Síntese de Mariologia
“Quando
chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher… para que
recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). Constantemente na
história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor
é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela
o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como
por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma
mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um
novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é
constituído.
Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A
obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma
grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos e sua
figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.
1. MARIA NO NOVO TESTAMENTO
Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar
discreto.
Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma.
Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo.
Maria está presente em todos os momentos de
importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (cf.
Lc 1 – 2) e no fim (cf. Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e
da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (cf. Jo 2) e no
nascimento da Igreja (cf. At 1,14). Presença discreta, na maior parte das
vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a
compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (cf. Lc 1,38-39.46-56;
Jo 2,3) (BOFF, 2004).
Esta presença revela seu sentido total, e com toda
a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia
bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo
eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que
ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante onde o povo eleito dá
nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da
história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de
Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no
início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde
a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova
árvore da vida a mãe dos vivos (LAURENTIN, 1965).
1.1 Maria no Evangelho de Marcos
O Evangelho de Marcos se constitui em duas questões
fundamentais: Quem é Jesus de Nazaré? Como ser discípulo de Jesus, o Cristo?
Questões que Maria, mãe de Jesus, como todos de sua família e todos da
comunidade cristã, inclusive Marcos buscam entender.
No Evangelho de Marcos a pessoa de Maria aparece em
duas passagens: Mc 3,31-35 e Mc 6, 3-4. Nestes textos Maria é a mãe biológica
de Jesus que busca entender o filho juntamente com seus familiares. A mulher
maternalmente solícita pela sorte do filho. Mas, que também é convocada a ser
discípula na busca de compreender Jesus e sua missão e acolher sua
proposta. Ela também podia estar entre os primeiros a nutrir preocupações
ainda muito humanas pela missão e a obra de Jesus.
Marcos indica que a verdadeira família de Jesus não
é a de ordem carnal e que a ela pertencem todos os filhos do Reino. Assim, Maria,
Mãe de Jesus é fundamental testemunho dos verdadeiros laços que criam comunhão
com Jesus. Depois de ter levado Jesus, seu filho no ventre, era preciso que ela
o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus (cf. Mc 3,35), que se
manifestava naquilo que Jesus dizia e realizava. Neste sentido, a figura de
Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura da “discípula” (SERRA,
1995).
1.2 Maria no Evangelho de Mateus
No Evangelho de Mateus a pessoa de Maria aparece em
dois momentos: nos relatos da infância (cf. Mt 1-2) e no ministério apostólico
de Jesus ( cf.Mt 12,46-50; 13,54-58). O primeiro é composto por relatos
próprios de Mateus; o segundo está em dependência de Marcos, mas Mateus toma
diante dele tal liberdade que é capaz de transformar seu sentido e seu
ensinamento (ALVAREZ, 2005).
No Evangelho da Infância em Mateus, Jesus, como
todos os meninos, não chega ao mundo sem um pai e uma mãe. Mateus fala de José,
esposo de Maria (cf. Mt 1,16) e de Maria esposa de José (cf. Mt 1,24). Maria,
por sua vez não tem existência sem José, do qual é esposa, e sem Jesus, do qual
é mãe. Maria é aquela que gera e é mãe, ao passo que José é somente o pai
legal.
Mt 1,3 fala sobre a concepção de Jesus, diz que
esta se realizou “para que se cumpra o oráculo do Senhor, por meio do
profeta [...]” e cita Is7, 14, aplicando a Jesus a realidade do “Emanuel” e
a Maria a de “virgem”. (Mateus quando) Ao falar do nascimento de Jesus, Mateus
recorrendo ao texto de Isaías, não somente assume a interpretação dos LXX, mas
ele mesmo interpreta teologicamente esse nascimento: Jesus é o Emmanuel e nasce
de Maria Virgem. Neles dois se realiza plenamente o oráculo do profeta: Jesus é
o Messias, e Maria é a Mãe-Virgem e, este fato maravilhoso somente pode ser
entendido como a obra do Espírito Santo (ALVAREZ, 2005).
A união de Maria com seu Filho é, então, íntima,
total e permanente. Desde a concepção virginal, Maria está expressamente unida
a Jesus e é inseparável dele. Por isso, os escritores eclesiásticos aprofundam
nesta realidade, dizendo que não podemos entender Jesus sem Maria e entender
Maria sem Jesus.
Podemos notar, finalmente, como que um contraste
nas expressões de Mateus: Enquanto Jesus é o Emmanuel de Deus, Deus – conosco,
Maria é a Mãe que está sempre junto do seu Filho. Ela é a resposta permanente à
presença sempre atual do Senhor na história.
Quanto ao ser discípulos de Jesus significa cumprir
a vontade do Pai no céu, realizar seu plano. Para Mateus, o discípulo integra,
então, a escuta da Palavra e sua ação (cf. Mt 5,19;Mt7,24-25), o estar junto de
Jesus e sob a sua proteção (cf. Mt 12,49-50). E Maria, com perfeita discípula e
“família dele” em um nível muito mais forte e firme do que o dos laços físicos
de geração (ALVAREZ, 2005).
Portanto, o Evangelho de Mateus nos fala que Maria
está intimamente ligada ao seu Filho Jesus Cristo, desde antes do nascimento e,
uma vez nascido para o mundo, está unida a ele nos momentos fundamentais de sua
vida e de seu ministério. Assim, Maria aparece, mesmo sem palavras, como
testemunha da graça abundante de Deus para seu povo, mas também como mãe que
cuida e acompanha o Filho de suas entranhas (ALVAREZ, 2005).
1.3 Maria no Evangelho de Lucas
De todos os Evangelhos, Lucas é o que mais nos fala
de Maria. Primeiramente nos relatos da infância, onde ela tem um papel mais
ativo do que o que vimos em Mateus; em seguida, no marco da atividade
apostólica de Jesus, com quatro textos, dois dos quais coincidem com as
tradições de Marcos e de Mateus (cf. Lc 4,16-30 e 8,19-21) e outros dois que
pertencem à tradição própria de Lucas (cf. Lc 3,23 e 11,27-28); por último, no
começo dos Atos dos Apóstolos, quando se inicia a história da Igreja (cf. At
1,14) (ALVAREZ, 2005).
A primeira coisa que temos de afirmar, ao entrar na
análise dos textos lucanos sobre Maria, dentro do chamado Evangelho da infância
(Lc1-2), é que os textos são fundamentalmente cristológicos e mariológicos.
Maria não tem uma identidade e uma vocação própria, mas dentro e a serviço da
cristologia. Ela é tudo para Jesus e se transforma e se enriquece plenamente
por e para Jesus. Para isto, temos alguns títulos que ilustram esta tão
grandiosa discípula: Filha de Sião, Virgem e Mãe, Cheia de Graça, Morada de
Deus, Cheia do Espírito, Serva e mulher de fé e Portadora da santa presença.
Temos também textos bíblicos que falam da sua experiência como Mãe do Salvador:
Lc1, 26-28 (o anúncio do Anjo); Lc1-39-45 (a visita a Isabel); Lc1, 46-55 (o
cântico da libertação). Assim sendo, Maria surge em Lucas como a primeira
mensageira do Evangelho de Deus: leva a Notícia da paz, da felicidade e da
salvação, desde a Galiléia até a região de Judá. Mas Maria é a primeira mulher
que acolhe o Evangelho e o comunica a seus irmãos, trazendo-lhes o gozo
escatológico, quer dizer, a alegria e a segurança da salvação definitiva (cf.
Lc 1,44) (ALVAREZ, 2005).
Em Lucas percebemos a participação e a cooperação
de Maria no plano da salvação, desde a anunciação até o início da Igreja: “todos
estes unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais
Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1,14) (ALVAREZ, 2005).
Portanto, no Evangelho de Lucas vimos que Maria é
apresentada como a Mãe do Salvador e esta em Atos exerce a função de Mãe da
comunidade, pois, ela se encontra reunida com esta comunidade nascente para
receber em oração a Promessa do Espírito; com esta comunidade reunida com os
seus para orar e esperar de seu Filho o presente dos tempos novos. É,
finalmente, irmã na comunidade e discípula do Senhor exaltada, que permanece em
Jerusalém em cumprimento da Palavra do Mestre (cf. At 1,5-8) (ALVAREZ, 2005).
1.4 Maria no Evangelho de João
O quarto Evangelho oferece-nos a história de
Cristo, num esforço de “memória viva” que parte da fé pascal (cf. Jo
2,17.22;12,16;13,7;20,9) e é realizada por obra do Espírito, o Paráclito, que é
testemunha fiel e o hermeneuta qualificado da vida e da obra do Cristo joânico
(cf. Jo 14,15-17;15,26;16,7-11.13.15). O quarto Evangelho é do final do século
I e expressa a situação de duas igrejas, primeiro na Síria e depois na Ásia Menor
(ALVAREZ, 2005).
A figura de Maria aparece no quarto Evangelho em
duas ocasiões, no começo e no final do Evangelho. Em ambas, Maria é chamada “a
Mãe de Jesus” (cf. Jo 2,1.3.5;19,26), e em ambas a palavra do Mestre vai
dirigida a ela com o nome de “mulher” (cf. 2,3;19,26), mas nunca aparece o nome
próprio de Maria. No Evangelho de João Maria é chamada por dois nomes: “Mãe de
Jesus” e “Mulher”. Enquanto a expressão “Mãe de Jesus” é um título que
contrasta com a outra afirmação, “filho de José”, o termo “mulher” é comum em
Jesus para dirigir-se às mulheres (cf. Mt15, 28; Lc13, 12; Jo4, 21; 8,10;
20,13). Contudo aqui, dito à sua Mãe tem uma conotação especial: o termo
“mulher” dirigido por Jesus é um termo joânico que aparece em duas ocasiões (em
Caná e na cruz) e forma uma espécie de inclusão. A mulher está presente no
começo e no fim da vida pública, no momento em que o Messias inicia suas obras
e na hora da morte, quando consuma sua obra (ALVAREZ, 2005).
Maria aparece no Evangelho de João, sobretudo em 2,1-12
como intercessora e evangelizadora. Como intercessora Maria apresenta
simplesmente a Jesus, a necessidade dos que participam da festa de bodas: “Não
há mais vinho” (Jo 2,3). Já como evangelizadora, a segunda palavra de Maria
que encontramos no quarto Evangelho é significativa não só pelo que diz, mas
também por aqueles aos quais a diz: “Fazei o que ele disser” (Jo 2,5)
(ALVAREZ, 2005).
Se em Caná, Jesus lhe disse que ainda não havia
chegado sua “Hora” e iniciou seus sinais, aqui, na cruz, na Hora da Páscoa,
Jesus realiza seu último e definitivo sinal da salvação, a morte por todos e a
entrega do Espírito (cf. Jo 19,30). Assim, Maria é chamada novamente com dois
títulos de Caná: a Mãe de Jesus e a Mulher. Maria também é a testemunha por
excelência da Páscoa de Jesus diante da comunidade (cf. Jo 19,35; 21, 24). E
esta comunidade, ao entender o gesto de seu Senhor, a recebe entre seus bens
mais preciosos: Maria passa a ser um bem precioso com que Jesus Cristo
presenteia a Comunidade, um dom da Páscoa de inapreciável valor; mas também a
Mãe de todos acolhida como tal (ALVAREZ, 2005).
A visão do quarto Evangelho é nitidamente teológica
contribui para realçar o papel de Maria no mistério de Jesus. Assim, o
Evangelho de João articula os três elementos, Maria – Mãe de Jesus, Maria –
Mulher e Maria – Mãe dos discípulos, segundo uma graduação teológica: partindo
de Maria – Mãe de Jesus para chegar a Maria – Mãe dos discípulos, com uma
maternidade nova.
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Nieustanne potrzeby??? Nieustająca Pomoc!!!
Witamy u Mamy!!!