da figura de Maria. O “sim”,
pronunciado com inteireza no início da juventude, se renova no correr da vida.
Ela passa por crises e situações desafiadoras, que a fazem crescer e caminhar
sempre mais na adesão ao Senhor. Maria nos recorda que Deus escolhe
preferencialmente os simples e humildes para iniciar o Reino de Deus, esta
recriação da humanidade e dos cosmos. A partir do Magnificat, ouve-se o apelo
por novas relações interpessoais, econômicas, políticas, culturais e
ecológicas. Maria simboliza o ser humano em construção, aberto a Deus, tocado
pelo Espírito Santo, cultivando um coração solidário.
Essas
características marianas inspiram atitudes de vida de cada cristão e da
Igreja-comunidade. Sentimo-nos chamados a sermos discípulos fiéis de Jesus,
ouvindo, acolhendo, guardando no coração e praticando sua Palavra. Renovamos o
nosso “sim”, mesmo no meio das crises, pois sabemos que somos “bem-amados de
Deus” (Ef 1,6). Alimentamos, como Maria, um coração agradecido a Deus, que O
louva por todo o bem que Ele realiza em nosso meio e através de nós. E nos
empenhamos pela solidariedade e pela cidadania planetária, construindo uma
sociedade mais próxima do projeto de Deus.
3. O Evangelho de João
Maria,
mediadora da fé (Caná), mãe da comunidade (sob a cruz) e figura da Igreja e da
nova criação. Para João, Maria é mais que mera personalidade (pessoa): é
personalidade corporativa. Seu significado supera a pessoa individual. Ela
possui uma imensa ressonância simbólica, ela representa a comunidade eclesial,
a Humanidade salva. João tem uma alta mariologia, uma mariologia simbólica. A
Maria de João transcende infinitamente a Maria de Nazaré. Assim, existe um
processo de carecimento do entendimento sobre a figura de Maria e do Mistério
da virgem nos evangelhos. Carecimento este que é continuo e que está evoluindo
ainda hoje.
No
Novo Testamento, todos os evangelistas, de acordo com a realidade da sua
comunidade de fé, apresentam um retrato de Maria. Mas, todos eles nos
apresentam Maria como Discípula e Mensageira do Evangelho. Vamos voltar nossa
atenção para Maria que é nossa mestra e modelo de discipulado, para que sejamos
bons discípulos e mensageiros da Boa Nova de Jesus.
João
destaca a presença de Maria no início e no final do Evangelho. Ela é sempre
chamada de "Mãe de Jesus" e tratada como "mulher". Nas
Bodas de Caná, Maria é mulher atenta as necessidades. Ela percebe a falta de
vinho e toma providencia. É mulher de iniciativa. Com esta atitude, Maria
mostra que a Igreja precisa de pessoas com iniciativa, capazes de perceber as
necessidades do povo e dispostos a fazer tudo o que Jesus mandar. No final do
Evangelho, Maria aparece junto a cruz de Jesus. É mulher forte que fica de pé
diante da cruz. Aí, Maria é encomendada aos cuidados do discípulo e o discípulo
encomendado aos cuidados da mulher. Maria recebe a missão de ser a mãe da
comunidade de Jesus, mãe de todos aqueles e aquelas que acolhem e vivem a
Palavra de Deus. Maria é a Mãe de Jesus e a Mãe da Igreja.
O papel que Maria ocupa na Bíblia é discreto. Os dados
estritamente biográficos derivados dos Evangelhos dizem-nos que era uma jovem
donzela virgem (em grego παρθένος), quando concebeu Jesus, o Filho de Deus. Era
uma mulher verdadeiramente devota e corajosa. O Evangelho de João menciona que
antes de Jesus morrer, Maria foi confiada aos cuidados do apóstolo João e a
Igreja Católica viu aí que nele estava representada toda a humanidade, filha da
Nova Eva.
4. Jo 2,1-11 – As bodas de
Caná. A mãe da comunidade, no quarto evangelho
Em João Maria aparece
duas vezes, porém seu nome não é citado, ela é chamada apenas de ‘mãe “e depois
de “mulher”.
É o episódio
cristológico, e Maria aparece exercendo um papel de Mãe e Medianeira.
Jo 2,3 – eles não têm
mais vinho... o teor de pergunta e de pedido
Jo 2, 4 – que queres de
mim mulher?
Jo 2,5 fazei tudo... aqui
tem uma correlação com faraó – Gn 41,55 – Jesus pode ser visto como um novo
José, que dá pão e vinho.
e a resposta é
messiânica...06 talhas de 80 litros = 480
litros
Bodas de Caná: a ação
simbólica de Maria
Continuemos
a percorrer o texto da cena da Caná. Vejamos os símbolos no relato de Jo
2,5-11. Assim, pode-se compreender o sentido profundo da ação de Jesus e da
intervenção de Maria.
A
ação e a palavra de Maria (v.5): É comum no quarto evangelho que haja momentos
de impasse e “mal entendido” entre Jesus e seus interlocutores. Enquanto eles
estão num nível de compreensão superficial, de “baixo”, Jesus fala das
realidades “do alto”, mais profundas e além das aparências. É preciso dar um
salto de fé, para passar de um nível ao outro. Às vezes, há discussões longas,
com vários mal entendidos Assim acontece, por exemplo, nos diálogos com
Nicodemos e com a Samaritana (Jo 3,1-12 e Jo 4,6-27), ou na conversa com a
multidão, sobre o pão da vida (Jo 6,26-58). Jesus fala em nascer de novo e
Nicodemos entende de forma literal, como se alguém tivesse que voltar ao útero
materno. Jesus anuncia a água viva à Samaritana, e ela pensa na água do poço.
Jesus fala do pão como “minha carne” e eles se escandalizam.
Ao
contrário dos outros interlocutores, Maria rapidamente salta para o nível de
fé, sem discutir com Jesus. Entende o que ele quer. Compreende que não se trata
somente de resolver um problema de falta de vinho, de atender a uma necessidade
concreta. Mas sim, o que este fato vai ajudar as pessoas a conhecerem melhor
quem é Jesus e se posicionarem diante dele.
Maria
se volta para os serventes: “Façam tudo o que ele lhes disser” (Jo 2,5). Essas
palavras têm uma grande força simbólica. Você se recorda da frase de Maria ao
final da anunciação, em Lucas: “Eis aqui a servidora do Senhor. Eu desejo que
se faça em mim conforme sua palavra” (Lc 1,36). Segundo João, Maria não só
realiza a vontade de Deus na sua vida, mas também orienta os outros a fazerem o
que Deus lhes pede. Há um deslocamento do foco e uma ampliação de sentido. Da
perfeita discípula e seguidora de Jesus, em Lucas, para a pedagoga e guia dos
cristãos, em João.
Da
água para o vinho (v. 6-10): Jesus faz o primeiro sinal de forma discreta. Nem
sequer dá uma benção ou evoca o nome de Deus. Tudo na simplicidade. O bom vinho
alegra as pessoas e faz a festa ficar melhor ainda. Mas por que João coloca
como primeiro sinal de Jesus a transformação da água em vinho, numa festa de
casamento? Porque não uma cura ou expulsão de demônios? O primeiro sinal de
Jesus pretende começar a revelar quem ele é para nós. A partir do sinal,
entendemos que Jesus é o vinho novo para e existência humana. Ele é capaz de
transformar as situações desafiadoras em festa e alegria compartilhadas.
Nas
Escrituras Judaicas, o vinho simboliza a felicidade e a abundância que
acontecerá para todos, quando o Messias chegar (Ver Os 2,23s e 14,8; Am 9,13s;
Is 25,6 e 62,5; Jr 31,12; Zc 9,17). No livro do Cântico dos Cânticos, o vinho
lembra o desejo entre o homem e a mulher, o amor que os fascina e os une, uma
imagem do grande amor de Deus pelo seu povo (Ct 1,2-4; 2,4; 4,10). Com o sinal
do vinho, Jesus está dizendo que ele é o vinho novo, que o dia do Messias está
chegando. Começou o tempo da graça, superando as situações de miséria e
tristeza.
Cada
detalhe do relato tem um sentido simbólico. As seis vasilhas de pedra,
destinadas à purificação dos judeus, aludem ao número da imperfeição, da
finitude humana (o seis), à frieza e dureza da lei judaica, que será superada
com Jesus. O chefe da festa não sabe da origem do vinho, como os chefes judaicos
não conhecem que Jesus vem do Pai. Somente os que servem sabem! As talhas são
enchidas até a borda, e têm muito vinho, quase 700 litros. Isso significa que
Deus nos oferece seus bens em abundância. Quem está com Jesus tem vida
sobrando. Jesus é o bom vinho, guardado até o momento do início da manifestação
dos sinais. Com ele, começa o tempo novo, que os evangelhos sinóticos chamam de
“Reino de Deus”.
O
sinal de Caná e a fé (v.11): Qual é o resultado da ação de Jesus, devido à
intervenção de Maria? João nos diz que Jesus “manifestou sua glória e seus
discípulos creram nele”. Jesus começa a mostrar quem ele é: não somente o
carpinteiro de Nazaré, mas uma pessoa que comunica vida e alegria, como Filho
de Deus. A glória para Jesus não é o poder e a fama mundanos, mas a capacidade
de realizar o bem e tornar Deus conhecido e amado.
Os
sinais de Jesus são uma ocasião para os discípulos exercitarem sua fé. Quem
crê, vê além do sinal. O sinal não força ninguém a acreditar, só abre a porta
do coração para a fé (Jo 2,11.23; 3,3, 4,54). Jesus mesmo não gosta das pessoas
que só acreditam quando vêem sinais. Ele até desconfia desse tipo de fé que
necessita sempre de sinais (Jo 2,23s). Jesus não gosta das pessoas que buscam
milagres só para resolverem seus problemas pessoais (Jo 6,26). À medida que
avança a missão de Jesus, os sinais também se mostram polêmicos. O último sinal
de Jesus, que é trazer Lázaro de volta a essa vida, causa divisão entre os
judeus. Uns acreditam nele, outros não (Jo 12,37), e alguns se posicionam de
forma violenta, organizando-se para matá-lo (Jo 11,45-54). Portanto, os sinais
são uma oportunidade para a fé, não uma prova miraculosa. Eles interpelam as
pessoas. E o primeiro sinal, o de Caná, abre caminho para os discípulos
entrarem na aventura da fé.
O
sinal que unifica (v.12): Depois que Jesus faz seu sinal, os discípulos crêem
nele e saem juntos, com “sua mãe e seus irmãos”. O sinal de Caná une o grupo
dos seguidores de Jesus em torno a ele. A partir do gesto de Caná começa a se
formar o gérmen da comunidade cristã, com os discípulos, os familiares e a mãe
de Jesus.
Em Caná: aquela que aponta para Jesus
•
Jo
2,1-11: Maria leva os servidores-amigos de Jesus a “fazer tudo o que ele
disser” para que creiam nele e se reúnam em torno a Ele.
Fonte: A.Murad, Maria Toda
de Deus e tão humana. Paulinas.
5. Jo 19, 25-27 Maria ao
pé da cruz
Nesta cena Maria aprece em companhia de
João e de duas mulheres, entre elas Madalena. O apelativo “mulher” chama a
atenção, e há de ser compreendido em consonância com Gn 3,15 e Jo 2,4. Maria é
a mãe dos vivos, nova Eva. Ela não estava junto da cruz de Jesus, perto dele só
no sentido geográfico, mas também espiritual. Se em Caná a hora de Jesus não
tinha chegado, no Calvário foi a hora de Jesus
As
duas cenas; das bodas e da cruz, possuem correlação: em ambas aparece o termo
“hora”, “Mãe de Jesus” e “mulher”. Cada uma das mulheres representa a
comunidade de uma aliança: a mãe. A da antiga aliança, o resto de Israel, a
esposa fiel; Madalena, a comunidade da nova aliança. O papel da mãe, a antiga
comunidade, termina na cruz; o de Madalena começa nela...
Na cruz (Jo 19)
•
Maria
persevera na fé, quando não há mais sinais.
•
Maria
é adotada como Mãe da comunidade. Começa nova etapa de sua missão.
Maria
junto à cruz de Jesus
A mãe de Jesus, que aparece no início de sua
missão, em Caná (Jo 2,1-11), levando seus discípulos a acreditarem nele, volta
de novo à cena. Dessa vez, não há nenhum sinal extraordinário. Ao contrário, o
momento da cruz desafia a fé. Maria faz parte do pequeno grupo que perseverou,
que não fugiu no momento da perseguição e da crucifixão de Jesus. É a corajosa
seguidora de Jesus, que permanece no seu amor. Manter-se de pé significa
persistência, constância e adesão. Junto com ela estão algumas
mulheres-discípulas: a irmã de Maria, Maria de Clopas (ou Cléofas) e Madalena.
E somente um homem, o “discípulo amado”, que a tradição cristã identificou com
o jovem apóstolo e evangelista João. Ele representa a comunidade cristã, o
grupo dos que seguem os passos de Jesus, tornando-se mais do que seus
servidores. São seus amigos (Jo 15,15).
Uma
característica importante do seguidor de Jesus é a perseverança, ou seja, o
compromisso de vida que se prolonga no tempo, vencendo as crises. Quando Jesus
pede para: “permanecer em mim e eu nele” (Jo 6,56; 15,4) ou “permanecer no meu
amor” (Jo 15,9) expressa uma sintonia profunda, uma comunhão de mente e de
coração. Este é o sentido da imagem da videira e dos ramos (15,1-11). Como
também: “Se vocês permanecerem na minha palavra, serão verdadeiramente meus
discípulos. Vocês conhecerão a verdade, e a verdade fará de vocês pessoas
livres” (cf. Jo 8,31s). Jesus promete: “Se vocês permanecerem em mim e as
minhas palavras permanecerem em vocês, peçam o que quiserem, e o Pai lhes
concederá” (Jo 15,7). Na primeira epístola de João também se diz desta atitude
de vida: “Quem pretende permanecer nele, deve também andar no caminho que Jesus
andou” (1 Jo 2,6).
Manter-se
junto à cruz expressa a atitude de estar em sintonia com Jesus, exercitando a
fé no momento de crise da morte e de sua passagem para o Pai. Maria, as
mulheres e o discípulo amado são os que perseveram neste momento crucial.
Permanecem com Jesus e em Jesus. É certo que este momento significou um grande
sofrimento para Maria. Mas, parece que perseverar assume mais importância do
que sofrer.
Qual
é o sentido do encontro de Maria com o discípulo amado, ao pé da cruz? Não é
resolver um problema de família, ou seja, quem iria tomar conta da mãe de Jesus
depois da morte dele. Nesse momento tão importante da cruz, João quer nos dizer
algo mais. Ele deixa impresso na memória de todos os cristãos que Maria não é
somente a mãe, que concebeu, gestou, deu à luz, nutriu e educou Jesus.
Novamente, ela é chamada de “mulher”, como em Caná (Jo 2,4 e 19,25). Seu lugar
está além dos laços de sangue e das relações familiares. Por vontade de Jesus,
Maria é adotada como mãe pela comunidade cristã de todos os tempos. O discípulo
amado, que representa a comunidade, recebe-a como mãe. E Maria é investida
nessa nova missão. Acolhe os membros da comunidade cristã como seus filhos.
A
morte-ressurreição é o momento no qual se constitui a comunidade-Igreja. Jesus
irá “reunir todos os filhos de Deus dispersos” (Jo 11,51s). Este é o sentido
simbólico da cena que antecede o encontro na cruz. Os soldados tomam as roupas
de Jesus e as repartem em quatro partes (os quatro cantos da terra). Mas a
túnica permanece inteira (Jo 19,23s). A Igreja, nova comunidade messiânica,
será edificada em sua unidade a partir da cruz do Senhor.
O
discípulo amado representa a comunidade cristã, agraciada e escolhida por
Jesus, para a qual ele dedica seu afeto e atenção. Esta comunidade recebe Maria
como sua mãe. O evangelista diz “a partir daquela hora, o discípulo a acolheu
em sua familiaridade” (Jo 19,27). Isto é, naquilo que lhe é próprio, que o
constitui como pessoa. Ele não usa a palavra grega “oikos” (casa), mas sim
“ídia/ídios” (o que é característico de alguém).
Em
que consiste a missão de Maria, como mãe da comunidade? Provavelmente, a mesma
de Caná. A nossa mãe Maria poderá intervir junto ao Filho, pelos seus filhos.
Levará os servidores e amigos de Jesus a fazer o que ele disser. Possibilitará
que novas gerações de cristãos, como os primeiros discípulos, creiam em Jesus,
vejam sua glória, e se reúnam em torno dele. A cena de Maria junto à cruz
reúne, portanto, dois elementos fundamentais. A mãe de Jesus é a mulher
perseverante na fé até o último momento, junto com outros membros da comunidade
dos seguidores e amigos de Jesus. E, por vontade do próprio Jesus, é adotada
como mãe do discípulo amado, imagem e símbolo da Igreja.
5. O teor de Apocalipse
12, 1-17
A mulher que aparece aqui, no último
livro da Bíblia, é aquela de que se fala na primeira página da Bíblia, em
conflito com a serpente (Gn 3,15). É Eva, a primeira mulher. É também a
humanidade toda enquanto gera filhos que lutam contra as forças da morte e da
maldição. É o povo de Deus, chamado a defender a vida humana, transmitir a
benção de Deus a todos os homens e mulheres (cf. Gn 12,1-3) e consertar o mundo
estragado pela maldição. A mulher (também) é Nossa Senhora, em que se afunilou
toda esta luta contra a maldição e a morte. É Maria, a moça humilde e pobre de
Nazaré, enquanto gera o menino Jesus, esperança de libertação para todos.
Esta mulher, gritando em dores de parto,
representa a esperança de vida que existe no coração de todos, sobretudo dos
pobres. Esperança, ao mesmo tempo, frágil e forte. É frágil como a mulher na
hora de dar à luz: não tem defesa, nem pode lutar, pois está totalmente
entregue a doar a vida nova a um novo ser humano. Mas, por isso mesmo, ela é
forte, o ser mais forte do mundo! Sem as mulheres frágeis com coragem de dar à
luz, a vida já teria cessado sobre a face da terra e nós não teríamos nascido.
Aquela luta, anunciada por Deus, desde a
primeira página da Bíblia, atinge agora o seu ponto decisivo em Maria que dá à
luz ao menino Jesus. Maria representa todas as mães que geram filhos e que
garantem, assim, o futuro da humanidade. (Representa também) as mães que lutam
para transmitir aos filhos a sua esperança, a sua vontade imensa de ser gente.
Simboliza todas as pessoas que acreditam no bem e na vida, que lutam para que a
vida possa vencer a maldição que entrou no mundo pela serpente. Ela representa
sobretudo o “povo humilde e pobre que busca a sua esperança unicamente em Deus”
(Sf 3,12).
Dois
grandes sinais aparecem no céu: Uma mulher e um dragão. Uma batalha – o menino é arrebatado. O dragão
é destronado. Mulher é abrigada no deserto por 1260 dias = 3 anos e meio. Aqui
há referência ao nascimento do Messias, que é perseguido por Satanás. A figura
feminina não pode ser identificada com alguma personagem individual. Essa
mulher bela é a Filha de Sion, o povo messiânico. A mulher do Apocalipse assume
sucessivos aspectos no decorrer da história: Filha de Sion, Maria Santíssima e
Santa Mãe Igreja. A mulher de Ap 12 é mulher como tal, em sua função da
maternidade, já designada pelo nome de Eva, Em Gn 3,15, o Senhor quis colocar a
mulher, e não o homem, como protagonista da obra da Redenção.
A ausência do nome de Maria nos escritos
joaneus. Marcos usa o nome de Maria 01 vez; Mateus 05 vezes; Lucas 13 vezes no
evangelho e 01 vez nos Atos. João nunca. Isso não é ocasional, mas proposital.
João fala de José (Jo 6,42), ele atribui o nome Maria a várias mulheres: Maria
de Cléofas, Maria Madalena, Maria de Betânia, Maria, irmã de Lázaro. ...dentro
de todos os discípulos que devia conhecer a Mãe de Jesus, era João, porque João
não usa o nome de Maria, Mãe de Jesus?
Podemos
considerar duas respostas:
1. João omitiu o nome de Maria, porque lhe parecia um nome muito comum, sendo o
nome comum não preencheria a função em relação a Mãe de Jesus. 2. O quarto Evangelho fala muito do Pai de
Jesus; (10,30;14,9). A expressão “Mãe de Jesus “pode ser entendida como um
paralelo a “meu Pai = o Pai de Jesus”.
João completa o perfil de Lucas
acrescentando duas outras características. Ao apresentar Maria no início da
missão de Jesus (bodas de Caná) e no momento derradeiro (junto à cruz),
expressa que é uma pessoa significativa para Jesus e sua comunidade. Nos dois
relatos, Jesus não a chama de “mãe”, e sim de “mulher”, como o faz com outras
mulheres importantes, como a Samaritana e Madalena. Em Caná, Maria é
apresentada como a “pedagoga da fé”, que orienta os servidores para “fazer tudo
o que Jesus disser”. Ajuda a reunir os discípulos em torno a Jesus. Possibilita
a realização do primeiro sinal, que inicia o processo de acreditar em Jesus e
compreender quem ele é. Já na cruz, Maria aparece junto com as mulheres e o
discípulo amado, perseverante na fé, no momento em que cessam os sinais. Por
vontade de Jesus, há uma adoção recíproca. Ela assume a missão de mãe da
comunidade cristã, representada pelo “discípulo amado”, e a comunidade a acolhe
como tal.
O
texto de Apocalipse 12 não é
originalmente mariano. A mulher, revestida de sol, com as estrelas debaixo dos
pés e as doze estrelas significa, em primeiro lugar, a comunidade-igreja, que
já experimenta neste mundo os frutos da glorificação de Jesus. De outro lado,
também sofre os ataques das forças do mal na história, é frágil, vive no
deserto (lugar de tentação e de encontro com Deus) e sente a solidariedade da
Terra. Como aconteceu com textos do Antigo Testamento, houve posteriormente uma
releitura de Ap 12, dando-lhe uma conotação mariana. Ela se apóia no fato de
Maria ser mulher e mãe do messias. Nas comunidades cristãs do século 4 nasce
assim a intuição de que ela participa, de forma singular, da glorificação que
será concedida a todos os seguidores de Jesus.
O
perfil bíblico de Maria é fundamental para elaborar uma mariologia consistente,
equilibrada e centrada em Jesus. A partir dele, corrige-se os exageros do
devocionismo e do maximalismo mariano. Estabelece-se assim elementos para o
diálogo enriquecer com outras Igrejas cristãs
6. A atitude de Jesus para
com Maria
Jesus
parece ser descortês para com a Mãe.
1. Lc 2,49 – Jesus no
Templo aos 12 anos
2. Jo2, 1-1, e 19,26 –
Mulher... o que há entre nós? Ou por que tal pedido? Tu e eu, que poderemos fazer
nessa situação? Não chegou a minha hora, mas realizou o milagre.
3. Mt 12, 46-49; Mc
3,31-35; Lc 8,19 – “Quem é minha Mãe...
Quando Jesus responde....
Eis a mina Mãe e meus irmãos, ele não é indelicado, mas quer indicar que acima
do parentesco carnal está o parentesco espiritual que se baseia na fidelidade à
Palavra e à Vontade de Deus
4. Lc 11, 27s –
Bem-aventurados...Bem-aventurados os que ouvem...tal exaltação aplica-se
perfeitamente a Maria.
5. Gl 4,4 e 1Tm 2,15 – A
mulher por excelência
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!