Têm-se multiplicado, no Brasil e no
estrangeiro, fenômenos de aparições atribuídas à Virgem Santíssima, as opiniões
se acham divididas a respeito. No século XVI, começa com mais frequência o
fenômeno de “aparições”. Em 1531, em Guadalupe, a Virgem Santíssima terá
aparecido ao índio Juan Diego; em 1858, em Lourdes (França), a Sta. Bernadete
Soubirous; em 1917, em Fátima (Portugal), a três pequenos pastores. No
Brasil, em 1717, a imagem de Nossa Senhora Aparecida é
encontrada no Rio Paraíba por três pescadores.
Em 1960, em Erechim, Rio Grande do Sul, Nossa Senhora da Santa Cruz estaria se manifestando a Dona Dorotéia. Em 1967-1977, Nossa Senhora da Natividade teria aparecido ao Dr. Fausto Faria, em Natividade (Rio de Janeiro). Após 1988 até nossos dias numerosos são os casos que vão sendo registrados. Fora do Brasil, o historiador Yves Chiron contou, no século XX até 1993, um total de 362 aparições de Nossa Senhora. Sobre a grande maioria destas aparições a Igreja não se pronunciou.
O procedimento da igreja: o inquérito
A Igreja crê na possibilidade de
aparições do Senhor e de seus Santos. Assim como para São Paulo, na estrada
para Damasco (At 9,3-9). São Pedro teve uma visão antes de ir à casa do
centurião Cornélio (At 10,9-11). Santo Estevão, antes de morrer, viu a glória
de Deus e Jesus à direita do Pai (At 7,55s). Todavia, antes de se pronunciar a
respeito de alguma aparição, a Igreja é cautelosa:
1. Verifica-se, se da parte
dos(as) videntes, há debilidade mental, fantasia exuberante, desonestidade,
charlatanismo ou manifestação de psiquismo exaltado (laudo negativo);
2. Laudo positivo no plano
espiritual e físico (conversões, curas de doenças e outros benefícios...). Em
tais casos, a Igreja não somente permite, mas favorece o culto ao Senhor ou aos
(à) Santos(as) que se julga ter aparecido. La Salette, Nosso Senhora de
Lourdes, de Fátima... Embora a Igreja favoreça o culto a Nossa Senhora em tal
lugar, ela nunca diz, nem dirá, que a Virgem Santíssima apareceu; o fenômeno
“aparição” não pode ser definido pela Igreja como verdade de fé. A revelação
pública e de fé está encerrada com a geração dos Apóstolos; nenhum artigo pode
ser acrescentado ao Credo (Dei Verbum, 4).
A dispensação da graça
cristã, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar
alguma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor
Jesus Cristo (1Tm 6,14 e Tt 2,13). O Papa Bento XIV (1740-1758) publicou as
seguintes observações: “a dita ‘aprovação’ da Igreja não é senão uma permissão;
atesta que os fenômenos alegados não estão em desacordo com a fé, os costumes e
a missão da Igreja. Não pedem adesão de fé divina ou católica, mas pode
suscitar a fé humana”.
3. Pode também a Igreja
abster-se. É o que acontece na maioria dos casos. Em consideração desses
frutos, a Igreja deixa que a piedade se desenvolva até haver razões de ordem
doutrinária ou moral que exijam algum pronunciamento.
Quando não incorrem erros no
tocante à fé ou à moral, os fenômenos extraordinários têm alto potencial
evangelizador, que merece respeito e não podem ser deixados de lado. Aos
pastores compete, de um lado, confirmar os irmãos na fé, e, de outro lado,
ajudar os fiéis a superar a demasiada credulidade, para que esta não venha a
ser um fator de descrédito da própria mensagem cristã.
As sábias ponderações:
Verifica-se que várias das
mensagens atribuídas a Nossa Senhora em nossos dias são marcadas por forte
pessimismo. Descrevem a situação do mundo atual em termos apocalípticos: o
demônio estaria solto, a corrupção generalizada, os castigos de Deus seriam
iminentes, implicando catástrofes de âmbito mundial, condenação dos pecadores e
salvação para os justos. Sobre este pano de fundo pedem-se oração e penitência.
a. O mundo está vivendo uma
situação de crise generalizada;
b. O pessimismo e o
desespero;
c. O Brasil é muito sacudido
por correntes que dizem receber comunicações do além;
d. Muitas pessoas se deixam
levar pelo sentimentalismo e emoções;
e. Muita gente quer ser dirigida; espera um guru
ou um líder privilegiado. Consciente disto, a Igreja usa sempre de grande
cautela desde que se propague a notícia
de algum fenômeno extraordinário.
A prudência - eis alguns traços:
a. A Igreja, de um lado, se
sente responsável pela conservação incólume da doutrina da fé, de acordo com o
mandato de Jesus Cristo (Mt 16,16-19; Lc 22,31s; Mt 28,18-20). Doutro lado, ela
sabe que o Espírito Santo pode falar por vias extraordinárias, de tal modo que
não lhe é lícito extinguir o Espírito, como diz S. Paulo em 1Ts 5,19s;
b. O extraordinário deve
ficar sendo sempre extraordinário. Não é via normal pela qual Deus guia os seus
filhos; o normal é a via da fé..., fé que se distingue de crendice, pois a fé
supõe credenciais ou motivos para crer; a fé não diz Sim a qualquer notícia de
portento;
c. Aparições e revelações não
devem ser presumidas nem admitidas em primeira instância num juízo precipitado.
Procurem-se, antes do mais, as explicações ordinárias ou naturais (físicas,
psicológicas ou parapsicológicas). É preciso levar em conta a fragilidade
humana, sujeita a engano, alucinações, sugestões coletivas. Daí o senso
crítico, que deve começar por investigar aquilo de que realmente se trata, para
depois procurar a explicação adequada. Leve-se em conta, especialmente, a
tendência dos meios de comunicação social a provocar artificialmente as emoções
e o sensacionalismo, sem compromisso sério com a verdade;
d. Toda autêntica aparição há
de ser coerente com as linhas e o espírito do Evangelho. Deve confirmar o que
este ensina:
As muitas minúcias (quanto a
datas, local, duração e tipo de fenômenos preditos) merecem reservas, pois não
há habituais na linguagem da Escritura Sagrada;
O que certamente se pode e
deve depreender de toda a genuína mensagem do céu, é a exortação à oração e à
penitência; La Salette, Lourdes e Fátima clamam altamente por tais atitudes a
ser assumidas pelos fiéis católicos. O Papa João XXIII nos fala que os dons
extraordinários são concedidos aos fiéis: “não para propor doutrinas novas, mas
para guiar a nossa conduta”.
Aparições de Maria (2)
Continuamos a responder as principais perguntas sobre as
Aparições de Maria. Se você quer conhecer mais, leia: "Visões e Aparições.
Deus continua falando?", A. Murad, Ed. Vozes.
1. Como distinguir se
uma aparição é autêntica?
Não podemos afirmar com total certeza, mas alguns critérios
nos ajudam:
* Equilíbrio mental do vidente: se a pessoa tem boa saúde
psíquica. Indivíduos mentalmente desequilibradas podem ter visões de Nossa
Senhora, que são apenas criação de sua imaginação e do seu desejo. Normalmente,
os videntes que querem ser reconhecidos pela Igreja, são submetidos a uma junta
de profissionais, psiquiatras e psicólogos, para avaliar sua saúde mental.
* Honestidade do vidente e de seu grupo: O vidente e seu
grupo devem buscar, com simplicidade, a fidelidade à vontade de Deus, e não
seus interesses próprios. Por vezes, a busca de fama, poder ou dinheiro, ou a
pressão de parentes e amigos acaba produzindo aparições induzidas nos videntes.
Em resposta a estes estímulos, eles passam a criar e repetir mensagens, para
atrair o grande público.
* Qualidade da mensagem: a mensagem do vidente deve estar de
acordo com o evangelho e a caminhada da Igreja no seu país e no mundo. Deve ser
Boa-Notícia, atualização do Evangelho para nós. Se, ao contrário, o vidente só
lembra do castigo e da ira de Deus, está esquecendo a mensagem de misericórdia
do evangelho (Lc 15). Se o vidente veicula mensagens eivadas de julgamentos e
preconceitos contra pessoas e grupos, é sinal que não vem de Deus, mas do
engano, do orgulho e da vaidade.
* Frutos das aparições: se o movimento de uma aparição leva
muitos cristãos a viver melhor a fé, a esperança e a caridade, é um bom sinal.
Também as curas e milagres podem nos dizer que Deus está agindo ali de maneira
especial.
Esses quatro critérios podem ajudar você a analisar se um
movimento de suposta aparição é bom e digno de crédito.
2. Qual a diferença
entre “visão” e “aparição”?
Aparição significa que Maria glorificada se manifestou a um
ou mais videntes e lhes deixou uma mensagem, para ser transmitida aos outros.
Visão é um tipo de experiência mística extraordinária, na qual uma pessoa
afirma ter visto a mãe de Jesus. Normalmente a visão vem acompanhada de uma
mensagem. Mas também há místicos que não vêem, mas ouvem vozes de Jesus, de
Maria, ou de algum santo. Isso pode acontecer também com qualquer um, alguma
vez na vida, em momentos de intensa experiência espiritual. Quando falamos em
aparição, estamos qualificando o fenômeno do ponto de vista do Sagrado que
provavelmente aí se manifesta. Se dizemos visão, estamos sendo mais cautelosos,
pois só dizemos que uma pessoa experimentou algo extraordinário. De qualquer
forma, um pretenso vidente necessita de acompanhamento espiritual e humano
qualificados, para discernir o que está acontecendo nele e ajudá-lo na
caminhada de fé.
3. Os católicos
necessitam acreditar nas aparições?
Não. As aparições não fazem parte do credo e dos dogmas
católicos. Temos a liberdade de aceitar ou ignorar essa experiência religiosa.
As aparições têm seu valor espiritual, mas não são absolutas. Até os pedidos
dos videntes - que eles consideram vindos de Maria - como rezar o rosário ou
fazer penitência, são apenas conselhos para ajudar a nossa vida cristã. Ninguém
é obrigado a segui-los. Se alguém sente que isso a aproxima de Deus e o ajuda a
realizar Sua vontade, pode se servir deles. Mas ninguém tem direito de julgar
os que não acreditam nas aparições e ignoram os pedidos dos videntes. Por outro
lado, os que não crêem em aparições devem respeitar os que pensam diferente
deles. O católico pode confiar na experiência e na mensagem de alguns videntes,
mas será uma confiança humana, mesmo que haja muitos sinais maravilhosos.
4. Como a Igreja reconhece a autenticidade de uma aparição?
Trata-se de um processo longo e demorado. Abre-se um processo
canônico, que começa na diocese onde acontece o fenômeno. Isso exige que o
bispo esteja aberto para analisar o fenômeno e creia que pode haver algo “a
mais” acontecendo com o vidente. Uma comissão de peritos analisa a situação
psíquica do vidente. O mesmo acontece com o teor das suas mensagens. Analisa-se
também a qualidade dos sinais extraordinários realizados, especialmente curas e
conversões. Passada esta fase, toda a documentação é enviada a Roma, que pode
nomear outras comissões para convalidar o processo diocesano. O reconhecimento
oficial é muito moderado na sua linguagem. Declara-se que a mensagem do vidente
“é digna de fé humana” ou seja, pode ser divulgada e acolhida pelos fiéis, mas
não constitui algo original ou obrigatório para a experiência cristã. Aceita-se
que no local seja erguido um santuário de louvor a Maria, com o nome que o
vidente lhe conferiu. Em momento nenhum, o documento oficial da Igreja declara
que Maria apareceu naquele lugar. Por isso, as aparições estão no campo
devocional, e não do dogma.
Ainda voltaremos a esse assunto!
OdpowiedzUsuńQuando? - em breve!
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