Magnificat - Cântico de Maria (Lc 1,46-55)
Atenção!!!
Em breve o novo livro do padre José Grzywacz, CSsR
Magnificat: cântico revolucionário de Maria, a mãe de Jesus.
CURSO DE MARIOLOGIA - Pe. Eugênio
Antônio Bisinoto C. Ss. R.
Organização: Pe. Jozef
Grzywacz, CSsR
No canto de Maria (Lc
1,46-55), Lucas traz belíssimo hino em que Maria , cheia de fé, louva a Deus em sua vida,
na história da humanidade e no povo de Deus.
-
O Magnificat é o canto de Maria na casa de Isabel e
de Zacarias, em que ela, cheia do Espírito Santo, proclama as maravilhas de
Deus em sua existência e no povo.
1. O canto de Maria foi denominado de
Magnificat, primeira palavra na versão desse hino, significando engrandecer ou
exaltar.
2. O Magnificat é o canto que Maria pronuncia
na casa de seus parentes, Isabel e Zacarias, por ocasião de sua visita,
conforme a narração de Lucas (1,46-55).
3. Respondendo à saudação de Isabel, Maria
canta o Magnificat, pelo qual dirige o louvor para Deus, que tudo fez e faz, ao
passo que ela se abre a Deus para atuar nela.
4. Por
isso, o Magnificat espelha a alma de Maria, vazia de si mesmo e plena de
confiança no Pai.
5. O Magnificat é o poema em Maria retrata e
recolhe a mais genuína espiritualidade dos pobres do Senhor, daqueles que se
abrem totalmente ao projeto de Deus.
6. O Magnificat é o canto profético de Maria,
que anuncia a ação de Deus que transforma radicalmente a história humana, para
estabelecer nela o Reino de Deus.
7. No Magnificat, Maria salienta que a ação de
Deus é fruto de sua misericórdia e fidelidade para com o povo.
-
O Magnificat inspira-se no canto de Ana, mãe de
Samuel, depois que Deus a livrou da humilhação da esterilidade (1Sm 2,1-10).
1.
O
cântico de Maria é composto em estilo de hino, com temas tradicionais.
2.
O
Magnificat é um cântico de puro estilo bíblico, repleto de citações e
reminiscências do Antigo Testamento.
3.
O
Magnificat é um salmo de louvor e de ação de graças, composto por referências e
alusões do Antigo Testamento (Sl
9;19;20;29;33;100;103;114;117;135;135;136;145;148;149;150;Gn 17,7;22,17;
29,32;30,13;Lv 22,2;1Cr 16,10;Eclo 10,17;Is 41,8-10;Ez
20,39;21,31;36,20-21;39,7;Dt 10,21;Mq 7,10;Sf 3,17;Ml 3,12;), de forma especial
ao canto de Ana, mãe de Samuel (1Sm 2,1-10).
4.
Provavelmente,
o canto de Maria era um hino das primeiras comunidades cristãs, onde se louva a
intervenção de Deus na história da salvação, enviando seu Filho, nascido de
Maria.
5.
No
Evangelho de Lucas, Maria, ao pronunciar o Magnificat, é protótipo da Igreja,
represente qualificada e porta-voz dos cristãos que anseiam por salvação.
O Magnificat é o canto em que Maria reconhece a
vinda de Deus para libertar e salvar os seres humanos através de Jesus Cristo. O
Magnificat está composto em três partes:
1.
Maria como orante agradecida de
Deus (Lc 1,45-49)
a.
No Magnificat, Maria é a orante agradecida de Deus.
b. Lucas expõe a ação de Deus
em Maria (Mensagem religioso-pessoal).
c.
Apesar da humildade e pobreza de vida, Deus coloca
o seu olhar em Maria e ser serve dela para tornar presente a sua salvação na
história humana.
d. Agradecida e feliz,
Maria, mulher de fé e pessoa simples, louva a Deus pela salvação recebida,
transparecendo sua interioridade (Lc 1,45-50).
Vamos destacar alguns pontos desta primeira parte:
I.
Louvor: no início de seu cântico,
Maria expressa seu louvor pela grandeza do Senhor.
1.
O Magnificat começa com uma explosão de louvor:
“Minha alma engrandece (exalta) o Senhor” (Lc 1,46).
2.
A alma (grego: “psique”) significa a vida humana em
sua raiz mais profunda.
3.
Ao exaltar o Senhor, Maria expressa uma postura de
vida: ela, como humilde serva, coloca-se nas mãos do Senhor, reconhecendo que
só Ele é grande.
4.
Por isso, Maria renuncia à auto-segurança de uma
existência construída em torno de seu ego (auto-suficiência, orgulho,
egocentrismo).
5.
Maria sai de si mesma, num verdadeiro êxtase,
reconhecendo a alteridade absoluta de Deus.
6.
Consequentemente, a psique de Maria se transmuta e
se eleva a Deus, dentro de um processo de evolução (amadurecimento) espiritual.
7.
Assim, Maria expressa uma personalidade integrada e
dirigida a Deus.
II. Alegria: no início de seu cântico, Maria manifesta uma profunda, forte e
intensa alegria.
1.
O Magnificat continua com uma explosão de alegria:
“Meu espírito se alegre (rejubila) em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47).
2.
O espírito (grego: “pneuma”) é o espaço no qual a
pessoa se introduz no divino.
3.
Nada mais simples e saudável que um transbordamento
de alegria.
4.
De acordo com o evangelista Lucas, a alegria é
sinal claro do novo tempo, no qual o Messias está no meio de nós (Lc
1,28.44.58;2,10).
5.
Os cristãos ficam alegres e exultantes: missão dos
discípulos (Lc 10,17), conversão de Zaqueu (Lc 19,9), experiência comunitária
da ressurreição do Senhor (Lc 24,41) e a ceia da comunidade (Lc 2,26).
6.
Quando a psique de Maria eleva-se a Deus, o seu
espírito humano (pneuma) prova a alegria incomparável de encontrar sua raiz
última, integrando as diferentes dimensões de sua pessoa.
7.
Assim, Maria expressa no Magnificat um traço
essencial do cristianismo: a alegria.
III. Humildade: Maria proclama a grande do Senhor porque olhou
para a humildade de sua pessoa.
1.
No Magnificat, Lucas afirma: “Deus olhou para
humilhação de Maria” (Lc 1,48).
2.
Na Bíblia, a humilhação (grego: “tapeinós”) tem
dois sentidos: alguém humilhado pelo outro (Eclo 13,13;Pr 30,14;Am 8.6); e
piedoso que confia em Deus, seu defensor (Dt 10,17;Sf 2,3;Sl
37,16;84,11;103,6;140,13).
3.
A humildade é a virtude pessoal de Maria, que
assume com coragem sua condição social de mulher pobre e sua postura ética de
piedosa que se entrega nas mãos do Senhor, cheia de temor e de confiança.
4.
Além disso, a humildade de Maria significa seguir a
Jesus no seu projeto de inaugurar o tempo novo do Reino de Deus, empenhando-se
para a sociedade seja como Deus quer, uma família de irmãos e irmãs, com
justiça e solidariedade, sem carência de bens e exploração.
5.
Assim, Maria, como discípula de Jesus, é a mulher
simples e humilde, que reconhece, na gratuidade e na confiança, que seus dons e
qualidades são dons do Senhor.
IV. Serviço: Maria é a serva do Senhor.
1.
No Magnificat, Maria declara que Deus olhou para a
sua serva (Lc 1,48).
2.
Maria se proclama serva (grego: “doúlee”) porque
está totalmente a serviço de Deus.
3.
Maria se coloca a serviço na longa lista dos servos
na Bíblia, que têm sua grande expressão no servo de Javé (Is
42,1-9;49,1-9;50,4-9;52,13-53,12).
4.
No Novo Testamento, Maria está em sintonia com a
espiritualidade de Jesus, que é o servo do Pai por excelência (Mt
3,17;12,17-21;17,5).
5.
Serva é um título de honra e de humildade aplicado a
Maria.
6.
Por um lado, é um título de honra porque Maria se
coloca à disposição de Deus onipotente.
7.
Por outro lado, é um título de humildade porque
Maria é dependente de Deus e se faz instrumento da vontade dele na história.
V. Admiração: Maria confessa admirada por todas as gerações.
1.
No Magnificat, Maria diz claramente: “Doravante
todas as gerações me felicitarão” (Lc 1,48).
2.
Na Bíblia, a maternidade é sempre uma bênção de
Deus e uma felicidade para a mulher.
3.
Então, a maternidade de Maria é a mais abençoada por
ser aquela que concebe e gera Jesus, o Salvador da humanidade.
4.
Na verdade, a admiração de Maria (elogio) começa já
no Novo Testamento e continua na vida da Igreja e na história humana (cf.
1,28;1,42;1,45;11,27).
5.
O culto de admiração e de amor por Maria se propaga
por todas as criações humanas e culturais, dentro e fora do cristianismo:
igrejas, santuários, capelas, prosa, poesia, literatura, arte, religião,
teologia, ética, pintura, escultura, arquitetura, cânticos, músicas e outras.
VI. Maravilhas de Deus: Maria reconhece que Deus fez maravilhas em sua
vida.
1.
No texto de seu cântico, Maria bendiz a Deus: “O
Todo-poderoso realizou grandes obras em seu favor” (Lc 1,49).
2.
As maravilhas de Deus são todas as obras que Deus
fez no passado do povo e na vida de Maria.
3.
Por um lado, Deus realizou grandes ações
libertadoras na história do povo de Israel: êxodo (Ex 15,1-18) e retorno da
Babilônia (Es 1,1-11) como eventos fundantes.
4.
De todas as realizações libertadoras de Deus na
história, Maria é portadora da maior e esplêndida maravilha salvífica: Jesus
Cristo.
VII.
Santidade de Deus: Maria declara que Deus é
santo.
1.
No Magnificat, Maria louva a Deus: “Seu nome é
santo” (Lc 1,49).
2.
Deus é, por excelência, o santo e a fonte de
santidade (Sl 99,1-9;Is 1,4;6,3;57,15;Jo 17,11).
3.
Quando proclama que o nome de Deus é santo, Maria
não só reconhece a santidade de Deus, como quer ela seja reconhecida por todos.
4.
Maria foi mulher santa porque foi salva pela graça
do Senhor e participou da santidade de Deus.
5.
O projeto redentor de Deus se realizou em Maria, e
ela refletiu e brilhou a santidade do Senhor.
6.
Olhando para a figura santa de Maria, todos nós
somos chamados à santidade (cf. 1Ts 4,7).
2.
Maria como profetisa da nova humanidade (Lc
1,51-53)
a.
No
Magnificat, Maria é a profetisa da nova humanidade, fruto da transformação e
renovação do Senhor.
b.
Lucas demonstra a ação de Deus na história humana
(mensagem religioso-social).
c.
Deus realiza o Reino de Deus no mundo da humanidade
mediante sua ação transformadora nas relações sociais.
d.
Em seu cântico, Maria, movida pelo Espírito Santo,
é membro da raça humana e profetisa, que proclama a vinda do Reino de Deus,
efetuada pelo Senhor, que transforma e renova os relacionamentos no campo da
religião, da economia e da sociedade. (Lc 1,51-53).
Vamos frisar alguns temas:
VIII.
Amor de Deus: Maria canta o amor de
Deus na história da humanidade.
1.
No Magnificat, Maria proclama: “O amor de Deus
chega aos que o temem, de geração a geração” (Lc 1,50).
2.
No texto, usa o termo “amor” (grego: “éleos”), que
traduz dois vocábulos hebraicos: “hesed” significa o amor de solidariedade e de
libertação; e “rahamim” (é plural da raiz hebraica: “réchem” = seio materno)
denota compaixão, amor entranhado, visceral, íntimo, gratuito e criativo.
3.
Assim, o amor de Deus é um amor íntimo, gratuito,
solidário e libertador, capaz de perdoar infinitamente e de gera perdão,
criador de vida.
4.
Em seu cântico, Maria vê o amor de Deus cobrindo a
história inteira, movendo-a, libertando-a, transformando-a e salvando-a.
5.
Maria reconhece a ação de Deus que modifica e
recria os relacionamentos humanos e sociais.
6.
Por isso, a ação recriadora de Deus, que Maria
testemunha, provém de seu amor gratuito e solidário.
IX. Temor: Maria canta o amor de Deus se estende aos tementes.
1.
No texto, Maria diz claramente: “O amor de Deus
chega aos que o temem” (Lc 1,50).
2.
O temor (tementes = “phobouménois” no grego) leva
as pessoas a respeitarem a Deus como Senhor, e não ofendê-lo com sentimentos,
palavras e ações.
3.
Assim, o temor não é um medo infantil que paralisa
a pessoa diante do Senhor, mas uma atitude madura de reconhece sua grandeza,
reverenciá-lo e servi-lo.
4.
No Magnificat, Maria relembra o amor de Deus que é
acolhido pelos tementes que o respeitam.
5.
Assim, os tementes são objeto da graça de Deus e de
sua ação salvadora, porque eles o colocam no centro de suas vidas e são
instrumentos d’Ele na transformação da história.
X. Ação transformadora de Deus: Maria proclama a ação transformadora de
Deus na história.
1.
No texto lucano, Maria declara com vigor profético:
“Deus exerce o poder com seu braço: dispersa os soberbos de coração, derruba do
trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens e despede os
ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).
2.
Embora use termos em contraposição
(poderosos/humildes, ricos/famintos), Lucas não defende mera troca de papéis,
quem está em cima passaria para baixo e vice-versa.
3.
O texto lucano expressa a indignação contra a
injustiça que reina no mundo.
4.
O evangelista denuncia como o orgulho, o mau uso do
poder e a concentração da riqueza econômica estragam a todos, ricos e pobres.
5.
No Magnificat, Maria alimenta a espera de que vale
a pena sonhar e criar alternativas em vista de uma nova sociedade mais fraterna
e justa.
6.
A garantia da esperança de Maria vem o amor fiel de
Deus, que socorre a todos, judeus e todas as raças.
XI. Poder de Deus: Maria reconhece o poder de Deus na história
humana.
1.
Em seu cântico, Maria preconiza: “Deus exerce o
poder com seu braço” (Lc 1,51).
2.
Ao longo da história da salvação, Deus exerce seu
poder (Sl 118,5-16) com seu braço (Ex 15,16;Is 51,5.9).
3.
A expressão “poder de Deus com seu braço” quer
dizer que Deus intervém, toma a iniciativa e age na história humana, porque nós
cremos na providência do Senhor.
4.
A expressão “poder de Deus com seu braço” nos
reporta ao Deus criador, libertador e vitorioso, tanto na obra da criação (Sl
89,11), como na ação do êxodo (Sl 136,11-12).
5.
O Deus libertador, que agiu no passado do povo de
Deus, age agora em Maria e agirá futuramente caminhada dos seres humanos.
6.
Deus realiza tríplice transformação das situações
na história, a fim de restaurar a humanidade na salvação, obra de Jesus:
religião, política e econômica.
XII.
Ação transformadora de
Deus no campo da religião: Maria profetiza que os soberbos serão dispersos.
1.
No texto bíblico, Maria afirma que Deus “dispersa
os soberbos de coração” (Lc 1,51).
2.
O soberbo de coração são os homens e as mulheres
auto-suficientes, orgulhosos e arrogantes.
3.
A soberba é o vício capital, que se manifesta no
amor desordenado da pessoa por si própria, excluindo o senhorio de Deus e a
fraternidade.
4.
O orgulho é fonte de todos os vícios e pecados (Gn
3,1-24;Is 14,12-14).
5.
Os orgulhosos, que alimentam em seu íntimo as
maquinações e perversões, são convocados por Deus à conversão (Ez 33,11).
6.
O próprio Jesus condenou o orgulho, mostrando a
necessidade de conversão e de humildade (Mt 11,29;Mt 23,11-12;Lc 18,9-14).
7.
No Magnificat, Maria reconhece que Deus vai
desarticular e desbaratar os orgulhosos, tirando-lhes a força e anulando os
seus projetos.
8.
Por isso, ao afirmar a dispersão dos orgulhosos,
Maria postula a ruptura de uma postura de vida: do orgulho para a fé em Deus,
colocando-o acima de tudo e se deixando guiar por sua palavra salvífica.
XIII.
Ação transformadora de
Deus no campo da política: Maria adverte a queda dos poderosos e a elevação
dos humildes.
1.
No trecho lucano, Maria declara que Deus “derruba
do trono os poderosos e eleva os humildes” (Lc 1,52).
2.
Na Bíblia, o termo “trono” simboliza o poder
político e a legislação (2Sm 3,10;Sl 122,5).
3.
Os poderosos (portentosos) são aqueles que detêm o
poder e a lei, e, muitas vezes, abusam deles, os corrompem e se beneficiam
deles (Jó 12,18-19.29;Pr 3,34;Is 2,11-17;10,1-4;Jr 5,23-21;Dn 4,34;Ez 21,31).
4.
Os humildes são aqueles que reconhecem sua absoluta
dependência de Deus, considera seus bens, talentos e habilidades como dons do
Senhor e procuram usá-lo de acordo com o projeto do Criador (Sl
10,17;22,27;25,9;37,11;69,33).
5.
No texto de Lucas, o termo “derrubar” é depor,
abater e tirar, enquanto “elevar” significa reabilitar e resgatar.
6.
Assim, Maria afirma que Deus tira o poder e a lei
dos que utilizam mal e os restabelece aos humildes.
7.
Deus resgata a dignidade das pessoas humanas e seus
direitos básicos, reabilitando o poder e a lei como instrumentos do bem comum e
do serviço à sociedade.
8.
Portanto, Maria exige a ruptura no campo da
política: da dominação e da opressão para o uso do poder e da lei para o bem.
XIV.
Ação transformadora de
Deus no campo da economia: Maria proclama que Deus enche de tens os
necessitados.
1.
Maria afirma sua confiança no agir de Deus: “Aos
famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).
2.
Na Bíblia, Deus sempre deseja saciar de bens e
alimentos suas criaturas (Dt 19,15-18;Sl 34,11;104,27-28;107,8-9;136,5).
3.
No Novo Testamento, Jesus, como Messias, anuncia
que o sinal da vinda do Reino de Deus é o acesso de todos aos bens e a partilha
deles (Mt 14,13-21;Lc 6,21-22;16,19-31;Jo 6,14-15.26).
4.
Os ricos orgulhosos são aqueles que acumulam e
concentram os bens, excluindo os pobres (Lc 6,24-25;Tg 5,1).
5.
Quando afirma que Deus enche de bens os famintos e
despede os ricos de mãos vazias, Maria apregoa que todos os seres humanos devem
ter acesso aos bens e viver o espírito de partilha e de sobriedade.
6.
Por isso, Maria requer a ruptura no campo
econômico: da acumulação egoísta para a sociedade de partilha generosa dos
irmãos.
3. Maria como
intérprete do povo de Deus (Lc 1,54-55)
a.
Maria é a intérprete do povo de Deus.
b.
Lucas rememora a ação de Deus em Israel (mensagem
religioso-étnica).
c.
O Senhor age na história do povo de Deus, cumprindo
as promessas feitas a Abraão e aos seus descentes, em razão de sua fidelidade e
misericórdia.
d.
Todas as promessas dadas a Abraão e aos seus
descendentes se cumprem neste momento da história da história da salvação nesta
criança que vai nascer de Maria, Jesus, o Messias.
e.
No Magnificat, Maria, como uma mulher de Israel,
recorda e agradece a ação de Deus, sua fidelidade e sua misericórdia, a partir
da promessa a Abraão (Lc 1,54-55).
Vamos expor os seguintes
aspectos:
XV.
Socorro de Deus: Maria canta o socorro de
Deus para com seu povo.
1.
No texto bíblico, Maria afirma que Deus “socorre
Israel, seu servo” (Lc 1,54).
2.
Deus estabelece a aliança com Israel, elegendo-o
como seu servo livre e o protegendo sempre (Lc 25,23-25;Nm 35,19;Is 41,8-16).
3.
Por sua vez, o povo tem um compromisso com a
aliança, sendo fiel aos seus mandamentos e preceitos (Ex 19,1-8).
4.
Se está plenamente inserida na vida de Israel,
Maria carinho terno e profundo pelo povo da aliança.
5.
No Magnificat, Maria retoma a aliança do povo
israelita e recorda o socorro que Deus tem por ele.
XVI.
Misericórdia de Deus: Maria canta a
misericórdia de Deus para com o povo de Israel.
1.
No texto bíblico, Maria proclama que Deus
“lembra-se de sua misericórdia” para com o povo de Deus (Lc 1,54
2.
Maria relembra que a misericórdia perpassa toda a
história do povo de Isael.
3.
Maria declara que Deus exercita a misericórdia,
socorrendo o seu povo eleito, abaixando-se.
4.
A transcendência de deus se faz condescendência.
5.
O Poderoso é pura bondade.
6.
Deste modo, Maria reafirma que Deus se inclina para
a miséria do povo e de todo ser humano.
XVII.
Fidelidade de Deus: Maria declara que Deus é
fiel para o povo de Israel.
1.
No texto lucano, Maria diz que Deus cumpre
fielmente as promessas feitas a Abraão e aos seus descendentes (Lc 1,55).
2.
No Antigo Testamento, as promessas feitas a Abraão,
patriarca do povo de Israel, são: terra, descendência e bênção universal (Gn
12,1-9).
3.
No Novo Testamento, as promessas de Deus são
reelaboradas e aprofundadas: Reino de Deus (Mt 5,5;Hb 4,8-9;11,13-16), Cristo
(Gl 3,16), cristãos (Rm 5,16-17) e salvação de todos em Jesus (Gl 3,8-9).
4.
As promessas de Deus se prolongam ao longo da
história em favor de toda a humanidade (Gn 17,7;Mq 7,20).
5.
No Magnificat, Maria ressalta a fidelidade de Deus
em cumprir suas promessas no passado, na vida de Jesus, na Igreja e na história
humana.
6.
Maria proclama seu jubilo em constatar a fidelidade
de Deus sempre.
O Magnificat traça uma
bela e rica imagem de Maria: Profissão de fé de Maria no Deus vivo e verdadeiro
1.
O Magnificat
é uma profissão de fé transformada em canto.
1.
O Magnificat evidencia o Deus em que Maria deposita sua
fé.
2.
Espelha “sua alma vazia de si mesma e plena de
confiança no Pai” (CNBB. Catequese Renovada. Doc. 26, nº. 233).
3.
Expressa o mistério de Deus voltado para a história
da salvação.
2.
O Magnificat
afirma a transcendência de Deus.
1.
Ele é o Senhor (Ho Kyrios: v. 46) e próprio o Deus
(Ho Théos: v. 47).
2.
Seu nome é santo (v. 49).
3.
Maria reconhece a transcendência de Deus,
precisamente por suas ações em favor de seu povo.
4.
Do fundo de seu ser, Maria proclama que Deus é
grande, imenso, majestoso e insondável.
5.
Maria está unida perfeitamente à vontade divina.
3.
O Magnificat
ressalta Deus como Salvador (Ho Soter moi: v. 47).
1.
Proclamando Deus como seu salvador, Maria exprime,
do profundo de sua espiritualidade, uma confissão soteriológica.
2.
Reconhece o Salvador como seu Deus porque é o
Senhor quem a salva e salva seu povo, cumprindo as promessas feitas.
4.
O Magnificat
preconiza que Deus é aquele que se lembra de sua misericórdia (v. 54).
1.
Sem negar a transcendência divina, Maria descobre e
canta a incrível proximidade e condescendência de Deus em sua vida e na
história da salvação.
2.
Ela manifesta a misericórdia de Deus no fato de
olhar para a humildade de sua serva (v. 48) e socorre Israel, seu servo (v.
54).
3.
Ao caracterizar a misericórdia, a Bíblia serve-se,
sobretudo, de dois termos hebraicos: “Hesed”, que indica bondade, e “rahamim”,
que acentua características de fidelidade e de responsabilidade em razão do
amor.
4.
Assim sendo, o amor de Deus para com Maria e seu
povo revela-se como bondoso, fiel, responsável e gratuito.
5.
O Magnificat
assevera que Deus é o todo Poderoso (“Ho dynatos: v. 49).
1.
Salvando o seu povo, é Deus quem manifesta o seu
poder, a sua força.
2.
Cantando o poder do Salvador, Maria declara que Ele
fez grandes obras (“Megala”: v. 48).
3.
É o poderoso pois transforma a história, libertando
o seu povo em todas as suas dimensões (vv. 51-53).
6.
O Magnificat
exprime a fé verdadeira e profunda daquela que aceita ser a Mãe do Salvador.
1.
O Magnificat é o canto da Mãe de Deus, totalmente
dócil e aberta ao projeto de Deus.
2.
Neste canto ela pode ser vista como modelo de fé
genuína e comprometida para o cristão.
3.
A Mãe de Jesus é “aquela que crê, pois nela
resplandece a fé como dom, abertura, resposta e fidelidade” (Doc. Puebla, nº.
296).
4.
Ela manifesta a consciência e a experiência da ação
salvadora do Deus que se preocupa com os seres humanos.
5.
Contemplando o poema de Maria, o cristão é
convidado a saborear e vivenciar a mesma atitude religiosa da Serva do Senhor.
Traços humanos e
espirituais de Maria
7.
Maria é
mulher simples e pobre.
1.
Maria partilha da condição de pobreza e da
humilhação da maioria do seu povo.
2.
Maria representa os que, pela humildade, confiam
incondicionalmente em Deus e se lançam na luta pela justiça.
3.
Maria simboliza o ser humano em construção, aberto
a Deus, tocado pelo Espírito Santo e redimido por Jesus, cultivando um coração
solidário e fraterno.
8.
Maria é a
profetiza do amor transformador de Deus.
1.
Maria tem a atitude profética em proclamar o imenso
amor de Deus.
2.
Maria é a contemplativa que se encanta com o
coração sensível de Deus, que se inclina para os que estão em situação de
miséria e de desproteção.
3.
Maria afirma a ação transformadora de sobre as
relações humanas, impulsionada pela vinda do Reino de Deus.
4.
Maria declara que Deus modifica e renova as
relações interpessoais, econômicas, políticas, culturais, ecológicas e
religiosas.
9.
Maria é
anunciadora da misericórdia divina.
1.
Maria profere a misericórdia de Deus, Pai de rosto
terno e carinhoso.
2.
Cumprindo as promessas, Maria mostra que Deus,
sempre fiel, realiza no Messias que vem os grandes sonhos do povo de Israel.
3.
Maria é cantora de todas as maravilhas de Deus,
partindo de Abraão até o ponto culminante que é a criança que ela traz em seu
seio: o Redentor do mundo.
4.
Assim, o Magnificat é um hino de Maria ao Menino
que, concebido pela força do Espírito Santo, vem para dentro da história para
salvar a humanidade toda, que clama por redenção e dignidade.
Excelente documento sobre Maria
OdpowiedzUsuńSalve Maria. Abraço
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